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Quando o Blackmetal toca o instrumental inteiramente afastado do rock

Por Rodrigo Contrera
Postado em 03 de agosto de 2016

Há dois anos, aproximadamente, na saída de uma peça (na qual eu atuava), uma garota travou contato comigo e então nos envolvemos. É uma garota de 39 anos, branca, cabelo preto, que tem profissão e emprego definidos e cujo irmão eu conheço. Essa garota tinha (ainda tem) um gosto musical bastante afastado do rock tradicional e do heavy metal (paixões minhas de adolescência), mas me apresentou grupos que, se por um lado não se aproximam destas nossas paixões, têm pontos em contato diversos, e têm servido para eu começar a apreciar outros gêneros.

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O black metal, por exemplo. Sempre achei soturno demais esse estilo. Praticamente nada dele me agrada. Esse papo de satanismo, banhos de sangue, exageros, nunca me convenceu o suficiente, a ponto de achar que eles - os grupos, os músicos, os ídolos - falavam realmente a sério. E ainda penso assim.

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Ocorre que, buscando notas aqui para o Whiplash (este artigo foi originalmente escrito para esse site), deparei-me com uma banda de uma mulher só - Myrkur - que, olhando bem, acompanhando em vídeos (vi o Onde Born), me espraiando mais nas sensações auferidas e menos nos preconceitos aguerridos, tem bastante a ver com minha visão de mundo. Pois eu devo ter sido soturno antes mesmo de isso ter virado marca de juventude. Pois eu devo ter sido desencanado com emoções, ao mesmo tempo que ultraromântico, muito antes de isso ter se tornado marca de pessoas facilmente idenficáveis. Eu devo ter sempre - a partir de certo momento - optado por seguir pelas sombras.

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Ocorre que aquela garota com quem me envolvi há quase dois anos (e com a qual troco mensagens apenas por email e por meio de seu blog) já de alguma forma prenunciava esse gênero de leitura da realidade. Com bandas que a gente não vê citadas aqui, por um lado, e que por outro lado viraram trilha de sitcoms. Refiro-me a Massive Attack.

Recordo bastante bem quando ela, a garota, me mostrou Teardrop, do Massive, na grande tela que domina sua kitchenette, no centro de São Paulo. Eu via aquele vídeo de um bebê sendo gestado, ouvia aquela melodia simplória, aquela batida característica, e aquela voz suave, sem saber muito bem o que pensar. Aquilo parecia me mostrar algo mais interno, diria, na forma de ver o mundo. E quando o garoto parecia cantar! As cores, o soturno daquelas coisinhas voando nisso que deveria representar um útero, me conquistaram já de cara. Porque me faziam ver o mundo de forma mais íntima, mais entranhada, e mais crua, até certo ponto.

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Nessa época, eu idolatrava Motörhead, começava a entender a pegada do rock tradicional, a sacar a novidade (à época) de um Elvis, e inclusive a me reaproximar desses experimentais, tipo Lou Reed, Velvet e David Bowie, que eu parecia ter detestado quando minha irmã os ouvia a todo volume em seu quarto e me impedia de estudar. Ocorre que, quando a garota me mostrava Massive, também me apresentava esse gênero de rock industrial, o EBM, que parecia não mais dizer nada para mim.

Fui a um show desses caras do EBM (Vomito Negro) com ela, numa noite que foi (se vocês me entendem) bastante intensa, para mim e para ela. Noite que durou um dia inteiro, com corpo e suor, e sangue. Mas (voltando à música) não entendi a jogada daquela banda (de um homem só). Via o sujeito mexendo em equipamentos musicais, e assumindo um ar agressivo, sem que eu conseguisse ver graça naquilo. E ela não parecia me acrescentar muito, venhamos e convenhamos.

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Claro que meu relacionamento com ela ajudava, por um lado, mas por outro atrapalhava. Eu me envolvia com ela, ao mesmo tempo em que não nos compreendíamos. Tínhamos relacionamento, ao mesmo tempo em que não tínhamos. Eu me colocava o tempo todo disponível a esse tipo de influência, mas ela recusava as minhas. E eu não entendia aquelas bandas. Eu não entendia sequer aquela época - década de 90, que eu passei em branco, em meio a crises familiares, e cavoucando oportunidades fazendo traduções que me desagradavam. Era como se aquela década, e aquelas músicas, tivessem ficado tão para trás enquanto influência que não me diziam nada. Mas o que hoje reparo é que eu tinha algo ou talvez muito a ver com tudo aquilo. Muito mesmo.

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Venhamos e convenhamos, eu sempre fui um cara soturno. Mirrado, pequeno mesmo, no colegial, uma vez um sujeito me desenhou como um mafioso que tinha um amigo (o Chicão, um sujeito com problemas cognitivos diversos) como "capanga" e protetor. Eu sempre fui pessimista com respeito às pessoas, em geral, mas otimista com respeito a como abordá-las. Com isso, é claro, eu me protegia de decepções, ao mesmo tempo em que - embora não fizesse gênero - tentava me comportar da melhor forma com pessoas que iriam me decepcionar. Nunca, que eu saiba, efetivamente acreditei em amor. Até porque eu não o sentia. Dizia que amava alguém quando, ou a pessoa me atraía, pura e simplesmente, ou eu considerava que só "amando" eu poderia tê-la (o que se provou errado, inclusive no meu casamento, que gorou em 10 anos).

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Não é por acaso, então, que um certo tipo de pessimismo em música, ou talvez de melancolia, tanto tem a ver comigo. Pois é como se eu não acreditasse, mas me pegasse meio que acreditando em melodias e harmonias bem feitas, ora por grupos clássicos de rock, ora por gente de outros gêneros (até do sertanejo). Ocorre que reluto em acreditar. Ocorre que me acho patético quando canto esse tipo de coisa. Ocorre que não consigo cantar jeitos meio safadões de ver a vida. Daí que descanso então em visões mais macabras, mais desencantadas, menos críveis. Daí que tendo a não apostar nos relacionamentos, ou mesmo nos contatos. E tendo a assumir um ponto de vista para baixo. Daí que me relaciono - agora - com bandas desse tipo, retiradas da influência do metal ou mesmo do rock. Ficar a meio caminho me parece algo insuficiente, ou talvez queira dar uma de radical.

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Quando me envolvia com aquela garota, questionava suas posturas, seu tratamento, sua forma de me tratar e de tratar o relacionamento. Ou mesmo talvez eu pensasse de forma mais desencanada, apenas querendo sexo. Seja como for, nos desentendemos. Ela pegava pesado demais, quem sabe. Ou meu problema de saúde - sou esquizofrênico - talvez tenha sido o maior responsável por jogar tudo para o alto. Não sei bem. Sei que, em diversos momentos, considerei meu afastamento daquele universo uma espécie de alívio.

Mas eis que a garota agora me passa uma nova influência (que eu adivinho como chegou até ela): Tindersticks (Trouble Every Day). Boa audição. Tudo a ver.

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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