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Serj Tankian: "Se você vai ser um artista de verdade, você tem que ter honestidade"

Por Ricardo Bellucci
Postado em 03 de outubro de 2024

Existe uma questão bastante polêmica na indústria musical: assumir suas opiniões, sejam elas de natureza política, filosófica, existencial ou ficar "na moita" e pensar apenas na música e na expansão da base de fãs. Eis a questão. Como em tudo na vida, é uma questão de perspectiva, principalmente pessoal. Parece ser o caso de Serj Tankian , que tem se posicionando fortemente sobre o massacre que o povo armênio vem sofrendo na guerra do Azerbaijão. As origens dos motivos que levaram Serj Tankian a esse forte ativismo a favor da causa armênia ficam absolutamente claras em sua autobiografia "Down With The System: A Memoir (of Sorts)". Na obra o vocalista do System Of A Down faz um relato comovente e profundo sobre sua vida, desde o nascimento em Beirute, no Líbano, passando pela jornada de seus antepassados, das dificuldades financeiras de seu pai que levaram a família a migrar para os Estados Unidos. Ele também fala do sofrimento e perseguição que o povo armênio sofre a séculos. Para ele, o ativismo passa por uma questão de identidade pessoal.

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Em uma recente entrevista concedida à rádio 107.7, The Bone, da área da baía de São Francisco, registrou o impacto de sua atividade política e a relação com o seu crescimento como músico, com e sem o SYSTEM OF A DOWN. Ele foi mais uma vez questionado sobre como se sente em relação à possibilidade de ver sua base de fãs diminuir devido ao seu ativismo político. Ele afirmou, conforme transcrito por BLABBERMOUTH.NET: "Eu acho que desde o início você tem que decidir qual papel você quer desempenhar dentro desta indústria. Se você quer maximizar sua base de fãs, ser um bom músico, escrever música, e não falar sobre coisas que podem afastar as pessoas, então você provavelmente será um artista incrível, e eu sou fã de muitos desses artistas. Mas se você vai ser um artista de verdade, seja um pintor, um músico, um arquiteto, ou qualquer coisa no ramo da arte, você tem que ter honestidade, e essa honestidade tem que vir através da sua alma e se exprimir através do seu trabalho. E você vai acabar afastando algumas pessoas, você vai acabar irritando alguns dos seus fãs, e que assim seja. É algo que você tem que aceitar como parte da jornada para que você permaneça íntimo com a verdade."

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É parte do jogo, portanto, ao assumir um papel mais engajado perder fãs que não concordem com você. Mas tudo nasce do que o artista sente e da importância do seu papel transformador na sociedade. A arte sempre exerceu essa função contestadora, principalmente nos chamados costumes. É uma questão polêmica, sim, é. Mas também é um fato histórico inconteste. O Blues, por exemplo, nasce nas plantações de algodão do sul dos Estados Unidos, como uma forma de expressar os sentimentos da população negra, que viva sob condições desumanas, explorada e oprimida.

Para muitos artistas, assumir esse ativismo é algo natural. Questionado sobre de onde vem essa paixão, Serj disse: "Bem, acho que eu era um ativista antes de me tornar um músico. Então, meio que continuou. E então a verdade sempre foi algo importante para mim, na minha vida pessoal, bem como o que é transcendente na minha vida artística. E é daí que realmente vem. Os vários graus de experiência profissional ou experiência profissional apenas aumentam meu tipo de compreensão das complexidades da indústria musical e algumas das coisas estranhas sobre ela. Não levo muito dessas coisas a sério, no que diz respeito ao aspecto de celebridade e todas essas coisas. É legal fazer reservas em restaurantes, mas é só isso. Então, acho que isso me ajudou a ficar um pouco com os pés no chão, embora eu ache que todos nós perdemos um pouco a cabeça, com base no sucesso da banda e da nossa música e tudo mais. Mas tento permanecer em um mundo onde posso olhar as pessoas nos olhos e ver sua excitação e agradecê-las por isso e ser autêntico sobre isso. Quer dizer, uma das razões, quando abrimos o Kavat Coffee e a Eye For Sound Gallery alguns meses atrás, eu apareço sempre que posso e vejo pessoas e tiro fotos e saio e converso e tomo café com elas. E é incrível pra caramba. Eu amo as interações com as pessoas. Eu não entendo isso em shows porque os shows são enormes e há muitas pessoas e é impossível se conectar em um nível individual com alguém, realmente. Quer dizer, mesmo nos bastidores, há centenas, centenas de pessoas. Então eu gosto disso. Estou apreciando isso ultimamente."

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Esse contato humano, pessoa a pessoa, é raro na indústria da música. Leva, sem sombra de dúvidas a uma desconexão do mundo real, dos seus dilemas e desafios. Talvez, ao assumir o ativismo, seja político ou por qualquer outra causa, o artista na verdade busque uma reconexão com o mundo real. Parece ser o caso de Serj Tankian , que tem se posicionando fortemente sobre o massacre que o povo armênio vem sofrendo na guerra do Azerbaijão.

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Sobre Ricardo Bellucci

Pedagogo, curador educacional, pesquisador, historiador amador, economista por acaso e sobretudo um vocalista frustrado. Um construtor de Utopias.
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