My Bloody Valentine
Por Alexandre Luzardo
Postado em 25 de junho de 2006
Originalmente publicada no site Dying Days
O My Bloody Valentine é mais um nome naquele seleto grupo de bandas cujo impacto maior se dá na influência na sonoridade de outras bandas do que propriamente de repercussão junto ao público.
Uma das mais cultuadas bandas britânicas do final dos anos oitenta e começo dos noventa, o My Bloody Valentine gerou até um subgênero no rock (o que até não é grande coisa, já que as revistas inglesas inventam um rótulo por semana), o shoegazing. Bandas como Ride, Lush, Boo Radleys e Chapterhouse surgiram a partir das idéias e da identidade do My Bloody Valentine. Mas a influência foi muito maior, refletindo até em bandas como o Smashing Pumpkins (só para citar um nome consagrado). Gish, o primeiro álbum dos Pumpkins deve muito ao MBV.
Explicando, o termo shoegazing surgiu da postura de palco dos shoegazers, que durante os shows ficavam em seu mundo particular, pouco se importando com a performance de um show ou mesmo qualquer contato com o público. A performance tímida chegava a ponto dos músicos ficarem o tempo todo olhando para baixo sem encarar o público (ou "olhando para os sapatos" e daí shoegazer! Brilhantes os jornalistas ingleses não?). Se limitando a sonoridade, o My Bloody Valentine (e numerosas bandas que se seguiram) era marcada pela distorção, guitarras barulhentas e poderosas onde a instrumentação harmônica torna difícil distinguir cada instrumento, formando um caos sonoro temperado por vocais etéreos e contidos criando um contraste entre o melodias delicadas e o vigor e peso das distorções e efeitos.
Essa mistura tão única rendeu dois álbuns sublimes (Isn't Anything e Loveless) e alguns EP's, antes da banda sumir do mapa, sem efetivamente ter anunciado seu final até hoje.
A história do My Bloody Valentine começa em 1984 em Dublin na Irlanda, quando Kevin Shiels (guitarra) e Colm O'Ciosoig (bateria) formam uma banda com o vocalista Dave Conway e a tecladista Tina.
O nome My Bloody Valentine foi idéia de Dave Conway, tirado de um filme de terror B.
Com a formação defida, a banda parte para Berlin onde tenta a sorte com o EP This Is Your Bloody Valentine.
De início o som da banda tinha muito pouco das características que tornaram o My Bloody Valentine tão cultuado e admirado. Nos primeiros anos de sua carreria, o MBV fazia um rock gótico, muito próximo das bandas Sister of Mercy e The Mission.
O primeiro EP teve pouca repercussão e em 1986 a banda abandona Berlin e se restabelece em Londres, e partir daí, a baixista Debbie Googe passa a fazer parte da banda. Naquele ano é lançado mais um EP, Geek! (gravadora Fever), que também teve baixa divulgação e repercussão. No fim de 86 a banda assina com a Kaleidoscope Sound e lança o seu terceiro EP, The New Record By My Bloody Valentine, que começa a mostrar alguma mudança no som, com algumas evidentes influências de Jesus And Mary Chain.
No ano seguinte, mais EP's, e foram três somente em 1987. Sunny Sundae Smile foi o primeiro disco a banda a mostrar a mistura de melodias delicadas com forte distorção nas guitarras. Em Strawberry Wine e Ecstasy a banda estava definitivamente formando a sua identidade, e com esses dois lançamentos, o My Bloody Valentine começou a ganhar o reconhecimento da crítica pelo seu trabalho.
No fim de 1987, ocorre uma mudança que define o rumo da carreira da banda, o vocalista Dave Conway deixa o grupo. Ele foi substituido por Bilinda Butcher, que também é guitarrista, mas cujo vocal etéreo se mostraram perfeitos para os rumos que a banda estava seguindo.
O potencial do novo som do My Bloody Valentine foi revelado em seu primeiro álbum, Isn't Anything, de 1988 já pela Creation Records. O disco foi amplamente festejado pela imprensa britânica, e conquistou uma legião fiel de fãs do grupo. O impacto foi tão grande que chamou a atenção das grandes gravadoras norte-americanas, assegurando para o MBV um contrato de distribuição nos EUA com a Sire/Warner. Mais dois EP's foram lançados, Feed Me With Your Kiss e You Made Me Realise, que ampliaram ainda mais o culto ao My Bloody Valentine. Em 1989 a banda entra em estúdio para gravar seu segundo álbum e é nessa época que começam a surgir bandas fortemente influenciadas pelo My Bloody Valentine. Naquele ano, mais um EP, Glider, foi lançado, para alegria dos entusiastas da banda. No embalo do sucesso da banda, a gravadora Lazy lança uma compilação chamada Ecstacy and Wine, reunindo um LP as músicas dos EP's Strawberry Wine e Ecstacy.
Durante 1990 o novo álbum do MBV era um dos mais aguardados pela imprensa e público britânico, mas o lançamento foi constantemente adiado, só ocorrendo em 1991. O atraso se deu por conta do perfeccionismo de Kevin Shields, o líder da banda. Horas e horas em estúdio gravando e regravando trechos de guitarra, testando distorções e efeitos e samples diferentes. Em 1991, a imprensa alardeava que "Loveless", o novo álbum, já havia consumido mais de $500.000,00 em horas de estúdio. De longe, o disco mais caro da história da Creation Records (foi dito muitas vezes o MBV quase levou a Creation a falência).
Mesmo durante o período mais tenso das gravações que nunca terminavam, o público se mantinha fiel e entusiamado. No fim de 1990, o EP Tremolo foi lançado e entrou no Top 40 dos mais vendidos da Inglaterra.
Finalmente, no final de 1991, Loveless foi lançado e justificou a expectativa de público e crítica. Um álbum clássico que leva muito mais longe tudo o que o My Bloody Valentine já tinha feito, e desqualifica imitadores. Retirando as fronteiras entre a distorção e a delicadeza, o pop e o abstrato, Loveless tem um som muito denso que ao mesmo tempo soa caótico e calculado, podendo causar estranheza a quem escuta pela primeira vez, mas que aos poucos se revela um trabalho brilhante e único.
Loveless recebeu aprovação unâmine da crítica, e atingiu a posição 24 na parada de álbuns da Inglaterra. Nos Estados Unidos o trabalho também repercutiu bem, principalmente depois dos shows como abertura da turnê do Dinosaur Jr.
De volta a Inglaterra, o MBV participou da turnê Rollercoaster (uma espécie de resposta ao Lollapalooza americano) junto com bandas consagradas e emergentes e roubou a cena.
No entanto, Loveless nem de longe recuperou o investimento especulado em $500.000,00 de sua gravadora e a Creation rompeu seu contrato com a banda. Em seguida, o My Blody Valentine assina com a Island Records e no final de 1992 entra em estúdio para gravar um novo disco.
As seções de gravação são problemáticas, e o material é descartado pela banda. Com o adiantamento da Island recebido pela banda, Kevin Shields monta um estúdio em sua casa, para poder dedicar tempo integral as gravações do MBV. Inúmeros boatos surgem na imprensa inglesa sobre a evolução dos trabalhos. Segundo alguns rumores, a banda chegou a concluir dois álbuns, mas ambos foram descartados. Pouco a pouco, os fãs foram perdendo as esperanças de algum dia ouvir um novo disco do My Bloody Valentine a medida que os anos iam passando, mesmo que a gravadora desmentisse o fim da banda o tempo todo e afirmasse que o novo álbum estava sendo gravado. Segundo especulações, uma nova tentativa foi feita e todas as faixas foram gravadas, aguardando apenas Kevin terminar as suas partes de guitarra (que na verdade foi o motivo da demora de Loveless), o que até hoje não aconteceu. Entre 1993 e 1997, Googe e O'Ciosoig deixam a banda.
Especulações davam conta que Debbie Googe esteve trabalhando como motorista de taxi, enquanto espera pelo lançamento do disco e uma nova turnê. Mais tarde, os ex-integrantes se envolveram em novos projetos musicais, Debbie Googe tocando na banda Snowpony e Colm O'Ciosoig numa banda chamada Clear Spot.
Nessa época o My Bloody Valentine consistia em Kevin Shields e Bilinda Butcher (que viveram juntos por muitos anos), e se dizia que o novo disco "seria lançado antes do novo milênio (...) provavelmente por volta de 1999". Só que 1999 veio e se foi e nada de um novo disco. Mais recentemente foi divulgado que Bilinda Butcher já não estaria mais envolvida com a banda (e nem com Kevin Shields), hoje estaria se dedicando a dança flamenca.
De fato, os únicos registros da banda a serem lançados desde Loveless foram contribuições em coletâneas, mais notadamente um cover do tema de James Bond para um álbum beneficente, um cover da banda Wire no álbum tributo intitulado Whore, lançado em 1996, e na coletânea Offbeat da organização Red Hot, também em 1996.
Durante a eterna espera pelo novo disco, Kevin Shields colaborou em alguns projetos e bandas, como o Experimental Audio Research e no álbum Hand It Over do Dinosaur Jr (como guitarrista), e em bandas como Mogwai e Primal Scream (mixagens).
[an error occurred while processing this directive]Receba novidades do Whiplash.NetWhatsAppTelegramFacebookInstagramTwitterYouTubeGoogle NewsE-MailApps