Exorcizando demônios pessoais, Vukovi chega ao quarto disco, o emotivo "My God Has Got A Gun"
Resenha - My God Has Got A Gun - Vukovi
Por Mário Pescada
Postado em 03 de maio de 2025
Nota: 7
As artes ajudam (e muito) a lidarmos com nossos problemas pessoais. Sabemos de muitos casos de artistas que escreveram músicas ou mesmo discos inteiros em momentos difíceis como forma de exorcizar seus demônios. "My God Has Got A Gun" (2025), quarto disco da carreira do Vukovi, é mais um para engrossar essa lista.


De gravadora nova, a dupla escocesa formada pela vocalista Janine Shilstone e pelo guitarrista Hamish Reilly descarregou em dez músicas o que Janine viveu nos últimos meses durante suas intensas sessões de terapia: "Eu estava encarando algumas coisas muito sombrias que eu não queria falar e isso, para mim, foi uma saída. É um jogo muito perigoso - de novo, nós somos um negócio e esse é nosso sustento - mas "My God Has Got A Gun" me impediu de ficar louca".
A julgar pelas letras, todas de Janine, essas sessões foram mesmo bem intensas. A vocalista escreveu sobre sua saúde mental, experiências sexuais, amores fracassados, conflitos e outras situações vividas. Ter letras pessoais não é algo novo para o Vukovi. No trabalho anterior, "Nula" (2022), um dos temas foi o diagnóstico que Janine recebeu de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo, um transtorno relacionado a ansiedade).

Quanto ao som, fica difícil rotular a dupla: é rock, rock moderno (seja lá o que for isso) ou post-rock? "Gungho" e "Peel", por exemplo, tem mais peso do que eu poderia esperar. Mas o que a dupla sabe fazer mesmo é fundir pop melancólico com rock: "Fallen Beyond", "Fuc Kit Up", "Misty Ecstasy" e "Bladed" são ótimos exemplos. Reilly fez um bom trabalho nas seis cordas enquanto Janine vocalizou de forma brilhante suas emotivas letras, sobretudo em "SNO" e "Kitty" (problema foi conseguir ler as letras no encarte de tão pequenas). Nem é preciso entendê-las, dá para senti-las e isso é o mais importante em um disco que se propõe a ser pessoal, certo?


Depois da escrita e do som, chegamos então a capa, outra forma de arte que Janine usou durante suas sessões de terapia para se expressar. Não era a intenção da banda usar tais pinturas para o disco, mas acabou acontecendo. Particularmente, esse foi um ponto que não me pegou muito não.
O Vukovi vem crescendo a cada disco, shows cheios, muitos compromissos e uma exposição que o showbiz exige, mas que a dupla já disse em algumas entrevistas não curtir e que pode até vir a alimentar os traumas de Janine: "Popularidade termina; você pode ser o sucesso do mês e no mês seguinte, ninguém dá a mínima. É meio drástico e eu estava assustada tendo tanta atenção e olhos sobre nós".
Enfim, uma banda interessante, que sabe fazer aquilo que se propõe. "My God Has Got A Gun" (2025) é um disco intenso que pode vir a agradar ouvintes de rock que estejam dispostos a experimentarem um som diferente dentro do próprio rock. Aproveitem, pois o disco está disponível no Brasil pela Shinigami Records em parceria com a SharpTone Records.

Formação:
Janine Shilstone: vocais
Hamish Reilly: guitarra
Martin Johnston: bateria (convidado)
Faixas:
01 This Is My Life And My Trauma (intro)
02 Gungho
03 My God Has Got A Gun
04 Fallen Beyond
05 Fuc Kit Up
06 Misty Ecstasy
07 SNO
08 Cowboy
09 Peel
10 Kitty
11 Bladed

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