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Motordrunk: excepcional produção sonora em seu primeiro álbum

Resenha - Motordrunk - Motordrunk

Por Júlio Verdi
Postado em 09 de setembro de 2018

A produção de novas e excelentes bandas da cena rock/metal do Brasil parece ter migrado da escala manufaturada para a industrial. Isso porque a quantidade e qualidade de grupos que surgem anualmente por estas terras é absurda. Eu diria que, se no quesito mercado de shows (quantidade de eventos, padrões de equipamentos, exposição em mídia, retorno financeiro a músicos e produtores) ainda estamos bem abaixo do que se faz lá fora, em termos de criação temos uma das melhores cenas do planeta. E a banda a qual vamos expor nessa resenha é mais uma que corrobora esta condição. Motordrunk, natural de São José do Rio Preto/SP, debuta em seu primeiro álbum, autointitulado "Motordrunk". Criado em 2009, o grupo começou sua trajetória executando covers de grandes artistas do hard rock e heavy metal, em shows por sua região. Não por acaso, as características de sua música autoral se posiciona nesse mesmo patamar - heavy metal moderno e classudo, com algumas pitadas de hard rock (pesado). Ao mesmo tempo que traz referências a nomes antigos como Ozzy (fase Zack Wylde) remete à galera da geração atual, como Black Country Communion, Dream Evil ou Monster Truck. De uma forma geral, a presença de vocais marcantes, teclado, bateria precisa e a força criativa da guitarra garantem à banda uma aura bem própria, distanciando-se de qualquer possibilidade de soar idêntica a qualquer banda já estabelecida.

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A formação atual é composta por Sérgio "Naza" Guimarães (vocais), Raphael Dias (Guitarra), Jovani "Fera" (bateria), Maurício Lopes (teclados,backings) e Renato Montanha (baixista do conterrâneo Maestrick). As captações e pré-produção do foram realizadas em sua cidade natal, e a mixagem e masterização ficou a cargo do renomado produtor Adair Daufembach (Project 46, Hangar, Maestrick). A arte da capa foi criada pelo designer Wildner Lima, de Rio Claro/SP.

É bem comum a reflexão, dentre os apreciadores do estilo, da presença e relevância do teclado em formações heavy metal. Herança do hard setentista, nos modelos máximos de Purple e Uriah Heep, os teclados foram peça fundamental para o estouro das bandas de power metal melódico dos anos 1990/2000. Mas, mesmo no metal clássico, encontramos diversos exemplos de grupos que incluíram tal recurso, como Black Sabbath, Ozzy solo, Savatage, Queensryche. Aqui no Motordrunk, o teclado se insere na música como um integrante representativo tanto quanto os demais instrumentos, sendo que em diversos momentos do disco percebe-se a presença de tal instrumento no desenvolvimento da ideia da música.

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Motordrunk, o disco

A sonoridade de todos os elementos está por demais equilibrada. Todos os instrumentos estão bem nítidos e conseguem transportar ao ouvinte cada uma de suas intenções criativas. O que salta aos olhos (e ouvidos) é a força da guitarra, com riffs marcantes e uma impressionante gama na construção dos solos. O álbum começa com o que se convencionaria chamar de hit, a faixa título "Motordrunk" com seus riffs grudentos e um grande refrão.

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"New Kind of Freak" (os refrães lembram um Kiss e conta com um solo de guitarra muito interessante) e "Drunk and Dangerous" (belo jogo de vozes) têm um relances de hard em suas pontes e contam uma pegada visceral do baixo. Em "Scars", temos a faixa mais sabbathica da banda (se integrasse o "13" ninguém se espantaria). "Break Away" tem aquele lado hard pesado com uma pegada bem massa nos refrães e dá-lhe rifferama pesada.

Riffs calvagados e uma bateria direta emolduram "Black Machinery", uma das mais agressivas do disco. A bateria rápida e versátil marca os andamentos de "Regression", que tem certa alternância de cadência, bem pesada e com um solo certeiro de guitarra.

"Drink Away the Storm" abre com um clima southern com direito a violões e slide, seguido por um vocal introspectivo. Aos poucos a faixa vai se encorpando com licks. Lá pelos 2 minutos o peso visceral retorna, com riffs na cara, mais um excelente solo de guitarra e vocais dramáticos. Pela atuação das vozes e melodia, "Underdog" lembra um pouco a fase atual do Anthrax. Por fim, "Quicksand", uma clássica balada pesada introduzida pelo teclado, que intervem com destaque em toda a faixa, mesmo nas partes mais pesadas.

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O que se percebe é que a grande qualidade do álbum pode ser fruto, dentre outras coisas, da experiência que seus integrantes , tendo participado há décadas, de várias bandas da cena underground de Rio Preto, como Nothing Face, Cabrero e Last Wizzard. Mas, sem olhar para traz, o Motordrunk se muniu de elementos clássicos para gerar uma sonoridade com o frescor da modernidade, dando parceria entre o tradicional e o novo. Um belo álbum de estreia, direto, agradável, daqueles que dá vontade de ouvir diversas vezes. É apenas um começo certeiro, mas, se a banda mantiver esse esmero nos cuidados com a produção e tão impactante poder de composição, o Brasil ainda ouvir falar muito de Motordrunk.

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O álbum já está disponível nas plataformas musicais e em breve terá sua edição física lançada

Uma conversa com Maurício Lopes

Ready to Rock - Após quase 10 anos de carreira, o Motordrunk finalmente lança seu álbum de estreia. Porque demorou tanto?

Maurício Lopes - A banda foi formada inicialmente com o intuito de executar covers das preferências de seus integrantes, executando-os pelos pubs da região. Foi apenas em 2014 que decidimos partir para as autorais, já que era vontade de todos. Tínhamos que conciliar os horários de encontro para as composições com os eventuais empregos de cada membro e o mesmo aconteceu com as gravações.

RR - Como funciona o esquema de composição no grupo?

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ML - Para esse debut foi feito da seguinte forma: Primeiro apresenta-se alguns riffs e passagens de composições. Em seguida é efetuada a estrutura e os arranjos. Então é definido o tema da música, onde é feita a letra. Já estamos preparando o material do próximo álbum, onde poderá haver alterações nesse processo. Já temos composições criadas a partir da bateria.

RR - Montanha, do Maestrick, participou da gravação do disco. Ele será integrante fixo ou a banda vai buscar outro baixista?

ML - Não estamos em busca de um baixista fixo no momento. Estaremos trabalhando com o Montanha nas divulgações do debut Motordrunk. Depois veremos o que o futuro nos reserva... (risos)

RR - É excepcional a qualidade da produção do disco. Como chegaram a este patamar?

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ML - Primeiramente, muito obrigado pelo elogio. Quando decidimos lançar o álbum Motordrunk, queríamos que ele tivesse qualidade de gravação suficientemente boa para estar ao lado dos álbuns de nossos ídolos, então deixamos a coisa fluir, mas de forma minuciosa. Então juntamos forças com o Adair, que nos foi muito bem indicado.

RR - A produção do Adair (como ocorre normalmente com produtores) teve influência no que diz respeito a alterações de arranjos ou inclusão de elementos nas faixas já compostas?

ML - A influência maior do Adair na produção foi durante a pré produção, onde ele criou as guias, para que captássemos de forma mais orgânica. Ele também acrescentou alguns detalhes na "Break Away" e na estrutura da Black "Machinery". Também foi responsável pela mixagem e masterização do álbum.

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RR - Apesar do álbum seguir o padrão heavy, percebe-se bastante variação entre as faixas, algumas com cara de hard, outras com níveis de velocidade distintas, outras com diferentes padrões de riffs. Seria fruto de quais influências de vocês?

ML - Com certeza sim. Apesar de termos muitas influências em comum, os membros da banda tem também influências e gostos musicais distintos um do outro, o que pode sim ter influenciado diretamente nas composições.

Assistir vídeo no YouTube

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RR - Apesar do disco estar bem nivelado em termos de boas composições, gostei bastante das faixas "Motordrunk", "Break Away", "Drink Away the Storm", "Underdog" e "Quicksand". Vocês tem algumas preferências pessoais?

ML - É muito difícil em relação a preferência. Afinal, todas são nossas filhas que queremos entregar ao mundo...(risos). Mas, particularmente, acredito que a "Black Machinery". Além de ser uma das que mais gosto de executar, ela também mostra duas grandes influências musicais da banda, sem contar a letra que trata-se de um assunto bem atual. A "Quicksand" também se destaca para mim, por ser uma parte muito importante do meu passado. Não posso me esquecer da "Scars", que também é uma das preferidas do "Fera" (Jovani), junto com a "Break Away". Para o "69" (Rafael) destaca-se a "New Kind Of Freak", que mostra um lado mais Hard Rock, que é sua principal influência. Já o "Naza" (Sérgio) tem um carinho especial pela "Drink away the storm" que foi baseada em um sonho maluco que ele teve.

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RR - Sabemos da dificuldade das bandas autorais em Rio Preto. Mesmo assim vejo muita banda daqui lançado trabalhos nesse segmento. Como você enxerga esse cenário?

ML - Infelizmente, o cenário Rio-pretense está desfavorecido para o rock, no momento. Mesmo não tendo muito espaço, ainda existe um determinado público fiel ao estilo, então é muito importante que as bandas remanescentes continuem levantando essa bandeira.

RR - Parece que você, Maurício, teve que se afastar temporariamente por questões de saúde. Como está a previsão de volta? Isso deve prejudicar a divulgação do disco?

ML - Meu retorno às atividades normais será em outubro. Isso não será prejudicial, já que a banda pretende lidar com os shows a partir de novembro. Outras atividades estamos conseguindo realizar virtualmente.

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RR - Como tem sentido a repercussão do disco até agora?

ML - Muito positiva até agora. Estaremos nas próximas edições de algumas revistas europeias. Também com participação em rádios alemãs.

RR - Quando deve sair a versão em CD do álbum?

ML - Temos previsão para o lançamento no início de outubro.

RR - Existem planos para shows pelo Brasil afora?

ML - Sim. Temos a intenção de levar nosso som para o Brasil e também para o resto do mundo.

RR - Quais os planos futuros da banda?

ML - Temos a intenção de levar nossa música para o mundo todo, então estamos planejando uma "pequena tour" pelas principais cidades do país e, em seguida, para o exterior. Também iniciaremos os trabalhos para o próximo álbum.

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RR - Fique à vontade para deixam qualquer mensagem ou outras informações sobre a banda.

ML - Estamos vendo nossos ídolos morrerem e a maioria das bandas atuais estão partindo para outros estilos. A Motordrunk está aqui para manter acesa essa chama, ajudando a perpetuar o Heavy Metal que tanto nos influenciou.

Contate a banda
https://www.facebook.com/ motordrunk

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Sobre Júlio Verdi

Júlio Verdi, 45 anos, consome rock desde 1981. Já manteve coluna de rock em jornal até 1996, com diversas entrevistas e resenhas. Mantém blogs sobre rock (Ready to Rock e Rock Opinion) e colabora com alguns sites. Em 2013 lançou o livro ¨A HISTÓRIA DO ROCK DE RIO PRETO¨, capa dura, 856 páginas, trazendo 50 de história do estilo na cidade de São José do Rio Preto/SP, com centenas de fotos, mais de 250 bandas, estúdios, bares, lojas, festivais e muitos outros eventos. Curte rock de todas as tendências, em especial heavy metal e thrash metal.
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