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Rolling Stone vs. Led Zeppelin: Quando a Bíblia do rock importunava os Deuses

Por Denner Maxwell
Postado em 22 de setembro de 2015

No mês de outubro de 1968 Jimmy Page juntou-se a três músicos desconhecidos até então para por em prática todo o conhecimento musical acumulado ao longo dos anos em que trabalhou em estúdio, tocando para artistas como Dusty Springfield, Billy Fury, Brenda Lee e Dave Berry. A ambição do "Mago da Guitarra" somada a extraordinária química que era entregue por cada elemento da banda ganhou vida e forma em Led Zeppelin I.

No novembro que antecedeu a gravação do disco (leia-se 1967), em São Francisco, na Califórnia [EUA], Jann Wenner havia inaugurado em parceria com o crítico Ralph J. Gleason a primeira publicação — feita ainda em forma de jornal — da revista quinzenal batizada como "Rolling Stone". Wenner descreveu o que pretendia fazer com a revista ao colocar a seguinte frase na primeira edição: "[A Rolling Stone] não é apenas sobre música, mas também sobre a atitude envolvida pela música". Meta alcançada. Jamais subestime a importância que esta revista teve em seus primórdios. A internet só veio dar as caras vinte e poucos anos depois da revista, e antes dela, as novidades vinham das rádios e das publicações impressas, como jornais e revistas. E dentre tantas, a Rolling Stone era um arauto de esperança para os curiosos que queriam descobrir/entender o que estava rolando no mundo da música. O bônus era que parte do material entregue pela revista vinha do contato direto com as bandas — os críticos costumavam fazer viagens junto com os músicos —, tornando-a uma verdadeira ponte entre fãs e artistas.

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Hoje qualquer ser pensante reconhece o legado do Led Zeppelin — que basicamente consiste na co-criação do heavy metal e na fusão do rock pesado com outros gêneros, como o funk, o reggae e o folk —, mas, inicialmente, a relação da banda com a crítica era mais que conflituosa. Especialmente a Rolling Stone. A revista adorava falar mal de tudo o que o Zepp lançava.

Veja o resumo [do resumo] dessa irônica história em quatro trechos, propositalmente enumerados em algarismos romanos para homenagear os primeiros discos do Zepp:

I. A SAGA MENDELSOHN

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Nascido em Washington, DC, John Mendelsohn (foto ao lado) ficou fascinado pelo jornalismo crítico após ter contato com os textos de Nik Cohn (considerado por alguns jornalistas o primeiro crítico "a tratar verdadeiramente de rock"). A forma ácida com a qual representava os astros em seus textos, sem medo de expor seus ídolos ao ridículo, teve grande impacto na forma como Mendelsohn (e muitos outros) passaram a escrever sobre o assunto. Anos depois, Mendelsohn reconheceria que "sua qualidade como escritor só veio atingir um 'alto nível' depois de ter aperfeiçoado sua imitação de Nik Cohn". Mendelsohn também escreveu vários livros (incluindo "The Kinks Kronikles", biografia do The Kins, de 1984), bem como foi compositor e músico. Como músico, nunca obteve muito sucesso.

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Foi com apenas 21 anos de idade que Mendelsohn resenhou o primeiro disco do Led, e escreveu a crítica originalmente para o jornal da universidade UCLA. A Rolling Stone surpreendentemente se interessou, e publicou o artigo na sua edição de N° 29, em 15 de março de 1969.

Segue abaixo um resumo da crítica de Led Zeppelin I por John Mendelsohn:

"[Jimmy Page] é um guitarrista extraordinariamente proficiente na execução dos blues e em explorar as potencialidades eletrônicas do instrumento. Infelizmente, ele também é um produtor muito limitado e compositor de músicas fracas, sem imaginação. E o álbum sofre pelo fato de ter sido ele o produtor e o compositor […] Robert Plant é tão almofadinha quanto Rod Stewart, mas nem chega perto em termos de empolgação, com seus gritos inconvincentes. Se o objetivo do Led Zeppelin for ocupar o vácuo deixado pelo Cream, precisarão de um produtor e material que faça valer a atenção. No desperdício do seu considerável talento em material sem valor, o Zepelin produziu um álbum que é um triste reminiscente de Truth."

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O "Truth" mencionado no texto é o álbum que marcou a excepcional estréia do Jeff Beck Group, e as semelhanças entre este disco com o futuro som do Led Zeppelin são bem mais aparentes que as diferenças ("You Shook Me", de Willie Dixon, apareceu posteriormente no "Led Zeppelin I" com arranjos quase idênticos a versão do "Thruth"). Pelo que deu a entender, Mendelsohn achava que o Led Zeppelin nada mais era que uma cópia forçosa da banda de Jeff Beck, apenas com mais peso, riffs exagerados à exaustão e os gemidos dramáticos de Robert Plant. Na época os músicos disfarçaram toda a frustração das críticas com um seco "nós tocamos para os fãs, não para os críticos", mas, décadas depois deu para imaginar o peso que as palavras escritas na Rolling Stone tiveram nos jovens membros da banda: "A crítica da Rolling Stone doeu muito, pois sabíamos que tínhamos feito um bom álbum", disse já nos anos 90 o multi-talentoso John Paul Jones. Jimmy Page, irritado, decidiu manter praticamente todos os assuntos relacionados ao Zepp em sigilo absoluto. Ter o respeito da crítica era uma meta que o Led Zeppelin pretendia alcançar — ou que eles sabiam merecer. Mal sabiam eles que John Mendelsohn estaria de volta mais uma vez para falar sobre o segundo disco da banda, lançado naquele mesmo ano.

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Led Zeppelin II foi composto e gravado com a banda ainda em turnê. O disco foi editado em outubro de 1969, e surrupiou do "Abbey Road" dos Beatles o primeiro lugar nas paradas de sucesso, onde permaneceu por sete semanas. "Zepp II" trouxe à tona o primeiro grande sucesso autêntico do "heavy metal": "Whole Lotta Love", com seu riff grudento e letras extraídas de Willie Dixon. O disco continha ainda "The Lemon Song", "Living Loving Made (She's Just a Womam)", bem como "Heartbreaker", cujo solo hoje é referência para todo e qualquer guitarrista que queira se inciar na música pesada. Mas Mendelsohn, ao que parece, tinha percepção fraca. Desta vez, valendo-se do sarcasmo, eis um resumo do que escreveu sobre o segundo trabalho da banda:

"Ei, cara, retiro o que eu disse! Este é um álbum tremendamente peso-pesado! Quem pode negar que Jimmy Page é o mais pesado interprete branco de blues na faixa de 1,62 m e 1,73 m de altura [Jimmy tem 1,80, só pra constatar] em todo o mundo? Merda, cara, nesse disco ele prova que pode fulminar qualquer blueseiro branco vivo, e com a porra de um abraço amarrado nas costas. […] Corre o boato que Robert Plant canta, neste disco, algumas notas que apenas cães conseguem ouvir. […] John demonstra nesta faixa [Moby Dick] que se ele tivesse um pouco de cérebro poderia superar Baker [Ginger Baker] mesmo sem baquetas, já que a maior parte do seu intrigante solo foi feito com as mãos nuas."

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A história de Mendelsohn com o Led Zeppelin (felizmente) teve seu fim aí. Depois desta, não resenhou mais nenhum trabalho do Zepp para a Rolling Stone — embora os próximos críticos escalados (coincidentemente ou não) partilhassem da mesma postura que Mendelsohn em relação à banda. Muito tempo depois, Robert Plant classificaria as críticas de Mendelsohn ao Led como vindas de "um músico frustrado"

Hoje Mendelsohn mantém um blog chamado "A Yank on the Edge of England", e recentemente comentou o seguinte sobre o assunto: "Quando descobri o YouTube, passei um tempo vendo alguns vídeos de bandas antigas. [...] Fiquei aliviado ao descobrir que sentia pelo Led Zeppelin o mesmo que senti quando tinha 21 anos. Gosto de melodia, sagacidade, harmonia vocal e expressão, e tudo isso falta no Led Zeppelin. É só exibicionismo".

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"Good Times Bad Times", música de abertura do Led Zeppelin I

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"Whole Lotta Love", do Led Zeppelin II, ao vivo no mega-espetáculo que a banda fez no festival de Knebworth, em 4 e 12 de agosto de 1979.

II. A SEGUNDA SAGA DA ROLLING STONE

Um ano depois, em 1970, Robert Plant e Jimmy Page resolveram "tirar um cochilo" da tempestade exaustiva que havia passado no ano anterior. Alugaram então uma pousada do século 18 chamada "Bron-Yr-Aur", localizada nos cafundós do País de Gales [Reino Unido]. Todo o repertório do Led Zeppelin III foi composto nas duas semanas em que ficaram por lá. O clima medieval, a paisagem natural e, principalmente, a falta de energia elétrica do lugar inspiraram a dupla, que apresentou em outubro de 1970 um disco essencialmente acústico, que dava vazão ao "folk", até então um elemento secundário no som da banda. Havia, é claro, os pontos "pesados" (leia-se elétricos) do disco, como "Immigrant Song", o blues frenético "Since I've Been Loving You", "Celebration Day" e "Out On The Tales". Mas de resto quem fala mais alto é o violão: "That's The Way", com seu clima "pôr-do-sol na estrada" (célebre, uma das canções mais belas já feitas em base do violão), "Tangerine", com direito aos sensacionais slides de guitarra de Page, "Gallows Pole", típica balada "elisabetana" e "Bron-Yr-Aur Stomp" (uma clara homenagem ao lugar que lhes dera o "ponta-pé inicial" para o disco). Era um Led Zeppelin diferente daquele que era seguido pelos adolescentes no ano anterior.

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Mas não apenas o Led Zeppelin havia ficado diferente: O período coincidiu com uma troca de crítico na Rolling Stone. O crítico mudou, mas a crítica permaneceu a mesma. Lester Bangs escreveu que a música do Zeppelin "não desafiava a sensibilidade de ninguém", que era "uma estúpida banda de blues branca" e que seu disco impressionava pela "grosseira insensibilidade". Jimmy Page ficou tão furioso que ficou exatos 18 meses sem dar entrevistas.

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"That's the Way", um dos mais belos usos do violão já empregados. De Led Zeppelin III.

Foi com o quarto disco que o Led Zeppelin finalmente deu seu primeiro"basta" na Rolling Stone — e na crítica em geral —, mas, como estamos focando primeiro na fase conflituosa da banda com a revista, vamos ignorar, pelo menos por enquanto, o "Zoso" e o Physical Graffiti, o.k?

Houses Of The Holy chegou as lojas em março de 1973, e mostrou uma equilibrada mistura de todas as tendências que a banda vinha explorando até então — além do fato de que pela primeira vez, um disco do Led Zeppelin tinha um nome. O disco abre com uma verdadeira pedrada: "The Song Remains The Same" é uma verdadeira "batalha instrumental", e trazia consigo a mensagem de que embora a banda seguisse mudando, eles ainda eram o Led Zeppelin. O resto do disco é um verdadeiro passeio pelos vários estilos musicais reverenciados pelo Zepp. "D'yer M'aker" é a banda flertando com o reggae, "The Crunge" um funk rock que remete à James Brown, e "No Quarter" é o resultado da obsessão de Jonesy com os — na época novos — teclados da Yamaha. "The Rain Song" é uma sinfonia "folk" que evoca uma viagem que só acontece dentro da cabeça de quem a escuta, e foi feita depois de George Harrison ter comentado que Page "não sabia fazer balada". "The Ocean" uma homenagem as multidões que a banda via em seus shows, e "Over the Hills and Far Away" — talvez a melhor do disco — era a fuzão do que o Led sabia fazer de melhor: sensacionais batidas de violão somadas à riffs espetaculares típicos de hard rock, enquanto Plant exibe seus dotes vocais de forma mais comportada. "Houses" é uma reflexão de onde o Led Zeppelin estava naquele ponto — o ponto de uma banda cuja ascensão não parecia ter um final visível. Mas o que a Rolling Stone achou disso tudo?

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Como se a ironia fosse o destino de mãos dadas com todos os que odiavam o Led Zeppelin, o próximo crítico, Gordon Fetcher, descreveu "Houses" como "um disco confuso e enfadonho", disse que algumas das canções eram "as piores que a banda já tinha feito", que o "rock n' blues era o forte da banda" e que "se eles se levassem a sério, perceberiam que são tolos por sair desse gênero". Agora, o tão massacrado som dos primeiros discos havia se tornado "o forte" do Led Zeppelin, e as mudanças eram "bobas", dando a impressão que não importava o que o Zepp fizesse, a Rolling Stone daria um jeito de encontrar um fuzilador pronto para tecer bronca nos discos. Próxima parada: Presence.

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Presence foi gravado num período turbulento do Led Zeppelin. Jimmy Page fraturou a mão e Robert Plant foi operado na garganta [daí surgiram os boatos de que Plant tivera um câncer nas cordas vocais]. No mês de agosto do ano anterior, Plant também havia sofrido um grave acidente em Rhodes, na Grécia, onde seu tornozelo foi esmagado — e ainda estava numa cadeira de rodas quando fez os vocais para "Presence". Intenso e desconfortável, o disco abre com "Achilles Last Stand". É a mais intensa — além de extensa — música gravada pelo Zepp. São quase onze minutos de palhetadas distorcidas e viradas sensacionais de bateria, enquanto Plant entoa palavras proféticas numa simplicidade que, incrivelmente, casa com todo o peso da música —Como não gostar?. Os outros pontos fortes do disco são "Nobody's Fault But Mine", que traz solos sensacionais de Plant na gaita — além de um dos melhores momentos de Page na guitarra —, "Royal Orleans", com suas simpaticíssimas "levadinhas" bem cadenciadas, e "For Your Life" (que ganhou uma versão mais carismática no "Celebration Day", de 2007).

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Quem resenhou Presence para a Rolling Stone foi Stephen Davis [futuro autor a "Hammer of The Gods", uma das primeiras biografias não autorizada pós-Led Zeppelin]. "Alguns acordes convencem o ouvinte de que ele está ouvindo o melhor rock ’n roll, mas logo os acordes seguintes o lançam em um pesadelo como um filme de 1970 sobre hippies degenerados", disse. Sacrilégio de novo.

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"The Ocean", dedicada aos fãs da banda em Houses of the Holy, traz John Bonham fazendo "back" no início e cantarolando com Plant no meio da canção.

"Nobody's Fault But Mine", de Presence. Repare nos solos de Page & Plant.

O Led Zeppelin coexistia dentro de uma relação de amor & ódio dos membros. Já em nossa era [século 21], Neal Preston (autor do sensacional livro "Led Zeppelin — Fotografias", que podemos chamar de álbum oficial da banda) confessaria que dentre todas as bandas/artistas com quem tinha trabalhado [a lista inclui Bruce Springsteen, Jackson Five, Eagles, Queen, Whitney Houston e diversos outros] o Led Zeppelin foi o seu "período mais estressante". " Presenciei inúmeras discussões e brigas. Era um trabalho tenso e desgastante, e, devido a isso passei um mês em turnê e o mês seguinte dormindo." Mas havia muita solidariedade, também. Em 1977, Robert Plant perdeu Karac Pendagron, seu filho de apenas 6 aninhos, vítima de infecção no estômago por alguma praga viral. Plant teve todo o tempo do mundo para pensar e se recuperar do falecimento de Karac, e foi só quando [ele] deu o "o.k" para voltarem que a banda se encontrou para então começarem a compor o novo (e último) disco.

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In Trough the Out Door sofre pelo distanciamento artístico de Jimmy Page, que era a principal alma criativa do Zepp. O uso desenfreado de heroína havia tirado o brilho dos dos riffs do guitarrista, o que fez com que disco priorizasse os teclados de Jonesy. Há três menções honrosas em "In Trough": "Fool in the Rain" (trazia o Zepp caindo na farra, com direito a batida latina — ou um semi-samba — no meio e no fInal da canção) "All My Love" (melancólica e emocionante declaração de amor de Plant a Karac) & "In the Evening" (rockaço!). De resto, o disco vai perdendo altitude gradativamente.

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Assim, dessa vez (pelo menos), não houve muita surpresa quando Charles M. Young escreveu: "Pensei que o Van Halen seria o próximo Led Zeppelin, até ele sucumbir no segundo álbum. Agora que a criatividade de Page parece falhar, sem ninguém capaz de compensá-la, mesmo o Led Zeppelin não é mais o Led Zeppelin. Imagino quem irá querer tanto o trono a ponto de se apoderar dele."

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Trecho de "In the Evening" ao vivo, em Knebworth, 1979.

* No dia 26 de setembro de 1980, em Windsor [Inglaterra], John Bonham foi encontrado morto devido a uma noite de excessos homéricos. O baterista teria se sufocado com o próprio vômito após ingerir o equivalente a quarenta doses de vodca com suco de laranja. A banda ainda estava no início da turnê de In Through The Out Door, mas a morte de Bonham foi o bastante para que todos os remanescentes declarassem o fim do Led Zeppelin. Ninguém poderia jamais substituí-lo.*

III. CONCILIAÇÃO — Do "Quarto álbum" à chegada de Cameron Crowe

Em novembro de 1971 o Led Zeppelin editou um álbum sem título, e, por isso mesmo ganhou vários. "IV" — opção óbvia que seguia a sequência dos outros —, "Four Symbouls" — o nome dos músicos era expresso através de quatro diferentes símbolos, daí o nome —, "Zoso" — símbolo de Page — ou "Runes Album" foram nomes não-oficiais empregados pelos fãs. O disco mostrava que o Led era capaz de compor melodias bonitas e líricas ao mesmo tempo em que mantinha decibéis de som elevadíssimos. Logo de cara, "Black Dog" dava o aviso de que não se tratava de um álbum comum. Eram oito músicas, e nenhuma sequer podia ser classificada como "mediana". Todas eram ótimas. "When the Levee Breaks" é uma das melhores releituras já feitas — não é só uma das melhores do Led ou do rock, mas da música em geral mesmo — e a sensação que passa desde a primeira batida é algo que devia ser estudado nas mais conceituadas escolas de música deste planeta. "Stairway to Heaven" (o que de novo pode ser dito sobre esse clássico absoluto que já não foi dito antes, discutido e analisado, inclusive em teses acadêmicas mundo afora?), "Going to California", "Rock and Roll" (o título já é alto explicativo, e se você não entendeu se atente ao solo final de Bonzo), "The Battle of Evermore" (das páginas de Tolken para o mundo) não poderia passar despercebido. Nem pela Rolling Stone. Pela primeira vez não haveria nenhuma reclamação nas páginas da revista em relação à banda.

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Quem escreveu sobre o "Zoso" para a Rolling Stone foi Lenny Kaye [futuro guitarrista do Patti Smith Group]. Eis um resumo: "[O disco] conserva a pegada pulsante e cheia de adrenalina que foram a marca de clássicos como Communication Breakdown e Whole Lotta Love, os agudos incríveis e o preciso dinamismo vocal de Robert Plant e alguns dos arranjos e produção mais eficientes que Jimmy Page fez até hoje."

A banda só sentiria esse "gostinho" de novo em 1975, com o lançamento de Physical Graffiti. Considerado por muitos — e faço questão de me incluir nesse "muitos" — a obra-prima do Led, Physical Graffiti é um disco vistoso de cabo a rabo. Assim como o "Led Zeppelin IV", não possui uma música ruim sequer, só que traz a vantagem de ser um álbum duplo. Neste, havia rock de todos os tipos para todos os gostos. O disco abre com "Custard Pie"— que nada mais é do que Bonzo descendo a porrada em uma pegada simples e ímpar que abrilhanta (ainda mais) o espetacular riff de Page. "The Rover" — talvez, o melhor "hard rock" já feito — vem logo em seguida, sem dar ao "pobre" ouvinte a chance de se recuperar da faixa anterior. "In My Time of Dying" é daquelas canções que fazem o bom ouvinte ficar atento a cada instrumento. Quando "Houses of the Holy", a música de melhor astral da história do Led Zeppelin começa a emergir, uma pergunta vem à tona: por que diabos essa música havia sido deixada de lado no álbum anterior? A maestria segue em frente com "Trampled Under Foot" (inspirada na sensacional "Superstition", do mestre Stevie Wonder) e "Kashmir" [segundo Plant, "o ápice de toda a essência do Led"]. Mas isto é só o primeiro disco. O segundo trazia ainda "Boogie With Stu" — uma releitura de tudo que o pessoal aprendeu naquele rock ingênuo dos anos 50/60, com participação de Ian Stewart (Rolling Stone) ao piano —, a belíssima "Ten Years Gone" (se ainda não ouviu, corra!), "In the Light" e a peso-pesado "The Wanton Song". No final, Physical Graffiti era a prova cabal de que o Led Zeppelin não se encontrava em nenhum estilo musical — e sim que os estilos se encontravam no Led Zeppelin.

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Jim Miller escreveu sobre Physical Graffiti para a Rolling Stone. Segue um trecho: "'Physical Graffiti' demonstra a preeminência do Led Zeppelin no rock pesado [...] É um impressionante passeio por todas as habilidades do grupo, e, tomado como um todo, oferece uma impressionante variedade musical, impecavelmente produzida por Jimmy Page. [...] Physical Graffiti está para o Led Zeppelin como 'Sgt. Peppers' para os Beatles, 'Beggar’s Banquet' para os Rolling Stones e 'Tommy' para The Who". Falou tudo e mais um pouco.

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Versão ao vivo de "Black Dog" do "Led IV" para o Celebration Day, gravado em 2007 e lançado em 2012.

"Kashmir", de Physical Graffiti. Para muitos, a melhor música do Zeppelin.

O funk rock contagiante de "Trampled Under Foot", também do Physical Graffiti.

LED ZEPPELIN & CAMERON CROWE

Até 1973, absolutamente todos os discos lançados pelo Led Zeppelin tinham passado do primeiro milhão de cópias vendidas. A banda não parava de bater recordes de bilheteria nos EUA, mas, ainda assim, era continuamente chutada na virilha pelos críticos da Rolling Stone. Foi preciso que Cameron Crowe — foto ao lado com Jimmy Page —, um jovem aspirante a jornalista, saísse em turnê com a banda para fazer com que estes e a Rolling Stone selassem a paz.

Em uma das cenas clássicas do filme "Almoust Famous" [Quase Famosos, no Brasil], o jovem jornalista William Miller está viajando com o Stillwater, quando uma forte tempestade faz com que o avião enfrente sérios problemas. Achando que ninguém fosse sobreviver, os integrantes começam a revelar segredos sobre o seu passado. Seria apenas mais uma boa cena de um filme qualquer, não fosse por um fato: Isso aconteceu de verdade quando Cameron Crowe viajava com o The Who numa turnê pelos EUA.

Nascido em Palm Springs, Califórnia - EUA, e criado em San Diego, Crowe ingressou na carreira jornalística aos 15 anos de idade. Escrevia para pequenas publicações de sua cidade, até quando começou a colaborar para a revista Creem, do incorruptível editor Lester Bangs (também presente em "Almoust Famous"). Sem muita delonga, a revista Rolling Stone se interessou pelos textos de Crowe, e o convidou para colaborar com a revista. Era o início de uma carreira "multimédia" de um escritor, editor, roteirista e diretor.

Em 1975 Jimmy Page permitiu que Crowe viajasse duas semanas com o Led Zeppelin, numa missão que incluiria o Zepp pela primeira vez na capa da revista. "[Jimmy Page] posou para a capa segurando um buquê de rosas negras. Essa foi a declaração dele à Rolling Stone." A revista acabou usando uma imagem da banda ao vivo, e a matéria trouxe a primeira entrevista exclusiva de Jimmy Page e Robert Plant para a Rolling Stone, dando início à era de paz entre a banda e a revista.

Nas palavras de Crowe:"A banda não precisava de críticos. Os Rolling Stones tinham mais aprovação da imprensa e do 'grupinho intelectual' de Truman Capote [escritor e dramaturgo norte-americano]. Não o Led Zeppelin. Eles não tinham de anunciar shows ou lançar singles. Os shows lotavam na base do boca a boca. A banda sabia que a música que fazia era vital demais para ser ignorada por muito tempo." Dito e feito.

IV. CORREÇÃO: "O LED ZEPPELIN É A BANDA MAIS TITÂNICA DA HISTÓRIA DO ROCK!"

A afirmação acima está impressa na contra-capa de um tributo ao Led Zeppelin lançado por ninguém mais ninguém menos que a Rolling Stone. Com o título de "Led Zeppelin — The Ultimate Guide to Their Music and Legend", a publicação é apenas o último capítulo de um série de reverências só prestadas antes a outros deuses do rock, como os Beatles e os Rolling Stones. O ponto de partida dessa correção que beira a idolatria se dá a partir do livro "Rolling Stone Album Guide", que trazia um guia essencial dos discos mais importantes da história. Lá, cada um dos discos do Zepp não seria classificado com menos de quatro estrelas. Em 2003 a Rolling Stone publicou a sua relação de "500 maiores álbuns de todos os tempos". Cinco dos discos do Led Zeppelin estavam presentes na lista. Seis na de "500 melhores canções de todos os tempos". Em 2004 a revista nomeou a banda como o "14º maior artista de todos os tempos". Em 2011, Jimmy Page apareceu em terceiro na lista de "100 maiores guitarristas de todos os tempos" eleitos pela Rollimg Stone em 2011. Um ano depois, Robert Plant seria eleito o "maior vocalista de todos os tempos" pela mesma Rolling Stone.

Moral da história: Vendo tudo isso, não é possível deixar de pensar os riscos que se corre ao avaliar um disco recém saído do forno. Nunca é demais reforçar que rejeição é uma das primeiras reações que vem à nossa mente quando vemos algo novo. "Rock n´ Roll é música feita por imbecis e ouvida por retardados", disse Frank Sinatra quando o estilo ainda era novidade. Por isso é sempre bom tomar um cuidado especial na forma como tratamos bandas/artistas mais recentes.

A inicialmente massacrada música do Led Zeppelin atravessou décadas. Eu nasci apenas treze anos depois do desmembramento da banda, ocorrido há 35. Ainda assim, o Led foi a primeira banda que falou mais alto para mim. É um dos ídolos que eu trago tatuados na minha personalidade — tal como Michael Jackson, Metallica, Elton John, Stevie Wonder, Prince, Pink Floyd, Stones e Bruce Springsteen —, e foi partir dela que eu descobri todo o complexo universo do rock n´ roll.

Denner Maxwell
[email protected]


Prêmios & Conquistas: A Rolling Stone se curvou ao Led Zeppelin, e as principais instituições da música também...

— Gravaram 8 álbuns de estúdio, 3 álbuns ao vivo e 9 compilações e remasterizações.

— Venderam mais de 300 milhões de discos

— Foram introduzidos no "Rock and Roll Hall of Fame" em seu primeiro ano elegível, em 1995

— Receberam o "Kennedy Center Honors" em 2012

— Em 2005, foram honrados com o "American Music Awards", dado a artistas que tiveram grande impacto na cultura americana

— Foram considerados a maior banda de rock de todos os tempos pelo site Audio Video Revolution, em 2000.

— Foram considerados a "maior banda de hard rock de todos os tempos", pela VH1, em 2000

— Ganharam o "Ivor Novello Awards", dado à artistas que deram grandes contribuições à música inglesa

Led Zeppelin, em 1969

Em 1975, pela primeira vez na capa da Rolling Stone

Rober Plant faz pose em turnê norte-americana de 1977

Jimmy Page com a clássica Gibson Double Neck, em 1975

John Paul Jones posa para foto de 1971

"Bonzo" toca para a multidão, em 1973

No mega-show que fizeram em Knebworth, em 1979

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Sobre Denner Maxwell

Amante de rock em geral: Curto de Beatles a Carcass, passando pela filosofia do poeta Jim Morrison, viajando ao som do peso da mão direita do mestre Jimmy Page, arrepiando o último fio de cabelo às batidas dos senhores Ramones, entrando em êxtase com o Pink Floyd, andando pela chuvosa seattle, espantando as bruxas no movimento nórdico, batendo a cabeça na bay area ao som do Kill 'Em All, anarquizando a "Rainha" na Inglaterra e finalmente vivendo num clima de Paz e Amor Hippie.
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