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Dead Kennedys: Jello Biafra e a Questão Palestina

Por Guilherme Henrique Guilherme
Fonte: Alternative Tentacles Records
Postado em 04 de setembro de 2014

Em 2011, no meio do ano, o JELLO BIAFRA (ex-vocalista e o grande compositor dos DEAD KENNEDYS) anunciou que a turnê européia da sua banda (A JELLO BIAFRA AND THE GUANTANAMO SCHOOL OF MEDICINE) esticaria um pouco e iria passar por Tel Aviv, Israel.

O que parecia um despretensioso anúncio de mais um show de um artista acostumado a tocar em vários lugares do mundo a vida toda, acabou dando origem a um intenso e interessante debate.

Existe uma campanha, convocada pela sociedade palestina (mais de 170 organizações, movimentos, partidos políticos e sindicatos), chamada BDS - Boycott, Divestiment and Sanctions. (http://www.bdsmovement.net/). Esse movimento foi inspirado de certa forma em um boicote chamado pela sociedade sul-africana contra o governo do apartheid naquele país. Chegou-se a um ponto em que, devido a pressão popular pelo boicote, o time de Rugby da África do Sul (um de seus principais símbolos) já não conseguía fazer amistosos internacionais com quem quisesse e o país foi impedido de participar de Olimpíadas, de 1964 até as Olimpíadas de 1992. Além disso, claro, o boicote começou a dar prejuízo às empresas Sul-Africanas e à empresas de outros lugares que mantivessem contratos/relações com as empresas de lá e que de certa forma apoiavam o apartheid.

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Assim, o BDS palestino parte do princípio de que o Estado de Israel, após sua criação artificial em 1948, passou a desrespeitar os direitos fundamentais dos palestinos que viviam e vivem nos territórios ocupados. Desrespeita esses direitos através de políticas racistas, através de ocupação militar, através de bombardeios, de políticas de pressão e coerção psicológica, através de prisões ilegais, desrespeitando resoluções da Assembléia Geral da ONU, desrespeitando o direito internacional e assim por diante. (Listar tudo o que vem acontecendo de 1948 até aqui deixaria esse texto bem maior do que a proposta original, então fica a recomendação do ''Ocupação 101'', documentário que mostra o básico: http://www.youtube.com/watch?v=H8CUdOZayu4). Portanto, uma das formas de ser combatido esse desrespeito e este verdadeiro apartheid promovido contra o povo palestino é o boicote, como fizeram os negros da África do Sul.

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Pois bem. Logo no anúncio dessa ''esticada'' da turnê da banda em Tel Aviv, já se notava a controvérsia levantada no espaço para comentários no site, aquele espaço em que geralmente só se vê discussões de fãs esperançosos perguntando ''quando vocês vêm tocar na cidade tal?''. O próprio JELLO disse, em nota no site do seu selo/gravadora/loja, a Alternative Tentacles: ''I can't deny I'm glad this has stirred up so much debate. People unaware of the Palestinian side(s) of the story can now use all these links to learn a lot more.'' (BIAFRA, 2011) (Não pode negar que está contente pela notícia ter gerado tanto debate, e que pessoas que não sabiam do lado palestino da história agora tinha muita informação para aprender mais)

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Sinceramente, um parecer desse já é algo a ser admirado de cara. A conhecer o temperamento de muita banda por aí, o normal seria ''tocamos onde quisermos, foda-se''.

O resultado de todo esse debate foi que, após alguns dias, o JELLO resolveu cancelar seu show em Israel. Em um primeiro momento, bastante a contragosto. Nos seus textos, se mostrava até irritado com os ativistas do BDS e com todo mundo que mesmo sem pertencer formalmente ao movimento, apoia a luta do povo palestino e fez parte da pressão pelo boicote. Após cancelar o show, ele resolveu viajar aos dois lugares, e, aí sim, emitir um parecer sobre o que acha da situação, e se acha o boicote justo ou não.

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Esse parecer é antológico. Bem documentado, fundamentado e detalhado. Não deveria apenas ser um arquivo a ser preservado na história do punk rock, como deveria também servir de referência para se analisar a questão Palestina/Israel.

JELLO esteve em Tel-Aviv (que considera-se a capital de Israel - e que originalmente se chamava Jaffa, antes de ser território tomado dos palestinos), Ramallah (que considera-se a capital da Cisjordânia), Hebron (Palestina) e em Jerusalém (que pelo plano de partilha da ONU seria gerida pela comunidade internacional e a parte oriental seria capital da palestina, mas hoje é ocupada inteiramente por Israel). Descreve tudo o que viu e que o fez acreditar que se trata, realmente, de um apartheid consolidado e se aprofundando. Faz-se importante citar algumas das características que o fizeram chegar a essa conclusão, para se ter uma noção melhor do que estamos falando. O faço já traduzindo, para evitar prolongamento desnecessário do texto:

''Se um palestino e um israelense forem ambos presos por ''agrupamento ilegal'' na mesma manifestação, o israelense é levado a um tribunal civil comum onde é ouvido em 24h e não pode pegar mais de 1 ano de prisão. O palestino é levado para uma prisão militar onde pode ficar por 8 dias e é condenado por leis militares, podendo ficar preso por mais de 10 anos. Alguns são retidos por anos sem julgamento, começando aos 12 anos de idade. A taxa de condenação dos tribunais militares é de 99%. Ainda, os assentados israelenses, enquanto que muito violentos, são julgados por tribunal civil.'' (BIAFRA, 2011)

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E, para que essa citação não pareça de algo raro ou excepcional, servimo-nos de outra situação constatada pelo Jello:

''(...) o exército de ocupação está praticando apartheid nos territórios ocupados e o mantém até o menor e mais obsessivo detalhe. Como na África do Sul, há um sistema de ''passe'' (ou permissão para que os palestinos vão de um lugar a outro) chamado Tasrich, e também há uma lei censitária que requer a etnia da pessoa em seu documento de identificação. Israelenses judeus tem o documento azul, o documento dos palestinos é laranja e informa se são cristãos ou muçulmanos, enquanto que os documentos dos trabalhadores imigrantes não-judeus é verde.'' (BIAFRA, 2011)

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Ainda é marcante o trecho em que ele descobre que, num show do NAPALM DEATH em Tel-Aviv, durante um cover de ''Nazi Punks Fuck Off!'' (música do Jello), a platéia gritava ''Morte aos Árabes'' em coro.

Por essas e ainda mais, como ter visto o ''muro da vergonha'', as estradas e ruas nas quais os palestinos são proibidos de andar e as histórias de assentados ilegais israelenses jogando pedras em crianças palestinas indo à escola, um artista que inicialmente estava irritado por não tocar em uma parte do mundo que não havia ido ainda, acaba por decidir apoiar a campanha do boicote.

O JELLO pode ter perdido um cachê e uma experiência de show em um lugar inédito. Mas debateu, conferiu como é a realidade concreta, se posicionou politicamente e foi coerente com tudo o que ele já cantou na vida.

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Talvez sejam situações assim que diferenciem realmente um estilo de música que se pretende ser diferente pelo peso, pelo estilo, pelo visual e tudo o mais, e que, ainda, justifiquem o orgulho sentido por ouvir algo na contramão da indústria, da rádio e do programa de auditório. Se não fossem tomadas de posição como a do Biafra, o que nos diferenciaria dos cantores de rima pronta das propagandas da SomLivre seriam as distorções na guitarra. E só.

Recentemente, o BAD RELIGION veio ao Brasil e eles tocaram uma música que eu nunca havia visto ao vivo até então, chamada Punk Rock Song. O refrão diz que ''This is just a Punk Rock Song/ written for the people who can see something's wrong''. Acho que podemos ampliar o leque do que é dito aí. Punk Rock escrito PARA quem vê que há algo errado. POR quem vê que há algo errado, e, ainda, por quem AGE e se manifesta pra mudar o que está errado. Dessa parte sim, podemos nos orgulhar. O resto é fachada.

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(Todos os trechos citados e o textos estão disponíveis no portal www.alternativetentacles.com, na sessão ''News'', são as notícias do dia 14 e do dia 30 de Junho de 2011). O terceiro texto, e único com link próprio, pode ser acessado em http://www.alternativetentacles.com/page.php?page=jello_israel

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