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Paradise Lost: uma análise das mudanças de sonoridade ao longo do tempo (parte II)

Por Bruno Rocha
Fonte: Cryptic Rock
Postado em 02 de outubro de 2016

Seguindo esta nova fase, em 2001 sai 'Believe In Nothing' (EMI). Em relação ao anterior, este álbum traz de volta as guitarras a frente mandando nas músicas, todavia o direcionamento comercial continua dando as cartas. Há boas e honestas composições, como por exemplo 'Mouth'. Mas a produção do álbum transformou o que poderia ser um renovo para banda numa grande decepção.

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Nick Holmes, em entrevista ao site The Metal Forge em 2007, desabafa: 'Em um nível pessoal, 'Believe In Nothing' representa realmente um período negro em minha vida. Eu acho que nada de positivo vem quando se está depressivo ou para baixo como naquele tempo. Minha vida pessoal estava de certa maneira ruim naquela época, e eu penso que aquele álbum é resultado direto disso. [...] Para mim, penso que a maior decepção foi a produção, que eu acho que poderia ter dado um 'punch'.' Nesta mesma entrevista ele fala que estava tomando na época fortes anti-depressivos, e que ele não sabia realmente o que estava acontecendo.

Mas, depois de todas estas decepções e devido a uma graça advinda não se sabe de onde concedida à criatividade de Mackintosh e Cia., o que começou a acontecer realmente foi o caminho de volta ao peso de antigamente. Paulatinamente, o PARADISE LOST começava a voltar a fazer o que sabia de melhor, sem pressões comerciais.

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Em 2002 sai 'Symbol Of Life' (GUN Records). Parece que o PARADISE LOST reencontrou a fonte do Heavy Metal e acrescentou algumas de suas essenciais doses a sua sonoridade comercial. Logo na faixa 'Isolate' se nota que as guitarras de Mackintosh e Aedy clamavam pela volta do peso dos anos 90. O lado comercial ainda está forte, como no hit 'Erased', que nos remete logo a 'Say Just Words', do álbum 'One Second'. Mas músicas como 'Primal' e 'No Celebration' reavivaram a esperança de volta as raízes e são dignas de 'Draconian Times'. Em 2005, com o lançamento do álbum auto-intitulado pela GUN Records, além da estreia do baterista Jeff Singer (recém egresso da banda de BLAZE BAYLEY), as guitarras pesadas voltaram a mandar de vez nas composições, e já não se nota tanto assim as influências que se fizeram fortes na fase comercial. Mas as essas ditas influências que resistiram a ir embora, misturados a busca pela sonoridade consagrada da banda, fazem as vezes nos lembrarmos do Nu Metal. Portanto, pode ser que nos peguemos nos lembrando de LINKIN PARK, por exemplo, ao ouvir algumas músicas de 'Paradise Lost'.

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Mas o disco que crava de vez a volta do PARADISE LOST aos bons tempos dos anos 90 é 'In Requiem' (2007, Century Media). O que ouvimos aqui neste álbum são bases pesadas de Aaron Aedy e a cozinha formada por Steve Edmondson e Jeff Singer criando uma poderosa parede onde Gregor Mackintosh destila seus inspirados solos e Nick Holmes volta de vez a lançar mão de seus poderosos drives no vocal. Desta vez, os teclados adicionais tão-somente ajudam a criar o clima melancólico identificado em 'Icon' e 'Draconian Times', vide as faixas 'The Enemy', 'Fallen Children' e 'Requiem', esta em especial um peso-pesado muito agressivo, onde Jeff Singer torna onipresente o pedal duplo de seu instrumento. Mas se você se agrada também com algo mais acessível, vá com 'Beneath Black Skies'.

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Sobre a volta ao Heavy Metal pelo qual ficaram renomados, Nick Holmes fala na mesma entrevista, especialmente sobre a importância do produtor Rhys Fulber:

'Fizemos três álbuns com Fulber. [...] O que nós gostamos nele é que ele meio que trouxe todo esse novo entusiasmo a cada álbum. Acho que apenas começamos a acreditar muito mais de verdade no que estávamos fazendo quando nós começamos a trabalhar com Fulber. Em 'In Requiem' ele realmente trouxe uma diferente e nova abordagem para nossas coisas.'

Mas se pensavam que o PARADISE LOST iria estagnar sua evolução por aí, se enganaram. A banda surpreende e vai mais além.

Apesar da saída de Jeff Singer em 2008, o PARADISE LOST lança em 2009 seu trabalho mais pesado até então, 'Faith Divides Us - Death Unites Us', pela Century Media. Neste álbum, a banqueta da bateria foi sentada pelo músico contratado Peter Damin. E pense como este cara teve trabalho, pois este álbum traz composições mais complexas que de costume pela banda. Por exemplo, note seu excelente trabalho de condução e de caixa na faixa 'Living With Scars': uma complexa música que traz uma certa influência que havia sumido ainda nos anos 90, o Death Metal! Assim também soa a faixa 'The Rise Of Denial'. A faixa-título é outro destaque: uma bela e melancólica peça e de refrão marcante e triste.

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Falando em Death Metal, em 2010 temos um Gregor Mackintosh empolgado, tanto que ele funda sua banda paralela de Death Metal VALLENFYRE, que conta nas guitarras com o então guitarrista do MY DYING BRIDE Hamish Hamilton Glencross e o tarimbado baterista Adrian Erlandsson (AT THE GATES, BRUJERIA, THE HAUNTED)

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Há de se salientar que 'Faith Divide Us - Death Unites Us' foi o primeiro de dois álbuns de estúdio produzidos por Jens Bogren, que, na minha humilde opinião, é um dos produtores da atualidade que melhor consegue extrair todo o peso e técnica que toda banda com a qual ele trabalhe é capaz. E o segundo álbum com sua produção foi o excelente 'Tragic Idol' (2012, Century Media). Este álbum reúne tudo de melhor que o PARADISE LOST fez ao longo de sua gloriosa carreira. O Gothic/Doom soturno de 'Solitary One', o Doom cheio de Groove de 'Crucify' (dou um doce para quem se lembrar de SYSTEM OF A DOWN nesta música), a beleza e o drama de 'Honesty In Death', as bases Death Metal em 'In This We Dwell', uma homenagem ao Doom Metal oitentista em 'To The Darkness' e o Gothic Rock da faixa-título são excelentes amostras deste que talvez foi o grande retorno as raízes em 2012. Neste álbum, Adrian Erlandsson assume de vez a bateria e faz um grande trabalho, como sempre é de se esperar deste lendário baterista de Death Metal. Gregor fala sobre o álbum na entrevista a Roadie Crew #161:

''Tragic Idol' marca nossa busca pela essência da banda, o início de tudo, e acho que conseguimos alcançar isso com ele. Um álbum que tem o clássico Doom Metal, melódico sem perder peso. Existem muitos riffs legais, muitos solos. Gosto de compará-lo com 'Icon'.'

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Mas a coisa conseguiu ir mais além, até mesmo para as previsões do mais otimista e nostálgico fã.

Um sinal surge em 2013. Pela Century Media, a banda lança a coletânea 'Tragic Illusion 25' com algumas faixas-bônus de discos anteriores, b-sides, uma música inédita e a regravação de 'Our Savior', do debut 'Lost Paradise' e de 'Gothic', do álbum de mesmo nome. Aqui, Nick Holmes surpreende e volta a cantar em gutural. Não aquele berrado dos primórdios jurássicos da era Death/Doom, mas um gutural mais atmosférico e cavernoso, mais confortável para sua voz que ficou desgastada ao longo do tempo. Nick, a exemplo de Gregor, se empolgou e pela primeira vez assumiu os vocais de outra banda, a instituição do Death Metal BLOODBATH, tendo como antecessores de microfone ninguém menos que Mikael Åkerfeldt (OPETH) e Dan Swanö (WHITERSCAPE, ex-EDGE OF SANITY, entre outros).

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Finalmente, em 2015 sai 'The Plague Within', um retorno triunfal ao Death/Doom. Não aquele mórbido e cru do primeiro disco, mas algo mais refinado, resultado de 25 anos de diversos passeios pelos mais variados gêneros de Metal e de Rock. Nick Holmes traz de volta os guturais, mas ainda se utiliza de drives e vocais limpos dependendo da música, se tornando então um vocalista completo e versátil, mas sem ultrapassar os limites do bom-senso e os que sua voz atualmente lhe impõe. Não deixa de impressionar o Death Metal Melódico (!) de 'Terminal', o Doom Metal de 'Punishment Through Time', o Death/Doom de 'Beneath Broken Earth (que riff! que riff! De rachar placa tectônica!), o gótico de 'Victim Of The Past' e a música mais rápida que a banda já gravou, 'Flash From Bone'.

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Ouvindo os dois últimos álbuns, nota-se que a banda teve sim muita vontade, e de fato a concretizou, de voltar a fazer o Heavy Metal pelo qual são referência. Mas a passagem pelo lado comercial e Pop agregou muito a experiência dos músicos, e, como uma peneira que deixa passar somente o que é essencial à receita e descarta o que não serve, souberam catalisar o que de bom houve nesta época e adicionar ao peso do Gothic/Doom, onde são mestres incontestáveis.

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Surpreende também o fato da banda manter a mesma formação desde o início, a menos de bateristas, que é um grande entra-e-sai. Bateristas oficiais foram quatro, e atualmente estão no quinto, o finlandês Waltteri Väyrynen. Mas Nick, Gregor, Aaron e Stephen se mantém unidos pela causa PARADISE LOST desde o princípio, e nunca houve entre eles a história que já ouvimos mil vezes de músico deixar a banda por 'diferenças musicais' ou de demissões sem justa causa, atitudes típicas de músicos bossais e arrogantes, que não se preocupam com o verdadeiro patrão, o fã, que compra os discos e os ingressos dos concertos de suas bandas. Infelizmente não são poucos os que assim agem lá fora e no Brasil. Os quatro membros constantes do PL sempre se mantiveram juntos, no auge ou na decepção, no Death Metal ou no Pop. E olhe que os únicos compositores são Gregor (músicas) e Nick (letras), ou seja, Aaron e Stephen sempre se mantiveram contentes com suas funções na banda. E isso, por mais de 25 anos, concorde comigo que é a mais pura verdade.

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Que o PARADISE LOST continue nos surpreendendo, sem se prender a nada que os queiram guiar por outros caminhos, mas somente a sua criatividade e competência. Se até hoje 'Host' e 'Believe In Nothing' não estão entre os pricipais álbuns, eles passaram a ser bem compreendidos, afinal, mesmo não sendo Heavy Metal, são ótimos discos, principalmente 'Host', um grande disco de Eletronic/Gothic Rock. E fale a verdade: se você é fã de PARADISE LOST, com certeza já se empolgou ao som de 'Enjoy The Silence', do DEPECHE MODE. É ou não é?

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Voltemos então aos questionamentos que abriram esta matéria, lá na parte I: O que mais influencia um músico na hora de compor um novo trabalho para sua banda? O que pode levar uma banda a sair de sua zona de conforto e de uma certa sonoridade já consagrada sob seu nome e partir para novos terrenos musicais? O quão arriscado tal atitude é para o legado de uma instituição musical?

Para o PARADISE LOST foi arriscado, e muito. Mas sua coragem, sinceridade e competência fizeram a diferença. E seu legado, e seus fãs, agradecem.

Link da entrevista de Nick Holmes:
http://www.themetalforge.com/articles/1333

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Veja a primeira parte da matéria no link abaixo:

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Sobre Bruno Rocha

Cearense de Caucaia, professor e estudante de Matemática, torcedor do Ferroviário e cafélotra. Entrou pelas veredas do Heavy Metal na adolescência e hoje é um aficionado e pesquisador de todos os gêneros mais tradicionais desta arte e de suas épocas. Tem como forte o Doom Metal, não obstante o sol de sua terra-natal.
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