Iced Earth: Entrevista exclusiva com o vocalista Matt Barlow
Postado em 19 de junho de 2001
Originalmente da Flórida, os integrantes do Iced Earth hoje moram em Indiana, mas continuam competentes como sempre foram. Inovadores (quem é que se confunde quando escuta o som dos caras?), talentosos e firmes na estrada, lançam agora o mais novo debute, "Horror Show", um épico de 10 faixas (mais a 11ª, a bônus "Transylvania", do Maiden) contando a história de várias figuras consagradas no meio das histórias de terror e suspense. Quem falou sobre o disco foi o vocal Matt Barlow, diretamente de sua casa, devidamente aconchegado em seu sofá da sala, por telefone, nos EUA.
Entrevista: Debora Ribeiro e Haggen Kennedy
Tradução: Haggen Kennedy.
Whiplash! - De que forma a entrada de novos membros, Richard Christy e Steve DiGiorgio influenciou no som da banda? Houve a inclusão de novos elementos com a experiência musical deles?
Matt Barlow / Não, não. Digo... eu acho que eles sejam, ambos, realmente bons músicos, mas, antes de tudo, seria bom deixar claro que o Steve saiu da banda, porque ele disse ter obrigações de gravação prévias, e... bem, não foi algo que ele nos deixou saber com antecedência, quando discutimos isso. Porque, no começo, o próprio Jon [Schaffer, guitarra] queria tocar baixo no disco, e queríamos encontrar um cara que pudesse ser um membro definitivo do grupo. Então, o que aconteceu foi que, quando estávamos fazendo as audições, e tudo, dissemos a ele que não queríamos alguém que simplesmente gravasse o disco, não queríamos apenas um músico de estúdio. As músicas já estavam escritas, nós sabíamos o que queríamos. E nós queríamos alguém que fizesse parte do grupo, e ele nos deixou acreditar nisso, só que, depois que o tempo passou, vimos que não era bem assim, então... bem, foi uma desorganização grande, nada profissional. Mas, de qualquer modo, as partes de baixo já estavam escritas antes mesmo de o disco ser gravado, não era um grande problema. Eu, definitivamente, acho que o estilo do Steve [DiGeorgio, baixo] se ajustou bem legal ao estilo do conjunto, assim como o do Richard [Christy, batera], mas o ponto é que a música já estava escrita. O Jon escreveu 98% das músicas do disco, então só houveram algumas contribuições musicais pelo Larry Tarnowski [guitarrista solo convidado no "Something Wicked This Way Comes"] e talvez algumas idéias do Jim Morris [tecladista, guitarra solo e backing vocal convidado no "Something Wicked..."], mas é só.
Whiplash! - Quando você diz que o Schaffer escreve 98% das músicas do grupo, você quer dizer que ele escreve a melodia ou as letras?
Matt Barlow / Bem, ele escreveu metade das letras do disco, eu escrevi a outra metade. Se bem que na história da banda, ele escreveu, sem dúvida, a maior parte das letras também. Então, bem, nós pegamos a coisa de um ângulo um pouco diferente dessa vez. O Jon tinha um peso muito grande nos ombros com esse disco, escrevendo as músicas, e ele esboçou a linha de pensamento do disco, examinou as personagens que usaríamos, antes de construir qualquer conteúdo lírico... ele trabalhou bastante, bem mais que o resto de nós. E ele queria que eu também escolhesse algumas personagens pelas quais ele não havia sido musicalmente inspirado ou influenciado e que, de alguma forma, houvessem me influenciado, o que, pra mim, não havia problema nenhum, porque era uma boa maneira de se trabalhar nesse disco. Então, comecei a escrever letras para as idéias do Jon, como Jack, the Ripper [Jack, O Estripador], Jackyl and Hyde [O Médico e o Monstro], The Mummy [A Múmia]... e então eu entregava a ele e analisávamos juntos o que poderíamos melhorar ou se já estava legal, esperando que pudesse de alguma forma [as personagens] influenciá-lo como influenciaram a mim. Bem, não sei se influenciaram ou não [risos], mas achei que ficou bastante legal todo o trabalho que fizemos. Foi bem legal entrarmos no clima desse disco, no clima dessas estórias de terror.
Whiplash! - E por que esse tema de horror?
Matt Barlow / Bem, pode-se dizer que seria um tipo de tributo às idéias e coisas que nos incluenciaram desde que éramos mais novos. Além do que, bem, obviamente, há influências musicas como Iron Maiden e Black Sabbath, caras assim... Porque, sabe, que eu saiba o Black Sabbath foi a primeira banda no estilo a escrever músicas baseadas em filmes do tipo. Na verdade, acredito que o próprio nome Black Sabbath vem de um filme. Mas, bem, esse era um lance que pensávamos em fazer há alguns anos atrás, e nós pensamos em fazer um Ep com cinco músicas ou algo do tipo, com os monstros Top 5 num disco conceitual ou algo do tipo. Mas quando entramos em estúdio, vimos que tínhamos também um linha poderosa de idéias, que era o apresentado em "Something Wicked...", e que poderíamos fazer um disco inteiro, full-lenght. E também achamos que não estávamos preparados no momento, então decidimos seguir em frente e guardar essas idéias para um pouco mais adiante, e agora sentimos que estávamos mais preparados. E, da mesma forma, sentimos que poderíamos fazer mais que um EP, daí começamos a trabalhar na história do disco como um full-lenght também - o que faz sentido pra nós, porque é um jeito bastante único de se trabalhar um tema, acho eu. Não é realmente um disco conceitual, é mais um enredo. Então... bem, foi meio que uma homenagem às personagens que tanto nos influenciaram no passado.
Whiplash! - É, eu achei bem original tratar esse tema dessa forma...
Matt Barlow / É, espero que as pessoas também pensem assim. Espero que gostem do modo como tratamos essas personagens, porque poderia acontecer de... bem... você sabe, não conseguirmos modelá-los muito bem, mas acho que o Jon fez realmente um bom trabalho, musicalmente, criando esse "circo de horrores", bem como lidar com o drama trágico da maioria dessas personagens. Porque, mais do que qualquer coisa, acho que essas personagens são bastante trágicas.
Whiplash! - O legal da história foi que vocês conseguiram manter o peso e cara Iced Earth no trabalho...
Matt Barlow / [empolgado] Sim, sim, claro!! Isso é algo do qual nunca quisemos nos afastar! Mas, bem... a maioria dessas músicas receberam uma "torção" extra.
Whiplash! - Como assim?!?
Matt Barlow / Bem, por exemplo, tivemos que mudar algumas coisas na história que estávamos escrevendo para que tudo pudesse fluir melhor em nossa mente, houve muita... hã... como se diz... "liberdade artística" - vamos colocar assim -, como a história do Dragão [a sétima faixa, "Dragon‘s Child"], baseada na idéia de ‘Creature from the Black Lagoon’ [famoso filme de terror em preto e branco, dos anos 50], e quando eu estava escrevendo as letras eu tentei incorporar mais a idéia da sabedoria popular, em vez do filme sobre aqueles cientistas indo até a Amazônia para tentar descobrir a criatura pré-histórica. Quer dizer, eu estava com idéias um pouco diferentes do filme, eu estava muito mais inspirado pela idéia da personagem que pelo filme.
Whiplash! - Sobre o lado musical do disco, eu tive a impressão de ele lembrar bastante o Demons & Wizards [projeto de Jon Schaffer com Hansi Kürsch, do Blind Guardian]. A primeira música do disco, "Wolf", parece pra caramba com "Heaven’s Denies", do D&W. Achei até que o Hansi fosse entrar cantando...
Matt Barlow / [risos] É, já me falaram isso também. Jon e eu temos dado um monte de entrevistas, várias pessoas comentaram. Bem, acho que devemos manter em mente que, tanto no Iced Earth como nos projetos que mantém, o que ele mais faz é escrever música, então, obviamente, existirá certos crossovers, mas, na verdade, eu também fico honrado quando as pessoas vêm até mim e me dizem "aí, cara, você tá parecendo o Hansi". Algumas pessoas dizem isso, e, por mim, tudo bem, e tenho o Hansi em alto conceito. Mas acho que é importante enfatizar que nós nunca tentamos copiar ninguém, nunca foi nosso propósito - sempre quisemos ser o mais inovador possível. E com várias dessas músicas usamos coros bem amplos, porque achávamos que as personagens do disco precisavam de uma cara bem épica. E nós poderíamos ter colocado todos esses coros em outras instâncias, mas não fizemos por que não achamos que era necessário. O que fizemos de diferente nesse disco, em relação aos outros, foi fazer esses grandes coros com muitas pessoas, porque na maioria das vezes em que fazíamos os coros, íamos eu, Jon e o Jim e gravávamos em várias faixas para dar a idéia de amplitude. Mas nesse disco tivemos várias vozes diferentes, tenores, barítonos, sopranos, um coro operístico, e tudo isso fez com que a música engradecesse bastante, como achávamos que deveria ser.
Whiplash! - Sobre o desenho da capa, feito por Danny Miki e Travis Smith, aparece de novo o monstrinho que deu as caras em "Something Wicked", e que tem se mostrado meio que constante nos trabalhos da banda. Seria uma mascote?
Matt Barlow / Hrm, talvez, mas acho que não. Nós usamos aquele personagem no "Something Wicked...", no "Live in Athens" e agora uma vez mais. Na verdade, usamos agora porque achamos que se encaixaria nesse tema, você sabe. Mas não sei, quem sabe. Talvez no futuro até possamos considerar, sim... O tempo dirá...
Whiplash! - Como é pra uma banda americana ser mais bem-sucedida na Europa e na América do Sul que no próprio país?
Matt Barlow / Soa engraçado, não? Se bem que isso não é uma coisa tão exótica, aposto que acontece a mesma coisa com bandas aí no Brasil, assim como há casos assim na Europa, também. O que acontece com os Estados Unidos, de qualquer forma, é que aqui é tudo muito "dilatado". O país é muito grande e cada estado tem sua própria cena. Há bandas que são muito famosas em um estado, e no outro são totalmente desconhecidas. É como se fosse muito subdividido. O mais engraçado, é que, apesar disso, os Estados Unidos ainda mantém uma base muito comercial. Mas eles estão lá, com certeza, e o público está até mesmo ficando maior. Eu sei que é difícil conquistar um espaço aqui, por causa desse clima comercial que sempre rola. Há algumas poucas grandes revistas especializadas aqui e é só. Mas é como eu disse, eles estão lá. Cada vez que tocamos aqui no nosso país as platéias ficam maiores, mais gente vem aos nossos shows. Já houve época em que chagávamos nas casas de show para tocar e o nosso público era de menos de 100 pagantes. Houve, inclusive, uma ocasião especial em que tocamos para 30 pessoas, imagine. Hoje em dia, no entanto, estamos muito bem, já conseguimos lotar casas de show, ganhamos muita coisa. Com a nova tour que faremos espero um retorno especial por parte do público americano.
Whiplash! - Por que vocês escolheram esse lance meio que de "patriotismo americano" para "Ghost of Freedom"? Foi um modo de prestar homenagem ao país?
Matt Barlow / De certa forma, sim. Nós temos orgulho de nosso país, da mesma forma que, acredito, você e os brasileiros têm do Brasil. Claro que existe o lado ruim, nós temos coisas aqui que também não agradam a mim, mas também existe o lado bom, e eu gosto de louvar minha própria pátria. Creio que também seja legal flamular a bandeira do seu país nos estádios ou até na rua.
Whiplash! - Mas a música tem algo a ver com o filme "O Patriota"?
Matt Barlow / [risos] Bem, tem, sim. O filme influenciou bastante, devo admitir. A música conta a história do filho cujo pai morreu lutando pela liberdade, e, agora, quando este filho está crescido, ele continua a lutar pelo ideal que seu pai desejava. Só que ele escuta a voz de seu pai! Apesar de o pai dele não estar fisicamente lá, está em espírito, e é como se guiasse o varão através dos obstáculos da vida em direção à coisa certa a fazer e o ajudasse sempre.
Whiplash! - Hmm... ficou com uma cara de Braveheart também. Você gostou desse?
Matt Barlow / Claro, claro, Braveheart é um dos meus preferidos. Sim, esse filme com certeza também influenciou em certo grau na música. Acho que vou acabar relacionando Mel Gibson com liberdade... [risos gerais]
Whiplash! - Isso quer dizer que no próximo álbum veremos um hino patriótico saudando a Austrália?
Matt Barlow / [risos] Fico imaginando Mel Gibson nos ouvindo agora...
Whiplash! - Ainda sobre o disco, você escolheu "Transylvania", do Maiden, para fazer um cover. Por quê?
Matt Barlow / E existia alguma outra música dos caras que se encaixasse tão perfeitamente? [risos]. Bem, o conceito do tema pedia algo do tipo. Como tínhamos a música "Drácula", decidimos colocar também uma "Transylvania". Além do que, é sempre um orgulho tocar alguma coisa do Maiden, os caras influenciaram a todos nós do Iced Earth, e devemos grande parte de nossa musicalidade a eles. Nós gostamos muito de tocar suas músicas, inclusive tocamos "The Trooper" há um tempo atrás. [N do T: aconteceu no último Wacken Open Air em que o Iced Earth tocou]
Whiplash! - O que você acha da situação atual do Maiden?
Matt Barlow / Estou gostando bastante, claro. Tem algum doido aí fora que não esteja contente? [risos]. O Blaze era realmente um cara legal, e eu gosto bastante de várias músicas da fase dele. Na verdade, a carreira solo dele parece bem promissora, ele fez um trabalho caceteiro no "Silicon Messiah". Quanto ao Maiden, não poderia estar mais feliz. Você viu já ouviu o Bruce? Ele está cantando como nunca! Há anos eu não o vejo assim. E é bom ver que eles ainda fazem boas músicas, ainda são o Iron Maiden. Ainda conseguimos ouvir nitidamente que é o Steve Harris naquelas cordas. Sem falar no Adrian. É muito bom ver uma das famílias mais proeminentes de todo o cenário metal de todos os tempos de volta à ativa com toda essa energia.
Whiplash! - Por que os EUA vão pegar a Edição Limitada Especial Dupla do Iced Earth? Não seria mais lógico que ela saísse na Europa ou, mais provavelmente, Japão?
Matt Barlow / Bem, sim. Não sei o que ocorre no Japão, mas se você não colocar faixas extras ou coisa do tipo, seus discos não são distribuídos. O fato é que dessa vez a Century Media teve um custo muito grande conosco nesse último álbum e decidiram fazer uma edição limitada para conseguirem cobrir a grana que saiu. Além do que, o mercado nos EUA está ficando meio que seletivo demais. Aqui, se você não é uma banda do país, dificilmente terá seus discos encontrados nas lojas, a não ser que procure muito bem. Agora parece que está acontecendo o mesmo até com bandas americanas. Se você não tiver algo especial no disco eles te jogam pro fundo da loja e fica por isso mesmo. É meio boçal isso, mas fazer o quê...
Whiplash! - Falando na Century Media, soube que o contrato de vocês já está para terminar. Vocês já arranjaram algum outro selo para assinar?
Matt Barlow / Ainda não. O Jon e nosso manager logo vão analisar a situação, pensar em alguns selos. Nesse momento ainda estamos fazendo o trabalho promocional do "Horror Show", que é dar essas entrevistas, então, logo depois, vamos sentar na mesa e discutir esse assunto do contrato.
Whiplash! - Não têm nenhum selo em mente?
Matt Barlow / Não, não, nem chegamos a cogitar algum.
Whiplash! - Ouvi dizer que a festa de lançamento do CD, que iria ser em Chicago, com um show de vocês, foi cancelada. É verdade?
Matt Barlow / É verdade. O que aconteceu foi que tivemos um pequeno problema com a produção e infelizmente não deu pra fazer o show. Mas vamos entrar em tour de qualquer forma, the show must go on. E esperamos uma boa recepção, devo dizer. Acho que o retorno por parte do público tem sido bom.
Whiplash! - Já que a entrevista chega ao final... tem algo a dizer?
Matt Barlow / Nós queremos agradecer a todos que nos apóiam e ajudam de alguma forma. Queremos fazer um pedido também: quem souber de produtores, por favor, contatem os caras e peçam para entrarem em contato com o Iced Earth, pois gostaríamos muito de dar um pulinho no Brasil para fazer alguns shows, seria demais. Muito obrigado pela atenção, see you on tour!
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