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O Necrológio do Rock: bandas velhas fingindo serem novas e vice versa

Por Nacho Belgrande
Fonte: Playa Del Nacho
Postado em 31 de julho de 2015

Se você for um fã do GUNS N’ ROSES [o original, não aquilo pós 1993] nascido nos anos 70, com certeza você estava entre os primeiros que ouviram à diatribe de W. AXL ROSE contra a imprensa musical em ‘Get In The Ring’, do segundo volume de ‘Use Your Illusion’.

Ainda assim, como a absoluta maioria dos seguidores da banda, você com certeza pouco sabe sobre os nomes citados naquela faixa – mas deveria, porque sem um dos alvos, MICK WALL, muitas de suas bandas favoritas provavelmente não estariam onde estão hoje. Principal redator da Kerrang! Nos anos 80, Wall defendeu o tipo de música que as outras revistas inglesas ignoravam ou tinham como abjetos, e foram seus textos que ajudaram a cimentar a reputação de bandas como o METALLICA, GUNS N’ ROSES e FAITH NO MORE quando estas quiseram conquistar o mercado europeu.

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A entrevista completa pode ser lida no link abaixo:
http://www.ultimate-guitar.com/interviews/interviews/mick_wall_if_rock_stars_are_superheroes_the_truth_is_kryptonite.html

Leia a tradução completa no link a seguir:
https://playadelnacho.wordpress.com/2015/07/29/o-necrologio-do-rock-bandas-velhas-fingindo-serem-novas-e-vice-versa/

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Tendo passado a última década escrevendo uma série de biografias sobre alguns dos maiores nomes do rock, seu último livro, ‘Getcha Rocks Off’, é uma memória de sua jornada escrevendo para aquela que se denominava ‘a revista de rock mais alta do mundo’. Hilário, sincero e trágico na mesma medida, ‘Getcha Rocks Off’ oferece uma perspectiva fascinante da vida nos bastidores com OZZY, LEMMY, AXL e LARS ULRICH, apimentado pelos comentários de Wall sobre o circo que é o rock.

O jornalista ALEC PLOWMAN do site Ultimate Guitar teve o privilégio de conversar com Mick para falar a respeito da abordagem única de Ozzy Osbourne para fazer o jantar de sábado, o problema dos rockers modernos em comparação a seus antecessores, e o porquê de ROBERT PLANT estar certo ao esnobar uma reunião do Led Zeppelin.

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UG: "Getcha Rocks Off" acabou de sair. É interessante que você esteja escrevendo suas memórias depois de uma série de livros sobre outras pessoas. Por que agora?

MW: Nada em particular. Eu escrevi um antes, claro, chamado ‘Paranoid’, e que saiu originalmente em 1999. Sempre foi a minha intenção depois de eu tê-lo escrito fazer mais algo naquela linha. Eu mal fiz dinheiro com ‘Paranoid’ e ganharia muito pouco por fazer mais livros daqueles a princípio, enquanto, ao escrever biografias de músicos de renome como o LED ZEPPELIN, haveria dinheiro de respeito envolvido, desde que eu fizesse um trabalho apropriado e os livros vendessem bem. E foi o que fizemos. Houve alguns livros antes do sobre o Led Zeppelin, foi o que aconteceu. Eu fui atrás do dinheiro. Eu tenho que fazer isso, porque eu sou um pai com filhos pequenos e se meus livros não venderem bem, eu não faço dinheiro algum. E foi isso, eu fiz as biografias sempre com a ideia de que eu voltaria a fazer algo que seguiria "Paranoid".

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E daí "Paranoid" saiu em ebook ano passado e foi muito, muito bem. Ainda está vendendo muito, muito bem agora, mais de um ano depois, o que é muito raro, e meu editor disse, ‘hey, podemos fazer algo nessa área? ’ e eu fiquei ‘Finalmente! ’. E foi o que fiz, eu escrevi tudo em cerca de três semanas. Algumas coisas meio que reelaboradas em cima de ‘Paranoid’… ‘Paranoid’ é um trabalho muito denso pra mim, eu tinha total autoridade sobre ele, eu fui até essa editora pequena contando a total mentira que eu escreveria um livro sobre o Black Sabbath e daí apenas escrevi um livro que eu há muito queria fazer. Dessa vez, ficavam me dizendo, ‘queremos material de astros do rock’, ‘queremos sexo e drogas’, então eu meio que fui de acordo com as regras deles. Mas, dentro disso, tentando mostrar quem eu sou e fazer com que isso funcione em outros níveis também. Não é tanto que eu achasse que fosse ‘a hora perfeita’. É que era a única hora. Agora é o único momento em 16 anos desde que ‘Paranoid’ saiu que alguém quis de fato a esse livro.

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Algo que eu achei interessante quando o li é que parecia um anexo de "Appetite For Destruction" [o livro que compila os melhores textos de Mick para as revistas Kerrang! e Raw]. Parece preencher as lacunas, como se fosse os bastidores da coisa. Me pareceu o complemento ideal…

Para ser honesto, "Appetite" é velho. "Appetite" saiu cinco anos atrás. Mas eu entendo, ao que você diz. As introduções, e os adendos, tudo era mais importante para mim do que aquelas antigas matérias da ‘Kerrang! ’ que eu incluí em "Appetite". Havia muito mais histórias para contar, o lance é esse. Quero dizer, "Getcha Rocks Off’ foi… porque o tipo de contrato que me prende com a Orion é bem sofisticado. Há muito dinheiro e eles vendem esses livros para o mundo todo e assim eles esperam que você venha com algo que seja tão comercial quanto possível, ao mesmo tempo que esperam manter alguma integridade… tem que ser bom, entende?

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Mas no futuro, eu realmente espero que isso leve a uma oportunidade para fazer livros nos quais não haja tantos astros do rock, coloquemos assim. Eu tenho um romance no qual tenho trabalhado faz um bom tempo. Eu nunca tive tempo de terminá-lo porque não há dinheiro envolvido e eu sempre estou trabalhando. Eu também tenho um livro de memórias de infância que eu gostaria de fazer em seguida para o qual tenho uma ideia muito boa, mas claro que não haverá astros do rock nele, ou nenhum que eu conheça, por assim dizer. Eu apenas espero que ‘Getcha Rocks Off’ se saia bem, e daí eu possa convencer a editora a me colocar para fazer mais coisas do tipo. Porque, no momento, meus livros saem para o mercado de natal – eles são lançados espalhafatosamente sobre bandas grandes e eles são feitos para esse mercado, esse tipo de mercado de alto padrão. É isso que todos os autores desejam, então é fantástico, mas eu de fato gosto mais desses livros mais alternativos. Há muito que se pode fazer com eles. Alguém me disse um dia desses que achou ‘Getcha rocks Off’ o livro mais triste que já havia lido em muito tempo, e eu perguntei, ‘como assim, triste no sentido de patético? ’ e ele respondeu, ‘Não, apenas muito triste. Me deixou muito, muito triste’. Eu pensei, ‘ah, ok. ’ Então você acaba voltando a ler o texto e pensando, ‘Ah sim, eu posso entender o que eles querem dizer. Sim eu acho que é melancólico sob muitos aspectos. ’

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Eu concordo totalmente com o que você está dizendo. Houve trechos em que eu rolei no chão de tanto rir. O pedaço onde você comenta de Ozzy Osbourne mandando um canecão de vinho e cozinhando o almoço de domingo.

De avental…

Sim, é tão surreal quanto parece. Mesmo assim, há a tragédia de Ozzy beber um canecão de vinho para cozinhar o jantar. E especialmente o lance, primeiro com as suas próprias batalhas com a heroína e daí o lance com Phil Lynott e Steve Clark, eu achei muito afetuoso.

Obrigado. Não era para ser particularmente melancólico. Eu estava apenas tentando nos lembrar a todos que não é somente ‘hey, vamos cair na farra, olha que demais! ’. Eu venho de uma tradição de jornalismo musical que há muito, muito tempo se foi – é tão do século passado que virou anciã, aquela onde os autores do fim dos anos 60 e do começo dos 70 tentavam contar a verdade e lhe dar relatos precisos, verdadeiros e honestos das pessoas com as quais eles se encontravam e as cenas que eles haviam presenciado e o conseguiam porque as revistas de música eram o que vendia discos e então, o acesso que você tinha era simplesmente incrível, e ainda estávamos naquela ponta do arco-íris. Agora estamos no outro lado do arco-íris onde as revistas musicais não têm mais relevância, não com todas as redes sociais e canais de TV e o YouTube em particular. Eu tenho três filhos e eles todos são apaixonados e loucos por música, e todos eles a acessam em seus telefones.

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O que eu tentei fazer com esse livro… ninguém mais quer esse tipo de história minha nas revistas. Eu acabei de fazer uma matéria de capa para a Classic Rock sobre BON SCOTT, e sim, há alguns momentos emocionantes, chame assim se quiser, mas eles estão fudidos se me deixarem escrever sobre a baita dupla de idiotas que são os Young. Ou sobre como Bon, na verdade, morreu de uma porra de overdose de heroína dada por sua namorada drogada. Eles dizem ‘não, não, não’ porque no futuro, querem que BRIAN JOHNSON apareça no Classic Rock Awards. Você entende como é? Não é que eu tenha tido essa conversa com a Classic Rock e não estou falando dela de modo algum. A MOJO é muito pior, para quem eu também escrevi no passado. Eles simplesmente determinam a manchete, a diretriz da história. Eles sabem exatamente o que querem que você escreva e eles lhe dizem o que é e que sua função é escrever de um modo tão castiço que as pessoas achem que é aquilo que você sente. Os leitores não sabem que te deram uma ordem bem direta para elaborar aquela matéria que eles tinham em mente, entende?

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Então o livro é uma oportunidade para mim, quando se trata de Phil Lynott ou Lemmy ou Jimmy Page ou Slash, seja lá quem for, para eu contar como é que eu me sinto de fato a respeito, como eu me senti de fato na época e o que me desconcertou naquele momento e o que me intriga até agora – as coisas pelas quais me sinto culpado, as coisas pelas quais me arrependo. Eu não sei de nenhuma revista no mundo – revista de música – onde as pessoas possam escrever desse modo, não mais. O mundo estava abarrotado de revistas assim na minha juventude. Então eu espero que o livro esteja afetando às pessoas, e eu espero que ele faça as pessoas se sentirem desconfortáveis e arrependidas, ao mesmo tempo que elas riam, porque isso é uma porra de um circo. Para mim, é o gênero mais bizarro, baseado em personagens e boatos da música. O pop é exatamente o que está escrito na embalagem – é como um sorvete. O rock é como uma garrafa de whisky e uma grama de heroína comparado ao pop. E eu acho que também se comparado ao hip hop. Há coisas excelentes nesses outros gêneros, mas nunca haverá nada como o que você encontra no rock. Nunca houve um Ozzy, um Jimmy Page, um Jimi Hendrix. Nunca houve sequer um Ronnie James Dio ou David Lee Roth. Eles simplesmente não têm esse tipo de pessoas que acham que têm que escrever sobre o universo e que são imensamente populares em todo o mundo por décadas e décadas e décadas.

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Pegando daí, eu achei que foi bem interessante que você tenha encerrado o livro em 1992, com a frase ‘o rock estava morto. Pelo menos o meu tipo de rock’. Eu me perguntei onde você acha que o gênero está hoje em dia?

Morto. Morto. Morto. Está morto e enterrado faz muitos, muitos anos. Engraçado, eu acabei de abrir o novo exemplar da Classic Rock. Ele fala do futuro e de bandas novas. Eu não reconheci nenhum filho de uma puta. A capa vira um pôster triplo. É lindamente elaborada – eles são muito, muito talentosos os jovens que trabalham lá agora. Mas eu não reconheci nenhum filho da puta naquela capa. Não que eu tenha que, mas eu achei que isso disse algo sobre mim, sobre, claro, eu ser mais velho, mas também disse algo o fato de eu ter reconhecido apenas um nome ali, o do RIVAL SONS. Eu já vi ao Rival sons ao vivo e achei que eles mandaram muito bem, mas no fim das contas, o que é que eles são? Led Zeppelin da décima geração? Nunca serão tão bons quanto… nunca serão tão bons quanto o Guns N’ Roses, que nunca será tão bom quanto o Led Zeppelin…

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Eu estava assistindo a T In The Park dia desses na TV porque minha filha estava assistindo a Sam Smith, a quem ela adora, e a quem acho fantástico. E daí apareceu o KASABIAN, e eu já pensei, ‘lá vem, eis uma banda de rock contemporânea, moderna, antenada do século 21’. A matéria falava sobre eles serem indicados para 9 prêmios na cerimônia da NME e eu pensei, ‘o que é que isso tem de relevante hoje em dia? ’ Daí eles começam a tocar, e foi tipo ‘Jesus Cristo! ’ essa porra faz com que o Coldplay pareça o THE WHO. Era lixo total. E aquele merda de vocalista! Sem voz, sem carisma e o cara é tão metido, entende o que quero dizer? Bom guitarrista, mas no fim, não desce bem nem como o INXS. Eu não sei. Eu pensei, se isso for o estado do rock hoje em dia, cara, então o rock é muito chato e entediante. E retrô! É tão fudidamente retrô O que é que tem alguém por aí fazendo com o rock que seja novo, do mesmo modo que nos anos 80, quando o Metallica veio, e você disse, ‘eu não acho que tenha ouvido nada como isso antes. Isso com certeza é território novo’. Ou mesmo o Van Halen, quando chegou, quando você dizia, ‘que porra é essa que ele está fazendo? ’, me entende?

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Para mim, os últimos inovadores foram os Red Hot Chili Peppers e o Faith No More. Tá, o Foo Fighters é provavelmente a maior banda de rock do mundo no momento – eu acabo de escrever um livro sobre eles, então eu sei demais sobre eles – e eles fizeram algumas canções arrebatadoras e muito boas. Eles com certeza têm uma vibe e uma identidade – eu entendo o porquê de eles serem populares. Mas ainda assim… eu já ouvi tudo aquilo antes? Claro que sim, uma porra de milhão de vezes! Então eu não sei… pra mim, me perguntam isso o tempo todo e eu sempre tento dizer algo positivo. Mas eu desisti recentemente…. Me diga você, Alex, eu presumo que você seja muito mais jovem do que eu. Quem você diria que é o novo Led Zeppelin?

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Eu não sei se ele está no rock. O que me impressiona é que não é tanta gente assim que resolve aprender guitarra hoje em dia. E as pessoas que o fazem, estão repetindo ao Led Zeppelin.

Exatamente! Há muita coisa boa rolando, mas com certeza não é no rock. Eu aborreço muitos de meus assim chamados leitores frequentemente – eu não of aço deliberadamente, mas eu o faço para dizer ‘acorda, caralho! ’ Quero dizer, as pessoas ainda se referem a Glenn Hughes como o grande vocalista. Eu conheço Glenn, eu gosto dele, e o conheço ele faz muitos, muitos anos. Mas essas pessoas já ouviram a Sam Smith cantando? Já ouviram a Ed Sheeran? Se Eric Clapton tivesse escrito a qualquer uma daquelas músicas, ou David Coverdale, ou se o último álbum de Slash tivesse uma porra de música tão boa como aquilo, todos nós estaríamos dizendo que eles são gênios e mestres. Mas, ao invés disso, eles dizem, ’ah, isso é música de mulher’, ‘isso é coisa pra rádio baba’, ‘isso nem conta’. Descem o pau em mim quando eu digo algo como ‘Sam Smith não tem uma voz excelente? Não é ótimo que tenhamos artistas como Sam Smith e Adele? Eles não são originais, mas pelo menos são novos e com vigor. Por que é que nenhum astro do rock consegue mais escrever músicas como aquelas?

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Agora, eu sou muito amigo dos caras do Def Leppard – muito bons amigos – e temos todos a mesma idade. Eles são uma grande banda para se ir ver tocar ao vivo ainda, mas da última vez que eles fizeram um disco com que você pudesse defender foi com ‘Hysteria’. Eles fizeram uns discos legais desde então, mas nada que tenha relevância, nada que vá ser o número um. Tendo dito isso, quem é que se importa com o que é número um? Você viu que cerca de um ano atrás teve um certo barulho pelo fato do álbum do JUDAS PRIEST ter entrado direto no sétimo posto da parada dos EUA? Eu olhei praquilo e analisei a coisa. Eu percebi que eles haviam vendido um terço do montante que haviam vendido no mesmo período quando ‘Turbo’ fora lançado, que chegou apenas a #30 ou algo assim. O Black Sabbath foi direto para a primeira posição com #13 – eles ainda nem chegaram a disco de ouro por aquele álbum nos EUA, ou aqui, ou em qualquer lugar que tenha importância. Eles ganharam discos de ouro na Finlândia, onde se você vender três cópias e meia, já recebe um disco de ouro. É uma palhaçada. Qualquer disco que qualquer um desses caras lançar agora – basta olhar no Wikipedia – é número um em todos os países do mundo e o total de vendas é algo em torno de 50 mil cópias no mundo todo, ninguém se importa com nada a não ser com vê-los ao vivo. Se você fosse ver o Black Sabbath amanhã e eles tocassem o disco novo inteiro e nenhum dos clássicos, cara, você ficaria embocetado. Mas se eles tocarem uma ou duas faixas do novo disco apenas para deixar todo mundo com a sensação de que aquilo tem alguma relevância e daí tocassem ‘Paranoid’ e ‘War Pigs’ e ‘Children Of The Grave’, daí sim, você tinha visto um show do Black Sabbath.

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Então eu acho que o rock está morto. Eu acho que estamos na era da ‘última chance para assistir ao vivo’. Estão todos morrendo como moscas. Chris Squire foi o último, Malcolm Young está demente. Muitos astros do rock têm caras cantando por eles nos bastidores. Você sabe algo sobre isso?

Sim.

O Aerosmith tem um cara cantando na coxia. Steven Tyler, Jeová o abençoe, tem quase 70 anos e não consegue atingir uma nota alta de jeito nenhum. Mas é a mesma coisa com todos eles – o velho David Coverdale foi pego com as calças na mão alguns anos atrás porque estava fazendo uso de ‘tecnologia’. Euuurgh!

Então, para mim, o rock ESTÁ SIM morto. Não quer dizer que não haja inovação na música e que não haja música bonita sendo feita. Eu acho que a música está sobrevivendo. Mas no rock… ouçam, as pessoas falam do Kiss agora como se eles fossem algo especial apenas porque eles ainda estão na ativa. Eu nunca tive um disco do Kiss na minha vida, e os discos que ouvi não serviriam para que eu limpasse meu rabo, porque eu cresci com excelentes bandas e o Kiss não foi uma delas.

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Algo que salta no livro é que você era bem próximo de muitos músicos, e ficou amigo de muitas das bandas. Isso alguma vez interferiu com seus textos sobre eles?

Se ser amigo delas alguma vez afetou o modo que escrevíamos sobre eles? Claro. 100 por cento. Se não gostássemos deles, isso afetava também. Era a nossa gangue, e se não gostássemos de você, você que se fodesse. Se gostássemos de você, cara você tinha muita sorte! Era essa a regra. Digo, não sentávamos lá e dizíamos isso uns para os outros desse jeito. Mas o livro fala sobre quando minha mãe morreu, o Iron Maiden mandou uma coroa de flores. Você acha que eu vou dizer que eles fizeram o mesmo disco quatro vezes seguidas na Kerrang! da semana que vem? Não rola. Mas isso não era só dos anos 80. Para ser honesto com você, a vida é assim. A vida gira em torno de relacionamentos. Tudo se trata de relacionamentos. O que a Kerrang! tinha com todas as grandes bandas era um relacionamento. Aquilo era extremamente generoso. Nós colocávamos na capa bandas das quais ninguém nunca tinha ouvido falar antes e ninguém ouviria falar mais apenas um mês depois. Colocamos o Crimson Glory na capa, colocamos o Chainsaw Massacre na capa… era esse o nome deles? Eu esqueço o nome deles… colocávamos o Dumpy’s Rusty Nuts na revista de vez em quando. Colocamos o Rogue Male na capa. Então, você conhece alguma dessas bandas?

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Não.

Não conhece, né? Bem, do mesmo jeito que tínhamos completos desconhecidos como o Metallica e o Bon Jovi. Quando o Bon Jovi tocou na Inglaterra pela primeira vez, foi abrindo para o Kiss em 1984, e o Kiss, sendo os seres humanos calorosos e generosos que eles são, trataram a banda feito merda. Houve uma grande festa promovida pelo Kiss depois da última noite em Wembley, e apesar de o Bon Jovi ser a banda de abertura, eles não foram convidados para a festa. Então levamos Jon conosco – ele era o meu convidado. Ele simplesmente nunca esqueceu daquilo. Ele era um garoto e dissemos, ‘apenas vá com a gente! Como é seu nome mesmo? Jon? Sim, você vem com a gente, vai dar tudo certo. Fodam-se esses caras, você vem com a gente’. E agimos do mesmo jeito quando o segundo álbum deles fracassou. Demos total apoio a eles. A primeira vez que o Guns N’ Roses veio a Londres, eles todos foram ao escritório da Kerrang! Mesma coisa quando o Faith No More tocou em Londres pela primeira vez, eu ainda tinha o meu programa ‘Monsters of Rock’ e tínhamos saído para beber com eles e no dia seguinte, Jim Martin, o grande e gordo Jim, estava com uma ressaca tão braba que ele não conseguiria ir ao programa de TV. Daí eu liguei para o Krusher, que era o designer da Kerrang! porque ele se parecia com Jim. Eu disse, ‘vem ´pra cá e seja Jim no programa’ E eu disse para a banda ‘nem se preocupem, lembram-se do Krusher, da noite passada? Ele poderia ser irmão gêmeo de Jim, vamos colocar ele no sofá! ’ E eles disseram, ‘Sim! OK! ’ e foi o que fizemos.

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Tínhamos relacionamentos com o Anthrax, Slayer, Testament, Exodus. Havia uma banda chamada Intrinsic, estadunidense, muito Iron Maiden, tocavam um pouco mais rápido, eles prensaram 100 cópias de um disco, nos mandaram, e nós simplesmente amamos! Eu resenhei o disco e dei cinco estrelas porque eu estava bêbado pra cacete e ele tinha sido o meu favorito naquele dia. E daí eu peguei o disco, que nem tinha capa, ele só vinha em um envelope branco em um saco, e escrevi à caneta ‘contratem essa porra de banda, seus viados’, coloquei em um pacote, mandei para a Music For Nations e eles os contrataram na semana seguinte.

Wow.

Então não tinha essa de depois dizer ‘ah! Eu realmente acho que aquele terceiro álbum do Intrinsic não é tão bom’. Você diz ‘Sim! Intrinsic é do caralho! Putas caras legais! ’ Entende? E tem o King’s X. Eu escrevi os primeiros textos sobre o King’s X baseado em discos da Megaforce, que me levou até Nova Iorque, me levou para um clube de strip, me embebedou demais – eu estava lá para entrevistar a Ace Frehley – como um lance paralelo e eles disseram, ‘temos essa outra banda do Texas’. Daí eles tocaram ‘Visions’ para mim – eu não sei se você conhece o primeiro álbum deles – é uma coisa bem Hendrixiana. E daí tocaram uma faixa chamada ‘Goldilocks’, que eu achei muito boa e eu disse, ‘Foda-se. Me mandem para Houston de avião e eu coloco eles na capa’. E assim eles o fizeram, porque voos domésticos nos EUA são relativamente baratos. Para comprar uma única página de publicidade na Kerrang! naquela época custaria umas mil libras, então dizer ‘Vou colocar eles na capa e escrever uma matéria de quatro ou cinco páginas dentro’ – não tem como comprar esse tipo de coisa, naquele tempo, o jogo era esse. Então tínhamos um relacionamento.

Claro que podia ficar complicado. Com o King’s X, por exemplo, eu fui entrevista-los a respeito de seu terceiro álbum e senti mesmo que eles tinham perdido o rumo. Eu achava que o empresário deles era um mané e que ele os estava levando na direção errada. Eles poderiam ter sido o Pearl Jam cinco anos antes do Pearl jam. Mas eles eram apenas os Sres. Amigões e o empresário deles era um fanático cristão, e isso fodeu com eles. Eu estava desesperado para enfiar isso na matéria, mas não o fiz. Ao invés disso, acabou saindo algo tipo ‘eu não curto muito o novo disco, não é tão bom quanto o primeiro’.

Com o Iron Maiden, chegou um tempo em que a proximidade gerou desconsideração. Chegou um momento em que eu nem escrevia mais sobre eles – foi durante toda a era de Janick Gers onde Bruce foi um completo de um cuzão. Eu não podia esconder todas aquelas cagadas. Eu já tinha feito isso por muitos anos. Eu estava de estômago revirado com a coisa toda. Nesse período, eu estava sufocando em minha arrogância. Foi aí que eu tretei com muita gente porque eu não conseguia mais jogar aquele jogo. Mas foi hilário enquanto durou.

Leia a tradução completa no link a seguir:
https://playadelnacho.wordpress.com/2015/07/29/o-necrologio-do-rock-bandas-velhas-fingindo-serem-novas-e-vice-versa/

Fonte original:
http://www.ultimate-guitar.com/interviews/interviews/mick_wall_if_rock_stars_are_superheroes_the_truth_is_kryptonite.html

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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