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Live

Postado em 06 de abril de 2006

Por Raul Dalaneze

Ponte entre o underground e o mainstream, o LIVE sempre foi respeitado, ora pelo público mais alternativo, ora pelo público pop, que conhece a banda pelos hits que freqüentam rádios do mundo inteiro há mais de uma década. Conhecida pela força emocional de sua música, a banda tem um quê idealista, que dá o tom espiritual de todo o trabalho dos caras, do primeiro ao último álbum.

O LIVE surgiu em Nova York, em meados dos anos 80. Na época, Chad Taylor (hoje guitarrista), Chad Gracey (o batera) e Patrick Dahlheimer (baixo) eram os únicos integrantes do "First Aid" , nome que durou tão pouco quanto a carreira dos três, antes da entrada do vocal de Ed Kowalczyk, quando a banda passou a se chamar"Public Affection".

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No ano de 1989 os caras fundaram seu próprio selo, o "Action Front", lançando "The Death of a Dictionary", álbum que ainda pode ser encontrado em lojas de cd mundo afora, se bem vasculhadas . Mais tarde, o grupo tentou fechou um acordo com a "Giant Records" para desenvolver um demo que nunca foi lançada. Cansados de esperar, os caras enviaram o mesmo material para a "Radioactive", já usando o nome Live.

Sob a produção de Jerry Harrison (do ‘Talking Heads’), saiu em 1991 o primeiro trabalho oficial da banda, um álbum obrigatório para todo bom rockeiro, clássico desde seu lançamento: "Mental Jewelery". Os dois primeiros singles - "Operation Spirit" e "Pain Lies on the Riverside" - alcançaram o topo das paradas norte-americanas e européias, mas com um desempenho um pouco mais tímido por aqui, talvez abafado pelo ainda enorme sucesso que o movimento grunge fazia.O álbum todo foi inspirado em escritos do filósofo indiano Jiddu Krishnamurti, objeto de veneração de Ed, cuja leitura contribuiu substancialmente para as letras de 80% das canções do LIVE, com muitos ataques ao racismo e ao governo, além de odes à religião, família, amizade, destino e auto-conhecimento, sempre de forma crítica - ora incisiva, ora velada. O cuidado com as letras, somado as guitarras, alternadamente elétricas e acústicas, baixo de respeito e bateria seca, fazem do som desse cd um autêntico hard-rock com leves toques de jazz, grunge e uma visível influência do trabalho do U2. Existe salada melhor que essa?

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Em pouco tempo os críticos elegeram o LIVE como a melhor novidade pós-nirvana, o que fez com que o segundo e decisivo álbum fosse ansiosamente aguardado pela imprensa e pelos fãs, que já seguiam Ed e seus companheiros de forma frenética por todo os EUA.

Três anos depois, "Throwing Cooper" chegou, mostrando canções de qualidade idênticas às do primeiro trabalho, impressionando a todos, conquistando críticos e caindo nas graças do público, botando na mente de muitos a inesquecível e perfeita "Selling the Drama", a deciliosa "I Alone" e a triste, mas poderosa "Lightning Crashes", provavelmente uma das baladas mais bonitas já escritas. Todas elas tocaram bem para uma banda alternativa e permaneceram algum tempo nos primeiros lugares nas rádios. Tocaram também "All Over You" e "White, Discussion", também duas ótimas composições. Throwing Cooper vendeu 7 milhões de cópias no mundo todo, sendo até hoje o disco mais vendido do LIVE. "Throwing Cooper" deu, ainda, ao LIVE o título de 'banda do ano de 1995' pela Revista 'Rolling Stone'.

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"Secret Samadhi" saiu sem muito alarde, já em 1997, surpreendendo muita gente. O terceiro trabalho do LIVE era obscuro, sinistro, trazia um som cru e mais simples, um pouco depressivo e cheio de auto-questionamentos, dividindo a crítica especializada e os fãs. De um lado haviam os críticos, que depreciaram o trabalho por não trazer o que o LIVE teria de melhor: as letras positivistas e o som alegre e forte. De outro, houve quem adorasse o álbum, ressaltando o amadurecimento da banda, que mostrou que o estilo do LIVE não era imutável e como a crise existêncial de um artista - no caso, Ed - pode influir na sonoridade de todo um conjunto. O fato é que a qualidade sonora realmente é um pouco inferior e as letras saíram um pouco menos trabalhadas, mas ainda assim é um excelente álbum, apesar de chamado de 'pérola negra' da banda. "Rattlesnake" e "Lakinis Juice" foram os dois singles de estréia do cd e ganharam algum destaque no universo do fim dos anos 90, mas não emplacaram justamente por não trazerem os atrativos inerentes à banda. O que não quer dizer que eram ruins, pelo contrário: tem energia e autenticidade únicas. O terceiro e último single foi ‘Turn My Head’, baladinha calma e gostosa, que acabou se sobressaindo às anteriores, angariando algumas milhares de cópias a mais para a vendagem do cd, que curiosamente mantém uma certa regularidade até hoje.

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Em 1999, rumores na imprensa especializada diziam que o LIVE estava prestes a lançar um novo trabalho, mas todos esperavam a novidade com um pouco de receio, já que o disco anterior não tinha seguido a linha inicial e, como não teve uma repercussão comercial muito boa, poderia significar o início da decadência da banda. Foi quando, de surpresa, o LIVE lançou ‘The Distance do Here’, emplacando diretamente no primeiro lugar "The Dolphyn’s Cry", que atingiu também o topo da lista de videoclipes mais pedidos da MTV, área em que a banda nunca chegou a se destacar muito, mas que o fazia pela primeira vez em sua história. Quando "Run to the Water" chegou às rádios, pegou carona no single anterior e também foi muito pedida em todo o mundo, inaugurando uma nova fase na carreira da banda. Oito anos depois do primeiro álbum, o LIVE finalmente atingia a grande mídia, chamando atenção do cenário pop e arrebatando muitos fãs, que começaram a buscar cds antigos da banda para conhecer melhor seu trabalho. Foi aí que aqueles fãs enrustidos, que conheciam as músicas mas não sabiam que eram da banda, se apaixonaram de vez, elevando o status do LIVE internacionalmente. Foi nessa época, também, que o LIVE passou a ser mais conhecido no Brasil.

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"The Distance to Here" consolidou a carreira dos caras, deu consistência ao trabalho de anos do vocalista e líder Ed, que sempre cuidou para que a banda não caísse na mesmice que atinge a maioria dos grupos da mesma idade que o LIVE, agrupando características próprias do som melódico e, ao mesmo tempo, pesado da banda. Sem cair em modismos, o som que se apresentava bebia na fonte de nomes como Pearl Jam e REM, trazendo de volta, também, o conteúdo espiritual dos dois primeiros álbuns.

Mas a banda não pararia de surpreender. Quando menos se esperava, os nova-yorquinos lançam seu quinto álbum, com o sugestivo título de "V" (cinco, em algarismos romanos), trazendo um som totalmente novo que, mais uma vez, dividiu à todos quanto ao seu gosto musical. "V" chegou em setembro de 2001, época em que começavam a surgir novas bandas que incorporavam o som rock com batidas e letras de rap. Na ânsia de fazer algo novo e moderno, o resultado foi muito bom, mas deixou alguns fãs traumatizados com a profusão de recursos eletrônicos, a participação de alguns rappers nas músicas, as guitarras mais pesadas do que nunca e hits fortes e únicos como "Simple Creed", primeiro single a estourar nos rádios. "Forever May Be Not Long Enough" entrou para a trilha sonora do filme "A Múmia" e "Overcome" ficou mundialmente conhecida após os atentados de 11 de setembro nos EUA, quando a banda lançou uma versão alternativa para o clipe na MTV, que continha cenas de destruição e tristeza no WTC, dedicando o trabalho às vítimas do atentado. O cd vendeu bastante e causou muita polêmica entre os fãs, com o velho papo de que os caras teriam "se vendido" e que partiriam para o pop daí para frente. Crasso engano, já que a potente "Deep Enough", a crítica societária feroz de "People Like You" e as emocionais baladas "Call me a Fool" e "Nobody Knows" nada tem de comerciais e são o melhor deste, que é o álbum mais pesado e moderno da banda.

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Com "V", o LIVE passou a freqüentar, definitivamente, rádios, programas de TV e a ser convidado para diversos shows e festivais no mundo todo. Já as vendas diretas do álbum não foram bem, tornando "V", até agora, o álbum menos vendido do LIVE, apesar de ter ajudado a aumentar a popularidade da banda, principalmente pela boa freqüência de "Simple Creed" nas listas de pedidos nas rádios. Parte do "crédito" pela baixa venda foi o azar que a banda deu: o álbum foi lançado na véspera do fatídico 11 de setembro de 2001, data do mega-atentado terrorista que derrubou o World Trade Center em Nova Yorque, terra natal da banda e o maior reduto de seus fãs.

Dois anos depois, mais precisamente, 20 de maio de 2003, o LiVE lançou seu sexto, e até agora, mais recente álbum: Birds of Pray. Gravado na Califórnia e produzido por Jim Wirt, o álbum prometia trazer de volta a energia e a sonoridade de Throwing Cooper e Mental Jewelery e... conseguiu. O primeiro single foi "Heaven", bela música inspirada no nascimento da filha de Ed Kowalczyk, que afirmou à imprensa, referindo-se ao fato, ter sido "a experiência mais incrível, intensa e maravilhosa que pode existir. Na música, procuro dizer que a vida de cada um é única e valiosa". Heaven alcançou os primeiros lugares das listas de músicas mais tocadas em todo o mundo e o cd teve a maior vendagem inicial da banda, figurando como mais vendido em vários sites da internet e em lojas nos EUA e Europa. Ed não perdeu a oportunidade e, nas entrevistas prévias do álbum, comentou "Life Marches On", quinta música de "Birds of Pray", com letras fortes e contundentes à indústria fonográfica: "Nos últimos cinco anos a arte da música se diluiu em detrimento da exploração da imagem. Parte da missão do Birds foi escrever e tocar músicas boas de verdade, não apenas vendáveis". E provavelmente conseguiu. As letras, da primeira à última faixa são maravilhosamente inspiradas e a melodia é mais LIVE do que nunca. O conjunto é o básico guitarra/baixo/bateria/vocal e a energia é a mesma dos tempos iniciais, uma deliciosa surpresa para os fãs da banda que encontraram em 'BoP' a sonoridade antiga com mais peso e amadurecimento. Resultado: a turnê nos EUA e na Europa foi um sucesso e todos aguardaram ansiosamente dois shows no Brasil: um em São Paulo e outro no "Brasília Music Festival", em setembro.

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