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Temblor: Questões sociais ao invés de fantasia, violência e banalidade

Por Ben Ami Scopinho
Postado em 13 de junho de 2006

É com satisfação que encontramos bandas mais preocupadas com questões sociais num cenário musical onde a fantasia, violência gratuita ou banalidades sempre estiveram em alta. OK, são frutos da liberdade de expressão e há público para todos os gostos. Mas o rock´n´roll é um veículo perfeito para a denúncia, e o número de conjuntos que fazem isso de maneira inteligente é realmente pequeno.

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O debut "Thousand Hearts", saindo pelo selo Trinity DC, tem na política sua força motriz e é provavelmente a razão da existência do Temblor (terremoto, em português). Capitaneado pelo vocalista equatoriano Amauri Chamorro, além de Sérgio Gorini (guitarra), Marcelo Cortez (guitarra), Ricardo Strani (baixo) e Marcell Cardoso (bateria), a banda traz duas características marcantes: uma mescla muito bem sucedida entre as belas harmonias e ritmos latino-americanos com guitarras distorcidas. Mas o principal são suas letras, que são verdadeiros discursos sociais.

O registro chama a atenção pelo seu direcionamento e o Whiplash! decidiu conhecer melhor o Temblor conversando com Amauri, um cara consciente de sua realidade e muita história interessante para contar. E, naturalmente, uma matéria com uma banda como esta não poderia ser focada somente na música, mas também em nossa sociedade.

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Whiplash!: Amauri, o Temblor liberou um CD que está há pouco tempo no mercado. Por favor, apresente sua proposta artística aos leitores do Whiplash!:

Bom, somos uma banda de música latina, que utiliza o peso do metal como recurso de linguagem. Para nós, o discurso, as letras e os temas nelas inseridos são mais importantes do que a música. Ou seja, o "Thousand Hearts" é um mergulho musical para quem quer fazer parte de alguma forma, na política e nas questões sociais do mundo onde ele está inserido.

Whiplash!: "Thousand Hearts" traz músicos já conhecidos, como Marcell Cardoso (Karma) e Marcelo Cortez (ex-Rodox), sem mencionar a participação do percussionista panamenho Edwin Pitre, que recebeu duas indicações para o Grammy Latino. Como foi a seleção dos músicos? Eles estiveram envolvidos diretamente na elaboração das canções?

Na verdade todos nos selecionaram!!! (hahaahaha) O Marcell e o Cortez não foram escolhidos. Eles entraram na banda porque tiveram contato com o som, se identificaram com as letras e havia uma vaga para cada (risos). O Edwin foi a dedo. Ele é um baita profissional, doutor em música latina. Fui até a casa dele para mostrar o nosso som e convencê-lo. Foi complicado. Ele estranhou. Mas logo na segunda música ele veio com a cerveja da cozinha falando "Cuando comenzamos?". Fiquei feliz, sem ele o disco não seria nada.

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Whiplash!: No CD as faixas são cantadas em espanhol e inglês. Por que nada em português, considerando que você mora no Brasil há 16 anos?

Porque é difícil cantar música latina em português. Como cantar bossa nova em espanhol. Acredito que o próximo disco tenha algo em português. Dependerá de uma série de fatores, entre eles o comercial.

Whiplash!: Gostei muito do resultado do disco, em especial pela variedade das faixas. Como está sendo a reação do público em canções pesadas como "Lost Empires" e "Temblor", que se contrastam muito com a amenidade de "Reflejo Del Espejo", por exemplo?

Olha, esse é um dos fatores que estão fazendo do "Thousand Hearts" um disco especial para as pessoas. Elas entenderam que não é um disco de metal ou de música latina. É quase um disco de World Music. Entramos em bastantes rádios por isso. Algumas tocaram coisas mais lentas, outras mais porradas. Mas as músicas não foram concebidas para isso. Como disse, as letras lideravam o processo criativo.

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Whiplash!: E que tipo de público vocês tem levado até suas apresentações?

Bom, ainda não sabemos. O nosso show de estréia será dia 12/05 com o Pavilhão 9 e Decore no Hangar 110 em São Paulo. Já temos outras datas, o Karma e Temblor estarão fazendo um tour juntos. Não saberia te dizer se as pessoas que irão comparecer terão sido atingidas pelas nossas letras. Acho que pelo som sim, mas as letras vão demorar ainda para surtir efeito.

Whiplash!: Então boa sorte em sua estréia nos palcos! E Mas e como é o cenário da música pesada do Equador? Creio que não conheço muitas bandas de lá...

Nossa, têm bandas fantásticas: Selva, Muscaria, Viuda Negra, Avathar. O país cresceu muito musicalmente. As pessoas perderam o medo de se dizerem roqueiras ou metaleiras. O país passa por uma mudança social muito grande. Por isso, a música pesada ganhou espaço. Os tabus começaram a ser derrubados.

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Whiplash!: Suas letras também abordam fatos históricos. Em sua opinião, qual foi a manifestação social ocorrida no mundo que seja um exemplo de organização e resultados? E a mais desgraçada, historicamente falando?

Bom, vamos lá. Existem diversos tipos de manifestações, e cada uma delas têm uma profundidade maior ou menor na alteração da sociedade onde ocorre. Mas ao longo dos anos elas se desvirtuam. Existem manifestações que tentam resultados imediatos. E outras ao médio e longo prazo. A partir dessa avaliação posso dizer que:

Os vietnamitas conseguiram essa alteração. Resistiu por séculos aos ingleses, franceses e americanos. Um povo que venceu descalço aos mais poderosos exércitos do mundo. Mas economicamente é um país muito pobre. A revolução cubana é outra. O mundo assistiu a algumas dezenas de homens realizarem a maior revolução social, econômica e política da história moderna. Claro, com 40 anos de embargo o país não poderia estar bem. Não há liberdade de imprensa, mas como eu disse, elas se desvirtuam. Mas o que eu posso identificar é que as manifestações sociais com resultados a longo prazo precisam tem um sustento econômico. Por isso, as poucas manifestações sociais na América Latina não conseguem chegar a lugar algum. Os agentes econômicos dos países estão sempre na mão dos outros. Aprendemos agora a tentar mudar as coisas através das urnas. Bolívia, Chile e Venezuela elegeram candidatos que rompiam radicalmente com as forças dominantes do país. Sem sangue, sem violência.

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As mais desgraçadas, a meu ver, foram no Camboja com a revolução comunista que assassinou milhões de pessoas. Stalin, com as suas Gulags, todo o continente africano, Serra Leoa, Angola, Ruanda, Congo... E claro, o Nazismo. Todas elas tinham como bandeira a alteração política e social, não alcançada, e milhões de mortos por nada.

Whiplash!: Amauri, mudando o rumo da conversa: você é filho e neto de revolucionários. Até que ponto sua família esteve envolvida em revoluções? E como foi crescer neste ambiente?

A minha família está envolvida há gerações. Meu bisavô no Equador foi fundador do Partido Comunista, o meu avô é um grande líder cultural, intelectual e educador. Meu avô brasileiro foi um dos maiores dirigentes sindicais no país e foi da direção do partido comunista no Brasil na ditadura. Ele viveu 24 anos escondido dentro do Brasil sem ser preso. Minha mãe foi exilada durante nove anos. Era dirigente da Juventude Comunista no Brasil, Chile, Alemanha. No Chile ela ficou presa num campo de refugiados durante quase um ano. Ou seja, se hoje podemos votar, opinar, e apontar o dedo na cara de uma autoridade é porque a minha família, assim como milhares de outros companheiros, deram suas vidas para isso.

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Whiplash!: Um garoto de 11 anos vai a greves e manifestações, tudo escondido dos pais. Qual foi a reação de sua família ao ver na televisão o pequeno Amauri, com bandeira em punho, participando da passeata onde o grupo guerrilheiro Alfaro Vive Carajo fez um acordo de paz com seu governo em 1989?

Uma pequena explicação: Alfaro Vive Carajo é o nome de um grupo guerrilheiro que existiu no Equador. Eles utilizam o nome de Alfaro em referência ao grande general Liberal Eloy Alfaro, responsável pelo conceito de nação que hoje existe no país.

No 1° de Maio de 89 houve uma grande passeata no Equador. Assim como em todos os países sul-americanos. Eu participava calmamente com a minha mãe quando atrás de nós, de repente, todo o grupo guerrilheiro se apresentou desarmado para firmar um acordo de paz. Claro, eu fugi da minha mãe e fui com eles. A multidão se dispersou com medo de alguma reação da polícia, mas eu corri e fiquei à frente do Alfaro. Eles me deram uma bandana e uma bandeira. Fui capa e matéria em todo lugar. Minha mãe queria me matar. O meu pai me viu pela televisão, e ligou para a minha mãe pedindo para que ela confirmasse que era mentira.

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Whiplash!: Seu avô materno foi o fundador do sindicato dos Têxteis e dirigente do Partido Comunista Brasileiro durante a ditadura no Brasil. Como este pessoal todo vem encarando tantas denúncias dentro do governo Lula, presidente que fez história como sindicalista?

A velha guarda da esquerda brasileira, a verdadeira velha guarda, está muito decepcionada. Aliás, para eles é inaceitável o que vem acontecendo. Lula se gaba de ter sido preso, de ter sido reprimido pela polícia. Lula e o PT são da quarta geração de sindicalistas. Eles não fundaram um movimento sindical, e nem revolucionaram a política no país. Esse sindicalismo "lulês" na verdade surgiu no final da ditadura. Ali era fácil. Naquele momento o governo militar já vinha num processo de desmontagem. É inaceitável que uma pessoa que se diz de esquerda tenha como secretário-geral do seu partido (Silvio Pereira) recebendo um Land Rover de um empresário bahiano por tráfego de influência. Eles não viveram de acordo com os princípios que os colocaram lá. E nós não podemos eleger estas pessoas novamente.

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Whiplash!: O povo brasileiro é muito ligado ao futebol. Todo este clima de Copa do Mundo com certeza irá mascarar nossos problemas internos - em especial a corrupção - neste período eleitoral. Morando a tanto tempo no Brasil, você acha que nossa sociedade está preparada para separar esporte de política?

Nunca. O brasileiro não consegue ligar a política ao seu cotidiano. Para ele Brasília é muito longe (e realmente é). Ele não consegue achar um resultado concreto em suas manifestações, em utilizar seu tempo para modificar o seu país. A última vez que houve alguma movimentação das massas foi no impeachment do Collor. Quanto tempo faz???? Será que não houve nada tão importante durante esse tempo para que a população se reunisse e tentasse modificar alguma coisa??? É isso que o Temblor quer. Conscientizar a população, o jovem, de que não é só preciso fazer, mas de que é possível.

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Whiplash!: Num mundo com alguns poucos privilegiados ditando como muitos devem viver, delírios religiosos, novas ameaças nucleares, pesquisa espacial e índios tentando viver como seus ancestrais, qual o futuro para o Temblor?

O futuro para o Temblor é conseguir conscientizar a população, de educar. Independente do caminho que o jovem escolher, ele precisa primeiro ter a atitude. Ele não pode esperar que decidam por ele. E é nesse ponto que está o nosso epicentro. Como eu digo na letra da música Temblor: "A atitude de uma pessoa, é um Temblor".

Whiplash!: Agradeço-lhe pela entrevista, Amauri. Foi realmente um prazer! O espaço é todo teu:

Este é um ano eleitoral. Vamos avaliar o que aconteceu no último ano na política brasileira. Espero que cada pessoa que leia até aqui saiba que ela pode sim mudar o futuro do país. Há gente fiel ao povo, a fim de mudar o nosso futuro. Basta nós não termos preguiça de tentar achá-los.

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Leiam Temblor. www.purevolume.com/temblor lá as pessoas terão acesso a algumas de nossas letras. Gostaria de começar a debater idéias com todos.

Ben, beijo no coração de todos da Whiplash! Obrigado pelo espaço.

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Sobre Ben Ami Scopinho

Ben Ami é paulistano, porém reside em Florianópolis (SC) desde o início dos anos 1990, onde passou a trabalhar como técnico gráfico e ilustrador. Desde a década anterior, adolescente ainda, já vinha acompanhando o desenvolvimento do Heavy Metal e Hard Rock, e sua paixão pelos discos permitiu que passasse a colaborar com o Whiplash! a partir de 2004 com resenhas, entrevistas e na coluna "Hard Rock - Aqueles que ficaram para trás".
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