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Mike Browning: o esquecido fundador do Morbid Angel

Por Nacho Belgrande
Fonte: Revista Zero Tolerance
Postado em 23 de fevereiro de 2009

O lugar dele na história do metal extremo é muitas vezes ignorado, de forma ditatorial, por aqueles que prefeririam que a significância de sua contribuição fosse convenientemente esquecida, mas os entendidos conhecem o baterista/vocalista MIKE BROWNING. Membro fundador do MORBID ANGEL e do NOCTURNUS, o legado musical ocultado de Browning pode não ser tão largamente celebrado, devido a cruéis reviravoltas do destino e por puro azar. Mas o movimento que ele ajudou a moldar ainda carrega sua marca. Sam Crowley, da ZERO TOLERANCE, publicação inglesa especializada em Metal, descobre como ele faz sua mágica.

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Sem nenhuma dúvida, Mike Browning é uma das figuras mais influentes na cena metálica dos EUA. Chegando à ribalta como baterista e vocalista dos pioneiros do Death Metal, Morbid Angel, de 1983 a 1987 (você sabe, quando eles soavam verdadeiramente malignos), Browning partiu para formar o vanguardista Nocturnus e lançou "The Key" para o mundo, um álbum muitos anos à frente de seu tempo e ainda hoje um ícone incrível, progressivo e descompromissado do Death Metal. Na infância, Mike sempre teve um enorme interesse por música. "Eu cresci nos anos 70 com bandas como Led Zeppelin, Black Sabbath e Judas Priest. Daí comecei a descobrir bandas como Angel Witch, Merciful Fate, Iron Maiden e Venom, e ali foi quando eu soube exatamente que tipo de música eu queria tocar! Daí, claro, vieram bandas como o Slayer, Possessed e Celtic Frost; nessa altura, eu já estava no Morbid Angel, mas elas também me ajudaram a desenvolver meu estilo".

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As demos do Morbid Angel foram um dos lançamentos mais trocados, e sem dúvida mais respeitados da cena Death Metal em formação. O registro fonográfico deles, "Abominations of Desolation" também foi um dos lançamentos mais pirateados da história do Metal de todos os tempos. Mike gosta de considerar que "'Abominations of Desolation' não foi uma demo; é definitivamente o primeiro disco do Morbid Angel, apesar de Trey e David odiarem admitir isso." Ele reflete sobre aquela época, lembrando-se, "foi um período muito louco da minha vida. Escrevíamos sobre coisas que eram geralmente baseadas em lances reais que fazíamos como uma banda como rituais e invocações, e a gente levava isso muito a sério. Hoje em dia, entretanto, o Morbid Angel é mais uma corporação do que uma banda. Você pode ver que eles se odeiam, a única razão pela qual eles estão tocando juntos é o dinheiro, e não porque eles apreciam o princípio pelo qual a banda deve se unir. Naqueles tempos, eu sempre soube que éramos diferentes de todas as outras bandas, e nosso maior objetivo era sermos autênticos sobre o que fazemos!"

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Aquele período da vida de Mike acabou quando "eu peguei Trey com minha namorada e enchi ele de porrada. Aquilo foi o fim do Morbid Angel comigo, e foi aí que Trey decidiu mudar-se de Tampa pra Carolina do Norte para juntar-se a David Vincent. Eu fiquei aqui com o baixista Sterling Von Scarborough, e nós reformamos a banda antiga dele, o Incubus." Olhando agora praqueles anos, ele diz, "é realmente fabuloso que o Morbid Angel tenha feito tamanho impacto na antiga cena metálica. Eu nunca imaginei, quando conheci Trey ainda no ensino médio e estávamos tocando no quartinho dos fundos da casa da minha mãe, que o que começávamos tornou-se numa das maiores bandas de Metal da história! Eu estou orgulhoso de ter tido uma mão no começo da banda ainda que Trey não curta muito me dar crédito por isso". Mike traz um ponto muito interessante à tona: "um monte de bandas conseguiu copiar o som do Morbid Angel desde que David Vincent entrou na banda, mas ninguém jamais conseguiu copiar o antigo som que o Morbid Angel tinha no começo".

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Enquanto o Morbid Angel estava começando a trabalhar no agora lendário disco "Altars of Madness", as coisas eram um pouco diferentes para o reformado Incubus. "A banda não durou nem seis meses antes de Sterling e Gino Marino (guitarra) brigarem enquanto bebiam na praia, e aquilo foi o fim de tudo. A gente nunca teve a chance de tocar ao vivo e só gravamos uma demo de três faixas, 'God Died On His Knees' em 1987, que também se tornou um clássico do underground".

Depois da separação do Incubus, Mike decidiu começar sua própria banda "que só abordava temas de ocultismo". A semente do Nocturnus tinha sido plantada. Porém, a jornada da inseminação até o seminal disco "The Key" não foi fácil. "Eu recrutei Richard Bateman pro baixo e Vincent Crowley (Acheron) pra guitarra. Logo depois, Gino também veio pra guitarra e gravamos a primeira demo, auto-intitulada, em 1987. Depois disso, Bateman saiu pra juntar-se ao Nasty Savage, que era bem famoso na época, e Vincent ficou desmotivado e se mudou de Tampa. Foi aí que chamamos o primo de Gino, Mike Davis pra guitarra e Jeff Estes pro baixo. Nós planejamos uma nova demo e queríamos algumas introduções para algumas das canções; Jeff tinha um amigo, Lou (Panzer) que tocava teclado, e ele escreveu algumas introduções para nós. Ele acabou entrando pra banda antes de gravarmos a demo 'The Science of Horror' em 1988. Daí Gino teve alguns problemas com a polícia e foi preso, então tivemos que substituí-lo com um amigo de Davis, Sean McNenney". Uma jornada longa e árdua, mas através de perseverança, a banda finalmente assinou com a Earache e lançou um dos maiores discos de Metal extremo de todos os tempo: "The Key".

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O conceito por trás da banda estava longe de ser ordinário. "Eu criei o Nocturnus como uma banda voltada pro oculto que tinha muita atmosfera assim como era muito pesada e técnica. Eu queria que as pessoas pudessem não apenas ouvir ou ver a banda, mas sentir a energia do grupo em suas almas também". Com o impacto que "The Key" fez, Browning certamente arrebatou a mente de seus ouvintes. Como pessoa, ele "nunca realmente se preocupou em fazer música para as massas – desde que eu estivesse feliz com o que estivesse fazendo, isso era o suficiente para que eu achasse sucesso. Era muito legal que as pessoas estivessem gostando do que fazíamos; é muito ruim que com a pressão da gravadora e de outros membros, eu tenha deixado de fazer o vocal e as letras e tenhamos trazido um frontman. Essa foi a verdadeira razão do começo da debandada do Nocturnus. 'The Key' vendeu mais de 70 mil cópias e o (álbum seguinte) 'Thresholds' somente 30 mil. A banda não chegou nem a seis meses depois de terem me demitido. Eles foram mandados embora da Earache e se separaram. Eles tentaram uma reunião e um novo disco, 'Ethereal Tomb', em 2000, sem mim, que deu com os burros n’água também, e eles inevitavelmente se separaram de novo". Avance até os dias de hoje passando por uma colaboração de dois anos com o Acheron e Mike tem uma banda nova, After Death. "Quando eu olhei pra trás e li as letras de ‘B.C./A.D.’, que era a primeira canção escrita para o Nocturnus, é quase que uma profecia que o After Death seja o que me traga dos dias do Nocturnus, então, ao invés do velho provérbio, ‘tudo está nas cartas’, eu posso dizer que ‘tudo está na música e nas letras!" Mike vê a música como "a válvula de escape perfeita para expressar as coisas que eu aprendo e faço com a magia. Eu tenho estado envolvido com o oculto por ainda mais tempo do que eu tenho feito música, então todas as minhas bandas e projetos tornaram-se diferentes maneiras de expressar a magia através da minha música!" Com seus outros trabalhos solo "Welcome" e "Inner Workings" junto à banda de Metal Tradicional Argus e sua banda de tempo integral, After Death, há muito mais por vir desses bruxo das trevas.

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Sobre Nacho Belgrande

Nacho Belgrande foi desde 2004 um dos colaboradores mais lidos do Whiplash.Net. Faleceu no dia 2 de novembro de 2016, vítima de um infarte fulminante. Era extremamente reservado e poucos o conheciam pessoalmente. Estes poucos invariavelmente comentam o quanto era uma pessoa encantadora, ao contrário da persona irascível que encarnou na Internet para irritar tantos mas divertir tantos mais. Por este motivo muitos nunca acreditarão em sua morte. Ele ficaria feliz em saber que até sua morte foi motivo de discórdia e teorias conspiratórias. Mandou bem até o final, Nacho! Valeu! :-)
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