João Gordo: Em novo livro, André Barcinski fala sobre a biografia
Por Pedro Pellegrino
Fonte: Dive Comunicação
Postado em 18 de agosto de 2016
Em entrevista recente para a Dive Comunicação, André Barcinski comentou sobre a sua carreira e sobre a biografia do vocalista do Ratos de Porão.
Confira:
DIVE COMUNICAÇÃO: Você sempre se imaginou trabalhando no jornalismo? Como ingressou nessa profissão?
André Barcinski: Nunca quis ser nada além de jornalista. Meu avô, Paulo de Medeiros e Albuquerque, era jornalista, escrevia sobre música e romances policiais, e foi uma grande influência, apesar de ter morrido quando eu tinha 14 anos.
Dive: O rock 'n' roll veio antes de tudo em sua vida?
Barcinski: Veio muito cedo. No início dos anos 80 eu tinha uns 12, 13 anos, e comecei a me interessar por heavy metal, que era um gênero quase que marginal no Brasil. Depois, conheci os Ramones e toda a cena punk, comecei a colecionar discos, livros e revistas sobre o assunto. Mas eu gostava também de música brasileira – Raul Seixas, Secos e Molhados, Mutantes, etc.
Dive: Você começou fotografando bandas de metal, correto?
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Barcinski: Foi uma coisa que fiz por amizade, nunca ganhei nada com isso. Eu era amigo de bandas como Dorsal Atlântica e fiz fotos que acabaram sendo usadas até em capas deles. A capa de "Searching for the Light" é minha. Mas eu fotografava todo tipo de show, de Buddy Guy a Stay Cats, de Iggy Pop a The Fall.
Dive: E sua amizade com o pessoal do Sepultura?
Barcinski: Começou na mesma época, meio pro fim dos anos 80. Vi os primeiros shows do Sepultura no Rio, onde eu morava, e fiz reportagens sobre eles no primeiro jornal em que trabalhei, a "Tribuna da Imprensa".
Dive: Como foi escrever a biografia da banda?
Barcinski: Fiz o livro em parceria com o Sílvio Gomes. Gostei muito de fazer, mas infelizmente pegamos a banda em um momento difícil, bem no meio da saída do Max. Viajei a Phoenix, no Arizona, só para entrevistá-lo, mas ele cancelou o papo em cima da hora.
Dive: Muitas histórias que não foram publicadas? Existem planos para uma nova edição?
Barcinski: A editora nos procurou inúmeras vezes para relançarmos o livro, mas Sílvio e eu não nos interessamos, até porque lá se vão 15, 18 anos do lançamento, muita coisa aconteceu com a banda, e seria necessária uma imensa pesquisa e muito trabalho. Tenho um monte de projetos novos.
Dive: Mas antes disso veio o "Barulho- Uma Viagem pelo Underground do Rock Americano", como foi essa "loucura", Barcinski? Tinha 20 e poucos anos, sem muito dinheiro no bolso, e embarcou nessa aventura, testemunhou grandes shows, e o começo do estouro da cena de Seattle.
Barcinski: Sim, viajei em setembro de 1991, justamente na época em que estava saindo o "Nevermind". Foi uma grande sorte estar nos Estados Unidos justamente na época do disco e presenciar o estouro do Nirvana e de toda a cena dita alternativa.
Dive: Lendo o livro, fiquei imaginando a "chapação" dos caras do Ministry e do Cramps, como você mesmo já escreveu em seus blogs, a banda Ministry merece ser estudada, tanto abuso de drogas, como ainda estão vivos?(risos).
Barcinski: Alguns não estão. Vários caras da banda morreram, um se matou, enfim, não é uma turma das mais saudáveis. Mas são uma banda extraordinária, uma das melhores do período.
Dive: Você acha que hoje em dia um jornalista conseguiria fazer essa viagem? Será que teria tantas bandas boas para se entrevistar?
Barcinski: Acho difícil, por uma única razão: as bandas se profissionalizaram demais e hoje são cercadas por assessores. Seria impossível, acredito, falar com bandas famosas sem ter que passar por um batalhão de assessores.
Dive: O Rock perdeu espaço para estilos bem ruins, outro dia entrevistamos o Donida do Matanza, ele disse que o rock pode se tornar igual ao jazz dos anos 30, ficar bem segmentado, o que você acha dessa declaração?
Barcinski: A verdade é que o rock, embora muito popular em países de língua inglesa, não é, nem de longe, o maior vendedor de discos da indústria musical. Ao longo dos anos, gêneros como o country (nos EUA), a música romântica e a dançante venderam bem mais. Tendo a concordar com o Donida, acho que o rock já está se segmentando demais.
Dive: O cinema na sua vida é muito importante, grandes resenhas, entrevistas com cineastas, atores, pode citar uma entrevista bacana?
Barcinski: Foram muitas. Trabalhei por muitos anos entrevistando cineastas, sete só nos Estados Unidos. Mas fiz muitas entrevistas legais aqui no Brasil também. Uma das mais marcantes foi com Robert Wise, que dirigiu "West Side Story" ("Amor, Sublime Amor") e foi o montador de "Cidadão Kane".
Dive: Na biografia de José Mojica Marins (escrita por André Barcinski) é uma aula de como se fazer cinema com poucos recursos no Brasil, nos conte um pouco sobre a publicação desse livro? No ano passado tivemos o relançamento do livro, você acha que o personagem Zé do Caixão está finalmente tendo o reconhecimento merecido? Com séries, filmes e livros a respeito, Coffin Joe ainda é mais famoso nos Estados Unidos e Europa?
Barcinski: Acho que sim. Tanto que Tim Burton veio ao Brasil e só queria duas coisas: ver o Carnaval e conhecer Coffin Joe. Muita gente em vários países admira e estuda a obra do Mojica. Ele já não é a "novidade" que surgiu para o mundo do cinema de horror nos anos 90, quando seus filmes foram lançados em VHS nos EUA. Acho bonito demais ver iniciativas como a mostra sobre o Mojica no MIS-SP e a homenagem que ele recebeu na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que provam respeito e admiração por ele. Acho que gênio é aquele que consegue criar algo totalmente novo e surpreendente, e o Mojica certamente fez isso. É um cineasta autodidata e verdadeiramente independente, que sempre fez um cinema autoral e único. E Zé do Caixão já se tornou um personagem mitológico do Brasil, como o Saci Pererê e a Mula Sem Cabeça. É uma figura que habita nosso imaginário coletivo e os pesadelos de várias gerações. E pensar que o artista que encarna esse personagem está entre nós é, para mim, incrível.
Dive: André, e o Garagem (programa radiofônico que passou por diversas estações (Brasil 2000, Kiss FM), que contava com Álvaro Pereira Junior, Paulo Cesar Martins, Lúcio Ribeiro, André Forastieri, Marcelo Orozco), foi um programa revolucionário no rádio, quando vocês estavam fazendo, vocês imaginavam tanta repercussão?
Fãs continuam pedindo a volta do programa, você acha que tem alguma chance? Com tantos podcasts de má qualidade por aí, seria uma saída? Foram tantos programas memoráveis, mas eu me lembro de um quando Joey Ramone morreu, vocês fizeram um programa especial de três horas só tocando Ramones... Talvez em 2016, isso seria impossível, ou não?
Barcinski: Sempre fizemos o "Garagem" por diversão, nunca ganhamos um centavo com o programa e acho que é por isso que ele foi tão espontâneo. Como não tínhamos nenhum tipo de compromisso – comercial ou de audiência – tocávamos as músicas que queríamos, entrevistávamos quem queríamos, enfim, era um formato totalmente livre.
Dive: Deve ser difícil citar um livro favorito de todos que você já escreveu, mas se pudesse escolher um só, qual seria?
Barcinski: Acho que "Maldito" foi o mais importante, porque ajudou a resgatar o Mojica.
Dive: " Pavões Misteriosos" é o seu último lançamento, o livro é sobre a música brasileira feita de 1973- 1984, quanto tempo você demorou para finalizar esse livro?
Barcinski: Dois anos. - Fiz umas 100 entrevistas com 65 pessoas, e devo ter tentado falar com outras 100, que ou não puderam, ou não quiseram. - Sou de 68. Tinha cinco anos quando saiu o primeiro disco do Secos e Molhados, e aquilo me marcou demais. Eu ficava o dia inteiro olhando para aquela capa, achando que eram, quatro ETs que tinham descido de disco voador no Brasil. Era radical demais pra época. Quando vi o Raul Seixas cantando "Gita" no "Fantástico" fiquei louco também, assim como quando ouvi os discos mais famosos da fase solo da Rita Lee. Os Mutantes também me fascinavam.
Dive: Últimas perguntas, Barcinski, estamos curiosos para ler a biografia do João Gordo, enquanto não é lançada em agosto, pode contar alguma história inusitada?
Barcinski: O livro sai no fim de agosto e acho que vai surpreender muitas pessoas que acham que conhecem o João. A vida dele foi incrível. O pai era policial da Rota, e o relacionamento dos dois foi violento, pra dizer o mínimo. Isso marcou demais o João e ajuda a explicar sua personalidade.
Dive: Você tem um blog sobre o seu time do coração, o Fluminense, futebol não é muito a praia desse blog, e nem da Dive Comunicação( apesar de eu ser palmeirense fanático, rs), mas o que você está achando desse imbróglio da CBF, a escolha de Tite como novo treinador, o futebol brasileiro vai voltar a ser relevante no cenário mundial?
Barcinski: Acho que não voltaremos a ser relevantes enquanto empresários mandarem nos clubes e a CBF for chefiada por esse bando.
divecomunicacao.blogspot.com.br
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