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Resenha - Inner Circles - Evergrey

Por Bruno Coelho
Postado em 19 de agosto de 2004

Nota: 9 starstarstarstarstarstarstarstarstar

"Good beyond hope..."

Sem sombra de dúvidas todos nós temos suas bandas favoritas. Posso afirmar que o Evergrey não está na minha lista das 10. Em número 1 vem o grande Dreat Theater, seguido por outras como Blind Guardian, Symphony X, Children Of Bodom, In Flames, Iron Maiden, Sonata Arctica, Tool, Dave Matthews Band etc. Meu gosto é bastante eclético e já ouvi muito desaforo por gostar de Dave Matthews, por exemplo, e não de Marduk... paciência! O sueco Evergrey não figura entre minhas 10 favoritas também. Ou pelo menos não figurava até hoje.

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Mais uma vez um álbum conceitual é posto em nossas mãos pelo Evergrey, o que é até meio esperado de bandas de Prog Metal ou Prog Rock. O que não dava para prever era o que esses suecos fariam em seu novo trabalho. Não é possível que uma banda possa ter gravado 4 álbuns tão sólidos assim. Não é possível que Tom S. Englund consiga cantar tão sobrenaturalmente bem e tocar guitarra com tanta competência ao mesmo tempo. Chegou a hora de abaixar a cabeça e conceder-lhes um lugar mais respeitoso em minha lista.

O conceito do álbum gira em torno da história de uma pessoa que sai para fazer parte de um culto religioso e mergulha em um turbilhão de reflexões sobre suas crenças. Tom diz ter tentado mostrar através das letras sua indignação ao ver tantas pessoas entregarem suas vidas a líderes religiosos sem questionar, a seguir regras sem debatê-las, tudo porque alguém que se entitula dono da verdade e age como um iluminado diz ser dono da verdade a ele revelada. A cultura da opressão e do medo difundida por estes "pastores" e "padres", onde eles estão mais perto de Deus do que qualquer um de nós poderá um dia estar, é refletida nesta personagem de The Inner Circles.

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A história e o conceito são levados por uma tempestade de riffs, solos e bases marcantes. Toda a essência da música da banda está aqui, mas dessa vez multiplicada por melodias mais fortes, um quarteto de cordas da Orquestra Sinfônica de Gotemburgo e a participação mais que especial de Carina Englund (creio que esposa de Tom) cantando como poucas mulheres da cena.

Falando mais sobre a sonoridade do disco, posso dizer que não é o trabalho mais pesado da banda, perdendo esse posto para todos os anteriores. Ainda assim é um disco bem pesado. Algumas passagens, como na faixa More Than Ever escancaram um portão de peso inesperado após a calma Waking Up Blind. A segunda faixa, Ambassador, vai te fazer lembrar da música The Masterplan pelos riffs iniciais, mas apenas até os vocais dobrados chegarem e Tom provar ao mundo que sua garganta equivale-se à de um elefante. Existe uma passagem antes do solo de guitarra de Henrik nesta faixa que é simplesmente matadora. Exemplo bruto da coesão da banda.

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Claro que instrumentalmente a banda inteira mostra-se tecnicamente irrepreensível. O Prog do Evergrey nunca foi complexo como o do Pain Of Salvation. Eles são uma banda bem mais direta que muitas do estilo. Ainda assim é transparente a qualidade imensa de Henrik Danhage nas guitarras solo e Michael Hakansson no baixo, além da técnica e o bom gosto do tecladista Rikard Zander e do baterista Jonas Ekdahl.

Para destacar faixas, só por gosto particular, pois todas as faixas equivalem-se em termos de qualidade. Sem dúvidas, a primeira faixa, A Touch Of Blessing, vale o disco inteiro. Perfeita! A banda toda destrói, mas ainda assim são os segundos iniciais, quando a voz de Tom prevalece e depois chega com força total, junto com as guitarras, o destaque dentro deste destaque. As próximas duas faixas são também muito fortes. O já citado peso de Ambassador é incomparável - só o Evergrey pra fazer uma faixa dessas! A cara da banda! Um monolito sonoro! Guitarra, baixo e bateria em uma levada "metronômicamente" perfeita seguida de um teclado que sobressae-se em uma outra camada de som, dando o toque final. Melhor faixa do álbum.

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A terceira, In The wake Of The Weary, mostra o quanto Jonas é bom e possui aquele refrão que dá pra cantar com gosto! Excelente trabalho de guitarras também. Carina Englund tem seu espaço aqui e simplesmente arrasa muita Tarja e Sabine por aí. Isso em mais ou menos 10 segundos.

Harmless Wishes, a quarta, prepara o terreno para aquela "respirada" em Waking Up Blind, a quinta, até os motores roncarem com ódio em More Than Ever - mais uma que é a cara do Evergrey! The Essence of Conviction, a sétima, é daquelas pra tocar pro seu amigo pagodeiro só pra provar que Metal é música pra quem entende música e não pra quem acha que cavaquinho é mais bonito que guitarra. Aliás, o disco inteiro mostra que, por mais que sejamos brasileiros, não dá pra comparar axé/forró/pagode/sertanejo/brega com o metal bem feito! E ainda prova que Zeca Pagodinho vai morrer sem cantar um décimo do que Tom Englund canta.

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A trinca de faixas que encerra o álbum é também louvável. Where All Good Sleep é daquelas que convence qualquer rockeiro que o Evergrey é uma grade banda. Dá até pra converter sua namorada que prefere The Calling. A música não é pesada demais e nem é uma balada. É mid-tempo pra bater cabeça com o punho cerrado mirando o céu. Faith Restored, a nona, é daquelas de arrepiar quem está acompanhando a história do disco trancado num quarto desde a primeira página. Calma e com violões, teclados e vocais bem trabalhados, a faixa pode acabar te deixando mais arrepiado que porco-espinho! Finalmente, a instrumental When The Walls Come Down feixa o álbum com a voz de um homem revelando suas angústias e suas experiências com Deus.

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O disco ainda contém três faixas acústicas gravadas na França, a saber: I'm Sorry, Recreation Day e Madness Caught Another Victim - todas do álbum Recreation Day. Todas ficaram ótimas, com exceção de Recreation Day que ficou simplesmente espetacular!

Para finalizar: O Evergrey entrou na minha lista top 10 dessa vez. São quatro discos seguidos que só uma banda espetacular poderia ter gravado. Tom S. Englund acabou se tornando uma nova forte referência para mim! Nas músicas acústicas ele simplesmente humilha!

Este é um álbum que não se pode deixar de ter na coleção! Escute-o em casa, com calma para poder avaliar bem o trabalho da banda. Não coloque no cd player do carro e saia dirigindo porque não vai ser a mesma coisa.

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P.S. ... C.S.Lewis escreveu sobre O Senhor dos Anéis o seguinte: "Here are beauties which pierce like swords or burn like cold iron; here is a book that will break your heart... good beyond hope."

"Aqui há belezas que furam como espadas e queimam como ferro gelado; aqui está um livro que partirá seu coração... bom além da esperança."

A última pasagem do texto fica melhor traduzida como: "bom além de qualquer expectativa". E é exatamente essa a minha definição para este álbum.

Obrigatório!

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Sobre Bruno Coelho

Bruno Coelho é Arquiteto, escritor, poeta, produtor de eventos, pai, tradutor, intérprete e professor de inglês. Morou em cinco capitais brasileiras e hoje dedica-se ao árduo labor de organizar eventos na capital maranhense de São Luís. Fã do Dream Theater, Tool, Symphony X, Pain of Salvation e Evergrey, encontra espaço pra novas bandas e vertentes sempre.
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