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Death

Por Haggen Kennedy
Postado em 06 de abril de 2006

A morte é uma força inevitável; é algo que os seres humanos temem ao máximo e procuram escapar alongando sua chegada tanto quanto conseguirem. Mas "morte" também é o nome em português da banda de Chuck Schuldiner – Death – iniciada com o nome de Mantas, em 1983.

Surgindo das entranhas da música conhecida como heavy metal, o Death tem, desde sua inserção no cenário, ousado confrontar os limites daqueles pensamentos do qual as pessoas passaram a vida inteira fugindo. Numa jornada destinada a criar um som que encorpasse gritos de descontentamento vigorosos e criatividade, a banda se desenvolveu como um grupo construído numa visão expressiva e única do mundo. Esta expressão nunca cessou de carregar um forte domínio numa forma de arte musical experimental, apesar de extremamente violenta. Nessa banda havia agressividade, sim, mas também uma sincera batalha e imaginação que a distinguia de outras atitudes de brutalidade ridículas sem razão ou imagem cega baseada em uma quantidade de criatividade zero ou outras bandas que seguiam modas e coisas do tipo. Enquanto estas outras bandas estavam ocupadas reciclando o mesmo clichê comercial de músicas sobre carros rápidos e o amor mais rápido (ou luxúria!), ignorando as mórbidas questões de existência que se escondem em cada mente humana, o Death abraçou o lado mais obscuro. No processo, Chuck Schuldiner foi responsável não só por ajudar a criar o campo do thrash e death dos USA, mas também a levar estes campos ao seus limites enquanto os mais perspicazes se conscientizavam da tradição passada e falha.

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Esse modelo possui outros parecidos, que podem ser vistos virtualmente em cada outro setor da arte, especialmente na literatura, onde autores como H. P. Lovecraft usaram a pitoresca tradição do velho mundo de Arthur Machen, Poe e William Hope Hodgson para galgar ainda mais alto os fronteiras do horror cósmico. Alguns críticos crêem que o metal não é uma música que valha a pena, ou que é uma variação de arte igual àquela da palavra escrita – mas é opinião deste escritor que o heavy metal em particular, tirando todas as outras formas de música, é muito mais que apenas uma forma de arte. O Metal é uma arte desprezada, simplesmente como Lovecraft é um autor academicamente ignorado. O encadeamento entre Schuldiner, Death e Lovecraft está nas suas inflexibilidades frente à comercialidade, e suas motivações interiores no assunto criação.

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Em 1983, na Flórida, uma banda de nome Mantas nascia da mente do garoto de apenas 15 anos chamado Chuck Schuldiner. A banda consistia em três garotos amigos de colégio: Kam Lee na bateria e vocais (!), e Rick Rozz e Chuck Schuldiner como guitarristas. A banda, então, neste mesmo ano, gravou uma demo intitulada "Death By Metal" de 4 faixas gravada na garagem da mãe de Chuck com um gravador de fitas do Rozz!! E, na mesma época, quatro outros estudantes do ensino médio da cidade de São Francisco, nos EUA, formavam o Possessed, com suas "cópias" suíças (em termos de mesmas idéias, por isso as aspas), e o Hellhammer (que mais tarde se tornaria o Celtic Frost) e o Venom, bem... estas quatro bandas estão entre os pioneiros da música mais pesada e rápida que já foi tocada. Algum tempo depois da primeira demo, a Mantas mudou seu nome para Death.

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Em 1984, o Possessed, o Celtic Frost e algumas outras bandas tinham feito algumas demos e o death metal estava crescendo fortemente no underground. O Death Metal, entretanto – verdade seja dita – falhou no quesito que dizia respeito a grandes audiências ou em atrair muita atenção dos selos. Como o próprio Chuck Schuldiner colocou, a música e os músicos eram muito... maus para serem levados a sério. A demo do Possessed chegou até Brian Slagel, que, então, colocou a banda na coletânea "Metal Massacre Vol. 6" com a música "Swing Of The Axe". Eventualmente, isso levou o Possessed a assinar com a Combat Records. Infelizmente, entretanto, o Death continuava sem assinar com ninguém por alguns anos.

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Em 1984, o Possessed lançou "Seven Churches", o histórico debute pela Combat. Um disco que foi realmente o primeiro do gênero a ser lançado, e veio a influenciar muita, muita gente. Com guitarras rápidas, agressivas e um vocal brutal, a gravação foi a reação crua do novo estilo de metal, uma forma precursora, que mais tarde seria aperfeiçoada por Chuck Schuldiner em "Scream Bloody Gore" e merecidamente categorizada em um gênero separado, estabelecido, agora chamado de Death Metal. Anos depois, numa entrevista, Chuck citou "Seven Churches" como uma das maiores influencias para o álbum de estréia do Death. Apesar de bom musicalmente, o deathmetal ainda não tem uma reputação tão boa. Uma conseqüência das imagens públicas mórbidas e negras, e letras mórbidas de bandas como Venom, Possessed, Hellhammer e outras, o death metal imediatamente se tornou notório pelo satanismo. A maioria das coisas que acontecia na Escandinávia não tinha nada a ver com a música, entretanto algumas pessoas muito "cultas" pregaram que a música estava sendo usava para promover o satanismo e anti-cristianismo.

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Na cena da Flórida, as coisas eram totalmente diferentes. Haviam, sim, bandas na Flórida cujas letras falavam de satanismo, mas não na forma pregatória ou destrutiva; era mais por uma forma de entretenimento.

De qualquer modo, de volta ao Death, o trio lançou outra demo chamada "Reign of Terror" em outubro de 84, com 5 faixas, sendo que neste tempo os vocais já eram autoria de Mr. Schuldiner. Vale citar como curiosidade, que na demo "Reign of Terror", a primeira música "Corpse Grinder", foi usada numa versão muito mudada, vários anos depois pela banda Massacre, no álbum debute "From Beyond" de 1990.

A próxima demo veio em Março de 85, com o nome de "Infernal Death". No mesmo ano o Possessed retornou com seu segundo álbum, e a banda brasileira Sepultura estreava na cena death/black metal com o EP "Bestial Devastation". Dentre os que mais cedo começaram, infelizmente, o Sepultur nunca foi exatamente uma grande influência para o death metal em sua evolução com o passar dos anos, exceto para a cena brasileira. O fato é que o death metal crescia e o Death ainda não tinha uma gravadora.

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O Death lançou mais algumas demos em 85. "Rigormortis", de maio, com uma única música intitulada "Unholy Grave"; "Slaughter", a demo seguinte com apenas uma música, novamente: "Fuck Of Death". E finalmente, a demo "Back From The Dead", de outubro 85, com 8 músicas: uma introdução que era tema de alguns apresentações de Alfred Hitchcock, a música "Back From The Dead", "Reign Of Death (Terror?)", "Beyond The Unholy Grave", "Baptized In Blood", "Legion Of Doom" e "Skill To Kill". Vale lembrar que parte da música "Legion Of Doom" foi eventualmente incorporada em "Spiritual Healing".

As demos, entretanto, foram seguidas à mudança de Chuck da Flórida para São Francisco, na Califórnia. Ele desejava fixar a banda por lá, mas os outros dois membros optaram por ficar na Flórida. Kam Lee e Rick Rozz então se juntaram a Terry Butler e Bill Andrews para formar a Massacre. Enquanto isso, na Califórnia, Chuck Schuldiner encontrou novos membros para sua banda em Chris Reifert e John Hand. Com Chris na bateria e John na guitarra base, Schuldiner ficou com os vocais e a outra guitarra. A banda, entretanto ainda precisava de um baixista. Chuck não se intimidou e tocou baixo ele mesmo em suas demos seguintes.

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Uma demo gravada puramente de um ensaio do Death, em 28 de Março de 86, continha duas músicas: "Land Of No Return" e "Zombie Ritual". Mais tarde, o Death gravou a demo "Mutilation", que foi a decisiva para a banda, finalmente assinar com o selo Combat Recods.

O primeiro álbum de estúdio da banda, "Scream Bloody Gore" foi lançado em 1987 pela Combat Records, com quem tinham assinado, e tempestuou o underground. É verdade que álbuns pesados com vocais urrados ou aqueles processados por efeitos já tinham sido produzidos (e feitos) antes, mas não por uma banda dos EUA, com exceção feita ao Possessed. Quatro anos depois, na Suécia, o Bathory lançava seu primeiro disco, enquanto na Suíça, Thomas G. Warrior, outra figura influente nos anais do metal brutal, trazia "Apocalyptic Raids" do Hellhammer em 1984 – e mais tarde o primeiro "trampo" do Celtic Frost chamado "Emperor’s Return" abriu novas portas. 1985 foi o ano em que uma certa banda alemã, Kreator (originalmente chamada Tormentor), lançou "Endless Pain", cheio de vocais ‘high-pitched’ do frontline Mille Petrozza.

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Antes de todas estas bandas, na cena britânica vinham os reis do black metal, Venom, que revolucionaram o som cru e rápido do metal com o primeiro disco, sugestivamente intitulado "Welcome to Hell", em 1981. O vocalista do Venom, Cronos, freqüentemente chegava perto do urrado, apesar de que seus vocais dificilmente eram carregados de efeitos.

A título de curiosidade, e bastante interessante, Mantas, o nome que o Death levava primeiramente, é também o nome teatral de palco do guitarra do Venom. Na verdade, todas estas bandas deviam alguma coisa aos riffs altamente ‘doomicos’ do Black Sabbath, que em 1970 surgiu com o heavy rock ao lançar o álbum auto-intitulado. Foi o guitarrista do B. Sabbath Tony Iommi que ensinou a nova geração, os inovadores do heavy metal, a abaixar a afinação, como em "Into The Void" e a maioria das outras músicas de "Master of Reality" e, aliás, de qualquer outro álbum do Sabbath. Abaixar a afinação alcançou um som mais pesado, que foi usado pra surrar a audiência nos shows. O Venom levou a tradição da baixa afinação do Sabbath com inclinação a usar a atmosfera abatida de diminutas e escalas harmônicas menores nas músicas – acelerando ainda mais o tempo e indo até o mais extremo em se tratando de letras influenciadas pelo ocultismo. O resultado do aumento da velocidade, mas não necessariamente guitarras com afinação mais grave, foi o nascimento do thrash metal no começo dos 80, que era mais caracterizado nesse ponto quase inteiramente por solos de guitarra que estavam cravados firmemente na velha pentatônica, favorecida não apenas pelo rock de arena comercial dos 70, como pela própria inserção do rock; um exemplo definitivo da nova energia no metal era o "Kill ‘em All" do Metallica (1983), onde o thrash norte-americano foi influencado pela NWOBHM (bandas como Blitzkrieg, Diamond Head, Witchfinder General, Holocaust, e Angel Witch – para não mencionar Iron Maiden). "Scream Bloody Gore" do Death apresentou aos ouvintes os vocais urrados de Schuldiner que, em vez de monótonos, variavam de alto a baixo – juntamente com harmônicas menores de guitarra em alta velocidade e tempos que variavam de doom a um ígneo andamento amofinado de um demônio.

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Do começo, na antiga demo "Infernal Death", o Death foi uma banda que gritava berros de um desagrado jovem a uma sociedade mecanizada, questionando a hipocrisia no mundo. Encharcado da mesma brutalidade imaginária que um filme moderno de horror proporciona, "Scream Bloody Gore" não foi tanto como uma mensagem, mas mais como um uma jornada abarrotada de terror em que os leitores freqüentemente lêem em páginas de um livro de ficção ou numa tela de cinema para fugir às inanidades de uma existência rotineira.

Sem dúvida, as letras de "Scream Bloody Gore" freqüentemente assemelham-se a algo tirado de "Night of the Living Dead" ("A Noite Dos Mortos Vivos", em português), adaptado para a tela de cinema por John Russo e George Romero (e escrito em livro pelo próprio Russo) ou de "Dawn of the Dead" ("Crepúsculo dos Mortos"), de Romero. De fato, Schuldiner usou um pouco do horror Italiano, escrito e dirigido por Lucio Fulci como inspiração à músicas como "Regurgitated Guts". A canção faz referência a "The Gates of Hell" ("Os Portões do Inferno") de Fulci, enquanto "Zombie Ritual" definitivamente implica que Schuldiner viu algum zumbi por aí. Já a música "Beyond The Unholy Grave" fazem você ponderar se não há alguma relação para com The Beyond ("O Além"). Estes filmes compararam a sociedade a cadáveres zombificados andando por aí como autônomos com um propósito programado, e o alarido da banda em "Scream Bloody Gore" ofereceu um escape da monotonia das hordas bangers no underground. Transbordante em carnificina, Schuldiner tirou proveito do filme de horror italiano "Make them Die Slowly" (mais conhecido como "Cannibal Ferrox") para a gênesis de "Torn to Pieces", uma música que efetivamente encapsula uma estória sobre humanos "civilizados" para encontrar a verdadepor trás do canibalismo do filme. Não há duvidas de que o primeiro disco do Death trouxe consigo uma revolução; na mesma hora, muitas bandas tentaram copiar ou imitar o som único do grupo, mas o nível de musicalidade do Death, apesar de serem jovens, não poderia ser alcançado facilmente. Com os camaradas death-thrashers da Flórida, o Obituary (que no começo chamava-se X-ecutioner), o Atheist (no começo como R.A.V.A.G.E.) e o Sadus da Califórnia, o Death formou o ilustre exemplar do novo gênero death metal que se originava.

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Onde Chuck Schuldiner havia se apresentado em "Scream Bloody Gore" como guitarra solo, no segundo álbum, "Leprosy" (Combat Records) de 88, ele se juntou a Rick Rozz (que pertencia à lineup original da Mantas), que na época estava na Massacre. O trabalho de guitarra solo de Schuldiner dominou o primeiro disco, com a guitarra base confiada a John Hand. Enquanto Rozz era um guitarra base adequado, seus solos se traduziam em mero mangual no tremolo, que significavam quae nada em comparação às barbaridades de Chuck Schuldiner. Outras mudanças na formação incluíam a adição de Terry Butler no baixo (preenchendo uma vaga antes vazia, já que Schuldiner tocara o instrumento em "Scream Bloody Gore") e Bill Andrews na bateria (o antigo baterista Chris Reifert saiu da banda pra formar seu próprio projeto death metal, o Autopsy). No departamento de escrita das letras, o "Leprosy" vangloriou-se de Ter tomado um passo a frante em imaginação e visão. A faixa título mostra semelhança com o filme "The Fog" de John Carpenter no qual uma colônia de leprosos à bordo de um veleiro são levados à morte quando pessoas em terra firme dão-lhes um falso sinal de luz. E a música "Pull the Plug" que sempre tinha sido uma das favoritas entre o público nos shows do Death, paira sobre a situação de alguém vivendo dolorosamente preso a um suporte vital e que deseja colocar um fim à sua angústia. "Leprosy" não mostrou sinal algum de abandono do Death à energia e atitude, além de trazer uma pitadela de uma produção mais limpa – cortesia da Morrisound Recording – além de um aumento no progresso musical.

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Ainda em 1988, cinco bandas do selo Combat gravaram um vídeo ao vivo de suas respectivas apresentações no dia 23 de Outubro de mesmo ano, na casa de shows Trocadero Theatre na Filadélfia. O Death participou com duas músicas – "Open Casket" e "Choke On It" – que saíram na coletânea "Ultimate Revenge II", da Combat Records em 1989.

Entretanto, o ponto crucial, onde tecnicamente e musicalmente é concernido, veio ao Death no "Spiritual Healing" de 1989, uma vez mais pela Combat Records. Foi um disco que provou aos ouvintes que o Death não abriria mão de seus limites agressivos assim como os músicos se tornaram mais proficientes. "Spiritual Healing" mostra o trabalho de guitarra solo de James Murphy, que tocou em várias bandas, entretanto na época sua aparição mais recente tinha sido no Testament. A entrada de Murphy e saída de Rozz se mostrou sem dúvida proveitosa no som do Death. "Leprosy" se virou em direção às letras que cinicamente se dirigiam à sociedade, e "Spiritual Healing" disparou rajadas ainda mais massivas. Se, na opinião pública, o Death já era brutal em sua música ou métodos, ouvindo com ouvidos surdos, as letras de Schuldiner penetravam fundo no coração da hipocrisia na "meia America" onde pessoas agiam inumanamente todos os dias. "Living Monstrosity" abre o álbum com um conto de uma mulher grávida perdida em vício a cocaína, e mais tarde, deformações mórbidas no nascimento da criança. "Spiritual Healing", a faixa-título, é uma música que encorpora a visão que o Death tinha sobre o mundo: um nojo pela matança que vem ocorrendo desde o começo da história em nome da religião, uma desconfiança por qualquer fé religiosa que se mostra mente-fechada frente às crenças dos indivíduos que iam de contra o dogma. Assim como "Within the Mind", é um canto robusto à força de criatividade de cada um; as faixas "Defensive Personalities" e "Low Life" exploram a psique humana, uma área que o Death contempla freqüentemente. "Low Life", em particular, fala sobre pessoas que levam vantagem nos outros. Neste ponto, o grupo passou por uma mudança radical na formação; mas a banda se concentrou na visão pessoal e esforço de Chuck Schulndiner, que perseverou indo contra boatos infundados e suposições feitas por alguns jornalistas, músicos e o próprio público.

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O próximo petardo vindicava Chuck Schuldiner aos olhos dos metalheads para quem a verdadeiras paixão era a própria música, mais do que falsas imagens. O lançamento de "Human" (já pela Relativity Records) em 1991 era evidência de que o Death poderia se agüentar e lidar com o surgimento de bandas de death metal. "Human" foi lançado durante um massacre de álbuns estrangeiros de death metal, mas uma vez mais, o grupo de Chuck Schuldiner provou que os pais do movimento poderia também ser os inovadores. Dois lançamentos em 91 estavam entre os maiores sucessos no meio – "Human" do Death e "Testimony of the Ancients" do Pestilence. Para as sessões de gravação do "Human", Chuck recrutou Sean Reinert (bateria) e Paul Masvidal (guitarra) da banda progressiva fusion/death da Flórida Cynic, assim como Steve DiGiorgio de Antioque, que estava no Sadus da Califórnia pro baixo. Estes três adicionaram uma habilidade musical ao Death que excedeu até "Spiritual Healing". Como o próprio Schuldiner diz no encarta em notas escritas por ele mesmo, "Isto é mais do que um álbum pra mim; é uma posição, é vingança." Nessa época, numa versão reformada mais nova da banda Massacre, com ex-colegas de bandas Lee, Butler, Andrews e Rozz lançaram um disco derivado intitulado "From Beyond", que não se comparava aos arranjos complexos e diversos do "Human" do Death. "Incomercial" como o Death sempre foi, finalmente apareceu uma oportunidade para a banda gravar um vídeo pra "Lack of Comprehension". Os fãs da banda sintonizaram o Heabanger’s Ball da MTV (programa de metal da MTV Européia que seria algo como o nosso "Fúria" na MTV), e foram enganados por uma falsa sensação de serenidade durante a limpa parte de introdução da música; entretanto, trinta segundos depois o ouvido era assaltado pela descarga poderosa do estilo pesado do Death. "Lack of Comprehension" abre a voz a todos os pensamentos presos que um músico de metal possivelmente teria frente às figuras autoritárias (tal como pais, responsáveis, professores, padres etc.) que usavam a música como escape para sua própria culpa quando vidas jovens eram postas em perigo ou perdidas. A instrumental "Cosmic Sea" não se parece com nada que o Death já tenha tocado, e abrange novas fronteiras, como o próprio título infere. Infere-se aí a participação especial do baixista Skott Carino na música. Em alguns países, lançamento contou com uma faixa bônus, a "God of Thunder", que apareceu numa coletânea de death metal feita pela RoadRunner chamada "At Death's Door II" mais tarde, em 1992. Para um entusiasta mais ‘progressivo’, "Human" é um álbum definitivo; mostrou onde as bases do metal pesado estavam fundadas.

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Ainda em 92, a Relativity Recods lançou uma coletânea de algumas das melhores músicas do Death intitulada "Fate". A seleção das faixas foi feita por Kevin Sharp.

O "Human" foi seguido em 1993 pelo único álbum de estúdio do Cynic, "Focus", um disco que exalava um espectro de música neo-progressiva e fusão a um metal mais complexo. Enquanto isso, Chuck Schuldiner galgava adiante com rígida determinação em "Individual Thought Patterns", lançado pelo quinto selo inedependente do Death, Relativity. De uma das bandas que iniciaram o thrash junto com o Death, o Dark Angel, veio o Gene Hoglan para tomar o lugar do trono, junto com Andy LaRocque (que já tinha tocado com King Diamond, o mestre das trevas do power metal teatral) na Segunda guitarra solo, e novamente Steve DiGiorgie do Sadus no baixo. Uma vez mais, o Death fez um vídeo para "The Philosopher", uma música que sondou mais fundo as doenças da mente popular (para deixar claro, as pessoas que pensavam que sabiam de tudo). Aqueles que pensaram que tudo que se escondia atrás da banda death era simplesmente brutalidade tiveram uma surpresa. "Out of Torch" provou ser uma faca de dois gumes para aqueles cujo único propósito é o extremo, a força bruta.

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Entra 1995, um ano quando a mídia se importava menos à música conhecida como heavy metal, quando a cria grunge e pseudo-punk de Seattle traíam o conceito inteiro do que o punk era no fim dos anos 70 – revolta, rebelião e a música onde não deveria haver estrelas de rock. Aqueles que presumiram que o heavy metal estava morto simplesmente porque a MTV não tinha mais o Headbanger’s ball ou incluía bandas true metal em sua programação – ou o fato de a KNAC de Los Angeles (pioneira em se tratando de rádio rock e metal nos EUA) Ter se tornado morta e o espaço ser ocupado por programações em espanhol – estavam afundados em ignorância. O Metal cresce e continua tempestuando o underground. E a nível de selo pequeno, em 19994, o Fates Warning lança "Inside Out", considerado por muitos, os pais do metal progressivo, e "Through the Darkest Hour", o terceiro álbum da banda doom metal do Texas, Solitude Aeturnus. A mídia teria se referido ao metal como uma onda que desapareceu nos anos 80, mas a sobrevivência de coração de bandas inteligentes preveniu o mundo de que isso acontecesse. Em maio de 95, "Symbolic" (Roadrunner Records) brilhou no underground. Seis álbuns e oito anos após a primeira tentativa de mostrar ao mundo seu trabalho, Chuck Schuldiner e o Death ainda não perderam o pique. "Symbolic" é uma porrada naqueles que acreditam que o heavy metal é música sem pensamentos/ideais. As letras variam de inocência perdida ("A high that cannot be bought or sold...") à perda de provacidade no mundo cada vez mais mecanizado. "Without Judgement" sardonicamente zombava do sistema judicial, e "Crystal Mountain" levanta a lâmina uma vez mais à crença cega na religião ("Inflicting wounds with your cross turned dagger"). "Perennial Quest" é a testemunha e capricho de um criativo artista, Chuck Schuldiner, que acredita que sua música – o heavy metal – seja uma verdadeira forma de arte. Ao contrário da opinião de muitos, MORTE é arte!

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Logo após a tour de "Symbolic", o Death novamente perdeu membros. Muito desapontado, Chuck Schuldiner optou por colocar o Death de lado e se dedicar a um projeto paralelo chamado Control Denied. Isso fez com que a opinião de muitos fosse que o legado do Death tinha chegado ao fim. Em meados de 96, o Control Denied lança sua primeira demo tape, que tinha Chuck como vocalista. Na verdade, Schuldiner, preferia que Warrel Dane (Nevermore) ou James Rivera (da boa banda heavy metal Helstar) fizessem os vocais no Control Denied, contudo até certa época pareceu que quem ia tomar o lugar de Chuck ao microfone seria Tim Aymar (Psycho Scream). O Control Denied não tinha vocais death metal. Apesar de soar um pouco como o estilo do metal europeu, o Control Denied era bastante técnico. A banda estreou com "A Moment of Clarity" no começo de 97. Contudo, a banda chegou a seu fim, quando, em Junho, Chuck Schuldiner decidiu finalizar o projeto e retornar ao Death.

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Foi assim que em 98, três anos depois de "Symbolic", o Death volta arregaçador com seu novo petardo (finalmente!) – "The Sound of Perseverance". A batera do genial Gene Hoglan era agora encarregada de um dos caras mais rápidos e técnicos que existem no "mercado de bateristas do metal". Seu nome é Richard Christy (Burning Inside & Acheron ) e, verdade seja dita, o cara deu conta do recado. Shannon Hamm (do projeto de Chuck Schuldiner, Control Denied) nas guitarras, Scott Clendenin no baixo. A line up está formada, e 8 faixas são gravadas e mixadas ao bom estilo death. Produzido por Jim Morris e co-produzido pelo próprio Chuck Schuldiner, o disco é uma verdadeira obra de arte. "Scavenger of Human Sorrow", "Bite the Pain" e "Story To Tell" são três bons exemplos do poderoso Death que voltou arregaçando a manga e mostrando como se faz um death metal pra valer. Uma surpresa pros velhos bangers de plantão está na nona e última faixa do disco, apetitosamente intitulada de "Painkiller". Pois é. Depois da banda paulista de heavy metal melódico Angra ter lançado a mesma música em seu single "Freedom Call", à moda heavy metal, é a vez de uma versão death metal ser mostrada ao mundo. Agressivo como só Schuldiner sabe ser, não deixa por menos os riffs apoteóticos de um dos mais famosos hinos do metal, e, faz bem-feito.

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Em 1999 foi diagnosticado que Chuck Schuldiner era portador de um tumor no cérebro. Muitos fãs ao redor do mundo passaram a temer o pior; neste meio tempo, foram promovidas várias campanhas, com o intuito de levantar fundos para custear o tratamento caríssimo ao qual o músico se submetera, e que com certeza, pelo menos ajudaram a alongar um pouco mais sua vida. Um cd ao vivo do Death, gravado em 1998, "Live In Eindhoven", chegou a ser lançado pela Nuclear Blast para arrecadar fundos. Infelizmente no caso de Chuck, o inevitável veio prematuramente, quando ele contava com apenas 33 anos de idade.

É certo que muitas pessoas nascidas nos anos 80 (que não viveram a época) ou que não sejam admiradoras de Metal Extremo desconhecem a sua importância, mas Chuck foi um verdadeiro mestre, que ao contrário de muitos, nunca renegou suas raízes, se mantendo fiel aos seus princípios até o fim, nos brindando com clássicos que permanecerão eternos, pois sua arte jamais será esquecida.

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"A simbólica e frágil arte da existência nada mais é que o som da perseverança." (Chuck Schuldiner)

Colaborou: André Pase

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Sobre Haggen Kennedy

Nascido ao fim dos anos 70 e adolescido em meio ao universo metálico, Haggen Heydrich Kennedy já trabalhou e atuou numa vultosa gama de atividades, como o jornalismo, o desenho, a informática, o design e o ensino, além de outros quefazeres. Atualmente vive em Atenas, Grécia, onde estuda História, Arqueologia e Grego Antigo na Universidade de Atenas. A constante nesse turbilhão de ofícios, todavia, sempre constituiu-se de dois fatores: as línguas (ainda hoje trabalha com tradução e interpretação) e a música - esse último elemento, definitivo alimento espiritual.
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