Animal Records: entrevista com Chiaroni para Extreme Rock
Por Gabriel Arruda da Silva
Fonte: Extreme Rock Spirit
Postado em 22 de setembro de 2012
Depois da explosão dos downloads e da internet, várias pessoas deixaram de ir a lojas de discos perguntando se tem o Cd da sua banda favorita, pensando nem duas vezes na hora de comprar. Isso forçou os donos das lojas a fecharem os seus estabelecimentos enriquecidos de discos, não aguentando os poderes que a tecnologia exerce. No caso de Carlos Chiaroni, dono da consagrada loja Animal Records, ainda sente o prazer e o romantismo de vender as coisas que ele mais ama, não dando bola e não se rendendo aos avanços tecnológicos. Na entrevista a seguir, ele fala sobre os 20 anos de Animal Records, da piratária, do Kiss, do Sweden Rock Festival, Lokaos Lançamentos etc. Então, caro leitor, coloque o fone de ouvido que lá vem muito Hard Rock e Heavy Metal.
A Animal Records completou esse ano 20 anos de sua existência de muito Hard Rock e Heavy Metal. Durante todos esses anos, como você definiria a loja em simples palavras?
Carlos: Fidelidade e atitude.
Dando uma volta no tempo, quando foi que despertou o seu interesse pela música?
Carlos: Desde recém-nascido, eu tinha uma vitrolinha e ficava escutando discos. O Rock sempre entrou na minha vida sem conhecer que aquilo era Rock/Hard Rock, tinha 7 ou 8 anos, mas foi com 9 anos mesmo que eu conseguia defini o que era Rock e música Pop quando eu comprei o disco Dynasty (1978) do Kiss. E dali em diante, eu comecei a curtir o Rock em geral. Na época eu ouvia Elton John, Carpenters, Patrick Juvet, que era um cantor Pop francês, Those Guys Band e entre tantas coisas, mas foi a partir dos meus 9 anos que o Rock era a música que me agradava.
Todos sabem que você é doente e apaixonado por Hard Rock e fã assumido do Kiss. Quando você percebeu que estava se tornando um especialista no estilo? E qual foi a primeira banda e o primeiro disco que comprou?
Carlos: Não digo que sou o especialista do estilo, eu comecei a vender aquilo que gostava. Então, quando colocava alguma coisa que gosto, as pessoas também iam gostar. O Kiss foi o que mudou a minha vida, a banda e a música. Foi como uma etapa nova na minha vida que abracei de coração e alma. E o primeiro disco de rock que comprei foi Dynasty do Kiss.
Há muitos anos o Hard Rock sempre vem sendo um estilo muito criticado pela mídia e gravadoras, dando em conta que eles só sabem julgar o visual e não pelo trabalho que as bandas fazem. Você pensa que um dia isso possa ser revertido?
Carlos: Para mim isso não existe, o cara que fala do Hard Rock sem analisar a música é um idiota. É muito mais fácil você escrachar uma coisa que pede pra ser escrachada. Vamos dar um exemplo do visual apelativo das bandas dos anos 80/90, eles analisavam o cara dizendo: 'Nossa, olha o cabelo dele', como na realidade eles não analisavam as músicas. Eu quero ver um cara careca fazer uma música da qualidade do Dokken, do Warrant e do Slaughter. Acho difícil isso, mas é muito fácil criticar sem antes analisar a musicalidade da banda. Para mim todas essas bandas tem uma musicalidade fu**da, os caras são ótimos músicos e ótimos profissionais. Agora, a questão do visual não importa! "Mas eu acho muito importante a banda ter um visual legal do que, por exemplo, escrachar o visual das bandas de Black Metal ou das bandas que fazem outro tipo de som". O visual é importante, ele tem que se associar, mas eu acho que crítica por crítica é ignorância do crítico.
Muitos costumam colocar a culpa na explosão do Grunge dos anos 90 com o som sujo e de blusas xadrez a base de flanela. Se não fosse isso, o Hard Rock seria o gênero mais querido por todos e chegando à cola do Heavy Metal?
Carlos: Não. O Hard Rock sempre existiu, underground ou não, sempre existiu. Acontece o seguinte, o Grunge ele apareceu pra mudar o foco da indústria musical, e não pra acabar com o Hard Rock. Hard Rock era o top da cadeia de venda dos EUA no final dos anos 80 e inicio dos anos 90, que de repente surge um negócio que a gravadora resolveu apostar e ignorou o resto, mas o estilo continuou existindo e apareceram várias bandas legais. Existem bandas legais de Hard Rock de 94, 95, 96, 97, 2000, 2001, 2002, 2003, 2004 e 2005. Existem bandas legais de todos os tempos, mas só que elas não mantiveram o foco. Eu acompanhei e tenho todas aqui na minha loja, mas isso não quer dizer que o Hard Rock saiu de cena porque apareceram os flanelas. Os flanelas hoje morreram, ninguém ouviu falar deles, mas o Hard Rock continua vivo. Por exemplo, a Suécia, que lança uma banda boa a cada mês.
É indiscutível que o Hard Rock americano resultou grandes bandas no mundo todo. Mas, nos últimos anos, as bandas suecas tem tido destaque muito grande. Pode se dizer que a Suécia é o berço do Hard Rock hoje?
Carlos: Concordo plenamente contigo! Não é que seja o berço do Hard Rock, eles conseguem fazer bandas muito boas e faz músicas muito boas. O EUA não revela uma banda de Hard Rock boa desde os anos 90. Os EUA endeusam os dinossauros, mas as bandas menores, que na época eram Trixter e o Slaughter, tocavam apenas em bares. Já a Suécia eles conseguiram trazer cada vez mais bandas de Hard Rock, como por exemplo, o Crashdïet. Eu conheço os caras, são meus amigos e já fiz dois shows deles aqui no Brasil. É uma banda que, pra mim, é destaque. O Hardcore Superstar é uma banda muito boa no disco. O H.E.A.T. é uma banda fenomenal, eles não conseguem fazer uma música ruim; tem uma banda chamada Eclipse, que está lançando seu 4º disco agora, com o cara chamado Eric Martensson, que fez o W.E.T junto com o Jeff Scott Soto. Esse cara, para mim, é a maior revelação do Hard Rock dos últimos tempos: ele compõe, ele toca, ele canta, ele é muito bom. E na Alemanha também tem muitas bandas que eu gosto tipo Pink Cream 69, Bonfire, que é dos anos 80 e que eu amo muito. Mas, nos EUA, eles têm aquelas bandas nostálgicas que se reúnem, às vezes, pra tocar três ou quatro bandas no mesmo lugar, caso do Keel, Black N' Blue, Helix, Kik e Faster Pussycat. Mas é para os velhos, a molecada nova não seguiu. Eu acho que, nos EUA, não surgiu nenhuma banda que eu possa dizer: ‘Pô, essa banda é legal e surgiu nos EUA fazendo Hard Rock’. E hoje, pra mim, a Suécia é o berço do Hard Rock do mundo.
Nos últimos dois anos têm surgido grandes bandas do estilo, como por exemplo: Paradise Inc., B.I.T.E, Slippery e o Sioux 66, que é a banda do seu compatriota Bento Mello (Lokaos Rock Show e guitarrista do Sioux 66). Qual é a sua visão a respeito dessas bandas? Já que o Tempestt é a referência, não sei pode dizer assim.
Carlos: Eu vou discordar de você algumas coisas. Você disse que as bandas de Hard Rock que surgem aqui no Brasil são referências. Acho que, aqui no Brasil, essa molecada que está querendo fazer Hard Rock está muito mais preocupados em querer copiar o Mötley Crüe nas atitudes e não na música. Eles preferem isso a aprender música, fazer música e tentar ser uma banda profissional. Acho que, aqui no Brasil, se teve uma banda de Hard Rock no estilo Sleaze e de diversas praias que merece o meu respeito é o Bastardz. No início de carreira, o Bartardz mostrou um pouco de profissionalismo, mas depois eles desandaram. O Sioux 66 é uma banda nova do Bento Mello (N.R. pra quem não sabe, o Bento Mello é filho do vocalista, baixista e compositor dos Titãs, Branco Mello), falei pra ele que ele tem que se dedicar e pensar principalmente na música e na qualidade profissional, porque tem muitas bandas dessas que você citou, algumas eu não conheço, mas que vou dar um exemplo de várias bandas de Hard Rock que conheço que o cara compra uma garrafa de Jack Daniel's, fica bêbado e acha que ele é o Nick Sixx e o Tommy Lee, mas só que a música dele é ruim. As bandas de Hard Rock no Brasil hoje, tipo o Paradise Inc., que pra mim nem é uma banda, é um projeto: Quantos shows eles fizeram? Onde estão esses caras? Eles abriram para quem? O vocalista é o alemão Carsteen "Lizard" Schulz, do Evidence One. O Ricardo fez todo trabalho e muito bem por sinal. Mas não é uma banda e sim um projeto. Já o Slippery eu cheguei a ouvir, mas não destaco que a banda é muito boa. Se você perguntar para mim qual é a banda de Hard Rock que eu destaco no Brasil, eu vou citar aquelas que criaram tudo, como Salário Mínimo, Cavalo Vapor, Golpe de Estado, Chave do Sol, Dr. Sin. Essas bandas sim, que na época não tinha recurso nenhum, lotavam shows em teatros, bares, casas de shows e etc. Então, nessa nova leva, se me perguntarem o que eu acho dessas bandas, eu falo que são bandas legais, mas só que não vão impactar em nada. E o Tempestt, eu não acho uma banda de Hard Rock, no primeiro disco deles tá muito mais pra Prog Metal do que para Hard Rock. Inclusive, eu falo isso pro meu amigo BJ e ele diz que eu tenho plena razão.
Voltando a falar da loja, como surgiu a ideia de abrir a Animal Records?
Carlos: Eu já expliquei isso naquela entrevista que eu dei no Lokaos Rock Show. Eu sempre tive o sonho de montar uma loja de Cd, e a Animal Records veio através de um trabalho de escola, onde eu fui apresentar uma loja de disco. E foi ai que surgiu a oportunidade que acabou rolando e estou há 20 anos na Animal Records, que é o meu trabalho.
A loja se concentra somente nas vendas de CD/DVD de Hard, Heavy Metal e Classic Rock. Já teve cliente que já apareceu na loja perguntando se tem Cd do U2 ou de bandas de Pop Rock, Emo, Punk e Alternativo?
Carlos: A maioria do pessoal, às vezes, que vem aqui na Galeria do Rock não conhece e não tem aquela educação musical de olhar para uma loja e ver só discos de Heavy Metal. Aí eles entram e perguntam coisas absurdas, como Raul Seixas, Música Clássica, Pavarotti achando que aqui é um Shopping de Cd. Mas, na realidade, não é isso. Acontece, e que todo mundo brinca comigo, foi o cara perguntando o que eu tinha do U2 e falei com raiva: "Eu não gosto do U2, acho uma bosta!" Nunca vendi discos deles na loja e nunca pedi para ter outros tipos de Cd, eu trabalho mesmo com Hard Rock/Heavy Metal porque é meu foco. E tem gente que vira e mexe que pedem Bring The Horizon, Escape The Fate, Blink 182 e falo que eu não tenho. Só trabalho com Hard e Metal.
É notório hoje em dia as pessoas reclamarem que o preço do CD/DVD é um absurdo! Teve gente que já entrou aqui fazendo um pedido e ficou assustado com preço e depois foi embora?
Carlos: Vamos por partes nessa pergunta, que é uma pergunta muito inteligente a sua sobre a realidade no mercado. Se você vai ao Shopping Center e vai comprar uma camisa, da Hering, você vai pagar 90 reais na camiseta. Na minha época, a Hering servia para você dividir os times de futebol para fazer racha de uma rua contra a outra porque era muito barato! Só que ninguém dá o valor para o Cd no sacrifício que é você ir buscar e trazer o Cd daquela banda que só saiu na Finlândia, na Suécia e na Holanda, então, existe um custo para trazer um Cd. E, da mesma forma, existe um trabalho renumerado nas vendas desses Cds. Várias pessoas, que a maioria é sem noção, chegam aqui, perguntam e fazem mímicas de que eu estou dando uma facada. Eu falo para todo mundo que o Cd não é caro! É você que está fora da realidade ou você não tem dinheiro. E muitos pais que vem com seus filhos dão 20 reais para o moleque querendo um Cd importado, que custa na faixa de 70/75 reais e um Europeu na faixa de 80/85 reais. Esse é o preço do mercado e da realidade, não conseguimos vender por menos. E, felizmente, tem gente que entende, conhece e tem gente que é completamente sem noção. O único caso que aconteceu é do cara chegando aqui na loja, totalmente nada a ver, pedindo um bootleg que tinha alemão do Guns N' Roses, que era um DVD raro que custava caro naquela época (100/120 reais) que o cara pegou e me chamou de ladrão. Ai eu xinguei ele, a mãe dele e detonei. Ele não tinha esse direito de me chamar de ladrão. Se ele não tem dinheiro para comprar, vai embora! Mas é normal isso, faz parte do comércio. Foi o único caso que aconteceu durante esses 20 anos.
Além de ter fundado a Animal Records, você promoveu um evento chamado Hard N' Heavy. O que consistia esse projeto e se há esperança de voltar a ativa novamente?
Carlos: É obvio que eu criei a Hard N' Heavy aqui no Brasil, isso já existia nos EUA e que notifiquei para todos. Era uma festa muito divertida, onde as meninas faziam strip-tease, tinha duas bandas tocando, o clima era bem legal, eu era o DJ, só tocava Hard/Heavy. Era uma festa bem bacana, que aconteceu até 2007. Eu não curto muito rotina, achei que a festa não estava trazendo nada novo e as pessoas deixaram de ir para ver as meninas para começarem a exigir bandas. Quando eu fiz a última com o Pink Cream 69 e o Glenn Hughes, eu vi que no ar que as meninas não eram mais o atrativo principal da festa e sim as bandas. E foi aí que decidi parar, porque não tinha mais motivação para fazer. Só que, ultimamente, eu tenho frequentado pouco a noite e vejo baladas de Hard Rock que são totalmente deprimentes, que querem imitar aquilo que eu criei e que fiz trazendo meninas e colocando pole dance. No Manifesto Bar tem o pole dance, mas as pessoas que vão lá para se divertir de outro ideal e não o Rock. Esse meu parceiro Edu, que faz som lá, concordou comigo a respeito disso. Falta no ar hoje aquele encanto que existia na Hard N' Heavy, que a galera ficava ouvindo som e que era Rock N' Roll total. Ninguém ia lá com o objetivo de ir ver as meninas, as bandas e de ir se divertir. Pode trazer a Hard N' Heavy de volta? Pode. Estou com vontade de fazer a Hard N' Heavy de novo, só que com essa 'avalanche' de shows aqui no Brasil você não acha um tempo e o lugar legal para poder mostrar para todo mundo o que era uma festa de Hard Rock, que modéstia à parte, aqui no Brasil, aconteceu um evento bacana. A Hard N' Heavy teve edições muito legais e que ficaram na história para quem foi e curtiu.
Você também trouxe alguns dos grandes nomes do Hard Rock americano, que é o Winger e o Warrant. Conte um pouco da sua memória sobre aqueles shows.
Carlos: O Warrant foi o primeiro show que eu fiz. Eu tentei criar um modelo de show acústico aqui no Brasil para ter uma diminuição de custos trazendo só alguns membros da banda. E foi uma grande experiência, eu aprendi muito. Não foi uma empreitada lucrativa. Eu fiz dois shows do Warrant aqui em São Paulo, quem pôde ir teve a única chance de ver o vocalista Jani Lane e que, também, tive a chance de recebê-lo aqui na loja (N.R.: Jani Lane faleceu em outubro do ano passado por uma intoxicação alcoólica). Foi o preço que eu paguei para aprender a fazer show e que, dali, eu me tornei um profissional. Eu não sou produtor de show, para falar a verdade, não curto muito fazer shows. Só gosto de criar eventos e esses tipos de coisas. Fazer show é uma empreitada que não me agrada. Como sempre falei: "esse meio de shows é o meio mais sujo, hipócrita e falso que existe dentro do universo do Rock": é produtor querendo ferrar o outro, toda hora aparece produtor caindo de paraquedas, produtor fazendo leilão e etc. E foi legal essa duas experiências. A do Kip Winger nem tanto, não foi uma vibe boa. Agora o Warrant, eu tenho muitas lembranças. Tem músicas que eu escuto e lembro-me daquela noite, lembro-me do Jani Lane... E depois eu fiz outros shows, que foram mais legais. Esse foi o preço que eu paguei para ser produtor de show.
[an error occurred while processing this directive]É claro que a Animal Records é uma das grandes lojas que têm na Galeria do Rock. Quais foram os clientes mais bizarros que já passaram por aqui e que rendeu muitas gargalhadas?
Carlos: Teve um cara que começou a cantar uma música e não sabia a letra, e todo mundo ficou rindo e o cara se empolgando. Fo ridículo aquele dia, falando nomes de bandas errado: Queenxiche (Queensryche), De Purpos (Deep Purple), Gus Roces (Guns N’ Roses). Tem cara que pergunta coisas totalmente nada a ver, mas isso aí hoje a gente até releva porque, esses caras, até deixaram de vir aqui na Galeria do Rock.
Não podemos esquecer que você já recebeu visitas ilustres dos grandes nomes do Hard Rock e Heavy Metal. Quem são eles e quem você sonha ainda batendo na porta da Animal Records?
Carlos: Eu já tive aqui a presença de várias bandas, eu vou te falar todos: Kip Winger, Jani Lane, Marty Friedman (Megadeth), todos integrantes do The Talisman, Ritchie Kotzen com a formação de 2004 que tinha o baterista Pet Torpey, tive aqui L.A. Guns, Faster Pussycat, Crazy Lixx, Crashdïet, Tüff, Iced Earth, Exciter, Eric Martin (Mr. Big), Texas Hippie Coalition, Marck Ramone, Timo Koltipeto e o Timo Tollki do Stratovarius que firacaram conversando comigo um tempão. E é gratificante você receber seus ídolos, porque eles entram na sua loja e fala assim: ‘Poxa, esse cara ainda tem o romantismo e a ideia queimando dentro da loja dele'. Porque o cara não viu Nirvana e Avenged Sevenfold, então eles acham legal isso. O guitarrista do Death Angel, Roby Cavestany, ficou aqui comigo quase uma hora e meia conversando e eu mostrando as coisas para ele. E ele não acreditava que aqui no Brasil tinha uma loja que dava ênfase total a esse tipo de som, e isso foi muito gratificante porque é um ídolo. Quem eu queria que entrasse aqui na minha loja, e que eu já falei isso na entrevista do Lokaos Rock Show, é o Sammy Hagar, que é um cara que eu adoro. Eu ficaria muito feliz se o Zakk Wylde viesse aqui, que também é um ídolo. Ron Keel, que hoje é meu amigo, mas é um cara que sou fã. E por que não Gene Simmons, Paul Stanley e Ace Frehley? Isso seria um sonho impossível de se realizar. Mas, desses três, eu gostaria muito.
A luz esta acessa para uma possível visita do Zakk Wylde, que no caso seria em novembro porque o Black Label Society irá fazer alguns shows em terras brasileiras.
Carlos: Ele não vai vir aqui na Galeria do Rock. Infelizmente a cultura do povo brasileiro não dá essa chance do artista fazer o que ele quer - quem me falou isso foi o Duff Mckagan (ex-baixista do Guns N' Roses). Encontrei com o Duff no Sweden Rock Festival, na Suécia, e ele ficou horas conversando e batendo papo com grupos de brasileiros numa tranquilidade do caramba. E ele falou que quando ele entra no hotel tem nem nego puxando o cabelo dele, nego querendo pegar nele e querendo conversa com ele. Acho que esse tipo de atitude do brasileiro que mostra esse calor, de uma forma ou de outra, assusta o artista. Se você falar para o Zakk Wylde que tem um lugar com tantas lojas de discos, tatuagens e roupas, aposto que ele vai querer vir na hora! Mas, obviamente, alguém vai querer brecá-lo, vai querer pedir foto, autógrafo etc. Isso não é uma coisa normal, mas seria um prazer tê-lo aqui na Animal Records. E o baterista da nova formação do Guns N' Roses, Frank Ferrer, também visitou a loja.
[an error occurred while processing this directive]Desde fevereiro, a loja entrou em parceria com o Lokaos Rock Show para abrir o quadro "Lokaos Lançamentos" junto com o Bento Mello, que mês a mês comenta os principais lançamentos. Isso é uma maneira de chamar mais atenção para quem não conhece a loja e também para quem está começando a ouvir Hard Rock e Heavy Metal?
Carlos: Em nenhum momento eu quero me promover pessoalmente, que falam que o Carlão é isso e aquilo. A ideia do Lokaos Lançamentos é trazer o cliente na loja, mostrar para ele que ainda tem uma chama queimando, mas isso é difícil hoje em dia. Você pega várias pessoas que não tão nem ai em comprar disco, eles querem é baixar e ter as vantagens. E a música física deixa de ser importante, que passa a ser uma coisa secundária. A ideia do Lokaos Lançamentos é, exclusivamente, trazer o cliente para a loja. Conhecer a Animal Records, eu não me preocupo, quem gosta da música que eu vendo sabe que eu existo. Pode, às vezes, não comprar de mim ou comprar de outro. Eu não quero me promover, fazer propaganda e contar história, quero simplesmente poder mostrar e trazer o cliente de volta, porque o cliente sumiu da Galeria do Rock, da Animal Records, de outras lojas e que deixou de comprar Cd por ter vantagens menos dispendiosas e não gastando tendo a música em casa. Essa é a ideia do Lokaos Lançamentos.
No quadro sempre tem a sessão "Nostalgia", que comenta os grandes discos do Hard anos 80/90 em LP. É difícil escolher algum disco que não teve tanta importância para o público e comentar sobre ele?
Carlos: Não, eu escolho aquilo que eu acho legal, e até hoje não teve ninguém que discordo. Não vou colocar o Master Of Puppets (Metallica) e o The Number Of The Beast (Iron Maiden), mas eu posso colocar, por exemplo, o disco solo do Adrian Smith, In Project, que é um puta disco de Hard Rock sensacional que ninguém conhece. Eu escolho os discos que acho importante, para mim, e quero mostrar que também é importante para vocês. E até agora eu tenho acertado, porque essa sessão faz muito sucesso e todo mundo comenta e fala. E isso eu acho bacana.
As vendas dos Cds caíram muito com o surgimento da internet e dos downloads. A bola da vez agora são os Dvds, que quando é lançado já é postado no YouTube e também em sites de downloads. Você acha que, se continuar assim, as lojas de discos vão falir daqui alguns anos? Porque a Galeria, hoje, só tem poucas lojas de discos.
Carlos: Essa pergunta eu vou extendê-la mais pouco, o que você falou que viu poucas lojas de discos na Galeria do Rock. Vamos falar do Cd: o Cd ainda existe. Acho que ele ainda tem uma vida útil boa, porque tem colecionador que comprará e quer as edições especiais, bônus e que quer ter o Cd físico. A nossa ideia é lutar para que a molecada entenda que o Cd físico é muito mais legal do que você ter em um arquivo. Já o DVD, eu concordo com as gravadoras que eu tenho contato, que eles tão cada vez mais escassos e que vão lançar cada vez menos por causa do Youtube. O Cd você escuta dirigindo, escuta em casa, escuta almoçando e em qualquer lugar. E o DVD não, você tem que parar na frente da TV e perder o seu tempo assistindo. Então você fala pra mim, você compra o DVD e o assiste quantas vezes? Uma, duas e depois fala: ‘ah, já vi’. E no Youtube você coloca a música do DVD e vê na hora. Então eu acho que o Youtube e DVD são questões de tempo e não vão existir mais, ele vai vir em bônus de Cd, de edições especiais e etc. Mas, cada vez menos, a gravadora tem lançado DVD. E o Blu-Ray nasceu morto. Apesar da ótima qualidade, ninguém vai relançar os clássicos em Blu-Ray e que vende muito pouco, que é aquela meia dúzia de lançamentos dos caras que querem ter e depois vão assistir uma ou duas vezes. Eu sinto que o DVD ele morre não só pelo Youtube, mas também pelo tempo que despende da pessoa ficar assistindo. É que nem filme, o cara vai ver uma vez e não vai ver de novo. Com relação à Galeria, nos tivemos um manifesto na semana passada feito por uma loja daqui comentando que não existe apoio do síndico para lojas de Cd, que são responsáveis pelo nome Galeria do Rock. O que tem aqui é subproduto: anel, piercing, tatuagem, corrente. Falar que isso é Rock?... Isso pode ser vendido na feirinha da madrugada, na 25 de março etc. Então o que acontece: nós temos aqui sobreviventes que estão aqui com loja e todos pensando, de uma forma ou de outra, no seu estabelecimento. Se fôssemos mais unidos, nós poderíamos ter outra resposta e trouxer de volta esse público que deixou de vir a Galeria por certos motivos. Além disso, nós temos um síndico que dá uma declaração dizendo "que nós vendemos peças de museu e que o Cd acabou". Isso foi muito ruim e foi uma infelicidade muito grande a dele, mas eu quero mostrar para ele que não é assim e que a realidade hoje é outra, porque existem pessoas que compram e que querem vir aqui na Galeria. Só que o público da Galeria mudou, hoje tem muita gente aqui só querendo vir passear com pais e que não estão nem aí para os discos. Sinceramente, colocar na cabeça de um moleque de 14, 15 e 16 anos e falar o que é um Cd para ele e que tem um Vinil legal que vale muito a pena, acho difícil. E, infelizmente, o síndico da Galeria, que de Rock não entende nada, deu uma declaração dessas que foi muito infeliz e que, de uma forma ou de outra, colocou que somos vendedores de peças de museu e de antiguidades. Se o nome Galeria do Rock existe é graças às lojas de discos.
Eu o vi falando na entrevista do Lokaos Rock Show dizendo que na época que não tinha internet e downloads, quando chegava um Cd do Kiss na entrada da loja formava uma fila. Esse ano o Iron Maiden lançou o DVD, En Vivo, aí você disse que um cara ligou falando: -"ah, depois eu pego". Você acha que vai ser isso daqui pra frente?
Carlos: Não sei se vai ser. A única banda que toca o telefone e perguntam quando sai é o Kiss. Já tem gente ligando perguntando quando é que sai o novo Cd do Kiss, isso pode ser porque eu sou fã e apaixonado pela banda. Mas o Iron Maiden já teve os seus dias de glória, eles vendem aqui, nas Casas Pernambucanas, na C&A etc. Sei lá como é o esquema... Mas o romantismo que a gente tinha e o que era mais legal acabou faz tempo. Como eu disse no Lakos, você conta nos dedos os caras que vem aqui e falam: -"puxa eu consegui, que legal! Bacana, eu quero!" Isso mudou totalmente pelo perfil e pela evolução da tecnologia. Para que o cara vai querer comprar o En Vivo se ele vai ver no Youtube, se ele vai pegar o pirata no camelô e vai assistir uma vez ou duas vezes. O fã do Kiss é muito fanático, é como se fosse uma religião. Tem um número grande de fãs que dá gosto de estar com aquilo que você vende com prazer, eles compram e não querem saber nem o preço. É por isso que a banda é diferenciada e que eu digo toda hora, que é uma banda que está acima de tudo e de todos.
A cada ano, você viaja para Suécia para ir ver o Sweden Rock Festival. Como foi a edição desse ano e o que esperar para 2013?
Carlos: Principalmente eu não viajo, eu organizo grupos de brasileiros que vão pra Suécia, é meu trabalho. O Sweden Rock Festival é como uma coisa que eu criei e trouxe para mostrar que existe, fora do Brasil, um festival acima de tudo em organização e qualidade. Não dá para te falar sobre o festival, ele me agrada em tudo: organização, bandas, adversidade, esquema. É tudo bem montado e bem certinho. Como foi a edição desse ano? Maravilhoso! Em 2013? Vai ser maravilhoso! Em 2015? Vai ser sensacional, como foi desde 2005 quando fui pela primeira vez. E lá você realiza sonhos de vê bandas que você nunca pensou em ver e que trazem as bandas de volta ou contratam as que jamais pensaram em trazer. E eu deixo claro aqui que, quem quiser ir para o Sweden Rock Festival, não é um bicho de sete cabeças. Entra em contato comigo ([email protected]), existe uma forma de parcelamento. Não é tão caro e você tem tudo incluso com estrutura montada. Eu sou o coordenador e faço todo esquema. E o que é Sweden Rock Festival? A Disney Land do Rock N' Roll!
Chegando ao fim da entrevista, o que você espera do novo álbum do Kiss, Monster?
Carlão: Em 2009, quando saiu o Sonic Boom, eu tive certa crise com o Kiss, porque o último Cd de inéditas que eles tinham lançado era o Psycho Circus (1998). E a banda começou a fazer aquelas mesmices de shows. E, em 2008, eles fizeram aquela turnê Alive 35, que só tinha as músicas do Alive I. Parecia que eu estava em um casamento abalado e prestes a se separar. Eram sempre as mesmas músicas, sempre os mesmos shows e etc. O Sonic Boom foi aquilo que eu precisava para ter uma vida conjugal com Kiss muito legal. Eu achei o Sonic Boom um álbum fantástico! Aquilo reacendeu uma chama que estava se apagando em mim, que é a minha paixão e o amor que sinto pelo Kiss. E eu acho que o Monster, que foi o disco que eles voltaram fazer e se reuniram no estúdio, tende a ser um disco fantástico. A Hell Or Hallelujah, que foi a primeira música, não chocou. Nunca vai ser um clássico do Kiss e, daqui um tempo, ela vai sair do set-list e ninguém vai lembrar que existiu. O último grande clássico que o Kiss fez foi Pyscho Circus, a música. Depois disso, eles lançaram várias músicas boas, mas a que vai ficar na memória é a Psycho Circus. Então o que eu espero do novo álbum do Kiss? Com certeza, vai ser o melhor disco do ano! Porque quando o Paul Stanley resolve fazer alguma coisa todos sabem que ele é um cara diferenciado. O Gene Simmons, quando o segue, também faz coisas boas. Quando o Gene Simmons está sozinho é perigosíssimo, porque o mal gosto musical dele é tremendo, mas quando ele está com o Paul Stanley eu creio que vai ser um disco tão bom quanto o Sonic Boom.
Antes de encerrar, poderia citar o Top 10 dos seus discos favoritos?
Carlos: Vamo lá...
1) Kiss - Deströyer
2) Mötley Crüe - Shout At The Devil
3) Iron Maiden - Piece Of Mind
4) Ratt - Out Of The Cellar
5) Death Angel - Act III
6) Black Sabbath - Heaven And Hell
7) Hardline - Double Eclipse
8) Dokken - Back For The Attack
9) Crashdïet - Rest In Sleaze
10) Metallica - ...And Justice For All
E as suas bandas preferidas da Suécia e da Alemanha, que são praticamente o berço do Hard Rock?
Carlos: Da Alemanha, vou citar cinco bandas que eu acho demais: Accept, Bonfire, Axel Rudi Pell, Scorpions, Pink Cream 69 - apesar de que os músicos são de cada país -, mas é da Alemanha. Da Suécia: Crashdïet, H.E.A.T, Eclipse, TREAT - uma das minhas bandas de coração. E vou colocar uma das bandas que faz som pesado da Suécia, o Hammerfall.
E quais são seus planos para daqui pra frente?
Carlos: A minha ideia é continuar lutando por uma coisa que eu acredito e amo, e tentar colocar na cabeça das pessoas que o Rock é uma obra de arte, uma dádiva de Deus. Tem que confiar, tem que acreditar e dar apoio às bandas. E vou continuar aqui, não sei até quando, mas tomara que por um bom tempo. Continuar vendendo disco e podendo mostrar aquilo que aprendi em tantos anos de Rock, porque existe muita coisa legal surgindo, de todos os lados, que nós temos que apoiar de uma forma ou de outra: comprando disco, comprando Lp, comprando DVD, indo aos shows, comprando camiseta e viajando. Isso faz com que a indústria do Rock não acabe nunca! Porque se não fosse o Rock hoje, o disco nem seria lançado, que tirando o fã de Rock e de Jazz ninguém compra mais disco, isso é claro e notório. E acreditar naquilo que sempre lutei e que curto pra caramba, e que não sei viver sem, é esse tal de Heavy Metal e Hard Rock.
Muito obrigado pela entrevista! Deixo o espaço para dizer o que quiser.
Carlos: Muito obrigado por você ter me escolhido para essa entrevista. Estou a inteira disposição aqui na loja, e qualquer hora que precisar, para perguntar e saber de alguma coisa, podem contar comigo sempre.
Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps