O Inútil Essencial: Filosofia e Rock and roll na serra fluminense
Por Samuel da Costa
Fonte: Independente
Postado em 05 de fevereiro de 2015
"Letras com humor sarcástico, pensamentos profundos e críticas ácidas; Melodias belas e sinuosas, bem como berros desesperados; Improvisos, teatralidade e execuções viscerais:
Isso é o Vazio."
O trecho acima foi retirado do release de um artista independente que anda causando reboliço nas serras fluminenses. O Vazio é hoje uma das referências na cena rock de Nova Friburgo (cidade que fica no interior do Estado do Rio de Janeiro). Com um trabalho musical que esbanja identidade e uma postura proficuamente empreendedora, ele também é um dos grandes articuladores da cena.
Num domingo de manhã (dia 01/02/15), aproveitando uma visita d´o Vazio à cidade maravilhosa, pude bater um papo com este artista cheio de surpresas e agora vocês podem ler o resultado. Quem quiser conhecer mais sobre seu trabalho, basta acessar o site da banda: www.ovazio.tk.
SDC – De onde vem esse nome, "O VAZIO"?
O VAZIO – Quando eu era moleque, tinha mania de escrever poesia nos muros com colorjet. Hoje é "arte urbana". Naquela época a gente tomava corrida da polícia e não dava pra ficar assinando o meu nome verdadeiro, daí surgiu esse pseudônimo. Tem a ver com as paradas de filosofia chinesa que eu lia na época.
SDC – É verdade que você é formado em filosofia?
O VAZIO – É (risos)... Parece piada, né? Mas é verdade. Até já dei aula em escola. Mas não é a minha. Na real, estudei filosofia por diletantismo. Diziam que eu tinha que ter o diabo de um diploma e eu arranjei um. Nesse meio tempo escolhi alguma coisa que me despertasse interesse e não me aporrinhasse demais; Filosofia (mais risos). Mas o legal é que foi justamente por ter entrado na faculdade de filosofia de UFRJ que eu pode tocar muito rock and roll em vários lugares. Lá a gente montou uma banda de rock sinistra, a ELEPê. Bons tempos...
SDC – Frequentemente você declara devoção ao rock. As músicas "Vendi minha alma ao Rock and Roll" e "O bom e velho" são bem claras a este respeito e ambas usam a mesma imagem. Então, a pergunta é: Você vendeu mesmo a sua alma ao rock and roll?
O VAZIO – Rapá... O pior é que vendi (risos)! Foi em 1999, ainda no século passado. Todo mundo sabe que o século XXI não permite estas coisas. Vendi minha alma ao rock no século XX, que era o século das lendas (risos). Agora, falando sério... cara, pode até parecer doideira, mas isso tem a ver com minhas viagens filosóficas também. Saca? Tem um filósofo que diz que a vida não tem sentido e nem justificativa. Nós é que temos que dar essas coisas pra vida, tá ligado? A minha vida tem sentido e justificativa através da realização estética, mas especificamente na música e, mais especificamente ainda, no rock. Saca? Não é tipo "eu faço rock", é tipo "eu sou rock". É meio tipo isso... sacou?
SDC – Falando da banda, como é a dinâmica de trabalho de vocês? A banda só acompanha você em seu trabalho solo ou vocês criam a sonoridade da banda juntos?
O VAZIO – Mermão, isso é muito doido. Tipo, no início, era meio que um trabalho solo mesmo; eu tava sem banda e me pintavam uns shows pra fazer. Como eu sou fominha, não conseguia recusar – Aí, arrumava uma banda diferente a cada show e, como não tinha banda, não tinha nome pra banda e eu botava só o meu nome. Isso foi em 2007, acho. Depois de um tempo nessa correria, acabei montando outra banda (Folhas no Quintal) e esse trampo ficou parado. Em 2012, juntei com esses moleques metaleiros e a parada virou uma banda mesmo. O que foi ótimo, aliás! Não podia ter escolhido melhor; os caras são fodas... Hoje em dia, a banda é tão deles quanto minha. Todo mundo decide, todo mundo apita no arranjo de todo mundo, todo mundo escolhe repertório... Eles são a melhor tripulação pirata do alto Macacu (risos)!
SDC – Fale um pouco sobre eles.
O VAZIO – Bom, começando pelo Bruno Eller, que foi o que eu chamei primeiro pra entrar nesse navio. Cara, o Bruno é um sujeito muito talentoso, de uma musicalidade enorme. Além disso, é um cara super proativo, que desenrola várias paradas e tá sempre agitando alguma coisa. Pra mim, ele é a alma da banda. Já o Erick é mais na dele, mas também é um puta músico. O cara tem tanta habilidade e tem uns dedos compridos pra caralho que parece que os dedos vão se embolar e dar nó em volta do braço da guitarra. Acho que ele ainda tá encontrando sua identidade na banda, mas não tenho dúvida que ele faz diferença na parada. E o Lucas, bom, o Lucas foi o primeiro batera desta banda, lá em 2007. Em 2014 ele voltou e revolucionou o som da banda. Maluco, cê não tem noção... Eu é que acompanho eles (risos)...
SDC – Vocês estão gravando um novo álbum, chamado "INÚTIL ESSENCIAL". Quais são as perspectivas pra este trabalho?
O VAZIO – Pois é... A gente quer ver se o disco está completamente pronto até meados de março. Além disso tem a correria de levantar grana pra fazer cópias físicas e tal... Ainda não sei dizer quando vamos conseguir lançar, mas acho que sai ainda no primeiro semestre. O trampo está bem encaminhado, os arranjos estão ficando fodas e a gente tem uma lista de convidados bem legal pra gravar com a gente neste disco. Porra, acho que vai ficar bem maneiro!
SDC – Vocês lançaram um single em 2014. E fizeram este lançamento no rádio. Conte como foi.
O VAZIO – Putz, foi legal pra caramba. Acho que desde os anos 90 ninguém lançava músicas no rádio. Só essa farra já foi legal. A gente ainda chamou uma galera pra participar com a gente do programa e foi mó zoeira! Bebemos uma garrafa de rum inteira durante a transmissão (risos)... Porque, você sabe, beber rum não te faz alcoólatra, te faz pirata (mais risos)! O mais legal é que depois disso, várias bandas da área resolveram fazer o mesmo. Acho muito maneira essa parada da galera voltar a ocupar os espaços do rádio. A internet faz a gente esquecer do rádio, mas ele ainda é o principal meio por onde as pessoas conhecem músicas novas. Não to inventando, li isso em algum lugar (risos).
SDC – Você é um grande defensor da produção independente. Explique o que é ser independente.
O VAZIO – Bom, por mais estranho que pareça, ser independente é estar junto. É fazer junto. Sempre falo que a cena independente devia ser chamada de "cena interdependente". Pra ser independente a gente tem que ser proativo, correr atrás das paradas, e meter a mão na massa. Tem muita ralação pra conseguir qualquer resultado, por menor que seja. E tem que estar junto. Não dá pra ser independente sozinho... É um paradoxo, né? Mas isso não é ruim; eu costumo encarar a coisa da seguinte forma: a gente tá num momento onde o velho tá minguando e o novo ainda tá brotando, o ponto de transição, saca? De um modelo produtivo para outro. E temos a chance real de interferir ativamente nesse processo. Uma chance histórica! Pra mim, isso é ser independente.
SDC – Pra finalizar, fale um pouco sobre o som de vocês. Como você definiria a sonoridade da banda?
O VAZIO – Porra, bicho... Essa é difícil! Eu sou o pior cara do mundo pra falar do meu som. Sei lá... É rock. Isso eu te garanto! Me preocupo em ter letras mais interessantes, que não caiam naqueles velhos temas de dor de corno, declaração de amor e tal. Gosto de ter jogos de palavras, de brincar com a fonética das frases... E gosto de melodias legais. Não chego a ser nenhum Paul McCartney, mas prezo as melodias. Ah, é claro: E riffs de guitarra. Porra, rock and roll tem que ter riff de guitarra! E distorção (risos)! Nosso som é pesado, mas não é metal. Tem groove, mas não é soul. É cru e simples, mas não é blues. É cheio de improvisos e dinâmicas, mas não é jazz. E tem um pouco de tudo isso. Como eu disse, é rock. Prestou, a minha explicação (risos)?
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Samuel da Costa é um jornalista independente, formado pela PUC-Rio, e colecionador de discos de vinil.
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