Entrevista - Leoni: Comentários sobre as mudanças na carreira, ecologia e mais
Por Lucas Marques
Postado em 01 de maio de 2006
Leoni é compositor, músico e cantor. Começou sua carreira como baixista e principal compositor do Kid Abelha no começo da década de 80. Depois de quatro discos de ouro (mais de 500.000 discos vendidos), saiu em 86 para fundar os Heróis da Resistência. Acumulando a função de vocalista em sua nova banda, rodou o país e ganhou outro disco de ouro. Com os Heróis da Resistência, lançou três discos.
Em 93 partiu para a carreira solo, lançando a canção "Garotos II" que durante seis meses foi o primeiro lugar nas paradas de sucesso de todo o país, o que já havia acontecido outras 16 vezes, caso de "Fixação", "Como eu quero", "Só pro meu prazer", "Exagerado" e "A Fórmula do amor". Cazuza, Herbert Vianna, Léo Jaime, Paula Toller, Frejat, Ney Matogrosso e Vinícius Cantuária são alguns de seus parceiros.
Em 1995 lançou o livro "Letra, música e outras conversas" onde entrevistava e conversava com oito artistas consagrados de sua geração (Renato Russo, Herbert Vianna, Lobão, Frejat, Adriana Calcanhotto, Marina, Samuel Rosa e Nando Reis) sobre o processo criativo dos compositores.
Em 96 lançou o single "Tudo sobre amor e perda" pela Geléia Geral, flertando com a música eletrônica. Em 98 montou um show junto com Leo Jaime que rodou alguns teatros do Brasil. Em 2002, depois de oito anos sem lançar um álbum completo, montou o selo Batuque Elegante por onde apresentou "Você sabe o que eu quero dizer", um CD de canções inéditas com acompanhamento de uma banda de jovens com acento bastante brasileiro. Acompanhado pela mesma banda, começou a fazer shows em Lonas Culturais e em alguns clubes pequenos como o Pop Rock em Belo Horizonte. Os shows, a princípio pequenos, começaram a ganhar um público cativo.
Em 2003, percebendo que nem sempre o público reconhecia suas músicas como sendo de sua autoria, resolveu gravar um CD reunindo seu repertório em um formato minimalista. Foi quase um projeto didático, no sentido de informar ao público qual foi sua contribuição para a música brasileira, qual a sua cara sonora. O disco foi batizado de Áudio-retrato por essa razão e contou com a produção do maestro Eduardo Souto Neto e as participações especialíssimas de Herbert Vianna (na "Canção pra quando você voltar), Leo Jaime ("Lágrimas e chuva"), Dinho Ouro Preto ("Garotos II - o outro lado") e Rodrigo Maranhão ("Falando de amor"). Lançado pela Som Livre, com a anúncios na TV Globo, logo o CD se tornou um sucesso de vendas e impulsionou a carreira de Leoni ampliando muito seu público e sua agenda de shows. Quase todos feitos apenas com o acompanhamento de Daniel Lopes (da banda Reverse).
Mas o reconhecimento veio mesmo com o lançamento em 2005 do CD e do DVD "Ao vivo". Amparado pela execução de "Por que não eu?" (junto com Herbert Vianna) na novela "A Lua me disse" e pela campanha de TV da mesma Som Livre, Leoni alcançou todo o Brasil, lotando shows de norte a sul do país. Ambos (CD e DVD) alcançaram vendas que lhe conferiram disco de ouro e contam com as mesmas participações do Áudio-retrato em mais faixas. Com o "Ao vivo" ainda em fase de lançamento, Leoni seguiu para Paris junto com seis índios Ashaninka (do Acre) para registrar um documentário e um show baseado no seu disco ainda inédito, "Outro Futuro". Produzido pela TV Zero de Roberto Berliner, esse DVD se encontra em fase final de edição. Tanto CD quanto DVD têm lançamento previsto para este mês.
ENTREVISTA
Lucas Marques: Quais são as suas maiores influências musicais, nacionais e internacionais?
Leoni: Jack Johnson é muito legal! Pelas minhas comunidades no Orkut dá pra perceber do que eu gosto. Existe uma diferença entre as coisas que eu gosto e as coisas que me influenciam como artista. Por exemplo, eu adoro Jorge Ben, mas não há nem um traço do trabalho dele no meu. Simplesmente eu não conseguiria fazer nada parecido com ele. A mesma coisa acontece com vários outros como Tim Maia, Simonal, Luiz Gonzaga, etc.
Leoni: O que tem me influenciado ultimamente é Damien Rice, um compositor e cantor irlandês que é o máximo, Aimee Mann, Travis e Herbert (sempre, acho que é o compositor nacional com cuja obra tenho maior afinidade, além de ser um irmãozão).
Lucas Marques: Se você está em casa, ou no carro, e ouve uma música sua tocada no rádio, você canta, somente ouve, troca de estação ou desliga?
Leoni: Eu fico muito feliz e ouço até ela acabar. Se der, espero para ouvir o que o locutor tem a dizer sobre a canção. Especialmente se ela é nova no rádio. Agora estou louco para ouvir "50 Receitas" em qualquer estação.
Lucas Marques: A lealdade dos fãs te surpreende? Acha que nossa geração está carente de artistas de talento?
Leoni: Ter fãs é algo que sempre me surpreende. Tanto os antigos que continuaram escutando as canções do começo da carreira quanto os novos que dizem preferir canções como "Fotografia" ou "Melhor pra mim".
Leoni: E respondendo à segunda, não acho que faltem talentos, não. Tem muita banda bacana aparecendo. Normalmente com músicos até melhores que os da nossa geração. Bandas feito Los Hermanos, Reverse, Brava e etc, devem ser a ponta do iceberg de uma turma que hoje encontra muita dificuldade para mostrar o seu trabalho.
Lucas Marques: Você ficou dez anos afastado da mídia, nunca da música. O que fez que considera relevante nesses anos de afastamento parcial?
Leoni: Eu compus bastante, gravei um single pela Geléia Geral (do Gilberto Gil), fiz trilhas de peças, de cinema, escrevi o "Letra, música & outras conversas", dei cursos de composição, fiz alguns shows e trabalhei com publicidade (jingles e trilhas).
Lucas Marques: Com os novos meios de comunicação de hoje, falando diretamente na internet, o que o artista ganha com essa nova ferramenta e o que perde?
Leoni: Eu acho que o artista não perde nada, só ganha a possibilidade de estabelecer um elo forte com as pessoas que se identificam com o seu trabalho, criando intimidade sem perder a privacidade.
Lucas Marques: Como têm sido os shows que "renderam" de seu CD "Leoni ao vivo?" Você esperava tanta repercusão quando o gravou?
Leoni: Os shows têm sido maravilhosos. Além de serem muitos, chegando ao ponto de ter que estabelecer um teto mensal. Têm sido sempre cheios. E o melhor é que o público tem cantado quase todas as músicas, mesmo as que nunca tocaram na rádio, o que mostra que as pessoas têm o CD ou o DVD. Eu achava que o "Ao Vivo" teria uma boa aceitação, mas nunca poderia prever a repercussão que teve. Profissionalmente é a minha melhor fase.
Lucas Marques: Quem é Benki e como surgiu o projeto do DVD "Outro Futuro"? Qual sua relação de amizade com ele?
Leoni: Benki é um líder indígena e pajé da tribo dos Ashaninka do Acre. Além disso é músico, cantor e compositor como eu. Ficamos amigos quando fui numa cerimônia religiosa comandada por ele e do nada ele me passou o violão para que eu tocasse. O mais legal é que a música que eu toquei foi "Outro Futuro".
Leoni: Devido à sofisticação ambiental dos Ashaninka e às inúmeras lições que ele me passou em poucas conversas, eu achei que tinha que dar voz, ou pelo menos visibilidade ao Benki para que ele pudesse passar essas mensagens a mais gente. Numa época em que nos deparamos com a seca na Amazônia, algo inconcebível até pouco tempo atrás, com o desmatamento criminoso das nossas florestas, a palavra dos Ashaninka pode ajudar a trazer muitas soluções de quem conhece intimamente a floresta e a forma de se utilizar dela sem destruí-la.
Leoni: Com a gravação do DVD foi possível ampliar esse espaço e possibilitar a divulgação de uma cultura que tem muito a acrescentar ao mundo.
Lucas Marques: Há uma diferença na percepção de suas músicas de sucesso durante a época em que foram criadas e hoje? Qual a diferença do sucesso antigo e do, digamos, sucesso novo para você?
Leoni: Acho que há várias diferenças. A primeira é a forma de apresentar. Na época dos Heróis ou do Kid as letras vinham embaladas em mais arranjo - que às vezes apareciam mais que as primeiras. No meu trabalho atual tudo é feito em função da canção. Em algumas das novas interpretações eu chego a mudar a melodia para destacar algum trecho de letra que eu ache importante.
[an error occurred while processing this directive]Leoni: Outra diferença está no intérprete. Uma banda de jovens ou um cantor empunhando um violão sugerem interpretações diferentes para um mesmo texto. Algumas canções perderam em testosterona e ganharam em profundidade só por essa substituição. Hoje eu tenho certeza de que sou mais percebido como compositor do que no início da carreira.
Lucas Marques: Suas letras mostram sentimentos extremos: sarcasmo/cinismo, mas também otimismo/idealismo/paixão. Eles são apenas voltas de humor ou suas letras se espelham em sua atitude na vida no ponto do tempo em que são criadas?
Leoni: Como já disse o Caetano Veloso, "todas as minhas músicas são auto-biográficas, até as que não são". Elas podem espelhar uma experiência pessoal ou a minha forma de observar experiências de outras pessoas ou idéias que eu li e gostei. Tudo que é humano se presta a uma boa canção.
Lucas Marques : Para finalizar, o que espera do CD/DVD "Outro Futuro"?
Leoni: Espero que ele seja bem compreendido. Para mim, são as minhas melhores canções, as canções da maturidade como compositor e artista. Pode parecer pretensioso, mas tenho muito orgulho do que foi realizado em todo o projeto. O DVD está ficando lindo! Aguardem.
Agradecimentos especiais ao Leoni e a toda a comunidade "Leoni" no Orkut.
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