Crimson Glory
Postado em 06 de abril de 2006
Por Mário Linhares
O Crimson Glory foi formado no início de 1982, em Sarasota, Flórida (USA), quando o guitarrista Ben Jackson e o baterista Dana Burnell , após escutarem por detrás de uma porta de um armazém onde Jon Drenning ensaiava, acordes de "Believer" de Ozzy Osbourne, decidem chamá-lo para o posto de lead guitar da banda que estavam formando: o Pierced Arrow.
Após alguns ensaios, decidem mudar o nome para "Beowulf", por sugestão de Ben Jackson. Alguns meses depois, Jon e Ben foram procurar um baixista que era a sensação na cidade, Jeff Lords, que ensaiava uns riffs de "Killers" do Iron Maiden quando estes o contactaram. Meses de ensaio procurando sempre moldar uma identidade própria, Ben, Dana, Jeff e Jon criaram um repertório que mesclava o clássico, peso, melodia e feeling, com arranjos muito mais complexos que a maioria das bandas de metal da época, com ênfase para as harmonias de guitarra e vocais melódicos.
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Depois de vários testes com possíveis vocalistas, decidem por Midnight, um cantor que se apresentava no "Summer Jam Festival I" um festival organizado por Jon e Ben, e que tocava e cantava incrivelmente bem músicas do Led Zepellin e Pink Floyd.
Já no primeiro ensaio, a banda quis mostrar de onde viam as influências que iriam moldar a sonoridade do Crimson Glory e para tal, decidem dar uma fita cassete para Midnight com músicas de Judas Priest, Scorpions, Iron Maiden e Accept, músicas as quais Midnight interpretou magistralmente bem.
Midnight trouxe para a banda toda a energia e densidade sentimental e melódica que esta sempre buscou. Além disso, o timbre agudo e metálico de Midnight encaixou-se perfeitamente com o peso e os riffs matadores de Jon e Ben.
Após horas exaustivas de trabalho, a banda decide gravar seu primeiro trabalho, uma demo-tape onde constavam quatro músicas: Love Me – Kill Me, Fire in My Eyes, Chained to You e Dragon Lady e, para isso mudam de nome uma vez mais, "Crimson Glory", nome que foi tirado de um poster pendurado na parede do quarto de Dana Burnell onde se via a figura de uma rosa carmesim.
Em 1986 lançam o seu primeiro álbum, CRIMSON GLORY, um clássico monumental que fez com que o público e a crítica mundial viesse a conhecer o talento dos cinco rapazes da Flórida.
Com músicas como Lost Reflections, Valhalla, Azrael e Angels of War, entre outras, o Crimson Glory tornou-se um ponto de referência para novas bandas e, principalmente, para novos vocalistas que silenciavam satisfeitos diante das interpretações hipnóticas e melodias passionais de Midnight. Ainda hoje essa obra-prima do progmetal se mantém ao lado de bandas como Metal Church, Iron Maiden, Manowar, Judas Priest, Helloween que alcançaram o gosto do público e da crítica ao lançarem álbuns debut clássicos.
Com o lançamento de "Crimson Glory" á banda é aclamada como a "Nova Promessa do Epic Progmetal Americano" e passa a excursionar pela Europa (Holanda, Alemanha, etc) e, para ocultar sua identidade, usa em todos os shows e sessões de fotos máscaras metálicas, criando uma áurea de mistério sobre suas personalidades. Esse mistério ainda é usado no seu maior sucesso, o álbum TRANSCENDENCE, que seria lançado dois anos depois.
Já na gravadora RoadRunner, Ben, Dana, Jeff, Jon e Midnight gravam o seu melhor álbum e o mais lembrado por seus fãs, o TRANSCENDENCE. Somente o single "Lonely" ficou no topo das rádios americanas por incríveis 24 meses consecutivos. O TRANCENDENCE recebeu as maiores e melhores críticas da mídia americana, européia e japonesa, trazendo para banda inúmeros shows e tounés junto com bandas do porte de Metallica, Ozzy Osbourne, Queensryche, Udo, Doro, Metal Church e Antrax, inúmeros shows completamente lotados como o Metal Hammer Festiva, em Dortmund (Alemanha) onde o Crimson Glory se apresentou para um público de mais de 25.000 pessoas.
Com vendas impressionantes, o TRANSCENDENCE alçou a banda a um sucesso repentino com músicas como Red Sharks (com os agudos inacreditáveis de Midnight), Eternal World (onde o Crinsom Glory despeja toda a sua raiva e peso), In Dark Places, Transcendence (simplesmente magnífica), etc, fez com que o mundo do rock se questionasse como uma banda podia reunir tanto talento e sentimento em suas composições.
Em TRANSCENDENTE, o ouvinte é levado a um mundo de sentimentos que transitam entre a dor e a paixão, a força e a candura, e muitos sentem seu corpo retorcer diante da interpretação imprimida por Midnight em músicas como In Dark Places e Transcendence, colocando definitivamente o nome do grupo na história do EpicMetal.
Já na Atlantic Records, o Crimson Glory grava, em 1992, seu terceiro álbum: STRANGE AND BEAUTY. Nesse álbum a banda começa a sofrer os seus primeiros revéses: saem o baterista Dana Burnell que é substituído pelo até então desconhecido Ravi Jakhotia e o guitarrista Ben Jackson, passando a banda a ter somente uma guitarra.
Com uma sonoridade bem diferente, STRANGE AND BEAUTY traz um Crimson Glory bem menos agressivo (com as exceções de Song For Angels e a "zepeliniana" Far Away, onde Midnight solta toda a sua fúria), mais voltado para um som confuso, ora zepelliniano, ora beirando o dançante (o que agradou em cheio a MTV com músicas como "The Chant", "Promised Land" e "Dance on Fire"), um som que de longe lembrava a linha que ousou seguir nos dois primeiros álbuns. Muitos fãs não gostaram do disco o que acarretou diversas perdas nas vendas e uma pressão crescente da gravadora por um material mais "comercial" que agradasse as massas.
Mesmo assim STRANGE AND BEAUTY trouxe um breve sucesso para a banda, o que os levou a participar de uns poucos shows e festivais tais como o Concrete Foundations Forum, em Los Angeles (Califórnia), com bandas como Ozzy Osbourne, Alice In Chains e SoundGarden.
Esse breve sucesso ficou claro com o cancelamento de diversas tournés como a japonesa, e, com a crescente pressão da gravadora e o visível descontentamento de Jeff e Jon com a performance física e mental de Midnight, que segundo Jon, estava afetando profundamente o estilo musical do grupo, a banda decide encerrar suas atividades, deixando os fãs num hiato de oito anos.
Uma estranha coincidência, mas em STRANGE AND BEAUTY a banda decide não usar mais as famosas máscaras metálicas que os tornaram mundialmente famosos. Alguns fãs preconizaram que isso não traria boa sorte à banda, visto eles estarem abrindo mão de algo que os identificava e criava a áurea mística que arrebanhava milhares de pessoas às apresentações do CRIMSON GLORY.
Seguindo seus próprios caminhos, os membros fundadores do CRIMSON GLORY começaram uma indescritível debandada. Após a saída do baterista Dana Burnell e do guitarrista Ben Jackson (que depois veio a montar o PARISH e lançar um álbum chamado "Envision", onde Dana gravou 4 das 10 faixas), foi a vez de Midnight que no meio da tourné do STRANGE AND BEAUTY decide abandonar a banda (alguns afirmam que a decisão de Midnight deveu-se principalmente por causa do seu casamento ter sido realizado na mesma época do lançamento do STRANGE AND BEAUTY), alegando não se sentir mais à vontade para cantar no CRIMSON GLORY, sendo substituído às pressas pelo vocalista David Van Landing do Tony MacAlpine/Michael Schenker Group. Jon Drenning e Jeff Lords formaram o projeto "Erotic Liquid Culture (que também conta com o vocalista David Van Landing), e o baterista formou uma nova banda chamada Crush. Todos os projetos desenvolvidos por Ben, Jon e Jeff, embora separadamente, nenhum deles teve a repercussão e o alcance do CRIMSON GLORY que sempre esteve no rastro dos rapazes da Flórida central, como uma sombra extra, onde quer que estivessem.
Em 1996 Jon e Jeff decidem que era a hora de remontar o CRIMSON GLORY e gravar um novo álbum. A notícia do retorno da banda não pegou os fãs de surpresa, pois os mesmos nunca acreditaram no fim do grupo. Para isso recrutaram o incrível Wade "War Machine" Black para o posto de vocalista e o ex-Savatage Steve Wacholz para a bateria.
A intenção primordial era convidar Midnight para compor os vocais e remontar a banda com o máximo possível de originalidade da primeira formação. Mas depois de inúmeras tentativas junto a Midnight, Jeff e Jon perceberm o total desinteresse do mesmo em retornar a banda. Segundo Jon Drenning, Midnight já não tem condições físicas e mentais para permanecer na banda e até mesmo já não reúne condições psicológicas para cantar pois enfrenta diversos problemas e está longe da forma física que o consagrou como uma das melhores vozes do Heavy Metal. Jon cita que percebeu o alívio no rosto de Midnight quando ele e Jeff desistiram da exigência da presença do mesmo no reformulamento da banda e cita mais: "Nós queríamos retornar e queríamos neste retorno fazer o melhor disco que pudéssemos pois os fãs do CRIMSON GLORY merecem isso. Mas com Midnight não seria possível, ele já não possui a voz ou o desejo para realizar o tipo de música e performance que desejamos fazer com o ASTRONOMICA".
O mais interessante é que aconteceu com Wade "War Machine" Black o mesmo que aconteceu com o novo vocalista do Judas Priest Rippen Owens. Jon e Jef viram uma apresentação de Wade, onde o mesmo interpretava sons bem ao estilo do CRIMSON GLORY (Wade cantava em uma banda chamada Lucian Blaque) em um show na cidade de Tampa (Flórida) e decidiram que, se fossem reformular a banda, que ele seria o vocalista. Jon comenta ainda que ficou estupefato com o timbre do rapaz que muito lembrava a força e virtuose de cantores como Hob Halford, Udo e Phill Anselmo. Felizmente três anos depois, Jon decide convidar Wade para os vocais do CRIMSON GLORY, convite esse aceito imediatamente.
Setembro 1999, com a volta de Ben Jackson nas guitarras e um line-up reformulado, o CRIMSON GLORY lança o ASTRONOMICA, um álbum temático sobre os grandes mistérios e maravilhas que fascinam a nossa humanidade como as Grandes Pirâmides do Egito e a relação delas com as estrelas e a Constelação de Orion, Vida extra-terrestre e OVNIs, Cydonia (o rosto que aparece em uma das fotografias tirada do planeta Marte), etc.
[an error occurred while processing this directive]Em March to Glory, o CRIMSON GLORY já parece anunciar que está marchando para um retorno triunfal. Essa música originalmente gravada pela cantora new age Enya Boadicea, teve um novo arranjo magnificamente reformulado para encaixar bem com o som metal que o CRIMSON GLORY se dispôs sempre a fazer. Músicas como War of Words e Lucifer’s Hammer nos remetem ao tempo em que o CRIMSON GLORY despejava sua fúria em músicas como Eternal World. Já a The Other Side Of Midnight pode ser interpretada tanto como um kick-in-the-ass no antigo vocalista, como também como uma continuação da bela Lost Reflections (do álbum debut da banda), onde Midnight dá uma aula de interpretação; Wade Black não fica atrás (inclusive Wade repete em The Other Side Of Midnight as últimas palavras que Midnight fala em Lost Reflections "You’re not me? Who’s there? Am I evil?"), simplesmente fascinante e intrigante!!!
Já as belas Astronomica, New World Machine e Edge of Forever nos confirmam que Jeff, Jon, e Ben não perderam a velha forma e que ainda conseguem ser o mesmo CRIMSON GLORY que criou pérolas do nível de TRANSCENDENCE, CRIMSON GLORY e STRANGE AND BEAUTY.
Por sua vez Wade "War machine" Black mostra-se à altura do posto de vocalista de uma banda como o CRIMSON GLORY, com vocais fortes e agressivos quando necessário (Cyber-Christ é um bom exemplo), e com interpretações melódicas e belíssimas como na faixa (The Other Side OF Midnight e Edge of Forever). Sua voz realmente transita entre timbres conhecidos como Hob Halford e Ripper Owen, mas as vezes soa bem parecido com Axl Rose (Guns ‘n Roses), ouça Tuch of the Sun e confira, o que lhe dá uma flexibilidade para interpretar vários tipos de canções. Um bom vocalista cantando canções excelentes. Apesar da boa performance de Wade e de sua virtuosidade, ele não se compara ao inigualável Midnight que possuía um timbre vocal maravilhosamente ímpar e suas interpretações magnéticas impressionavam a todos que o ouviam. Quando um vocalista consegue unir força interpretativa, feeling interpretativo e performance interpretativo isso o torna magistral, e isso era o que Midnight possuía (talvez ainda possua).
[an error occurred while processing this directive]Steve Wacholz mantém-se como o excelente músico que consagrou vários trabalhos em sua ex banda o Savatage. O peso e a boa interpretação dada por Steve às músicas do CRIMSON GLORY foram fundamentais para que a sonoridade voltasse a ser o que era antes do STRANGE AND BEAUTY.
A volta do velho e bom CRIMSON GLORY só nos faz crer mais e mais que o Heavy Metal e o bom Rock ‘N Roll nunca irão desaparecer enquanto houver pessoas que acreditam no seu próprio trabalho, identidade, talento e competência, e, acima de tudo, tenha dentro de si amor ao velho ritmo nascido do encontro das estridências de guitarras, amplificadores valvulados e gritos de cabeludos que nos idos dos anos 50, 60 e 70 criaram o maravilhoso Rock ‘n Roll!
Long Live CRIMSON GLORY!!!
Fontes: Algumas das imagens publicadas aqui são reproduções da HP oficial do CRIMSON GLORY (www.crimsonglory.com), outras são de arquivo próprio.
Algumas citações de Jon Drenning citadas aqui foram concedidas em entrevista à Michael Kohsiek em setembro de 1999.
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