A banda de rock que se afastou e Tim Maia ficou com saudades do convívio
Por Gustavo Maiato
Postado em 13 de outubro de 2025
Mesmo sendo um dos nomes mais importantes da música soul e funk brasileira, Tim Maia sempre manteve uma relação próxima com o rock. Em entrevista à revista Bizz, publicada em junho de 1988, o cantor recordou com carinho - e um toque de saudade - os primeiros anos de amizade com Os Mutantes, grupo pioneiro do rock psicodélico no Brasil. Na conversa, Tim revelou que chegou a sentir ciúmes quando a banda se apresentou com Gilberto Gil em um dos festivais mais marcantes da MPB.
"Tenho lembranças verdadeiras. São lembranças muito boas, tenho saudade daquelas pessoas, era uma formação muito boa, o Arnaldo, o Serginho e a Rita", disse Tim, citando Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee. O cantor elogiou o talento e a sagacidade dos colegas, lembrando o início da carreira conjunta em programas de televisão como Quadrado e Redondo, exibido na TV Bandeirantes. "Eles eram garotos ingênuos, mas muito sagazes. Eu sabia que iam deslanchar."


Tim contou ainda que foram justamente Os Mutantes que o apresentaram à gravadora Polygram (na época, Philips), abrindo portas importantes para sua trajetória musical. No entanto, o cantor lamentou nunca mais ter tido a oportunidade de colaborar musicalmente com o grupo. Ao recordar o Festival da Música Popular Brasileira de 1967, quando Gilberto Gil se apresentou com os Mutantes e lançou "Domingo no Parque", Tim confessou: "Fiquei com ciúme, falei: 'Pô, eu é que gostaria de estar lá com eles…'".

Além das lembranças com Os Mutantes, Tim falou à revista sobre outros temas - incluindo seu distanciamento da fase mística ligada ao Universo em Desencanto, movimento que inspirou os célebres discos "Tim Maia Racional, Vol. 1 e 2". "Sim, me arrependo", admitiu o artista, de forma direta, quando questionado se ainda mantinha ligação com a seita.
Tim Maia e o rock
Mesmo afastado do rock experimental dos Mutantes, Tim Maia continuou deixando marcas profundas no cenário do rock nacional. Em 1985, durante outra entrevista à Bizz, o cantor mostrou atenção às novas bandas da década e elogiou o som do RPM. Ao ouvir "Sob a Luz do Sol", ele comentou: "Não gosto da mixagem. Quem é? Zé Ramalho, Guilherme Arantes? Pera aí, é o RPM. Eles não são ruins. Gosto de 'Louras Geladas'. Esse pessoal é que vai arrepiar. Vai mudar tudo, o Roberto Carlos vai ter que se cuidar."

A admiração de Tim por artistas do rock brasileiro não parou aí. Nos anos 1990, ele também teve um papel curioso na história da Jota Quest. Segundo o empresário Sérgio Pitta, foi Tim quem ajudou a banda mineira a adotar o nome atual, após problemas legais com o uso de "J. Quest", inspirado no desenho Jonny Quest. "Eles tinham perdido o nome e estavam tristes. Tim Maia estava com a banda no Planeta Atlântida e disse: 'O segurança, deixa a rapaziada do Jota entrar'. Aí surgiu o nome", revelou Pitta.

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