Loco Gringos Have A Party
Por Marcos A. M. Cruz
Postado em 29 de novembro de 2004
Caro leitor: você é um Stoner? a) Sim!! b) Sei lá, que diabos é isto? c) Não... Caso a resposta seja a letra A, pule o próximo bloco; se for a B continue normalmente, e se for a C leia também, não custa nada...
Lá por meados dos anos setenta era comum se dividir de um lado as bandas que faziam "Progressivo" e do outro as que faziam um som mais pesado, chamadas genericamente de "Rock Pauleira", e neste balaio eram incluídas coisas bem diferentes entre si, tais como os maiores ícones do gênero, fonte de tudo que veio depois - a tríade BLACK SABBATH, LED ZEPPELIN e DEEP PURPLE.
Nos anos oitenta, com a consolidação do Heavy Metal (obviamente dentro do "som pesado"), começaram a surgir inúmeras divisões e sub, até porquê de fato havia uma grande diferença, tanto de sonoridade quanto de "atitude" por parte de muitas bandas, embora estas muitas vezes só sejam percebidas pelos iniciados.
Outro fator de destaque do Rock Pesado nos anos setenta era sua ligação com as drogas, às vezes de forma indireta, porém na maior parte dos casos explícita em letras ou no comportamento dos músicos e fãs, surgindo daí a trilogia "Sexo, Drogas & Rock'n'Roll", que, salvo raras exceções, foi deixada de lado a partir da década seguinte.
Sem esquecer que correndo por fora havia a galera surgida ainda nos anos setenta durante o movimento Punk, que buscava a simplicidade e de certa forma o retorno às raízes do Rock'n'Roll, e que ajudou a manter a dose de "sujeira" que o Metal estava deixando de lado (e que resultou em músicos que se dizem metrossexuais nos dias de hoje...)
A grosso modo, o resultado desta junção de tudo que há de sujo e pesado no Rock'n'Roll é o Stoner Rock, rótulo hoje que abrange bandas as mais diversas possíveis, algumas com influências de Hard Setentista, outras bebendo na fonte do Doom ou do Southern norte-americano, sempre mantendo como princípio as guitarras altas e distorcidas, além de influências dos 70's e algumas pitadas de psicodelismo.
Historicamente falando (didático isto, não?), o início ocorreu lá nos anos noventa, com as chamadas "Desert Parties", festas realizadas pela juventude no Sul da Califórnia, onde o lance era resgatar o espírito do "legítimo Rock'n'Roll", enaltecendo toda a simbologia setentista do Sex, Drugs & RR, adotando como lemas o amor à festas e a vida na estrada.
Confuso? Talvez o trecho abaixo, extraído do artigo A Comprehensive Overview of Stoner Rock, ajude a clarear as coisas:
"Primeiramente, gostaríamos de dizer que quando falamos de stoner-rock, não estamos nos referindo a nenhuma espécie de droga. Obviamente isto não significa que músicos ou fãs não as usem, mas isto não quer dizer que o nome signifique drogas ou mesmo seu uso. Este gênero também é chamado de Heavy-Psicodélico, pois normalmente têm um apelo hipnótico. Pode-se dizer que o surgimento ocorreu nos primeiros anos da década de noventa, graças a bandas como Soundgarden, Kyuss e Fu Manchu, que faziam uma espécie de mistura de hard-rock setentista, lento e com linhas de baixo marcantes, guitarras distorcidas, bateria simples mas pesada e vocais rasgados, criando um som ao mesmo tempo 'encorpado' e 'balançado'(...) se não consegue entender, apenas misture três elementos: Soundgarden, Black Sabbath e miríades de cogumelos mágicos!"
Ainda tá difícil? Talvez seja o caso de correr atrás dos cogumelos...
Rock é música. Música é arte. Arte é universal.
Antes do final dos anos noventa o gênero começou a ser descoberto mundo afora, ainda mais com o advento da internet, que abriu inúmeras possibilidades para quem estivesse disposto a correr atrás de coisas "diferentes", como foi o caso do brasileiro José Antunes, baixista de uma banda chamada BillyGoat, que lá no final da década, curioso em saber mais sobre bandas como KYUSS, FU MANCHU e MONSTER MAGNET, e que um dia "descobriu" o site StonerRock.com. "De repente o mundo se abriu, dezenas de bandas boas desconhecidas e uma galera muito gente boa", relembra Antunes. "Me cadastrei na lista gringa e comecei a procurar conterrâneos... mas percebi que a barreira da língua era grande e talvez por isso, tivessem tão poucos brasileiros".
Com isto em mente, Antunes criou em fevereiro de 2002 uma lista de discussão nacional, a "Stoner Brasil". Mandei uns e-mails pra divulgar a lista e uma galera foi entrando bem lentamente... ficamos meses com um grupo de oito pessoas mas o pessoal que entrou foi bacana... uma galera de conteúdo e realmente apaixonada por rock'n'roll. Teve a Sylvie Piccoloto que escrevia em algumas revistas, O Jaime, batera do Mechanics, Fabrício Nobre, vocal do MQN, Délcio, que faz um programa alternativo de rádio e entrou uma galera especialista em som tipo o Álcio Villalobos do SonicVolt e o Eduardo Buss que saca tudo de Hard 70 etc... aos poucos a coisa foi se espalhando", diz Antunes. "Por conta da lista rolou intercâmbio e camaradagem entre os grupos, teve gente formando banda nova, achando membros pela lista, indo se conhecer em férias ou shows e tal".
Naturalmente a coisa foi crescendo, conforme descreve Antunes: "Em um determinado ponto eu (do RJ) e o Álcio (que mora em POA) resolvemos que seria legal ter um site de Stoner em português. Criamos então o Planeta Stoner no HPG, tudo de graça, com um design fuleiro 'no bom sentido' feito por uma garota super-gente boa que entrou na lista. Ela é brasileira mas mora na Suécia, tanto que depois desapareceu (risos)".
Algum tempo mais tarde o site passou a contar com um domínio próprio, no link www.planetastoner.com. "Aos poucos o Planeta Stoner foi sendo divulgado de boca em boca e a coisa foi se espalhando... não somos mega-visitados, até porquê nossas atualizações são apenas mensais ou bimestrais, devido a dificuldade de atualizar tudo em html, na mão, mas temos uma visitação legal e um certo respeito pela seriedade e qualidade do nosso material. No início de 2005 estaremos com o site reformulado e aí passaremos a atualizá-lo semanalmente" prossegue Antunes. "Entretanto, conseguimos entrevistas bem legais e significativas como Scot Reeder (KYUSS, UNIDA), FIREBIRD, ORANGE GOBLIN, NEBULA, MÓDULO 1.000 e JPT SCARE BAND, entre outros."
Um projeto ainda mais ambicioso começaria a ser delineado em 2003, quando o BillyGoat foi tocar no Bananada, festival organizado pela Monstro Discos, de Goiânia. "Nesta ocasião conversei com o Leo Bigode e com o Márcio Jr. (sócios da gravadora) e contei que tinha intenção de abrir um selo e que a ajuda deles seria bem vinda. O Márcio achou bacana o projeto e o objetivo do selo (esse lance da veia rock'n'roll). Daí, quando montamos a Válvula Discos em 2004, o convidamos pra entrar pra sociedade e ele topou. A coleta já tava na fase final e ele caiu dentro agitando gráfica, ISRC, fornecedores, lista de divulgação, etc. Aí o resto da galera da Monstro deu a maior ajuda pra gente", diz Antunes.
Com isto, surgiu a Válvula Discos (www.valvuladiscos.com), selo independente cujo primeiro lançamento acaba sendo uma coletânea com bandas Sul Americanas do gênero. "Mas prensar mil CDs não é um lance fácil, então captamos as bandas como parceiras. Foi um projeto bem cuidadoso, todo calculado e está sendo desenvolvido conforme planejamos. Estamos começando, inclusive, a receber retorno de outros países" afirma Antunes, que complementa: "Graças ao Planeta Stoner a gente teve uma 'moral' com as bandas. Não teve ninguém com dúvida se entraria ou não, todo mundo confiou sabendo que a coletânea tinha a finalidade de divulgar nosso trabalho e estão todos envolvidos de cabeça pro lance dar certo".
Para poder viabilizar o projeto, a Válvula convidou o pessoal da gravadora Dias de Garage, da Argentina, para entrar como parceiro, que cooptou cinco bandas de seu país e uma do Peru, enquanto do lado de cá, a Válvula fechou com nove brazucas e uma chilena, nascendo daí a coletânea "Loco Gringos Have a Party - South American Stoner Rock", totalizando dezessete bandas - FLAMING MOE, YAJAIRA, CRUZDIABLO, SONICVOLT, SICKY PORKY, BILLYGOAT, BUFFALO, WALVERDES, MECHANICS, VESANICO, EVILMOTOR, REINO ERMITANO, STATIK MAJIK, HUALFIN, ASTERDON, CARBURA e LOS NATAS - com diversidade de idiomas, temáticas e sonoridades, mas unidas pelo amor ao Rock'n'Roll.
Como é de se supor, as coisas não são nada fáceis, mas Antunes garante que, apesar das dificuldades, tudo está em panos limpos: "Não tem nada 'a bangu', tenho uma lista aonde mantenho as bandas informadas do passo-a-passo, trocamos idéias e planos futuros, como shows pra fazer divulgação no lançamento do CD e por aí vai".
Já está previsto para o próximo ano o segundo lançamento do selo, um split reunindo três bandas: FLAMING MOE de São Paulo, BILLYGOAT do Rio de Janeiro e a SONICVOLT de Porto Alegre. Existem ainda planos de se realizar um festival, distribuição de outras bandas gringas e talvez uma turnê pelo nosso país. "Vamos torcer e trabalhar para que isso se realize", diz Antunes, com a fé e força que somente os Deuses do Rock'n'Roll podem conceder!
Para conferir a coletânea visite o site www.valvuladiscos.com.
Na seção hotsites você encontrará uma amostra com as músicas do CD.
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