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Sepultura: Buscando referências no passado sem soar datado

Resenha - Kairos - Sepultura

Por Guilherme Vasconcelos Ferreira
Postado em 09 de outubro de 2011

Nota: 8 starstarstarstarstarstarstarstar

O rock vive um cenário de terra arrasada. Com exceção dos grandes dinossauros que continuam na ativa com maior ou menor relevância e de um ou outro sopro de originalidade, o que se ouve mundo afora, via de regra, é um festival de mediocridade, pasteurização, bom-mocismo e indigência instrumental. Pululam, como uma praga, grupelhos mais preocupados em agradar uma geração de jovens mimados e pouco exigentes – e em gravar clipes bonitinhos e superproduzidos para entreter os néscios –, do que em compor (boa) música.

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Se lá fora o quadro é desanimador, no Brasil a situação piora em escala exponencial. O lixo musical sempre foi e continuará sendo maioria em todo o mundo, mas em terras tupiniquins, quando o assunto é rock ou o que se convencionou chamar de rock por aqui, o lixo vence com avassaladora superioridade. As bandas de rock brasileiras, salvo raríssimas exceções, sempre foram ou tecnicamente toscas ou irritantemente pseudo-intelectuais, ou, para piorar, as duas coisas ao mesmo tempo, como Mutantes e Legião Urbana.

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Hoje, com Restart, Hori, NX Zero e outros representantes da esterilidade musical verde e amarela, a realidade é ainda mais deprimente: o rock brasileiro sofreu uma parada cardíaca fulminante e respira por aparelhos. Se ainda não morreu é porque sempre há, aqui ou acolá, escassos como a honestidade na política e a indignação sincera na sociedade brasileira, exemplos de bravura e altivez que mantêm, ainda que marginalmente, os sinais vitais do rock brasileiro.

O Sepultura, principal nome do heavy metal nacional, vem travando essa batalha – contra o rock plastificado, pseudointelectual e instrumentalmente tosco – desde meados da década de 80. Não, o Sepultura não é uma banda marginal, mas tampouco tem a popularidade e o prestígio internacional dos tempos de Chaos A.D. e Roots. A saída do vocalista Max Cavalera em 1996 foi seguida por um período de decadência criativa que só começou a ser superado em 2003, com Roorback. Desde então, o grupo atualmente liderado pelo guitarrista Andreas Kisser engatou uma sequência de ótimos trabalhos cujo ápice parece ter chegado agora com Kairos.

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Lançado sem alarde e frescuras, Kairos apresenta duas grandes diferenças em relação aos seus antecessores, Dante XXI (2006) e A-lex (2009). A primeira está no direcionamento musical. O Sepultura se notabilizou por introduzir elementos tribais e ritmos brasileiros no heavy metal, experimentações que formaram uma sólida identidade e tornaram a banda conhecida e elogiada mundo afora. Tais hibridismos, porém, foram sendo abandonados com a saída de Cavalera e, nos dois últimos discos, a banda flertou com a música erudita, numa tentativa, bem-sucedida, diga-se de passagem, de transpor para a música pesada os ambientes e atmosferas de A Divina Comédia, poema de Dante Alighieri, e Laranja Mecância, livro de Anthony Burgess.

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Em Kairos, o objetivo é outro. Com exceção de "Structure Violence", uma esquisita mistura de metal com techno gravada em parceria com o grupo de percussão francês Les Tambours du Bronx, Kairos não faz concessões ao experimentalismo. A simplicidade, como revelam os próprios integrantes no making off do álbum, é a regra. Do início ao fim, o que se ouve é um thrash metal direto, encorpado, intenso, vigoroso e enérgico inspirado em grupos de grande prestígio, como Metallica, Black Sabbath e Pantera.

A outra grande diferença chama-se Roy Z. O experiente produtor, que já trabalhou com nomes consagrados do metal, como Judas Priest e Bruce Dickinson, conseguiu unir o melhor dos dois mundos em Kairos. O peso e a agressividade, principais características da música indômita do Sepultura, estão presentes em doses generosas - como não poderia deixar de ser. Agora, porém, eles vêm acompanhado de boas doses de ótimas melodias, principalmente no som da guitarra de Andreas, que despeja solos inspiradíssimos ao longo do disco, como em "Relentless" e "Dialog", ambos com grande influência de Dimebag Darrell, falecido guitarrista do Pantera.

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Sem a pretensão de querer reinventar a roda (ainda bem!), o Sepultura abre o disco com a simplicidade e o peso dos melhores riffs da música pesada. "Spectrum", cuja letra fala sobre honestidade, resiliência e liberdade artística, temas recorrentes durante todo o disco, é um ótimo cartão de visita. "Kairos", a faixa-título, mantém o nível lá em cima: o refrão marcante, cantado com a agressividade necessária por Derrick Green, e o riff cheio de groove a credenciam a ser presença constante nas apresentações ao vivo.

Com uma levada mais punk e uma bateria que mais parece uma locomotiva de tão pesada, além de um brilhante trabalho de guitarra, "Relentless" é outro grande destaque. O massacre sonoro, sempre comandado pelos riffs inspirados e cortantes de Kisser, pelos vocais poderosos de Green, que canta com uma voracidade semelhante a um esfomeado que acaba de encontrar um prato de comida após dias de jejum, e pela bateria pujante e pesadíssima de Dolabella, que faz os mais nostálgicos esquecerem por completo Iggor Cavalera, continua em altíssima voltagem com "Mask", "Seethe" e "Born Strong" (a melhor do disco), uma sequência matadora e ideal para despejar, sem causar danos e prejuízos à sociedade, toda a raiva e indignação acumuladas com as hipocrisias, falcatruas e frescuras do dia-a-dia. Um indivíduo sem raiva e incapaz de se indignar, ensina o Sepultura e todas as grandes bandas do bom e velho thrash metal, é um indivíduo morto.

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Em poucas palavras: "Kairos" traz um Sepultura olhando para o retrovisor, buscando referências no passado, mas sem nunca soar datado. É um álbum muito bem produzido e tocado, com músicas consistentes e letras simples e objetivas. Discordo dos que defendem a tese de que este novo disco representa a volta do Sepultura, porque o quarteto, no mainstream ou fora dos holofotes, nunca deixou de produzir música boa e honesta. A diferença é que "Kairos" está alguns degraus acima de seus últimos lançamentos e nos dá a esperança, ao lado dos últimos trabalhos do Matanza, Dr. Sin, Baranga e Carro Bomba, de que o rock nacional, um idoso moribundo, ainda tem salvação. Há luz no fim do túnel.

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Tracklist:
1. Spectrum
2. Kairos
3. Relentless
4. 2011
5. Just One Fix (cover do Ministry)
6. Dialog
7. Mask
8. 1433
9. Seethe
10. Born Strong
11. Embrace the Storm
12. 5772
13. No One Will Stand
14. Structure Violence (Azzes)
15. 4648

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Sobre Guilherme Vasconcelos Ferreira

Ano 2000. Então com 12 anos, entrei na secção de CDs de um supermercado para gastar o dinheiro da mesada que meu pai dera dias antes. Sem o mínimo de discernimento, deixei-me fascinar pela bela capa do Brave New World, do Iron Maiden. Não me decepcionei. Aqueles vocais operísticos e as guitarras melodiosas foram a porta de entrada para o heavy metal, estilo que muito contribuiu para a formação dos meus valores e da minha personalidade. Hoje, aos 21 anos, estou no último ano do curso de Jornalismo da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e trabalho com assessoria política. A música pesada, porém, nunca me abandonou. Além da Donzela, nutro sincera paixão por Black Sabbath, Deep Purple, Dio, Metallica, AC/DC, Rush, Pink Floyd, Dream Theater, Judas Priest, Yes e Motörhead. As bandas emo, indie ou qualquer uma que tire onda de moderninha e bem comportadinha me exasperam profundamente. Odeio instrumentais paupérrimos e rebeldia de boutique. Rock n' roll existe para questionar noções consagradas de normalidade e tensionar padrões morais e estéticos dominantes. Para cultivar a estupidez e exaltar o artificialismo, já existe a música pop. Sim, sou um old school empedernido.
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