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Rio de Janeiro: cidadania esmagada no show de Ringo Starr

Por João Paulo Petersen
Postado em 25 de novembro de 2011

Pesquisador musical, especializado em Beatles, com muitas realizações no Brasil e trabalhos publicados em vários países, tenho 37 anos, sou portador de tetraplegia, nunca caminhei, sou cadeirante. Dedico-me ao estudo do universo dos Beatles e à produção de textos históricos e críticos sobre temas deste universo estético e sócio-antropológico desde 1989. Em maio último, realizei um sonho de criança: assisti no Estádio do Engenhão, no Rio, onde vivo, o show de Paul McCartney, da turnê Up And Coming. Foi um belo espetáculo, que marcou a minha memória e o meu coração.

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Em julho último, um novo sol no horizonte: Ringo Starr e sua All Starr Band viriam ao Brasil em novembro para apresentações em sete capitais brasileiras, inclusive o Rio, na sua primeira passagem pela América do Sul. Imediatamente, adquiri ingressos no Portal Tickets for Fun, para mim e um amigo que me acompanharia. Durante a compra de ingressos pela Internet, recebi da empresa e da administração do City Bank Hall, local do show, no Shopping Via Park, a garantia de que a casa dispunha de acesso, área para cadeirantes e outros espaços e equipamentos apropriados aos deficientes físicos. Esperei, ansiosamente, por mais de três meses a chegada do dia especial em que o meu ídolo, o baterista do maior grupo de rock de todos os tempos se apresentaria na minha cidade.

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Desgraçadamente, no último dia 15 de novembro, eu e o meu amigo que fomos ao show do Ringo Starr vivemos uma verdadeira noite de horror, uma sessão de torturas, no City Bank Hall. Contrariando tudo o que divulgou, informou e comigo contratou, a Time for Fun, empresa da qual faz parte a Tickets for Fun, e que produziu o evento e "administra" o City Bank Hall – eu e meu amigo tivemos de vencer, com grandes dificuldades, obstáculos de uma casa sem acessibilidade, sem equipamentos nem espaços para o cadeirante se locomover e assistir o espetáculo.

Depois de ser proibido pela segurança do Shopping Via Park de nos abrigarmos, sob uma marquise, da ventania e temporal que surpreenderam o Rio naquele fim de tarde, e ficar totalmente encharcado; depois de, perigosamente e sob constrangimento, ser carregado em escadarias, num vai-e-vem sem fim; de ser desconsiderado e desrespeitado por funcionários; de ser, enfim, criminosamente humilhado de todas as formas – deixaram-me num lugar improvisado, cercado por uma grade, onde, sem alternativas, fui obrigado a assistir ao show parcialmente, com visão de apenas um terço do palco. Para arrematar a tragédia, por uma incrível, terrorista e sádica "ordem da administração" da casa, o amigo que me acompanhava para empurrar a cadeira e me dar segurança, e que pagou uma entrada inteira, não poderia ficar ao meu lado, como era a sua função, mas distante de mim.

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Este é mais um intolerável e criminoso episódio de tantos que vitimam a mim e a todos os portadores de necessidades especiais na Cidade do Rio de Janeiro, onde os nossos direitos de cidadão são, rotineira e impunemente, ignorados ou esmagados, com a conivência das autoridades. À direção da Time for Fun em São Paulo, comuniquei detalhadamente as barbaridades, o que serviu apenas para a promessa de um estudo futuro sobre a possibilidade de devolução do valor dos ingressos e um registro seco, inócuo e inconsequente de desculpas. Por outro lado, o único telefone da "administração" do Shopping Via Park, empregador do guarda que alegou não ter ordem para permitir que um cadeirante ficasse sob uma marquise numa tempestade, não funciona.

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Apesar de toda a violência que sofri, o show do Ringo no Rio de Janeiro foi excelente, como esperava. É certo que fiquei abalado, me senti esbofeteado e ainda estou muito triste, decepcionado com a violência e a fraude, com o tratamento criminoso que recebi da Time for Fun e da Administração do Via Park. Nunca passei por uma situação tão vexatória, ignominiosa, tão ofensiva e humilhante em toda a minha vida.

A Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro expede normalmente alvarás de funcionamento para casas de espetáculos, restaurantes, lojas, cinemas e outros estabelecimentos, onde são proibidos o acesso, movimentação e fruição de cadeirantes, onde eles são impedidos de ingressar e se movimentar, onde eles não são bem vindos, pois não são considerados cidadãos. Esses estabelecimentos tem as suas atividades "legalizadas", estão "autorizados a funcionar" e a "legalmente" discriminar e punir os deficientes físicos em suas cadeiras de rodas. Na verdade, "deficientes humanos" são os proprietários dessas empresas e as autoridades que legalizam esses estabelecimentos, autorizam o seu funcionamento defeituoso, canhestro e ilegal.

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Tais fatos, criminosos, como este que me agrediram e negam a liberdade de ir e vir e os mais singelos e básicos direitos de cidadania aos cadeirantes, como o ocorrido no City Bank Hall, de responsabilidade da Time for Fun, os tenho denunciado sempre aos órgãos municipais e estaduais responsáveis pelo cumprimento das leis de garantia dos direitos dos deficientes e sua fiscalização, bem como a entidades privadas que se interessam e cuidam do assunto, sem nenhum efeito, sem qualquer consequência.

Tudo isto é deplorável, inimaginável, quando, já no Século XXI, a Organização das Nações Unidas celebra trinta e seis anos da Declaração dos Direitos das Pessoas Deficientes, da qual o Brasil é signatário. E anunciamos que nosso País possui uma Constituição denominada "Cidadã" e tantas leis que proclamam e "garantem" os direitos de milhares de deficientes físicos, cadeirantes, cujos preceitos e ordens são cotidianamente ignorados e não cumpridos, numa vergonhosa demonstração de cidadania esmagada.

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João Paulo Petersen
Pesquisador e crítico musical
http://esquinadosbeatles.blogspot.com/

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