Suicidal Tendencies
Por Fábio Romero
Postado em 06 de abril de 2006
Los Angeles, começo dos anos 80. Em meio a uma avalanche de novas bandas e estilos, dentro da cena musical uma banda começa a chamar a atenção. Quatro rapazes de origem latina vindos de Venice, sudeste de Los Angeles, membros de uma classe considerada mais marginal, ávidos por fomentar uma revolução na atitude e principalmente na cabeça (entenda-se pensamento) daqueles que o cercavam começam a mostrar as garras. O nome, o estilo, as letras, os integrantes, as idéias, os shows, tudo isso capitaneado por um vocalista louco, Mike Muir, dão origem, em 1982, ao Suicidal Tendencies.
Mike Muir (Cyco Miko), Louiche Mayorga, Grant Estes e Amery Smith formam o time. Vestidos de uma forma peculiar, com suas camisas flaneladas fechadas somente no primeiro botão (o chamado "noose"), em pouco tempo os rapazes começam a arrebanhar muita gente para seus shows. Curiosamente, os próprios fãs confeccionam camisetas, bonés, calças, bermudas e espalham a ST mania pela cidade.
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Maior responsável e criador da banda, Mike Muir se destaca pela imagem robusta no palco, postura agressiva mas inteligente, e aparece como um grande formador de opinião, agradando de imediato skatistas, punks, thrashers, hardcores, gangs e tudo o mais (entenda-se por isto tudo o mais mesmo) para os shows da banda. Sem esquecer sua outra marca registrada, uma bandana azul na cabeça, quase que tampando toda a visão, que fez escola.
Pendendo mais para um som skater, o ST incorpora solos de guitarra ao som, o que vem os diferenciar das outras bandas que se aproximavam deste estilo. Com o passar do tempo, as músicas vem cada vez mais a incorporar um tempero especial, bases pesadas mas swingadas, levadas bem "pulantes" e as letras cada vez mais fortes e contundentes. Trabalhando basicamente com sentimentos que não são facilmente controláveis e cuja expressão é sempre cercada de críticas pelo sistema vigente, o ST é uma banda que não tem medo de falar o que pensa, brigar pelo seu direito, e lutar por aquilo que acha que é certo. Inquietos, o ST foi e sempre será uma banda que não tem medo do futuro e vai estar sempre andando para frente. Afinal, é a isso que devemos chamar evolução, vide todos os seus trabalhos nesses 16 anos.
Criticados ao extremo e atacados pelas frentes "moralistas" principalmente pelo seu nome, é importante destacar aqui que o nome Suicidal Tendencies não quer incitar pessoas ao suicídio, mas tem origem principalmente no fato da banda ser composta de skatistas (enquanto a maioria das bandas da época aparecia circulando em Harleys – como continua sendo hoje em dia). Obviamente, qualquer ser humano que tenha praticado skate, dropado de caminhões, freqüentado half pipes e piscinas, descido por estradas e ladeiras a milhão sabe muito bem a que se refere o nome...
O primeiro disco, auto-intitulado, foi lançado. A despeito de seu começo conturbado, considerados "pior banda e maiores cuzões" pela pool da revista "Flipside" em 1992, em 1993 lançam seu primeiro trabalho pela gravadora American Lesion Music. Logo após o lançamento, os rapazes decidem fazer uma turnê pelos Estados Unidos, independentemente de terem dinheiro para viajar ou organizar qualquer coisa (o que explica o fato de voltarem extremamente mais magros do que quando saíram de casa). O que levou a isso foi o fato de que o máximo que chegaram a receber por um show foi US$ 100,00, e mais de 70% dos shows acabaram sendo "na faixa", quer dizer, pintava um show no meio do caminho e não rolava grana.
Ao chegar em casa de volta, notaram que o álbum já tinha feito efeito. O hit Institutionalized, mais conhecido lá fora como a música da Pepsi ("just one Pepsi, and she wouldn’t give it to me, just one Pepsi...") já estava rolando nas rádios. O álbum estava chamando a atenção dos ouvintes, da crítica e principalmente do P.M.R.C e da polícia da Califórnia. O seu nome e visual os tornava alvos fáceis. Há rumores inclusive de que eles chegaram a ser pressionados pelo FBI para mudar o nome da música I shot Reagan (Eu atirei em Reagan) para I shot the Devil (Eu atirei no diabo). Essa canção, juntamente com I saw your mommy e Subliminal se tornaram sua marca registrada. A MTV americana logo entrou no páreo com as rádios, começando a rolar o vídeo de Institutionalized, que chegou ao top 28 dos vídeos daquele ano. A música e o vídeo ainda apareceram e foram citados em séries de TV como Repo Man e a mais conhecida por aqui Miami Vice, nos quais a banda aparecia tocando. Após três anos do lançamento, o primeiro disco do Suicidal tendencies alcançou a marca de 150.000 cópias.
Apesar da grande repercussão da banda e do número de discos vendidos, nenhuma gravadora queria saber dos "suicycos". Nenhuma grande companhia queria o nome relacionado com uma banda chamada Suicidal Tendencies. E para aumentar os problemas, devido a violência generalizada de seus shows, a banda foi proibida de se apresentar em público por um prazo de cinco anos.
Após uma espera de dois anos, e com a compra da Caroline pela Virgin, o ST finalmente recebeu uma proposta onde eles teriam total controle artístico sobre seu material, bem como seria negociada a pena de 5 anos sem aparecimentos em público. Ele aceitaram.
Join the Army foi seu segundo disco e primeiro pela Caroline. Demorou três anos para sair, devido a vários problemas internos e catástrofes ocorridas com a banda. O guitarrista Grant Estes saiu, dando lugar ao respeitado guitarrista Rocky George e o baterista Amery Smith foi substituído por Ralph J. Herrera. Com o lançamento do novo álbum e enriquecido cada vez mais com o "skate rock", o primeiro hit, Possessed to Skate, foi acompanhado do lançamento de um vídeo onde um garoto aproveitava a viagem dos pais e detonava a casa toda com seus amigos, além de aprontar o diabo na piscina da casa (servindo como pista de skate). Curiosamente a casa era realmente de um amigo da banda, e após o vídeo eles tiveram que arrumar a casa do jeito que ela estava antes. Músicas como Two Wrongs Don’t Make a Right (but make me feel a whole lot better), Join the Army, com suas letras agressivas e cruas começavam a fazer moda, junto com todos os produtos que a banda lançava no mercado... camisetas, bonés, chaveiros, bermudas, etc., e dava início a uma nova fase dentro do hardcore, o chamado "skate core". Junto com bandas como Agnostic Front, D.R.I., Gang Green, etc. O ST despontava como um dos mais expressivos grupos dentro de seu estilo.
Com o seu terceiro disco How Will I Laugh Tomorrow When I Can’t even Smile Today, o Suicidal finalmente conseguiu um apoio maior da gravadora em termos de distribuição, propaganda e divulgação. Foi a essa altura do campeonato que os garotos (já não tão garotos assim) resolveram incluir mais um guitarrista. Com a entrada de Mike Clark um guitarrista mais concentrado nas bases das músicas, e a substituição do baixista Louiche Mayorga por Bob Heathcote, a sonoridade da banda deu uma guinada em direção a um som mais pesado (mais heavy, menos punk). Sem deixar de lado as suas mensagens, é claro. Mike Clark entrou de sola, já que no disco 70% das músicas têm sua assinatura. A produção de Mark Dodson, que na época trabalhava com o Anthrax, com certeza soube explorar os contrastes e as diferentes tendencias que o Suicidal começava a experimentar, e um dos resultados desse trabalho é uma das músicas mais famosas da banda, a canção título. De balada a porrada, de porrada a balada, sem perder o pique, o disco inteiro é imperdível, recheado de canções que ajudaram a arrebanhar mais membros para a "Suicidal Family".
Com a entrada de 1989, o lançamento de dois EP’s em um só álbum Controled by Hatred / Feel Like Shit....Deja Vu, seu quarto lançamento, sem a produção de Mark Dodson, a banda procura reaproximar o som do HC original. Um som muito mais sujo, as guitarras mais baixas, solos quase inaudíveis e vocal também, o baixo e a batera extremamente crus e altos contrastam com a "heavy emotions version" de How Will I Laugh Tomorrow acústica antes de qualquer projeto MTV. Produzido pelo ST e Paul Winger, a qualidade parece não ter agradado muito aos membros da banda. O som mais heavy contrasta com a gravação, muito pobre, o que não combina definitivamente com o que almejam os Suicycos.
Como não podia deixar de ser, com a maior exposição na mídia, cada vez mais o Suicidal encontrava problemas. Tinha na sua cola o P.M.R.C., comandado por Tipper Gore (hoje a mulher do vice-presidente dos Estados Unidos) tentando a todo custo proibir apresentações da banda bem como alterar o seu nome, e boicotando a distribuição, tentando a todo custo retirar o disco das lojas, motivada pela idéia de que o nome e a música incitavam os jovens ao suicídio. A policia de Los Angeles também, com o aumento considerável do número de fãs e as brigas constantes em seus shows, considerava a banda mais uma gang do que um grupo e continuava a impedir a sua apresentação várias vezes (principalmente em lugares abertos, já que a banda continuava a atrair aquele público skatista). O choque entre os discursos e as letras empolgadas e inflamadas de Mike Muir de um lado, e a polícia e as instituições moralistas animava os fãs e atraía cada vez mais a atenção da mídia.
Lights, Camera Revolution é lançado logo na seqüência, em 1990. Uma verdadeira obra prima. Por sua causa o Suicidal é acusado de amaciar as músicas e se vender. É claro, o som não é mais aquele HC original, é nítida a evolução dos músicos, da produção, das idéias, da revolta e o amadurecimento definitivo da banda. A influência de uma levada mais funkeada em algumas músicas (com a entrada do extremamente criativo Robert Trujjilo no baixo no lugar de Stymee) esse novo estilo se deve muito mais a qualidade da gravação do que pelas músicas em si. A produção é novamente de Mark Dodson, o que parece tirar o máximo dos rapazes, tanto em termos de composição, quanto em qualidade. O que acontecia era que o HC original dava origem a uma mescla de estilos que influenciava o lugar de onde vinham os rapazes. Como o som sempre foi um reflexo do que acontecia, nada mais natural. A MTV passava os vídeos e músicas como Can’t bring me Down, Send Me your Money, Alone apareciam como mais pedidas apesar de suas fortes conotações sociais, seus protestos e sua revolta a hipocrisia. Mais ou menos nessa época, o ST dá origem também ao projeto Infectious Grooves, fundada por Mike Muir e Robert Trujjilo. Depois de lançamento do Lights e do Infectious (the plague that makes your booty moves ...is the infectious grooves), o Suicidal dá um tempinho de dois anos, mas ainda deixa rolando na TV o clipe de Can’t Bring me Down, mostrando por que os garotos foram banidos de Los Angeles no fim dos anos 80.
Após esses dois anos de descanso, o batera Ralph J. Herrera deixa a banda para se dedicar mais a família. A banda aceita, já que são todos muito amigos a essa altura, e lançam The Art of Rebellion, com Josh Freese como músico adicional, não membro do ST. Se no disco anterior o ST já era acusado de se vender, nesse.... O disco é diferente sim, mas o estilo é inconfundível. As letras, o peso, a essa altura, o ST já incorporou a capacidade de mesclar estilos sem perder a pose. Músicas diferenciadas, como Nobody Hears, I Wasn’t Meant to Feel This, Aslleep at the Wheel, I’ll Hate You Better, mostram um trabalho mais ambicioso, sem dúvida. O som menos cru, confirmou o ST como uma banda de músicos versáteis, competentes e porque não, complexos. A resposta aos que achavam que a banda estava amaciando vinha nos seus shows, cada vez mais porrada e altamente técnicos, com o som beirando a perfeição.
Após o lançamento de 1992, a Virgin (que não mais é sua gravadora) lança um "greatest hits", chamado F.N.G., item difícil de se encontrar (mesmo entre os fãs mais ávidos). A compilação traz músicas dos três primeiros lançamentos do ST. São 22 músicas mais uma versão instrumental de Suicyco Mania. O álbum é acompanhado de excelentes fotos e uma matéria escrita por um jornalista da Riff Raff, Peter Grant, e é uma ótima pedida para aqueles que gostariam de conhecer a banda pela primeira vez.
Com o lançamento de Art... e as contínuas críticas e reclamações de fãs antigos, o Suicidal surpreendeu a todos de novo. Lançou Still Cyco After All This Years. 10 anos após o lançamento de seu primeiro álbum, eles resolvem regravar todas as músicas de seu primeiro disco mais duas músicas de Join the Army e uma música nova, Don’t Give Me Your Nothing com a nova formação, e produzido novamente por Mike Dodson, agora co-produzido por Mike Muir.
Como já era de se esperar após a bajulação da crítica em relação aos seus trabalhos anteriores, dessa vez ela cai matando, destacando o que chama de estagnação da banda. Já os fãs adoram. O som nota dez e a energia original do Suicidal presentes nas novas versões, solos agressivos, riffs fortes e as letras originais mostraram o que os críticos não conseguiram enxergar: que durante os dez anos passados, o ST não tinha perdido nada daquele gás original, e só evoluía a cada ano que se passava. Podia ser que para os críticos o que importava era a evolução musical de cada cd, mas para o Suicidal era importante destacar que eles continuavam os mesmos, só que melhores, e que agora os novos fãs podiam ouvir as músicas antigas do jeito que elas seriam atualmente. Porrada.
Suicidal For Life até pouco tempo atrás era um álbum triste. Marcava o fim da banda, ou melhor o último disco. Josh Freese deu lugar a Jimmy de Grasso, que já havia tocado com Y&T, Alice Cooper e White Lion . O HC/Metal nova iorquino veio mais forte e mais pesado que nos álbuns anteriores, as letras mais ácidas e nitidamente mais críticas. Fuck pra todos os lados. A parte instrumental é irretocável, não há uma música que não se destaque. Todos quebram tudo (parece que em um último esforço eles queriam deixar mesmo o melhor de cada um – pelo menos em termos técnicos). Apesar dos discos anteriores mostrarem nitidamente os músicos na capa, o SFL mostrava só Mike Muir. Dica para os fãs de que algo estava ruim lá dentro. Quem foi ao Monsters of Rock teve a chance de conferir essa turnê ao vivo.
Apesar do clima de brincadeira em cima do palco, parece que as tendências pessoais estavam tomando rumos diferentes. Após alguns boatos, o ST finalmente marcou o que consideraria seu último show, no Whisky. Conta-se que o som estava horrível e haviam confusões tanto na platéia quanto no palco (algumas gangs nunca deixaram de estar presentes a seus shows), desanimado e sem tesão. A esta altura, Trujjilo e Muir já se dedicavam bastante ao Infectious, que crescia e se tornava uma sombra do Suicidal – onde tocava um, tocava o outro, enquanto Mike também já planejava lançar alguma coisa com o Cyco Miko, um projeto mais (ou totalmente) punk rock, com Steve Jones na guitarra.
Após 3 anos de descanso, eis que surge a notícia de que o ST estava sendo reativado. Tudo começou com o lançamento de Prime Cuts, pela Epic. Na verdade, o ST não queria lançar esse disco, visto que a intenção era lançar um disco completo (e também que enfrentava problemas com a gravadora, tentando se desligar dela). Como constava ainda um disco no contrato, a Sony (EPIC) se aproveitou e lançou essa coletânea incluindo duas músicas novas, Berserke Feeding the Addiction já mostravam o que estava por vir. Mais Join the New Army e Go Skate (regravação de Possessed to Skate) e se podia ter a certeza que o ST estava de volta.
Dessa vez, Mike Muir e Mike Clark tinham a companhia de novos integrantes. Na outra guitarra, Dean Pleasants (que tocava com o Infectious). Josh Paul entrou no lugar de Rob Trujjilo no baixo e Brooks Wackerman (também do Infectious) entrou no lugar de Jimmy de Grasso. Numa entrevista a revista Hard francesa, ao ser perguntado sobre os motivos da debandada, Mike respondeu um tanto quanto secamente que o importante era que o ST estava de volta e não importava quem saira, e sim quem estava ocupando os seus lugares. O ST então começava a sua nova turnê pelo mundo todo (inclusive tocando aqui no Brasil). Aproveitaram a turnê mundial para divulgar Family and Friends, um cd com bandas de Venice e cercanias, com duas músicas do Suicidal, duas do Infectious, duas com os dois juntos e músicas de outras bandas. O som está diferente, é claro, mas o baixo continua com o mesmo peso, a batera também.
Rocky George está tocando com os caras do antigo mas não velho Cro Mags em uma banda chamada White Devil. No mínimo curioso.
Robert Trujjilo está em turnê com Ozzy, com John Holmes na guitarra e Mike Bordin (ex- Faith No More) na bateria.
Jimmy de Grasso está temporariamente com o Megadeth, substituindo Nick Menza que se recupera de uma cirurgia no joelho. Boatos dão conta de que a substituição pode ser permanente, já que devido ao tumor no joelho já não consegue executar as músicas como estão no disco.
Cyco Miko, banda bem punk rock formada por Mike Muir, lançou o 1º play chamado Lost my Brain (once again), junto com Steve Jones (Sex Pistols) tocando guitarra em 7 músicas, Adam Siegel na outra guitarra, Deve Kushner (guitarra), Dave Silva (baixo) e Greg Saenz (batera). Costumavam tocar junto com ST e IG.
Adam Siegel está tocando em uma banda chamada My Head junto com Dave Silva e Greg Saenz.
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