Charles Bauerfeind: Um dos mais famosos produtores de discos de Heavy
Postado em 18 de janeiro de 2001
Um dos mais famosos produtores de discos de Heavy Metal mundial, Charlie Bauerfeind, que já trabalhou ao lado do Gamma Ray, Viper, Angra, Blind Guardian e recentemente produziu o disco "The Dark Ride" do Helloween, ao lado de Roy Z, concedeu uma entrevista para o Whiplash!. Como Charlie estava muito ocupado com o novo disco do Blind Guardian, ele aproveitou o feriado de Natal (24/12/2000) para responder à entrevista.
Por Fernando De Santis
Whiplash! - Como foi trabalhar no "The Dark Ride" junto com Roy Z?
Charlie Bauerfeind / Eu realmente gostei, acho que foi demais. Eu acho que nós dois não tivemos problemas de ego e sempre tentamos fazer o melhor trabalho profissional que nos fosse possível. Demorou algum tempo no princípio para entender o ponto de vista de cada um em certas coisas (o modo que nós iríamos trabalhar na mixagem), porque nós viemos de "formações" diferentes. Eu sou uma pessoa muito voltada para a área digital, enquanto Roy é ligado muito às coisas analógicas. Então depois que nós trabalhamos juntos no disco do Halford, "Resurrection", mixado no estúdio do Andi, nós decidimos fazer a mixagem do Helloween em Tenerife [n.e., também no estúdio do Deris], porque nós dois gostamos dos resultados obtidos no disco do Halford. Também, no começo da produção, estava planejado para nós dividirmos as sessões de gravação - por exemplo, eu poderia trabalhar à noite, enquanto Roy trabalharia durante o dia. Porém, logo no início, durante a sessão de gravação de bateria, nós descobrimos que conseguiríamos um grande resultado, com uma atmosfera bem sossegada trabalhando juntos. Então, nós decidimos trabalhar juntos em muitas coisas, apesar de que alguns problemas de tempo nos forçaram a dividir algumas sessões e trabalharmos separadamente. Nós sempre checamos as coisas cuidadosamente um com o outro e eu posso lembrar apenas de algumas vezes que nós não concordamos em certos pontos e tivemos algumas discussões mais intensas. Nós sempre descobríamos um ponto em comum. Foi um grande prazer trabalhar junto com o Roy e eu honestamente espero que nós nos encontremos no futuro, para trabalharmos juntos novamente em alguns outros projetos.
Whiplash! - Como foi a gravação do "The Dark Ride"? Houve problemas durante a gravação ou foi tudo perfeito?
Charlie Bauerfeind / Foi tudo muito sossegado. Sem dúvida, se você está trabalhando por um longo período, com muitas pessoas, há momentos de tensão, mas foram poucos. Por exemplo, quando todos nós tivemos que decidir quais músicas iriam "entrar" no disco, nós tivemos um momento difícil tomando a decisão, porque nós tínhamos 15 músicas geniais, onde todas ficariam legais no disco. Então Roy e eu sentamos com a banda e contamos a eles que nós, como produtores, apenas poderíamos dar nossas opiniões para serem consideradas por eles [banda], a gravadora e o empresário. Nós não fomos responsáveis pela escolha final, apenas para evitar tensão entre nós e alguns membros da banda que escreveram algumas músicas, que nós não colocaríamos no disco.Os únicos problemas que nós tivemos na produção foram problemas de transporte de certos aparelhos (mic-pre-amps, bateria, etc) dentro da ilha. Isso causou algum atraso na produção.
Whiplash! - Bem, eu não sei se você já pensou nisso, mas como você acha que ficaria o disco "The Dark Ride" se você o tivesse produzido sem o Roy Z?
Charlie Bauerfeind / Eu acho que é justo dizer que nós só conseguimos esse grande resultado porque nós trabalhamos juntos, com muito esforço. Roy e eu equilibramos nossos conhecimentos. Ele tendo muita experiência na produção da moderna técnica americana (por exemplo o Downset), e eu sendo muito influenciado pela técnica de produção do tradicional metal europeu (Blind Guardian, Gamma Ray, etc). Nós dois tínhamos outras experiências em outros estilos de produção (eu com Motorhead, Saxon, etc., e Roy com as fantásticas gravações de Halford, Bruce Dickinson, etc.). Eu acho que seria apenas especulação dizer que o "The Dark Ride" seria europeu tradicional ou teria uma direção mais americana moderna se um de nós tivéssemos feito esse disco sozinho. Eu honestamente acredito que nenhum de nós teria feito a MESMA produção sozinho.
Whiplash! - Eu li em algum lugar que você foi mais engenheiro do que produtor no "The Dark Ride". Isso é correto?
Charlie Bauerfeind / Deixe-me aproveitar essa oportunidade para corrigir alguns enganos. Existem milhares, até mesmo muitos bem conceituados produtores que vêm de "formações" diferentes. Alguns são grandes músicos que viraram produtores, outros são grandes engenheiros que viraram produtores, alguns são grandes experts em marketing de gravadoras, que viraram produtores e alguns são amantes da música que de algum modo começaram a produzir discos. Eu sempre olhei isso, como a indústria dos filmes faz. Eles parecem ter um modo melhor para avaliar o que todos fazem na gravação de um filme. Eles têm o "best boy" (que é responsável por pegar coisas que alguém precisa em algum momento), o diretor de criatividade (que apenas se envolve na criatividade/criação do set), diretor (que é responsável por todas as criações do filme) e o produtor (quem toma conta dos negócios e finanças do filme). Na produção musical, a fronteira entre os cargos é um pouco mais fluente. Para mim, um produtor que se envolve na criação de músicas/letras e arranjos com o artista se transforma num co-músico/escritor, mas isso necessariamente não cobre os deveres dele. De fato, alguns artistas se recusam a ter alguém que intervenha na composição das músicas e arranjos, e recusariam um produtor que trabalha exatamente com isso. Isso também é verdade para a parte dos engenheiros. Como um engenheiro, eu sou responsável por deixar toda a parte técnica correta, não importando como será gravado, mas isso não é estar produzindo. Alguns artistas são grandes engenheiros e recusam engenheiros externos. Andi (vocalista do Helloween) fez um grande trabalho como engenheiro no disco solo dele, ele poderia ter sido o engenheiro do The Dark Ride muito bem. Então, para mim, produzir é estar vigiando o processo de gravação, sendo o responsável pelo resultado da gravação, propondo conceitos e a mistura de certos tipos de som para atingir um resultado melhor em certas músicas, trazendo o músico para o extremo das habilidades dele, para ele (músico) tocar de um modo que nunca havia tocado antes e tomando decisões a respeito de todos os aspectos de criação e produção. Por exemplo, se eu tenho que gravar uma orquestra clássica e sinto que terei muito trabalho para atingir o padrão exigido pela produção, eu chamo outra pessoa para fazer o trabalho. Se um produtor sente que um certo engenheiro em uma mixagem não consegue atingir o som certo, ele pode chamar outra pessoa para fazer a mixagem do modo que ele quiser. Se um produtor sente que as músicas não estão boas o suficiente para serem gravadas, ele pode mandar a banda de volta para o estúdio de ensaios para re-trabalhar em algumas músicas, ou ele pode chamar um co-escritor para escrever algumas músicas com o artista. Então agora voltaremos para a sua questão original: Roy e eu fomos contratados para produzir esse disco juntos, e foi exatamente isso o que aconteceu. Naturalmente, se você tem um compositor/músico como Roy na produção, todos seriam tolos de não pegar essa vantagem e aproveitá-lo exatamente nisso. Nós dois fomos utilizados com o papel de produtores nesse projeto, com o nosso talento superior em alguns quesitos.
Whiplash! - Qual música você mais gostou no disco "The Dark Ride"?
Charlie Bauerfeind / Eu gostei de todas. Se eu tivesse que escolher as minhas favoritas, eu escolheria "Escalation 666", "Mr. Torture", "I Live For Your Pain" e "Salvation". O que eu realmente gostei nesse álbum foi o fato de que a banda assumiu alguns riscos aqui para dar um grande passo à frente, no novo "Metal-Milênio". Eu desejaria que mais bandas tentassem a mesma coisa, se envolvessem e progredissem em seus estilos, numa intenção de se atualizarem. É quase o ano 2001 e eu honestamente acho que é hora de todas as bandas de metal pagarem os tributos a essa época e não ficarem parados na "mesma-velha-mesma-velha-velha" escola modelo. É muito fácil fazer o que você sempre fez em 5, 10 ou talvez 20 anos atrás. É muito mais valioso para todos nós, no cenário do metal, ter bandas criando para termos um ambiente de metal contemporâneo que pode durar para sempre.
Whiplash! - Foi fácil trabalhar com os rapazes do Helloween?
Charlie Bauerfeind / Muito fácil. Eles são muito profissionais e maduros no que estão fazendo. É sempre difícil "empurrar" os músicos para os limites deles. Mas todo mundo administrou o stress muito, muito bem. Helloween é a banda mais emocional em estúdio, eu sempre trabalhei isso, eu acho que esse é o grande diferencial deles. Por outro lado, a mesma emoção e paixão pode algumas vezes ser delicadas de se tratar no estúdio. Mas acredite-me, foi muito fácil trabalhar com eles.
Whiplash! - Você produziu muitos discos de metal, mas qual tipo de música você ouve na sua casa?
Charlie Bauerfeind / Para ser perfeitamente honesto, eu muito raramente ouço música por puro prazer. Se você está em um estúdio 10 a 16 horas por dia, você não quer escutar nada quando chega em casa. Eu realmente gosto de músicas com grandes letras e prefiro ouvir coisas como Sting, Robbie Williams e até "Life's a Rollercoaster", de Ronan Keating, "Black Hole Sun", do Soundgarden, e "Arms Wide Open", do Creed.
Whiplash! - O que você pensa a respeito dos problemas da banda brasileira Angra? (eles se dividiram porque tiveram problemas com dinheiro e empresário). Você acha que o dinheiro e empresários realmente podem atrapalhar uma banda?
Charlie Bauerfeind / Eu acho que sim. Afinal de contas, como um músico profissional, você tem que viver com o que você ganha com a música. Por outro lado, botar toda a culpa no empresário não funciona. Eu acho que eles deveriam ter se envolvido mais cedo e profundamente nos negócios deles. Mas eu também entendo que muitos músicos não escolhem fazer assim, porque os afastam da música, o que ela realmente é. Quero dizer que parece estranho para mim que a banda se separou por problemas de empresário. Bandas se separam do empresário e patrocinadores, isso é muito normal. A separação da banda deixou espaço para muita especulação. Quais foram as reais razões para ele se separarem, eu não sei, mas uma coisa é certa: o cenário metal perdeu uma banda muito talentosa e promissora, com um estilo ímpar. Eu espero que em algum momento no futuro eles resolvam os problemas e façam música novamente com sua formação forte, como uma banda.
Whiplash! - Existe alguma banda que você gostaria de trabalhar, mas nunca foi convidado?
Charlie Bauerfeind / Se eu tivesse um desejo, eu gostaria de trabalhar com o Queen, se eles realmente forem fazer um novo disco com Robbie Williams como cantor. Eu acho que isso seria animal. Talvez Papai Noel conceda meu desejo, você nunca sabe, mas isso me parece muito improvável.
Whiplash! - Qual será seu próximo trabalho?
Charlie Bauerfeind / Exatamente agora, eu estou trabalhando com o Blind Guardian e isso irá durar algum tempo. Nós terminamos mais ou menos o estágio da pré-produção e vamos começar as gravações no ano novo. Haverá um "web cast" de toda a produção em janeiro. Então se você se conectar à página deles você poderá ver a sessão.
Whiplash! - Bem, Charlie, essa é a última questão... por favor, deixe alguma mensagem para todos os seus fãs no mundo todo que visitam a Whiplash! home page:
Charlie Bauerfeind / Para todos os fãs de metal aí afora: eu desejo a vocês um feliz "heavy" Natal e um grande "metal" ano de 2001. Continuem leais às suas bandas favoritas, como vocês sempre foram, mas também estejam abertos a novas coisas e outras bandas. Para dizer isso nas palavras de Neil Young: "Hey, hey, - my, my,- rock n' roll will never die!!!" [Hey, hey, - meu, meu, - rock ‘n' roll nunca morrerá!!!].
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