Claustrofobia: em entrevista ao site A Ilha do Metal
Por Mayara Puertas
Fonte: A Ilha do Metal
Postado em 12 de fevereiro de 2012
Batalhando na cena Brazuca desde 1994, o Claustrofobia com seu "Metal Maloka" é considerado uma das mais importantes bandas da cena underground brasileira. Depois de muitas experiências, entre elas as Turnês na Europa, após o lançamento do muito bem aceito "I See Red" (2010), o Claustrofobia retorna com força total em seu ultimo álbum, "Peste" (2011), eleito por inúmeros sites e revistas especializados como um dos melhores lançamentos do ano. O guitarrista do grupo Alexandre de Orio, cedeu gentilmente uma entrevista ao site A ilha do Metal conduzida por Mayara Puertas, comentando sobre o ultimo trabalho do Claustrofobia, sobre o lançamento de seu livro "Metal Brasileiro" e mostrando um outro lado do musico que poucos conhecem. Confira abaixo alguns trechos da entrevista:
Alexandre, a maioria das pessoas (headbangers) te conhece pelo Claustrofobia, mas você atua também em um quarteto de cordas, o Kroma, que não tem nem um pouco a ver com o Claustrofobia!
Alexandre: Realmente é bem diferente e apresenta uma nova forma estética para a guitarra elétrica. É uma salada musical, tocamos desde música clássica, chorinho, blues, moda de viola, baião até rock. Será lançado o novo álbum daqui alguns meses. Vai se chamar "DesConstruindo" e conta com três grandes participações: Heraldo do Monte, Vera Figueiredo e Roger Moreira.
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Considerando a sua formação musical, seria meio difícil associar o Alexandre músico ao Claustrofobia! Nós que escutamos o som "Metal Maloka" não imaginamos um guitarrista lendo livros e mais livros... Estudando e se especializando... Teoria e afins (N.R.: Alexandre, além de guitarrista na famosa banda Metal Maloka, também é formado em música pela Faculdade de Artes Alcântara Machado-FAAM-, com pós graduação em Linguagem Musical pela Faculdade de Música Carlos Gomes e Docência Superior em Música-FAAM-).
Alexandre: Exatamente. A maioria das pessoas me conhece mesmo pelo Claustrofobia, mas estes dias mesmo recebi uma mensagem de um headbanger que me conheceu por causa do quarteto e só depois ficou sabendo que eu tocava no Claustro também. Em geral, quando as pessoas descobrem o quanto já estudei, de ter feito faculdade de música, pós-graduações etc., ficam meio admiradas por tocar metal. De certa forma é um tipo de preconceito. Acho que isso mostra o quanto o metal também tem que ser valorizado por muitos músicos.
Levando em consideração tudo isso, você traz essas influencias de outras vertentes para o Claustrofobia?
Alexandre: Sim! Pra cacete! Já faz muito tempo que sofro essa influência. O fato de eu ter cursado uma faculdade de música, e atuar em outros projetos musicais tocando jazz, música brasileira, fui cada vez mais me aprofundado em outras áreas. Às vezes estou tocando algum outro gênero musical e penso "Putz... isso aqui dá pra usar, acho que ficaria legal", vou experimentando. A idéia do livro surgiu a partir destas pesquisas, criando riffs em cima de levadas e ritmos da música brasileira.
Isso influenciou diretamente no "Peste"? Afinal é o primeiro álbum do Claustro cantado integralmente em português...
Alexandre: Na verdade, já faz muitos anos que vínhamos cogitando a idéia de fazer um álbum em português, mas nunca encontramos o momento certo. Fomos deixando e fazendo os álbuns em inglês. Depois de muitos acontecimentos, como turnê na Europa e tudo mais foram um grande amadurecimento e experiência para a banda, tanto musicalmente quanto nas letras (normalmente eu não escrevo as letras). O público sempre reagiu muito bem com nossas músicas em português, acho que foi à hora certa pra isso, depois de alguns discos em inglês também. Em geral, compor em inglês acaba sendo diferente, a gente acaba tendo outra postura, mesmo que inconsciente; o português é um pouco mais direto e é a nossa língua! Sem muita firula ou complexidade. Não digo que influenciou diretamente, mas indiretamente sim.
Este ano em especial, depois de algumas declarações de músicos brasileiros na internet polemizando sobre a cena brasileira, é de se perceber certa onda de "nacionalismo" musical. Não que estejam valorizando mais o metal nacional agora, mas talvez estejam começando a acordar para enxergar o que temos no metal brasileiro. O lançamento do "Peste" em português traz essa coisa de "metal brasileiro" cantado na nossa língua.Foi uma tentativa de valorizar a identidade lingüística brasileira?
Alexandre: Tem isso também. Mas como falei, isso é uma idéia antiga, bem antes de toda essa polêmica que aconteceu há pouco tempo. A gente sempre percebeu que a reação do público nas músicas em português sempre foi maior, pelo fato de cantarem a letra toda, o refrão e saber o que está sendo dito. Quando aparece um palavrão então, os caras berram (risos).
Sobre seu livro "Metal Brasileiro: Ritmos Brasileiros Aplicados na Guitarra Metal – Novos Caminhos para Riffs de Guitarra", conte pra gente um pouco da idéia e o contexto que ele aborda.
Alexandre: Como disse, há muitos anos venho experimentando ritmos diferentes no Claustro, e aos poucos foi surgindo coisas interessantes. Mas a idéia mesmo de começar a transformar todo esse material em um livro, foi quando comecei a estudar livros de bateria na guitarra...
Bateria na guitarra? (risos)
Alexandre: Isso! Comecei a pegar umas levadas de música brasileira que tem em livros de bateria e fui procurando alguma forma de executar isso na guitarra, criando riffs ou encontrando formas de palhetar determinada célula rítmica... Então fui catalogando tudo que descobria, me baseando em vários ritmos. Comecei estudando o livro "Novos Caminhos da Bateria Brasileira", de Sérgio Gomes, que inclusive era o professor de bateria da faculdade de música que cursei. O primeiro ritmo que ele aborda é o samba e no desenrolar percebi que poderia criar uma série para abordar diferentes ritmos. Esse primeiro livro, que é o primeiro volume, aborda somente o samba; então encontrará várias levadas dentro das ramificações do samba como Samba-Funk, Samba-de-Roda etc – assim como células rítmicas características do gênero, mas tudo aplicado na guitarra voltada ao metal. Além de ter como objetivo um estudo mais técnico, ligado ao ritmo e palhetada, a idéia é também ajudar no processo criativo de riffs. Abre a possibilidade de um estudo para bateristas também porque além da escrita para guitarra tem as partes de bateria, que foi de onde surgiu.
E na hora juntar isso com o Heavy Metal, é possível fazer isso sem fugir das origens da música pesada? Pois são dois estilos totalmente opostos...
Alexandre: O único cuidado que se deve tomar é que a música não se torne uma caricatura, que não fique uma coisa muito forçada. Garanto que dá para usar mesmo e o resultado é muito bom. Confira o vídeo "Metal Brasileiro" postado na internet. Faz você criar coisas diferentes, te leva para outros caminhos. Tem algumas frases, por exemplo, o "telecoteco" para dar um exemplo, uma coisa é você fazer isso num tamborim; agora você executar isso na guitarra, com uma abordagem voltado ao metal vira uma coisa totalmente diferente e agressiva. Ai então você une com uma bateria já com uma pegada mais metal, ninguém vai associar isso ao samba. Aliás muita coisa, se eu não falasse de onde teria vindo ninguém saberia que nasceu de uma levada de samba ou qualquer outro lugar.
E você já tem idéia de que outros ritmos vão ser abordados nos próximos volumes da série?
Alexandre: Já tenho alguns esboços, mas não sei dizer ao certo qual será o próximo...
E tem um ritmo brasileiro em especial que você acha que deveria ser mais explorado no Metal Brasileiro?
Alexandre: Acho que não tem um em especial, na verdade, tudo pode ser explorado desde que tenha bom senso. O negócio é experimentar. Mas tem que saber o limite para não descaracterizar o metal no caso ou deixá-lo chato. O que proponho não é só utilizar um batuque aqui ou ali e sim dar um tratamento no riff de guitarra, na palhetada utilizando esses elementos como "pano de fundo", isto só tende a enriquecer.
Confira entrevista completa em A Ilha do Metal:
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