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Maldita: buscando o paraíso perdido

Por Paula Fabri
Postado em 14 de dezembro de 2007

Chocante seria a palavra certa para traduzir bem a primeira impressão que se pode ter após conhecer o Maldita. Isso porque, tanto na parte musical (som e letras) quanto na parte visual, o grupo tem uma postura bastante extrema e sombria. Formado na cidade do Rio de Janeiro, em 2001, Coágula (vocal), Lereu (guitarra), Vidaut (batera), Magrão (baixo) e Canibal (teclados) estão lançando seu segundo trabalho, "Paraíso Perdido".

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O sucessor de "Mortos Ao Amanhecer" (2005) traz em si um conteúdo mais maduro, com letras que deixam de falar sobre o mundo interior da pessoa e abrangem a realidade atual da humanidade, além de apresentar um som mais homogêneo.

Já são seis anos de estrada e, neste ano, o conjunto acrescentou à sua história mais um momento memorável, quando em setembro passado abriram os shows que Marilyn Manson fez aqui no Brasil. Pode-se dizer que há realmente uma identificação do grupo com o trabalho de Manson, mesmo essa não sendo direta. Como a sonoridade de Manson, o som feito pela Maldita está longe de ser algo comum. Se trata de rock, mas que é em sua essência inspirado por grupos como Nine Inch Nails, Pantera, Metallica, Skinny Puppy, Depeche Mode, Rammstein, além de coisas inesperadas como cantores nacionais de MPB, Beatles, funk e música eletrônica. A temática das letras fala de assuntos como violência, morte e angustia.

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Já a parte estética é uma junção de influências vindas do cinema (caso de Stanley Kubrick), filosofia (Nietzsche e Schopenhouer), literatura (movimento Beat de escritores como Willian S. Burroughs e Jack Kerouac) e também Sigmund Freud "com sua magnífica interpretação dos sonhos", explica o vocalista do grupo.

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A seguir leia a entrevista feita com Coágula, onde o músico falou sobre o Maldita, sua história, o lançamento de seu segundo trabalho, o conteúdo de suas letras e muito mais.


Comando Rock: O novo trabalho acaba de ser lançado e foi nomeado de "Paraíso Perdido". Como foi que escolheram esse título?

Coágula: O nome "Paraíso Perdido" nos remete à questão de um paradoxo. Um paraíso inexistente, uma utopia. Uma das referências para o título é o mito do Prometeu, que ao dar a chama da sabedoria para os homens, ou seja, ao indicar o caminho do paraíso, foi punido por Zeus. Ele foi submetido a tortura eterna, onde foi amarrado no topo de uma montanha e todos os dias tinha seu estômago devorado a bicadas por uma águia. De noite seu corpo se regenerava e, no dia seguinte, era devorado novamente, sofrendo para sempre por desafiar Zeus.

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Comando Rock: Depois de dois anos que o debut da banda saiu, agora estão lançando o segundo disco. Do que as novas composições do grupo tratam?

Coágula: As novas músicas falam de coisas diversas. Como, por exemplo, "Anjo", que é uma analogia entre um anjo e um ser humano que não se adaptou aos costumes da sociedade. As outras faixas falam sobre questões patológicas da carne como atos impulsivos, compulsivos e inconscientes como, por exemplo, assumir que tais pensamentos são inerentes, porém não conseguimos explicá-los, entendê-los ou traduzi-los. Também sobre experiência alucinógena e o clamor de alguém que foi traído pelo pai ou pela mãe e que reúne um exército de depravados para vingarem sua visão profética acerca do quão podre são aqueles que estão no poder.

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Comando Rock: Uma das faixas do disco que mais chamou a atenção foi "Embaixadores da Carne do Amanhã". Ela conta com um coro de crianças. Algo bastante inesperado para quem conhece o som de vocês. Como surgiu esta idéia?

Coágula: Isso foi idéia do nosso produtor. A princípio pensamos em uma voz feminina, mas devido a importância dessas estrofes e da inocência com que elas tratam um dos temas principais do CD, ficaria mais coerente um coro de pessoas inocentes.

Comando Rock: A letra de "Embaixadores da Carne do Amanhã", entre outras canções, parece ir além do que o Maldita mostrou no primeiro álbum. Imagino que nos seis anos de história tenha acontecido uma evolução natural. Onde vocês enxergam esse crescimento?

Coágula: A dinâmica com que a banda compõe atualmente é, na verdade, o nosso maior amadurecimento. As músicas estão mais pesadas, com arranjos mais elaborados e as letras deixaram de ser apenas sombrias e tomaram uma proporção mais globalizada. Deixei de escrever somente sobre suicídio, anomalias e perversões, temas principais de "Mortos Ao Amanhecer", especialmente por serem músicas muito primárias que escrevi ainda na adolescência para tratar de temas menos fantasiosos e mais realistas. O primeiro álbum fala mais sobre matar o garoto interno para se tornar um homem no exterior, querer crescer para se tornar independente. Já o segundo fala mais sobre essas questões de céu, inferno e o homem pragmático do século XXI. Levanta questões do tipo "seriam os anjos caídos loucos ou heróis?". "Se eu estivesse com um anjo caído agora ao meu lado, eu o adoraria como um santo ou o mataria como fizeram com Jesus?". "Mato o que odeio ou amo o que eu mato?". Questões paradoxais de um mesmo tema porque acredito que, se existem anjos, os poucos que estiveram aqui foram executados pelo homem que não os compreenderam.

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Comando Rock: Como é que suas canções são compostas?

Coágula: No primeiro disco fui eu quem compus as músicas, pois eram canções que já carregava comigo de longa data, desde a adolescência, e que faziam parte de meus repertórios de bares e ruas. No nosso segundo CD foi mais dinâmico, onde a banda compunha em conjunto. Da mesma forma, a maioria das canções foi composta por Vidaut, nosso grande maestro, outras por Lereu e algumas pelo próprio Pussyman antes de sair da banda. Ficou mais ou menos assim: o Vidaut, Lereu e Magrão fazem a parte instrumental, o esqueleto da música, daí coloco a letra com a melodia e a dicção do tema e o Léo faz o que chamamos de arte final, ao colocar os teclados, dando uma cara completamente nova para a música. Levando em conta que cada um gosta de um tipo de estilo, essa miscelânea de gêneros e instrumentos tem como resultado um som bem esquisito e pesado.

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Comando Rock: Por suas composições serem sempre dramáticas, bastante explícitas e violentas, já causaram algum problema relacionado a censura?

Coágula: Sim. Já fomos censurados em alguns programas de tevê e nossas músicas não podem ser tocadas na rádio devido ao conteúdo das letras. Durante a abertura do show do Marilyn Manson, fui processado e intimado a depor na delegacia devido ao manuseio de uma réplica de um fuzil M16. Aconselharam-me não levar o fuzil durante um tempo nos shows. Considero isso censura.

Comando Rock: Dentre os assuntos tratados em suas canções estão temas como assassinatos, suicídios e coisas violentas. O que acham da situação, não só de nosso País como do mundo todo, onde pessoas são arrastadas na rua até a morte, assassinadas por brigas e/ou balas perdidas?

Coágula: Acho tudo uma m... Em nossas letras falamos de uma violência interiorizada. Trata-se de odiar o reflexo do outro lado do espelho e não ao próximo. São todos os transtornos de quem esta se aceitando ao ter de crescer em um mundo que odeia e que sabe que é odiado. Na minha opinião o estúpido odeia os outros gerando a violência e o maldito odeia a si próprio. Somos estritamente contra a violência. Quando falamos de apontar uma arma na cara da namorada e apertar o gatilho, trata-se de um eufemismo. O problema dessa questão da violência no mundo é que ela sempre existiu e é algo eminente da sociedade. A questão é que antigamente as pessoas matavam por ideais propícios a suas devidas culturas. Nos séculos XI e XII as Cruzadas, por exemplo, foram motivo de uma carnificina que deixaria qualquer presidente Bush da vida orgulhoso. Muito sangue foi derramado em nome de Jesus naquela época. Os espartanos, os maias, os celtas, os europeus, enfim o mundo todo, cada um a sua maneira cultural, sempre tiveram o ímpeto de promover e conviver com a violência. A questão é que hoje em dia a causa não é mais mística, religiosa ou cultural (com exceção dos fanáticos do oriente), e sim o dinheiro. Onde houver dinheiro envolvido, vai haver violência. Sempre. Nós, que vivemos em um País em desenvolvimento, onde política, crime e assassinato andam de mãos dadas, vamos ter de conviver com a violência até na porta de casa.

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Comando Rock: Você acha que a música serve como uma válvula de escape para isso tudo que vivemos hoje?

Coágula: Definitivamente. A música é a melhor maneira de sublimar sentimentos e ações impróprias na vida real, além de ser a droga natural do cérebro e uma forma de protesto. Se não estamos satisfeitos com nossas vidas, podemos nos jogar de um prédio ou escutar Maldita tomando uma cerveja. Dá no mesmo.

Comando Rock: A postura da Maldita parece ser mais do que música para entreter. Vocês têm como objetivo passar algum tipo de mensagem?

Coágula: No final das contas queremos passar uma mensagem positiva. Mesmo que da pior maneira. Queremos provar que se pode extrair a beleza do feio e que os paradoxos são todos reais, escuro e claro, amargo e doce, bom e mal são dualidades da mesma matéria. Falamos muito de morte, mas ela não deve ser interpretada como tal e sim com uma conotação mais filosófica, transcendental, de transformação. Como um rito de passagem de tribos indígenas da América do Sul em que o garoto deve se sacrificar materialmente para atingir a plenitude espiritual. A mensagem da Maldita é muito clara: "faça justiça com as próprias mãos, levando em conta que os seus erros estão mortos e o que está morto lhe pertence. E o que lhe pertence, sempre volta para você".

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Comando Rock: Lendo um pouco sobre a história da banda, vi que o primeiro show que fizeram acabou lhe rendendo cinco fraturas. O que aconteceu nesse show para resultar nisso?

Coágula: Foi um show na favela da Rocinha em que dei um mosh. Me joguei na multidão e digamos que não tinha ninguém lá para me segurar. A julgar pela galera, que já não devia ter ido muito com a minha cara, algumas pessoas pisaram em mim.

Comando Rock: Todas as apresentações do Maldita são tão físicas a ponto de causar traumas?

Coágula: Nem todas. No início sempre voltava para casa todo cortado, com hematomas no corpo ou com os músculos contraídos, mas à medida que o som da banda foi se aperfeiçoando isso foi deixando de acontecer. Porque, cada vez menos, fomos nos importando com essa tendência autodestrutiva e mais com o som. Fica difícil cantar com o pescoço todo cortado ou com o as pernas machucadas. Se tal coisa interferir na qualidade do som, deve ser repensada. A questão das mutilações indizíveis ao espírito é muito simples: tem a pessoal e a interpessoal. A primeira é a que a dor é um estímulo e, quando estamos no palco, devemos fazer de tudo para sermos estimulados. A segunda é a de que no Brasil todo mundo se queixa de pagar R$10 para assistir a um show. Eu achava que ao por minha vida em risco, como, por exemplo, tomando descargas elétricas na barriga tendo o corpo encharcado de água, estaria fazendo jus à entrada que os fãs pagaram. Não é sempre que se vê alguém morrendo eletrocutado ou de hemorragia, ainda mais por esse preço. Acho que minha vida deve valer uns R$50 mais ou menos (risos). Além disso, nosso público tem características meio sádicas e sei que gostam quando isso acontece. Enfim, depois a música ficou tão boa que deixei essa maluquice de lado.

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Comando Rock: Vendo shows e clipes do Maldita, imagino que o lado visual seja bastante importante para vocês. Qual o peso disso para o grupo?

Coágula: Na verdade, não. Todos usamos o mesmo visual em um show que usaríamos para sair com a família ou para jantar com a mãe da namorada, entende? É uma coisa bem natural, mesmo. Alguns, tipo eu e Lereu, usamos roupas mais sombrias, às vezes pintamos o olho, as unhas etc. Porém, não combinamos nada nem fazemos questão de estipular um estilo. A banda é formada por "metaleiros" e vestimos as roupas casuais do metal: calças jeans, camisetas de bandas, gorros, cabelos excêntricos, enfim tudo preto.

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Comando Rock: De onde vocês tiram as idéias para criar o show à parte da música, isto é, a parte performática?

Coágula: Boa parte das idéias que temos vem dos livros que lemos e dos filmes que assistimos. Por exemplo, se eu pegar um pedaço de carne e dançar uma valsa, depois fatiá-la e atirar as pequenas partes no público, estou fazendo uma alusão a um grupo canibal de um filme colombiano que particularmente adoro chamado "Canibal Holocaust". Outras alusões podem ser percebidas como a máscara do Michael Meyers da série de filmes "Halloween", banhos de sangue de "Carrie, A Estranha" e até mesmo um fuzil M16 do "Tropa De Elite". A informação atualizada também é uma ótima fonte de inspiração, às vezes simplesmente pegamos o jornal no dia do show, lemos algumas notícias e criamos uma nova situação.

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