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Iron Maiden: Uma ópera rock multitemática em Book of Souls (1)

Resenha - Book of Souls (Disco 1) - Iron Maiden

Por Rodrigo Contrera
Postado em 05 de dezembro de 2016

Iron Maiden - Mais Novidades

Um pacote com CD duplo. Um convite a algo mais do que pequenas amostras de rock descompromissado - como sempre com o Iron Maiden. Entrar na nova ópera rock (embora não temática) de Book of Souls, de 2015, equivale a deixar-se efetivamente levar por um rebento feito sob medida aos fanáticos - um rebento cujos atrativos não parecem acabar, e com isso compensam os cinco anos de espera, desde The Final Frontier (2010), segundo algumas fontes o CD que mais vendeu em toda a carreira da banda.

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Resenhas

Basta procurar um pouco para perceber que as críticas e resenhas sobre The Book of Souls se dividem. Há aquelas, como a da Folha, que dizem: a fórmula está desgastada, mas deve agradar. Ou outros, como do Globo ou sites especializados, que só entoam loas à obra. Como se dissessem, e falassem à galera: pode ir comprar, é bom. Esta resenha irá se concentrar nesta segunda vertente: na dos fanáticos, aqueles para os quais o CD foi feito. Não interessa se o CD poderia ter sido melhor ou pior: interessa que ele agrada, e aqui entraremos no mérito de todos os seus méritos.

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If Eternity Should Fail

Esta é bem cotada pelos jornalistas-fãs. Leva uma boa nota, e abre bem o disco. Seu tema? O destino de um homem em Necrópolis (como é subentendido no fim, na fala da voz cavernosa). Necrópolis é o outro nome que se dá ao cemitério, ou ao lugar do descanso eterno. Porém, é também o lugar em que os cristãos se distanciavam dos pagãos, sendo enterrados em outros lugares. Em suma, é o lugar do enterro, o cemitério.

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Na música, questiona-se o destino da alma de um homem (qualquer), cantada pela voz tonitruante do nosso Bruce. Uma alma vestida de branco, que quer permanecer na luz. Uma alma que faz sem último contato com o mundo, por meio de xamãs ou de bobos da corte, e que aguarda seu destino. Quase vemos a alma do homem chegando, suave, no seu lugar de repouso. Quase a vemos se apegando ao lugar, tocando-o com os dedos, esperando o seu momento de descanso.

Curioso que a música seja de autoria do Bruce, sem a colaboração do Steve, que fica com a maioria das coautorias, em segundo lugar. Curioso que venha de sua pena, pois sentimos a energia do Steve (talvez embalados pela sua aparente descrença, ou falhas de crença, desde X Factor). Mas a pegada histórica, de falar sobre os lugares sob o ponto de vista da história, é realmente algo importante para Bruce. Então não estranhamos demais.

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Sentimo-nos, na canção, como que dialogando, enquanto crentes (ou não), com uma reflexão, enquanto nosso destino final (o túmulo). Pois a faixa fala em crentes estranhos, sabendo de verdades mais estranhas, acordando de nosso sono (talvez a vida), e esperando por nosso número (talvez nosso destino, nosso lugar na lista de mortos). Vemos as coisas indo e vindo, e mesmo os anjos, mas sentimos nosso lugar se aproximando. Vemos a morte. Necrópole, ou Necrópolis, falando por si, diz que para ela a eternidade nada é. Além de um tempo curto. Bastante tétrico. Adequado para os fãs do Maiden. Como nós.

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Speed of Light

Eis que chega, inopinadamente, uma faixa com pegada mais roqueira (que alguns consideram adequado estar aqui, mas outros achariam melhor abrir o segundo CD desta ópera, com a qual, aliás, ela não parece combinar muito bem). "Speed of Light" foi vendida em single, também, e é a faixa que encabeçou as atrações da banda do Youtube, com um vídeo bastante acessado, e que está por aqui.

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Há quem diga que se trata de uma descida, por um astronauta, ao drama de um buraco negro. Outros que diriam remeter-se a viagens espaciais das quais é impossível voltar. A letra é uma grande curtição, é certo, e o Bruce se esbalda com seus gritos nela. Há também quem divise, na canção, reminiscências de faixas que vão até Killers. Seja como for, é uma faixa roqueira que traz a energia mais aqui para perto, abandonando um pouco a pegada progressiva do Iron.

Todos nós sabemos também o quanto a geração do Steve, do Bruce e de gente que já se foi (por exemplo, o Lemmy) se remete a jogos de computador antigos, com visual alguns diriam ultrapassado mas que mantém a sua graça. É a esses jogos que o vídeo oficial da música remete, avançando aos poucos nas gerações dos jogos e na graça das figuras sendo carbonizadas por tiros (parte final) ou do demônio tendo sua cabeça e seu coração retirados. Uma pequena referência a Schwarzenegger no fim (o coração/ a mão que se encaixa na solução final) leva-nos ao cotidiano dos garotos (que eles eram) e dos que hoje são (e que gostam da banda). Um vídeo extremamente agradável de assistir, com uma faixa que não dá trégua.

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Interessa notar que, no vídeo, assim como em álbuns, coletâneas e DVDs, a banda sempre se refere a faixas, acontecimentos ou lugares autorreferenciais. E perceber que, na trama do vídeo, a questão é ganhar corações, seja matando um "chefe" oprimindo a "mocinha", superando ataques de alienígenas, matando o demônio ou ao final conquistando a civilização (inserindo o coração num espaço a ele destinado). Perfeito. Como num jogo de videogame qualquer. A faixa avança, nesse esforço, tranquilamente, mas também inapelavelmente, sem parar, até o final. Agrada gregos e troianos.

The Great Unknown

Não sei se quem compra os CDs de The Books of Souls nota, mas existem símbolos maia em toda a extensão da obra. Houve uma época em que os maias eram uma de minhas fixações. Por serem poderosos. Por terem em grande medida sobrevivido à conquista espanhola. Por se referirem a uma cultura extinta, mas que mostrava suas conquistas e sua força. Por estarem dispostos em códices que os especialistas tentam ainda decifrar. Os símbolos maia, então, povoam toda a obra do The Book of Souls. Inclusive, é bom notar que quando o Eddie coloca seu quarto coração numa espécie de máquina do tempo é em um templo maia, na faixa anterior.

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Pois ocorre que, tirando a própria faixa The Book of Souls, não há outra faixa dos CDs que se refere ao nosso grande desconhecido, Deus. Exceto esta, cujas origens procurei nos confins dos sites dos grupos de fãs do Iron e não encontrei. E é curioso, porque fica uma ironia: "não se conhece" a fonte de O Grande Desconhecido. Claro, não é? Seja como for, a faixa não está dentre as preferidas pelos fãs, nem pelos mais fanáticos de The Book of Souls, embora tenha uma qualidade surpreendente, com uma introdução que me lembra minhas incursões com meu antigo Fender Jazz Bass. Porque a faixa é comedida, e deixa seus principais atrativos à letra, que irei comentar brevemente a seguir.

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Sabemos que o Steve é um cristão bastante tranquilo. Um sujeito que quando se mete a duvidar o faz no âmbito da arte, e que aparentemente mantém uma força bem dimensionada em sua vida. Ele faz esta música com o Adrian Smith, deixando-lhe a precedência nos créditos. Percebemos que as melodias devem ser do Adrian, e que o Steve deve ter-lhe dado numa palhinha na letra, que rememora diversos temas religiosos que não parecem combinar com outras civilizações. Estão lá diversos temas que podemos, aqui e acolá, retirar de trechos bíblicos ou mesmo de menções à Bíblia que traduzimos para nosso dia a dia. Menções que podem nos fazer crer que aquele que escreve duvida. E em verdade pode até ser.

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Deus aparece aqui em uma espécie de trevas. Onde a escuridão está, como um enigma, mas onde algo permanece. Bem no começo sobressai, remetendo à Bíblia: onde a escuridão caiu e a semente é plantada. Vemos, contudo, que aqui a questão é o destino de um condenado à morte (não que esteja sendo condenado, é que se defronta com a morte) em que seus valores são colocados à prova. Como esses valores de quem combate com a espada e leva seus ideais com eles. Mais um tema bíblico. Há também uma menção ao desejo dos homens que nunca acaba, e em que mudar o coração é a danação e o fim de todos nós (quando na verdade, pelo cristianismo, é o começo). Vemos aqui, entre os temas tradicionais, que o grande desconhecido é salientado com um ar de medo, como se nada nos esperasse - embora tenhamos desistido do comum, daquilo que faz os outros ou todos se perderem.

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The Red and the Black

Eis que a próxima faixa parece remeter a um livro famoso, por muitos o primeiro romance realista da história, "O Vermelho e o Negro", de Stendhal. Parei inclusive de fazer esta resenha por vários dias, procurando referências. Será que tinha mesmo a ver com o livro? Parecia muito óbvio, e por outro lado a letra não remetia ao livro, aos seus personagens célebres e ao desenlace tão dramático (quem precisa, tem que ler). Fato é que eu não havia lido o livro, embora talvez precisasse. E nada nos grupos de fãs de que participo me dá qualquer dica. Fiquei por dias a fio a ver navios. Cheguei até a procurar resenhas mais longas dos CDs, algo que não costumo fazer com muita frequência por receio de me deixar influenciar. E nada.

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Cheguei até a fazer o download de uma versão pública do romance. E cheguei a começar a lê-lo, inclusive. Mas ou a tradução não ajudava ou eu não tive paciência para tal. Seja como for, encontrei resumos e saquei o enredo, os personagens e algo do porquê eles ficaram tão célebres. É um romance de época que passa uma impressão bastante vívida de um contexto histórico em que determinados valores são os que regem o mundo, e contra os quais não adianta lutar. Porque o romance é, no fundo, uma história infrutífera de alguém com méritos tentando escapar do seu destino inelutável, contra o qual nada adianta fazer.

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Vamos à letra. Eis que sentimos o clima do romance, embora não haja nada historicamente datado. Nenhum personagem é citado, nenhuma trama é reproduzida, nenhum conflito parece explicado ou prenunciado, de forma a sacarmos que, sim, a música é baseada no romance. Mas sentimos a luta do narrador, sentimos a sua derrota, e seu lamento compungido em busca de uma saída (que não existe nem nunca existirá). Confesso que bastante surpreso me vejo diante do romance e diante do conflito, embora nada aparentemente leve a isso. E entendo o clima. A música leva uns 13 minutos e pouco, algo que para alguns parece demasiado, mas com o que eu não concordo. Pois percebo que era necessário. Como no Iron, em que quase toda extensão de música é necessária. A faixa utiliza-se de várias melodias extremamente pegajosas que nos fazem adorar tudo o que vivenciamos. Me torno fã da leitura que o Steve fez do romance. Por isso, posso afirmar, contrariamente a qualquer outra informação: decifrei o enigma.

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A faixa é rápida, em determinados momentos, e parecemos estar em romances históricos, até em filmes, e notamos como o Steve (esta é a única faixa dos discos que é só dele) deve ter gostado do romance do francês. Esta faixa foi uma das que melhor me convenceu de que eu precisava fazer esta resenha, algo que estou adorando terminar (da primeira parte, e olha que falta talvez o mais importante). Um aspecto interessante na faixa é que ela quase não tem solos, pelo que reparo. Tudo parece bem combinado de forma a simplesmente reproduzir as células melódicas. E é tão agradável de ouvir. Iron é Iron.

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When the River Runs Deep

Esta faixa, mais comedida até pelos critérios do Iron (tem quase 6 minutos, apenas), é do Adrian e do Steve. Uma faixa que não parece se remeter a livro, a filme ou a nada que nos leve mais longe do que à mensagem de um cara para outro. Porque a faixa é quase uma mensagem de autoajuda, de um sujeito mais experiente a um menos experiente. Uma faixa em que sentimos uma pegada rock mais descompromissada, com um jeito de cantar (para o Bruce) bastante interessante, quase dialogada, ou seja, quase não cantada (em determinados trechos). Uma faixa que dá uma lufada de ar fresco no clima de profundeza que os CDs já nos passam, e que nos mostram que afinal de contas estamos ouvindo rock. Aqui inclusive os solos que aparecem deixam-nos mais à vontade até para dançar, nas partes mais animadas. Nos grupos de fãs, esta faixa não parece, contudo, muito bem cotada, embora a mim agrade bastante e tire um pouco do ranço de progressivo que parece dominar os últimos rebentos do Iron (embora, em alguns trechos, a faixa remeta a momentos de maior complexidade, com solos mais estratosféricos). Mas a faixa é curta, e não dá muito espaço para brincadeiras. O andamento se mantém, em geral, e não ocorrem grandes novidades, para aqueles que gostam de coisas mais complexas, que o Iron mostrava já no começo de carreira (como um Phantom of the Opera, por exemplo).

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Book of Souls

Encerrando esta primeira parte da resenha (pois faço aqui apenas o primeiro disco de Book of Souls), preciso fazer um excurso pessoal e comentar algo que diz respeito, não à música exclusivamente, mas a alguns temas que a banda usou neste lançamento (com bastante cuidado e competência), a algumas referências mitológicas e, enfim, à faixa título dos CDs, The Book of Souls.

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Nasci em outro país, o Chile (me naturalizei brasileiro em 1992). Nesse país, existe uma particularidade que não se repete em nenhum outro país latino-americano: o fato de que os indígenas nativos ainda resistem a ser conquistados e envolvidos pelos conquistadores espanhóis. Os nativos, no caso, são os mapuches-araucanos (uma denominação é entre eles, e outra dos espanhóis em relação a eles). Ocorre que na minha infância eu tive uma babá de origem indígena, que aqui eu eternizo. Seu nome era Justina Paidil, ou Justi. Justi foi quem me dava de comer quando eu era moleque, e que me acompanhou realmente durante meus primeiros passos. Justi faleceu, contudo, por volta de 1988, de complicações devidas a atrofiamento nas pernas. Nós quisemos trazê-la ao Brasil, mas não foi possível. E eu fui a última pessoa da família que a viu com vida.

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Com a Justi, eu aprendi algumas palavras que não eram de origem propriamente espanhola, e que depois eu procurei em dicionários e não encontrei. Pois ela meio que me apresentou a singeleza e tranquilidade de ser criado por uma pessoa de uma outra cultura - embora assimilada, a mapuche -, sobre a qual eu depois procurei em diversas livrarias ao redor da América Latina. Então, a questão indígena foi para mim muito importante durante meu reconhecimento cultural, e até hoje deixa marcas profundas em mim (como minha identificação com a obra do José María Arguedas, um ótimo escritor peruano que, dividido culturalmente, se matou, à la Hemingway, com um tiro de espingarda). Claro que minha esposa acompanhou minhas andanças em busca de referências locais na América Latina, tendo visitado comigo Machu Pichu, sítios arqueológicos em Lima Peru, assim como a maior feira indígena do continente, em Otavalo, no Equador. Pois essa busca pelas origens locais latino-americanas foi algo que consumiu esforços incontáveis de minha parte (inclusive também no Chile e no Brasil, tendo visitado o centro-oeste com esse fim específico).

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O excurso pessoal termina agora. Pois neste Book of Souls, e nesta faixa em particular, nosso querido Iron faz uma incursão bastante profunda no universo maia. Os maias, quase todos nós sabemos, foram os indígenas que dominavam o México, e deixaram muitos documentos e construções que até hoje fazem a atração desse país bastante complexo e poderoso que é o México (que ainda não visitei). Pois então. Durante minhas incursões pelos indígenas autóctones, eu achei também vários documentos maias, e pude me defrontar com o fato de que essa civilização tinha todo um jeito particular de lidar com o mundo (e com a mitologia reinante à época), que eu não tive, contudo, condições de estudar respectivamente. Mas o que o Iron faz, aqui? A banda incursiona visualmente nesse universo e faz uma faixa absolutamente fantástica ambientada nessa civilização. Pois posto aqui algumas fotos de shows que o Iron fez no México com todo o tratamento visual respectivo, levando todos aqueles caras (jovens e gente nem tão jovem como eu) ao delírio. Pois o Iron aborda de forma bastante respeitosa todo o universo daquele pessoal, que navega naquelas civilizações, de alguma forma, e que simplesmente adora e considera maravilhoso ter a si mesma (enquanto civilização culturalmente dividida) expressa sob a forma do rock, e ainda mais especificamente, do heavy metal. Eu me emociono só de emocionar como tudo isso deve ter sido, lá no México, e como pode ser, aqui no Brasil, quando a turnê aqui desembarcar (e que eu espero pode ver).

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Para entender o peso que o uso de inspirações locais como as dos maias acarretam nos fãs (desses locais ou de outros que têm tendência a se inspirarem em outras civilizações para questões pessoais), note-se que em lugares como Cuzco (Peru) algumas cerimônias (no caso, do Sol) continuam sendo protagonizadas. Note-se também que lugares como esses são pródigos de museus, de cidades com inspirações civilizatórias outras que não as espanholas, e que muitos nesses países embarcam em profissões como arqueologia por motivações pessoais importantes o suficiente para conduzirem todas suas vidas. Pois lembro-me bem de quando cavoucava livrarias em Cuzco, ou de quando via múmias locais perfeitamente preservadas, e quando era informado, por jovens locais, que serviam muitas vezes como guias, de origens a que eles faziam jus com muito orgulho. E eram jovens que aparentavam o gosto por rock. Ocorre que sabemos o quanto foram preservados muitos monumentos no México, no Peru, no Equador, na Bolívia, e o quão importantes têm sido os estudos pelas origens autóctonas dessas populações para que partes delas começassem a adquirir autonomia e autoestima. Claro está que muitos desses estudos, e dessas conquistas (arqueológicas ou não), deixaram profundas marcas na política desses lugares. Ocorre que o Iron pega, emprestadas, inspirações para fazer algo que ela, a banda, sabe tão bem traduzir para seus fãs. E abafa. Pois é a isso que chamo aqui a atenção.

A faixa, em si, claro, é bastante interessante. Com um ar civilizatório e mitológico patente, com uma letra remetendo a antigas tradições e a sacrifícios, que o Iron soube captar e jogar nas inspirações para as imagens. Basta percebermos o cuidado que a banda teve em contratar gente para lidar com as fontes maias, com o visual remetendo ao México e a tudo o que ele pode inspirar, para traduzir isso de uma forma original e fantástica. Porque só posso falar isso. A faixa, por sua vez, faz jus a todo esse cuidado, e com ela notamos inclusive uma certa pegada à la Rime of the Ancient Mariner a partir do seu quarto minuto, com solos bem colocados, embora claro sempre surjam críticas aqui e acolá. Não irei me referir necessariamente ao imaginário maia, aqui, até porque não o domino. E também porque imagino que a banda tenha se inspirado pura e livremente para fazer o que fez - e bem. Não cabe a gente dar uma de chato para tentar ver se os maias eram realmente isso - ou não. Estamos lidando com música, com rock, com fãs alucinados em outras civilizações (parcialmente vivas, como eu já disse), e com gente que quer sair do seu dia a dia apequenado para curtir um bom heavy metal com a maior banda do gênero da atualidade. Só isso - o que já não é pouco. E só para fechar o PRIMEIRO CD, ou seja, apenas o começo de tudo.

Termino aqui a primeira parte dessa resenha, que pretendo retomar daqui a pouco, para fazer jus a essa obra que tanto me animou e que tanto me fez perceber que uma vez fã do Iron, sempre fã do Iron Maiden.

Up the Irons!

Leia a segunda parte no link abaixo:

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Sobre Rodrigo Contrera

Rodrigo Contrera, 48 anos, separado, é jornalista, estudioso de política, Filosofia, rock e religião, sendo formado em Jornalismo, Filosofia e com pós (sem defesa de tese) em Ciência Política. Nasceu no Chile, viu o golpe de 1973, começou a gostar realmente de rock e de heavy metal com o Iron Maiden, e hoje tem um gosto bastante eclético e mutante. Gosta mais de ouvir do que de falar, mas escreve muito - para se comunicar. A maioria dos seus textos no Whiplash são convites disfarçados para ler as histórias de outros fãs, assim como para ter acesso a viagens internas nesse universo chamado rock. Gosta muito ainda do Iron Maiden, mas suas preferências são o rock instrumental, o Motörhead, e coisas velhas-novas. Tem autorização do filho do Lemmy para "tocar" uma peça com base em sua autobiografia, e está aos poucos levando o projeto adiante.
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