Rage Against The Machine
Postado em 06 de abril de 2006
Biografia originalmente publicada no site Dying Days
Por André Pasti
O Rage Against the Machine foi um dos grupos mais influentes e polêmicos dos anos 90. Era uma banda que demonstrava, através de letras e atitudes, sua revolta e luta por ideais políticos. Eles sempre lutaram contra a censura, a favor da liberdade e em prol dos menos favorecidos. Misturando hip-hop com o hardcore "melódico", incendiava a todos que a ouviam. Sua história começou em torno de 1991, mas, para ser melhor entendida, é preciso que se conheçam seus integrantes e suas histórias.
Zack de La Rocha (vocal) nasceu em 1970, em Long Beach, Califórnia. Sua mãe era doutora em Antropologia, e seu pai era um artista de um grupo político que fazia exposições com fotos e a história de agricultores mexicanos. Eles se separaram quando Zack tinha em torno de 1 ano. Doze anos depois, seu pai sofreu um ataque nervoso devido aos seu fanatismo religioso (ele carregava a bíblia durante todo o tempo!).
Quando Zack ia visitar seu pai nos finais de semana, em Los Angeles, ele era forçado a fazer jejum à porta trancada e janelas fechadas. Ele só comia na sexta, ficava o fim de semana inteiro de jejum e voltava para a casa de sua mãe na segunda. Não suportando mais isso, passou a morar somente com sua mãe, em Irvine, uma das cidades com maior número de brancos do sul da Califórnia. Isso foi um grande choque para Zack, pois ele perdeu contato com a comunidade latina e estava numa cidade onde os mexicanos só serviam para trabalhar para os brancos. "Eu morava em Irvine, porém nunca me senti totalmente aceito como um desses garotos brancos e ricos de subúrbio. Eu nunca tive problemas econômicos como muitos dos meus irmãos e irmãs chicanos, mas eu sentia a tensão e a rejeição - e então foi quando eu comecei com o hip-hop." Zack formou o grupo "Inside Out", que lançou um CD e depois acabou. Sobre isso, Zack disse certa vez: "O Inside Out foi a primeira banda em que eu toquei. Eu espantei toda minha dor através daquela banda. Tudo que fazíamos era nos isolarmos completamente da sociedade para nos vermos como espíritos, e não nos ajoelhando ao sistema para sermos somente mais alguém."
Tim Commerford (baixo), conheceu Zack na escola, quando Tim cursava a 6ª série, e Zack, a 5ª. Zack ajudou Tim a abrir a embalagem da merenda, e foi assim que começaram uma grande amizade. Foi Zack quem levou Tim ao baixo e à música. A mãe de Tim era matemática, e morreu de cancêr cerebral quando Tim tinha 20 anos. Seu pai, um engenheiro aeronáutico e espacial, se separou dela assim que ela foi diagnosticada com cancêr, e se casou novamente. Assim desintegrou-se sua família. Tim adora jazz, poesia, textos e desenhos. Ele tem ódio da polícia pela maneira com que ela trata as pessoas. Curiosamente, Tim muda de sobrenome a cada álbum (Timmy C, Tim Bob, Simmering T, Y Tim K, Tim Bob).
Já Tom Morello é sem dúvida um dos maiores guitarristas que já existiu. Ele nasceu em 1964 em Nova York. Sua mãe é a membro-fundadora do grupo "Parents for Rock & Rap" (Pais pelo Rock & Rap), organização anti-censura. Seu pai era membro do "Exército de Guerrilha Mau Mau", que libertou o Kenya do comando britânico.
Sobre a política, tudo "começou desde o primeiro minuto em que você tem pele marrom e uma caminha para brincar num parquinho inter-racial", afirma. Na pré-escola havia uma pequena menina branca que sempre o chamava de "negrinho" e outras palavras racistas. Então ele contou à sua mãe, que lhe explicou sobre Malcom X e coisas mais. No outro dia, a garota voltou a discriminá-lo, e ele respondeu: "cala a boca, branquela!", acompanhado de um soco na cara dela.
Morello morou em Libertyville (subúrbio em Illinois) durante a maior parte de sua vida. No segundo grau ele jogava Dungeons and Dragons (um jogo de RPG), participava do clube de teatro e lia sobre política marxista.
É engraçado a maneira de como esse mestre conheceu a guitarra. Ele escutou uma música do KISS e teve vontade de tocá-la. Pagou 5 dólares para um cara ensiná-lo, mas a primeira coisa que este cara o ensinou foi regular a guitarra. Ele voltou na próxima semana, deu mais 5 dólares, e o cara lhe ensinou a escala C. Depois dessa primeira dificuldade, ele ficou muito tempo sem tocar. No entanto, um belo dia Morello ouviu Sex Pistols e pensou que ele poderia expressar seus sentimentos e idéias políticas também através de uma guitarra, e então aprendeu a tocar de verdade.
Tom foi para Harvard, e se graduou com honras em Sociologia. Durante a universidade, ele praticava pelo menos de 2 a 4 horas por dia de guitarra. Enquanto seus amigos saíram de Harvard para serem médicos e advogados, ele foi para Los Angeles, considerado o lugar para quem queria rock. Morello tocou em diversas bandas, que não tiveram sucesso. Ele passou a dar aulas de guitarra para se sustentar, e depois aceitou emprego de secretário de um senador da Califórnia. Ele foi demitido quando uma mulher ligou para o escritório reclamando que "pessoas de cor" estavam se mudando para a vizinhança dela. Ele disse que o problema não era os novos vizinhos, mas o fato de ela ser racista. Ele conheceu Zack num bar de rap.
Brad Wilk (bateria) nasceu em Portland, Oregon, em 1968. Ele morou em Chicago por algum tempo antes de ir para a Califórnia. Ele estava na banda principalmente pela música e nem tanto pela política como os outros membros. Brad é provavelmente o músico mais completo da banda. Seu pai morreu durante a temporada de Lollapalooza em 1994, e isto atormentou Brad. Brad diz que não dá muito valor ao dinheiro, já que seu pai era obcecado por ele e nunca deu valor ao que realmente interessava. Ele mudou muito de residência enquanto criança, já que seu pai seguidamente mudava de empregos. Ele provavelmente é a pessoa na banda que mais se importa com os sentimentos dos outros, não somente com os seus. Ele diz: "Algumas vezes eu gostaria de ser só um baita filho da puta". Brad conheceu Tom fazendo uma passagem de som para uma de suas bandas anteriores, Lock Up.
Vamos agora à história da banda em si. Como já foi dito, Zack e Tim eram amigos de infância, e Zack encontrou Tim em um bar. Brad, apesar de já ser conhecido de Tim, Brad chegou ao grupo por meio de um anúncio em um mural de escola. Estava completo o line-up do Rage Against the Machine. O interessante é eles já começaram com a idéia politicamente correta de não desperdício: "Rage Against the Machine" era o nome do segundo e não lançado CD do Inside Out.
A primeira apresentação do Rage foi em Orange County. Logo depois o grupo gravou uma demo de 12 músicas, que constituiam praticamente o primeiro CD da banda. Eles venderam 5.000 cópias da demo para o seu fã clube e também em vários shows na região de Los Angeles. A banda fez dois shows no 2º palco no Lollapalooza II, em Irvine Meadows, Califórnia. Ali eles assinaram um contrato com a gravadora Epic.
No fim de 1992, o Rage Against the Machine fez uma turnê por toda a Europa abrindo shows para o Suicidal Tendancies. Quando a turnê acabou, eles lançaram o primeiro álbum, também chamado "Rage Against the Machine", em 10 de novembro de 1992. O disco vendeu mais de 1 milhão de cópias e esteve no Top 200 da Billboard por 89 semanas. O álbum inclui, entre outras músicas, Bullet In The Head, Bombtrack, Freedom, Wake Up (que entrou na trilha sonora do filme Matrix, anos mais tarde) e a famosa Killing In The Name, que é um protesto ao militarismo norte-americano.
Em decorrência das suas atitudes e letras, o Rage foi censurado e proibido de fazer shows em muitos estados americanos. Mas a censura também fez a banda crescer, pois ela encarou e lutou contra ela com grandes protestos.
Em 1993 o Rage fez shows beneficentes à Anti-Nazi League e ao Rock for Choice.
No Lollapalooza III, dessa vez no palco principal, o Rage subiu e não tocou, fez apenas um protesto anti-censura contra a PMRC (Parents Music Resource Center), no qual cada membro da banda ficou de pé, nu, por cerca de 15 minutos, cada um com uma fita preta na boca e as letras P (Tim), M (Zack), R (Brad), e C (Tom) escritas no peito. Eles disseram: "Se não tomarmos ação contra a censura, logo não teremos direito de ver mais bandas como o Rage!"
Ainda em 1993, o clip de Freedom foi premiado no "120 Minutes" da MTV. O video contém imagens de shows, cenas do documentário "Incident at Oglala" e textos do livro de Peter Matthiesen "In the Spirit of Crazy Horse".
[an error occurred while processing this directive]Em fevereiro de 1994, esse mesmo clip foi o nº1 nos EUA. Logo adiante naquele ano, mais dois shows beneficientes. O primeiro foi organizado pelo próprio Rage e se chamava "For the Freedom of Leonard Peltier" (Pela Liberdade de Leonard Peltier). Esses shows foram na Califórnia e contavam com outras bandas, como Cypress Hill e os Beastie Boys. O segundo show foi o "Latinpalooza", para o benefício de Leonard Peltier e para a United Workers e Los Ninõs.
Com a agenda lotada, a banda ficou sem tempo para parar e conversar, e houve boatos de que o grupo iria terminar. Foi quando eles resolveram se mudar para Atlanta e começaram a morar juntos. Tentaram gravar um novo disco, mas acharam que não ia ficar bom. Voltaram então para Los Angeles e começaram, de vez, a trabalhar na gravação do segundo disco. Em 1996 o Rage tocou no programa de TV "Saturday Night Live". Foram duas músicas, mas apenas uma foi ao ar. Isso porque a banda colocou uma bandeira americana de ponta cabeça em seu equipamento, em protesto por contra ter o candidato à presidência Steve Forbes no programa aquela noite. No dia seguinte, Bulls on Parade foi premiada no programa de TV MTV's 120 minutes.
D dois dias depois, em 16 de abril de 1996, o esperado segundo disco foi lançado. "Evil Empire" entrou direto no Top 200 da Billboard na 1ª posição. O álbum faz crítica ao governo corrupto de Ronald Reagan e a relação dos USA com a URSS. Ele tem músicas como Bulls On Parade, People of the Sun, Vietnow, Revolver, Roll Right e Tire Me (que ganhou prêmio de melhor melhor performance de metal no Grammy Awards). Em julho, o Rage começou uma turnê pelos EUA que durou até outubro.
Em dezembro de 1997, Tom Morello pôde ser visto no meio das 33 pessoas presas por obstruírem um lugar de negócios em um protesto contra a "Guess?", marca de jeans. "Nós somos contra eles, porque eles tiram proveito dos trabalhadores em Calcutá e nos EUA (Los Angeles, New York City, e Bay Area). É trabalho escravo. E eles esperam que as pessoas que leiam isso não se importem. Eles acham que a moda é mais importante e nada mais importa, e então aquela exploração brutal daqueles trabalhadores não os importa. Nós estamos dizendo que eles estão errados.", disse Tom.
[an error occurred while processing this directive]No início de 1998, o Rage Against the Machine gravou "No Shelter", parte da trilha sonora do filme Godzilla. No meio do ano, a banda começou a ensaiar para o disco "The Battle of Los Angeles". Em setembro a parte instrumental para 14 músicas já estava pronta, mas as letras estavam incompletas. Em janeiro de 1999 a banda organizou um show beneficente para Mumia Abu-Jamal. O show atraiu muita atenção, apesar de alguns imprevistos. Mas no final tudo correu bem e as apresentações das bandas Black Star, Bad Religion e os Beastie Boys aconteceram. Em Genebra, Suíça, em 12 de abril, Zack se manifestou ante às Nações Unidas no caso de Mumia Abu-Jamal e da pena de morte nos EUA. O Rage então tocou no Tibetan Freedom Concert e Woodstock 99. No Woodstock, o grupo queimou a bandeira americana no palco novamente, enquanto tocavam Killing In The Name.
Em 12 de outubro, foi lançado "Guerilla Radio", o primeiro single do terceiro disco. O disco em si saiu primeiro na Austrália, em 25 de outubro. Nos EUA, o álbum foi lançado num dia de eleição, em 2 de novembro de 1999, bem à moda do Rage Against the Machine. No mesmo dia, a banda foi ao programa de TV Late Show tocar "Guerilla Radio". A banda então foi ao programa de Conan O'Brien, cuja edição foi boicotada pela FOP, porque a NBC não deixou a banda tocar. No meio dessa confusão a banda se mandou para uma turnê pelos EUA promovendo o novo disco.
No dia 18 de outubro de 2000, o vocalista Zack de la Rocha declarou oficialmente que estava deixando a banda. "Sinto que é necessário abandonar o Rage, pois não estávamos mais conseguindo tomar decisões conjuntas", disse ele à imprensa. "Não estamos mais funcionando juntos como um grupo, e eu acredito que a situação está destruindo nossos ideais políticos e artísticos. Estou muito orgulhoso de nosso trabalho, como ativistas e como músicos, assim como estou grato a cada pessoa que expressou solidariedade e dividiu essa incrível experiência conosco". Respondendo à declaração de Zack, Tom Morello disse: "Eu não tenho maus sentimentos, e desejo que Zack se dê bem com seu projeto solo. Mas todos estão excitados com as 29 músicas que nós temos gravadas, e algumas delas vão ser lançadas logo." Essa citação se refere ao álbum com material cover, lançado meses mais tarde. A Epic Records disse que estava muito triste com a notícias. Por algum tempo, Zack esteve trabalhando em seu projeto solo com outros artistas hip-hop, como DJ Shadow, Company Flow e Amir do The Roots.
Há quem diga que uma das razões da saída de Zack foi o fato ocorrido no mês anterior no VMA, quando Tim Commerford escalou uma estrutura do palco e teve que ser retirado do Radio City Music Hall pela segurança. Ele fez isso em protesto ao fato da banda Limp Bizkit ter ganhado o prêmio de banda de rock de ano.
Pessoas próximas à banda disseram que esse incidente deixou Zack bravo - tanto que ele acabou indo embora do Radio City Music Hall depois. Isso pode ter arranhado sua relação com a banda.
O prometido álbum de covers, chamado "Renegades", foi lançado em 5 de dezembro de 2000, e contava com How I Could Just Kill a Man (Cypress Hill), Maggie's Farm (Bob Dylan) e Renegades of Funk (Afrika Bambaataa).
Tom Morello, Tim Commerford e Brad Wilk disseram à imprensa: "Estamos orgulhosos da nossa história e do que fizemos musical e politicamente nos últimos nove anos. Estamos comprometidos em continuar com nossa tentativa de mudar o cenário político e social, e procurar criar mais boas músicas para nossos fãs." Ao menos aos olhos da imprensa a banda se separou de maneira amigável.
Zack passou a se dedicar à carreira solo, e os demais integrantes se juntaram a Chris Cornell, vocalista do Soundgarden, e formaram o Audioslave, que lançou o primeiro CD em novembro de 2002.
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