Quando Tom Morello descobriu que Bob Dylan era muito mais radical na política do que ele
Por Bruce William
Postado em 17 de agosto de 2025
Tom Morello cresceu como militante da música. O guitarrista do Rage Against the Machine transformou o rock em megafone político nos anos 1990, misturando riffs, rap e mensagens contra o sistema. Mas mesmo alguém com esse histórico de radicalismo se surpreendeu quando mergulhou em um dos primeiros discos de Bob Dylan.
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Em depoimento à Rolling Stone India em 2011, para uma lista sobre as 70 maiores canções do cantor, Morello admitiu que não fazia ideia de quão fundo Dylan havia ido na crítica social ainda jovem. O choque veio com "The Times They Are A-Changin'" (1964), mais especificamente com a faixa "With God on Our Side" (youtube). "Eu nunca soube como Dylan era politicamente radical até ouvir esse álbum. Ele tinha 22 anos, mas soava como se tivesse 80, um sujeito calejado, como um velho justiceiro que passou por uma longa vida, entoando canções de duras verdades", disse.

A canção faz um inventário das guerras travadas pelos Estados Unidos, questionando o papel da fé usada como justificativa para conflitos. Dylan aponta para a contradição de um país que envia jovens para morrer e, ao mesmo tempo, silencia qualquer dúvida em nome de Deus. "Você não conta os mortos quando Deus está do seu lado. E nunca faz perguntas quando Deus está do seu lado", canta.
Para Morello, aquilo não era apenas um registro histórico, mas um manifesto que atravessa décadas. Ele mencionou a invasão do Iraque, o escândalo de Abu Ghraib, os civis mortos em bombardeios e o atoleiro no Afeganistão como episódios que caberiam dentro da mesma denúncia. "É uma exposição viva de crimes de guerra, passados, presentes e futuros", avaliou.

O guitarrista ainda lembrou a polêmica de Newport 1965, quando Dylan foi vaiado ao trocar o violão acústico pela guitarra elétrica. "A pressão era para que ele liderasse um movimento, algo que ele não queria. Acho que ele perdeu a chance de ver se havia um teto para o quanto a música poderia empurrar a política radical. Mas ele chegou perto com 'With God on Our Side'", comentou.
Na visão de Morello, aquele jovem de 22 anos que parecia falar com a voz de um ancião revelou que o rock podia ser mais que entretenimento, e podia ser uma arma contra a hipocrisia e a violência institucionalizada. Uma lição que, décadas depois, ajudaria a moldar a trajetória política e artística do próprio guitarrista.

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