Ocultan: invocando as almas de seus ancestrais
 Por Ben Ami Scopinho
Por Ben Ami Scopinho
Postado em 02 de junho de 2010
Considerado por muitos como um dos mais atuantes nomes do Black Metal brasileiro, o Ocultan está liberando "Atombe Unkuluntu", agora via Free Mind Records. Este álbum é conceitual e aborda vários aspectos que fazem parte das raízes históricas da Kimbanda, culto tribal africano que encontrou muitos adeptos aqui pelo Brasil.
 
Sua atual formação traz Count Imperium (voz e bateria), Lady Of Blood (guitarra) e Magnus Hellcaller (baixo), e foi o próprio C. Imperium quem conversou com o Whiplash! para falar mais sobre o novo disco, convicções religiosas e o cenário underground.
Whiplash!: Saudações... O Ocultan está liberando seu sétimo álbum de estúdio, "Atombe Unkuluntu". Qual o significado de seu título e a relação com a ilustração da capa?
C. Imperium: "Atombe Unkuluntu" traduzido para o português significa "Obscura Soberania". Tanto o nome do álbum quanto algumas frases são pronunciadas em kimbundo, língua que foi criada para facilitar a comunicação entre as tribos pertencentes ao Reino de Angola/Congo e Moçambique.
 
C. Imperium: A ilustração da capa é uma representação dos antigos cultos de feitiçaria banta, praticados através de rituais que tinham como foco principal a invocação das almas de seus ancestrais, chamados de Tátas, que com o passar dos anos passaram a ser chamados de Exus.
Whiplash!: O vocalista Legacy deixou o Ocultan bem quando estavam gravando "Atombe Unkuluntu", e você, que já exerce a função de baterista, também acabou assumindo o microfone. Apesar de já haver cantado anteriormente, essa posição é definitiva ou há planos para outra pessoa exercer a função de cantor?
C. Imperium: Gostaria de acrescentar que possuo um projeto solo chamado Warhead 666, onde fui o responsável pela execução de todos os instrumentos e vocais. Creio que este fator acabou de certa forma colaborando muito para uma rápida readaptação aos vocais do Ocultan.
 
C. Imperium: Após várias conversas resolvemos manter a formação em um trio. Já estamos totalmente adaptados com essa formação, sabemos que a banda pode até perder um pouco ao vivo em relação à presença de palco, por ter que tocar a bateria e cantar ao mesmo tempo.
Whiplash!: A guitarrista Lady Of Blood foi a responsável pelas canções do novo disco, que seguem mais detalhadas e cada vez mais técnicas... Considerando que vocês são casados, como é seu dia-a-dia no sentido de fazer parte de uma mesma banda? Ela permite que o marido dê sugestões no momento de compor?
C. Imperium: Esse fator acaba contribuindo muito para que nós dois possamos conversar muito sobre vários assuntos relacionados ao Ocultan. Quanto à parte instrumental da banda, preferimos deixar que cada um faça a sua parte, ela fica responsável pela criação das linhas de guitarras, Magnus pelas linhas de baixo e sou responsável pelos arranjos de vocal, bateria e letras.
 
Whiplash!: Imperium, você fez um trabalho interessantíssimo ao abordar as raízes históricas do Kimbanda nas letras de "Atombe Unkuluntu". Seu conteúdo traduzido para o português no encarte foi uma iniciativa louvável e há muita história bacana aí! Até onde esses fatos poderiam ter sido distorcidos ou adaptados pela passagem dos séculos?
C. Imperium: Resolvemos traduzir todas as letras do encarte do CD porque queremos que as pessoas possam compreender bem todo seu conteúdo lírico, já que esse álbum é totalmente conceitual e abrange vários aspectos que fazem parte das raízes históricas da kimbanda. A kimbanda é uma forma de culto tribal que sempre teve como base a crença em seus ancestrais, que foram pessoas que um dia viveram neste mesmo mundo que nós e quando partiram tornaram-se entidades mitológicas.
 
C. Imperium: Quanto aos fatos serem distorcidos e adaptados com a passagem dos séculos, isso é verdadeiro. Infelizmente muitas pessoas criam coisas em suas cabeças, e hoje em dia é muito comum ver pessoas envolvidas com o espiritismo e ocultismo se utilizarem disso, de mentir para manipular as mentes das pessoas.
Whiplash!: As dúvidas acerca de um assunto como o Kimbanda certamente geram muitos preconceitos por aí. O quanto do Satanismo tradicional existe na Kimbanda, afinal?
C. Imperium: Atualmente muitas pessoas afirmam erroneamente que a Kimbanda é um culto satanista. Essa confusão atribui-se à associação da figura de exu com o diabo. A kimbanda e seus exus nada teem haver com esse conceito ridículo criado pelo catolicismo e judaísmo, onde há um deus que luta eternamente contra seu inimigo.
 
Whiplash!: O Ocultan nunca escondeu o fato de ser adepto deste culto, o que aumenta ainda mais a polêmica. De que forma o envolvimento com o mal - ou energias consideradas negativas - pode ajudar a construir algo que uma comunidade julgue melhor para si?
C. Imperium: Gostaria de deixar claro que o conceito de polaridades, positiva e negativa, não se equivale ao bem e mal. Acho que cada um tem o direito de acreditar ou seguir o que bem entender. A meu ver, qualquer pessoa que se apega a um culto ou religião, acredita que esta sendo ou será beneficiada.
C. Imperium: O maior problema é que as pessoas acham que tudo aquilo que foge do conceito cristão torna-se prejudicial. Todos nós já estamos cansados de saber sobre os podres que rodeiam o Cristianismo. Isso tudo começou na época da inquisição, onde as pessoas eram mortas por não aceitar o Cristianismo. Hoje em dia as coisas mudaram e eles não teem mais o poder de matar as pessoas, mas por outro lado o preconceito, a lavagem cerebral e manipulação das pessoas continuam. Infelizmente a maioria das pessoas prefere fechar seus olhos e acabam caindo nesse jogo de alienação proporcionado pela religião.
 
C. Imperium: A meu ver o Cristianismo foi e sempre será o único mal já existente.
Whiplash!: Parte do público já teceu muitos comentários depreciativos pelo fato de Lady Of Blood ser uma entusiasta da moda e proprietária da Extreme Art. Até onde iriam os limites entre a música Black Metal e sua preocupação com visual?
C. Imperium: A Extreme Art trata-se de um trabalho profissional voltado a várias vertentes do rock, metal entre outros. É apenas uma forma de trabalho como qualquer outra. Acho que toda banda deve se preocupar com seu visual. Não concordo com o que algumas bandas estão fazendo ultimamente, tocam de bermudas, bonés, camisetas de times de futebol, entre outras coisas que nada tem haver com todo aquele contexto em que o Heavy Metal está envolvido. Acho que as coisas devem ser levadas a sério, e não da forma que estão fazendo hoje em dia.
 
Whiplash!: Desde "Profanation" o Ocultan passou a alcançar o mercado externo. Existe algum tipo de retorno por parte do público desses países? Afinal, não deixa de ser exótico uma banda de Black Metal ser pró-cultos africanos, não? Como estão as negociações para o lançamento do novo álbum entre os gringos?
C. Imperium: Temos um bom retorno por parte do público externo. Há muitas pessoas de outros países adicionadas em nosso MySpace. No começo da década de 1990, quando começamos a abordar essa temática, era algo extremamente oculto e exótico, as pessoas não tinham a mínima idéia do que era ou representava a Kimbanda. Mas com o passar do tempo as coisas começaram a ficar mais esclarecidas, principalmente quando começou a surgir bandas de outros continentes abordando o assunto. Posso citar o Disciplin, que lançou um CD com uma música chamada "Kimbanda"; o Ancient fez o mesmo, só que a música chamava-se "Exu", e por último tivemos o Jon, líder do Dissection, assumindo mundialmente ser um seguidor da Kimbanda. Só para complementar, as três bandas citadas são nórdicas.
 
C. Imperium: Quanto ao lançamento para o mercado externo, até o momento não temos nada concreto, estamos apenas em negociação.
Whiplash!: Vocês veem atingindo um patamar cada vez mais elevado a cada lançamento. Atualmente, quais as maiores dificuldades que o Ocultam encontra para mostrar sua música a um público maior?
C. Imperium: Estamos super satisfeitos com tudo que conquistamos até o momento. Sabemos bem quais são os limites de nossa música. O Black Metal nunca foi e nem será um estilo musical de grande popularidade entre os fãs do Heavy Metal. Infelizmente muitas pessoas relacionadas ao mundo do Metal são cristãs e esse fator é crucial para manter essas pessoas cada vez mais distantes de bandas que abordam temas relacionados ao anti-cristianismo.
 
Whiplash!: Infelizmente, mesmo com a inegável fase criativa na qual nosso underground se encontra, são sempre as mesmas duas ou três bandas que aparentemente são lembradas. Não há reciclagem... Neste sentido, o que poderia ser mudado para melhor?
C. Imperium: Infelizmente, aqui no Brasil existem essas coisas da mídia em geral só valorizar as bandas mais conhecidas ou que seguem a moda, e também podemos citar aquelas bandas que possuem rabo preso com donos de revistas, zines e produtores de shows. Acho que as bandas mais desconhecidas deveriam ter um maior apoio por parte de todos os veículos de divulgação, para que futuramente possam vir a ser mais conhecidas e valorizadas pelo público. Outra coisa que acho super errado é o fato de alguns produtores de shows estarem cobrando dinheiro de bandas menos conhecidas para poder tocar com bandas maiores. Isso é lamentável!
 
Whiplash!: Uma curiosidade final: como está o projeto paralelo de Lady Of Blood, o Doctors Of Death?
C. Imperium: Momentaneamente está parado. Ela tem pretensões de lançar uma nova promo até o final desse ano.
Whiplash!: Ok pessoal, o Whiplash! agradece pela entrevista e deseja boa sorte ao Ocultan na divulgação de sua Arte. O espaço está aberto para alguma consideração final...
C. Imperium: Gostaria de agradecer a toda equipe do Whiplash! pelo apoio ao nosso trabalho, e a todos aqueles guerreiros que vem nos acompanhando ao longo dessa longa jornada.
Contato:
http://www.ocultan.com
http://www.myspace.com/darkf666
 
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