Napalm Death: baixista comenta discografia
Por Raphael Ipluc
Fonte: Decibel Magazine
Postado em 19 de abril de 2013
Desde o lançamento do seminal "Scum", em 1987, o NAPALM DEATH se estabeleceu como um dos pilares do grindcore. A banda, cujos dois primeiros álbuns trazem a mistura letal que caracteriza o gênero em sua forma mais pura, passou por uma formidável evolução estilística ao longo da carreira, fazendo incursões em outros estilos e expandindo os limites daquele que ajudou a criar.
Essa ousadia é responsável, em parte, por uma discografia particularmente variada, que transita com naturalidade entre o que há de mais extremo no universo do metal e do punk. Adicione-se a isso músicos com excepcional habilidade de garimpar elementos de outros estilos, e o resultado é uma das bandas mais ímpares do metal extremo. O NAPALM DEATH, atualmente como um quarteto, conta com Barney Greenway nos vocais, Mitch Harris na guitarra, Shane Embury no baixo e Danny Herrera na bateria. Em dezembro de 2012 a Decibel Magazine convidou o veterano baixista Shane Embury, que está nas fileiras do NAPALM desde 1987, para escolher um disco (de outra banda) que se relacione de alguma forma com cada álbum de estúdio do NAPALM DEATH em que ele tocou. Os parâmetros são amplos: onde sua cabeça estava musicalmente, algo que estava curtindo na época ou simplesmente um disco que representa um dado período para ele.
Algumas escolhas podem parecer surpreendentes, e reafirmam uma convicção deste que vos escreve: se os fãs soubessem aquilo que seus ídolos carregam no MP3 player, certamente seriam mais abertos a outros estilos. Nesta primeira parte da matéria, você confere os comentários do baixista sobre os álbuns lançados até 1998:
"FROM ENSLAVEMENT TO OBLITERATION" (1988)
Nesse momento, eu acho que "Horrified", do REPULSION – ou a demo "The Stench Of Burning Death", como [o álbum] era conhecido na época – foi uma grande influência para mim, juntamente com SIEGE e S.O.B. Duas faixas que eu escrevi para este álbum [FETO] já apareceram na nossa primeira Peel Session em 1987 e foram escritas no final de 1986, quando Nic Bullen me convidou para eu me juntar ao NAPALM DEATH pela primeira vez. A ênfase era em riffs explosivos e em rápidos e brutais breakdowns, sem mais nada em torno disso – por isso a curta duração das músicas. Álbum escolhido: REPULSION - Horrified.
"HARMONY CORRUPTION" (1990)
Depois que o EP "Mentally Murdered" foi lançado, eu acho que como banda nós estávamos trazendo muito mais influências de death metal, embora eu deva adicionar que nesse momento todos estávamos em variadas formas de música, devido ao lendário DJ John Peel, da Radio 1. Quando fizemos o "Harmony", eu estava ouvindo muito o DEATH e um monte de death metal da Flórida, assim como Mick Harris. Eu vou escolher "Scream Bloody Gore". Claro, nós viajamos para a Flórida para gravar "Harmony" e encontramos todas as banda que amávamos. Que ótima época! Álbum escolhido: DEATH - Scream Bloody Gore.
"UTOPIA BANISHED" (1992)
Esses foram tempos difíceis, já que Mick [Harris, baterista] deixou a banda. Nós tínhamos muitas músicas que continuavam com o feeling death metal do "Harmony", mas muito mais rápidas e direto ao ponto do que no álbum anterior. Isso vai soar estranho, mas estávamos ouvindo um monte de álbuns do RUSH, especialmente "Moving Pictures". Nós adorávamos a ‘sensação de ao vivo’ do som da bateria e a maneira com que o álbum era impulsionado por esse som. Estava tudo certo, já que era a primeira gravação do [baterista] Danny Herrera conosco. Exceto pela música, que realmente foi uma continuação mais frenética e híbrida de "From Enslavement To Obliteration" e "Harmony Corruption", eu acho que aquele disco foi uma influência. Álbum escolhido: RUSH - Moving Pictures.
"FEAR, EMPTINESS, DESPAIR" (1994)
Esse foi o início de um período de transição para nós. Muito do que o HELMET estava fazendo com seus ótimos ganchos lentos e repetitivos me influenciou, então começamos a incorporar isso ao nosso som. "Strap It On" foi particularmente meu favorito, e eu acho que eles foram influentes também para muitas das bandas na nossa cena nessa época. Álbum escolhido - HELMET - Strap It On.
"DIATRIBES" (1996)
Musicalmente, muitas coisas estavam passando pela minha cabeça nesse momento. Mitch Harris e eu fomos nos tornando um pouco obcecados com os drumbeats de uma grande variedade de noise rock. Eles eram muito excitantes para nós – tão excitantes como o blast beat. Para mim, a produção do "Diatribes" foi muito limpa, em retrospectiva. Mas eu estava ouvindo SONIC YOUTH por anos, com "Sister" sendo particularmente meu favorito. Nós realmente estávamos começando a trazer muitas influências das bandas que ouvíamos desde o começo dos anos 90 e eu senti que finalmente estávamos prontos para começar a experimentar e gravar músicas lentas e atmosféricas, na pegada do início do SWANS. Álbum escolhido: SONIC YOUTH - Sister.
"INSIDE THE TORN APART" (1997)
O que eu posso dizer – esse álbum foi estranho já que nos separamos de Barney [Greenway, vocalista] brevemente para o processo de escrita, mas depois ele voltou a tempo de gravar os vocais. Esse disco foi musicalmente uma continuação de "Diatribes", já que ele é bastante mid-tempo, e tem apenas algumas músicas com blast beats. Eu acho que o que nós fizemos neste disco e em "Diatribes" foi adicionar linhas de guitarra para tornar os riffs mais estranhos e não apenas "normais", como nós fizemos dois anos antes. Independentemente do fato de as pessoas concordarem ou não, esse material foi excitante para nós. SOUNDGARDEN foi uma banda que eu amei por anos, especialmente as sutis linhas de guitarra que eles tinham no fundo dos riffs, então nós tentamos incorporar isso ao nosso estilo normal de riffs, juntamente com batidas de rock com uma pegada jazz. SMASHING PUMPKINS e JANE’S ADDICTION foram duas outras bandas que também nos empolgaram com seus ritmos de bateria. Álbum escolhido: SOUNDGARDEN - Badmotorfinger.
WORDS FROM THE EXIT WOUND (1998)
Este foi o álbum em que nós, como banda, começamos a nos ‘incendiar’ um pouco mais. Eu tinha me encontrado com um amigo, Nick Barker, que estava em Birmingham quando sua banda CRADLE OF FILTH foi gravar um álbum. Nós tocamos muitos dos antigos clássicos na minha casa. Estávamos tocando bandas como DISCHARGE e MASTER às três da manhã, para não falar que Nick ainda tocaria álbuns antigos do Napalm. Nós [Napalm] começamos o processo de escrita para um novo álbum, mas eu me lembro de acordar uma tarde e escrever os riffs de "The Infiltrator", que eu sei que com certeza vieram de nós dois tomando algumas cervejas na noite anterior e tocando DISCHARGE. Acho que eu estava terminando um ciclo, em alguns aspectos. Álbum escolhido - DISCHARGE - Hear Nothing See Nothing Say Nothing.
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