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Genesis: em defesa das eras Phil Collins e Peter Gabriel

Por Pedro Ceballos
Fonte: Pop Matters
Postado em 23 de janeiro de 2014

Por Colin Mcguire
Traduzido por Pedro Ceballos

Com o recente estrondo sobre o retorno de Collins à música, é hora de acabar com a questão "qual era é a melhor".

"Eu tenho pensado em fazer algo novo …alguns shows novamente, mesmo com o GENESIS. Tudo é possível. Nós podemos fazer uma turnê pela Austrália e América do Sul. Nós não estivemos lá ainda."

Isso foi o que o cantor/baterista PHIL COLLINS disse à mídia alemã um mês ou dois meses atrás. Foi outra parada em sua turnê "Espere. Eu ainda não parei com a música ainda!" que a maior parte dos importantes meios de comunicação narrou nas últimas semanas. Na estrada para promover sua fundação de caridade "Little Dreams Foundation" em Miami, Collins falou longamente sobre o desejo renovado de um dia tocar música novamente. Ou, em outras palavras (como um típico decodificador de popstars sugeriria), esperar uma turnê e um abrangente box set lá por novembro de 2015.

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São ótimas notícias para o fã casual de Collins, mas uma declaração ainda melhor para os entusiastas fervorosos do Genesis digerirem. Goste ou não, o primeiro passo para ter a formação original junta novamente é ter certeza que o baterista da banda está fisicamente bem para tocar – lembre-se que foi apenas em 2011 quando ele alegou que nunca poderia ficar atrás dos palcos novamente durante um fascinante e sombrio perfil da Rolling Stone. Nós já vimos um grupo liderado por Collins entrar numa viagem repetitiva e triunfante (turnê Turn It On Again de 2007), mas imaginar uma real jornada ao vivo liderada por PETER GABRIEL seria... seria... bem, seria sem precedentes.

Ao menos para nós, obcecados pelo Genesis. Por que? Porque iria completar a narrativa. Daria voz a uma era que esteve calada por muito tempo. Proporcionaria aos fãs com menos de 30 anos a oportunidade de ver como a banda soava sem ter que se conformar com atos tributo como The Musical Box, The Waiting Room ou Trespass (com todo respeito, todos eles fizeram ótimos trabalhos, mas convenhamos). Serviria como um lembrete a quão abrangente a banda podia ser. Isso colocaria o subestimado Collins de volta aonde ele pertence: atrás de um kit de bateria.

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E, mais importante, isso ajudaria teoricamente a por um fim ao velho debate que discute qual era do Genesis é a melhor: Gabriel ou Collins?

Veja, enquanto a nostalgia continua em voga dentro da estrutura de uma geração mais obcecada com o ontem do que o hoje e o amanhã, a discussão sobre o líder do Genesis é algo que ocorre quase que diariamente entre qualquer facção de fãs que seguem o grupo inglês. Eles se venderam e se tornaram corporativos demais quando Collins assumiu os holofotes, argumentam os tradicionalistas. Os anos de Gabriel eram entediantes e difíceis de digerir, outros ouvintes alegam. É um vai e vem, uma competição acalorada no mundo progressivo assim como a discussão Beatles/Stones sempre foi no universo do rock. Você não pode gostar dos dois; você apenas pode gostar de um ou de outro. É Nursery Cryme ou Invisible Touch. Sem espaço para acordo. É proibido ultrapassar a fronteira.

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"Peter Gabriel nunca teria liderado o Genesis – claro que não há inocentes nesse assunto de forma alguma – no curso em que ‘I Can’t Dance" se tornava realidade", um usuário postava um comentário num fórum discutindo esse mesmo tópico. "Nesse momento eu prefiro ouvir "Invisible Touch" a "Selling England by the Pound", "Foxtrot", ou qualquer outra dessas obras-primas pretenciosas comandadas por Gabriel", outro rosnava.

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As diferenças entre as duas encarnações são poucas, contudo extremas. A análise que procura escolher qual forma do Genesis é a melhor é uma contradição de proporção progressiva, um excesso de desculpas ligado a testemunhos frios enraizados mais em exibição do que em boa argumentação. A premissa inteira é uma discussão de quem veio primeiro, o ovo ou a galinha. Se você por acidente, topou primeiramente com o extraordinário "The Lamb Lies Down on Broadway", há uma grande chance de você acreditar que qualquer coisa de 1975 para frente é um lixo, e o contrário se sua exposição inicial veio com "A Trick of the Tail" de 1976.

E isso, amigos, é o porque uma turnê de reunião apropriada não seria um exercício divertido para os fãs de todas as idades e gerações; certamente seria um evento necessário para qualquer esperança de derrubar a discussão "qual era é a melhor" de uma vez por todas.

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Veja, o problema em rotular um regime melhor do que o outro nessa ocasião em particular é o mero fato de que nós não vemos ao menos um deles operar como uma unidade há 40 anos. Isso funciona de duas maneiras, é claro. A ausência irá sempre aumentar a paixão, e o conceito do que poderia ter sido (assim como poderá ser) alimenta uma percepção cor de rosa do tempo em que Gabriel era o líder do bando. Pelo fato de ele ter sido o primeiro cara a estar na frente e no centro do mítico Genesis, há um senso de autenticidade literalmente impossível de se achar quando consideramos outro vocalista perceptível.

Naturalmente, o primeiro a fazer algo não significa que sempre será o melhor para aquilo – como você está, Pete Best? – mas significa invariavelmente que ele foi...bem... o primeiro, e o título em si carrega todo o pedigree, status e nível de supremacia em volta, seja lá qual for o segundo ato. Não é necessariamente justo, é claro, mas também é um fato real. O criador recebe o crédito pela ideia, mesmo se essa ideia finalmente se torna realidade por alguém de fora. E nesse sentido, Gabriel nunca poderia ser igualado quando se pensa no livro do Genesis. Nesse sentido, ele é incomparável.

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Porém o sonho de Gabriel não esteve necessariamente livre de pesadelos. Como todos sabem, críticos fritaram a banda alegando que eles eram tediosos e pretenciosos, artísticos e estranhos em todos os sentidos quando os primeiros poucos LPs surgiram. "É difícil achar pessoas dispostas a tratar esse disco carinhosamente", o escritor Matt Blumenstein disse em sua recente resenha de "From Genesis to Revelation", a estréia da banda. "Os críticos odiaram e ainda odeiam o disco, que passou completamente despercebido pelo público, e até mesmo a própria banda prefere fingir que ele não existiu. Todos dão ao disco aquele complacente tapinha nas costas, o perdoando como um esforço totalmente pretencioso e imaturo de fazer a banda decolar".

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Entra Collins, que então pegou a banda com Squonk e subsequentemente transformou Ripples no que seria historicamente o caminho para o estrelato. Acabavam-se, em parte, os 193 minutos de composições e entrava a acessibilidade excêntrica ligada a músicas brandas que apareciam em trilhas sonoras de filmes. O grupo alcançou a venda de mais de 100 milhões de discos (esse número pode dobrar, dependendo da fonte) e as raízes de uma das mais importantes bandas de rock progressivo foi essencialmente reduzida à um medley de 25 minutos apresentado nas turnês da era Collins.

"Isso é um lixo", os fãs antigos gritariam.

"É, e ‘The Knife’ tem certa de 8 minutos e 54 segundos, é muito longa", fãs mais novos rebateriam.

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A verdade? Bom, ambos estão certos. E ambos, é claro, estão errados. Ouvir "Illegal Alien" amontoada com "The Lamb Lies Down on Broadway" era e é um desrespeito à última encarnação épica, e honestamente: Você poderia remover ao menos três minutos de "The Knife" e ainda sim, teria uma música muito boa.

Qual é ponto? A era Peter Gabriel do Genesis é incrível pelas mesmas razões que a era Phil Collins também é. E quais são as razões? Entre elas:

1. Para a voz única que Gabriel tem, Collins não apenas conseguiu um som similar com sucesso nas músicas mais calmas, como o misturou com o seu som para refletir um senso milagroso de tributo e originalidade. Isso dito, há apenas duas pessoas nesse mundo que possuem uma voz como a de Peter Gabriel e Phil Collins, e essas duas pessoas são Peter Gabriel e Phil Collins.

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2. As músicas de longa duração (o lado progressivo do grupo) nunca deixaram de existir. "Driving the Last Spike", que aparece em "We Can’t Dance" de 1991, tem 10:08 enquanto outra faixa desse registro do final da era Collins, "Fading Lights", tem 10:16. Claro, não é nenhuma "Supper’s Ready", mas lembre-se: aquela coisa tinha sete movimentos e quase pegou um lado inteiro de um álbum. Não é como se esses caras se tornaram o Green Day e começaram a considerar 2 minutos e 30 segundos uma quantidade de tempo viável para um single relevante.

3. Assim como a parceria Gabriel/Collins funcionou tão bem nos vocais, a parceria Collins/Chester Thompson na bateria se tornou tão boa quanto. Thompson, um dos maiores músicos profissionais dono de um currículo que faria qualquer baterista respeitável se envergonhar, essencialmente clona tudo que Collins faz com as baquetas até o som com o tom-tom, sua assinatura. Uma parte da experiência ao vivo do Genesis pelos últimos 30 anos como ninguém, ele se tornou um membro não-oficial junto com Daryl Stuermer, que substitui gloriosamente Steve Hackett.

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4. É o Genesis. Muitos tentaram copiar seu som original, mas poucos (se é que existem) obtiveram sucesso. Seja "Watcher Of The Skies" ou "Mama", ainda há aquele elemento indescritível que sempre esteve ali quando sua música é tocada pelos speakers. Simplesmente não existiram muitos grupos que soaram como eles soaram. Admita, mesmo o Phish não conseguiu quando eles o ajudaram a introduzi-los no Rock and Roll Hall of Fame alguns anos atrás. E se esses caras não conseguiram...

Tudo se encaixa para que: não importa qual era do Genesis você prefira, o desejo de proclamar uma melhor que a outra é um modo injusto de tentar classificar uma das melhores bandas de rock progressivo que a música popular alguma vez já influenciou. Você pode argumentar que as pessoas tem cabeça fechada, querem ser sofisticadas, são ignorantes, obsessivas com tradição ou alguns possuam ódio pela música "No Son of Mine", mas qualquer que seja sua visão, a realidade é que nenhuma é superior à outra. Um pouco diferente talvez. Porém de nenhuma forma, melhor ou pior.

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"Eu acho que Phil foi um bom cantor para um grande número de músicas pop do Genesis (ele soava muito bem uma vez que começou a cantar mais agressivamente nos anos 80)", o blogueiro John McFerrin escreveu durante sua monstruosa síntese sobre o Genesis alguns anos atrás. "Eu não o culpo totalmente por ‘arruinar’ o Genesis ao torna-la em uma banda pop (embora eu o culpe um pouco por tornar o Genesis indistinguível do seu trabalho solo); como um backing vocal para Peter, ele não podia ser batido; e principalmente, SEU MODO DE TOCAR BATERIA ERA INCRÍVEL. Essa nunca foi a mais consistente das bandas (na verdade, uma das coisas que mais surpreende sobre o Genesis é que, de uma forma ou outra, cada um de seus álbuns representa alguma característica da banda em transição, seja ela a ascensão ou a queda da importância de Steve (Hacket), ou a transição para uma banda pop, ou um dos vários exemplos), mas quando eles fizeram bem, eles produziram música tão formidável que continua a surpreender até hoje.

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Dê uma ouvida em "Seven Stones" e em seguida, ouça ambas as partes de "Domino" e você continuará a achar incontáveis elementos para dar valor, apesar de a primeira vir da era Gabriel e a última ter sido gravada quando Collins estava no comando. É uma viagem e tanto e é injustamente ignorada por todos historiadores do rock e/ou especialistas que algo precisa ser feito para cimentar o grupo nas cabeças de todos entusiastas de música pop como algo mais do que "aquela banda que faz aquela dança estranha".

Esse algo poderia ser uma jornada final pelo mundo. Gabriel está ativo nos anos recentes com seu projeto de covers, e sua turnê Back to Front tem sido um sucesso pelos Estados Unidos e pela Europa. Então, ele estaria pronto para vestir aquela fantasia britânica mais uma vez, certo? E se Collins pode ficar sentado atrás de um kit de bateria três horas por noite, ele poderia claramente tocar "Los Endos" como se fosse 1976 novamente antes de ir à frente para apresentar "Follow You, Follow Me" ou algo parecido, não poderia? Tony Banks não guardou seu teclado e Mike Rutherford não imagina que uma reunião do Mike and the Mechanics acontecerá tão cedo, não é?

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Espere. Eu não pareço muito desiludido, pareço?

Eu espero que não. Porque não importa qual era seja, o Genesis é uma banda que merece mais reconhecimento do que recebe hoje em dia. Uma turnê nos daria uma última e sensata memória de um grupo que a cultura popular parece tão desejosa e ávida por esquecer ou ridicularizar. Encerraria o capítulo final ainda para ser escrito no livro da banda. Acima de tudo, seria como uma resolução merecida para um grupo cuja história foi tão atolada por piadas chatas e dramas internos que às vezes é difícil lembrar o quão incrível era "I Know What I Like (In Your Wadrobe". Afinal, é preciso de um tipo especial de inteligência para escrever versos como "When the sun beats down/ And I lie on the bench/ I can always hear them talk/ Me, I’m just a lawnmower/ You can tell me by the way I walk." ("Quando o sol brilha fortemente/E eu me deito no banco/Eu posso sempre ouvi-los falar/Eu, eu sou apenas um cortador de grama/Você percebe pela forma como eu caminho").

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Gabriel escreveu. Collins imortalizou. E até hoje, ainda soa singularmente brilhante. Não importa de qual era venha.

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Sobre Pedro Ceballos

Nascido em São Paulo, Pedro Ceballos é formado em Jornalismo pela PUC-SP. Descobriu o Rock em 2007 com grandes bandas como Kiss, Scorpions, Iron Maiden, Judas Priest, Queen e Black Sabbath. Fotógrafo e músico nas horas vagas, é grande entusiasta do Hard Rock setentista, AOR oitentista e da NWOBHM.
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