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As novas faces do progressivo: Quaterna Réquiem

Por Marco Batalha
Postado em 10 de junho de 2006

Criado no Rio de Janeiro, no final da década de 80, pela tecladista Elisa Wiermann e pelo baterista Cláudio Dantas, o Quaterna Réquiem mescla, com extremo bom gosto, a música de câmara com o progressivo. A atmosfera intimista e melancólica de suas músicas, em que se destacam o teclado e o violino, faz com que eles sejam uma das melhores bandas do cenário nacional.

Na década de 80, embora muitos considerassem o progressivo morto, havia alguns abnegados que ainda insistiam em manter vivo o estilo. Se no exterior as coisas já eram difíceis, no Brasil eram ainda mais. Em 1986, no Rio de Janeiro, com a dissolução do grupo Vitral, dois irmãos, a tecladista Elisa Wiermann e o baterista Cláudio Dantas, criam o Quaterna Réquiem, que significa "o descanso dos quatro". Após um período de indefinição do som e de mudanças na formação, o grupo se estabiliza com o violinista Kleber Vogel, o guitarrista e violonista Jones Júnior e o baixista Marco Lauria, além dos dois membros fundadores. Com essa formação, o grupo grava, em julho de 1990, o seu primeiro álbum, "Velha gravura", lançado então apenas em vinil. O álbum faz grande sucesso dentro da cena progressiva, o que não impede a debandada de alguns membros no ano seguinte: Kleber Vogel, que sai para formar o Kaizen, além de Marco Lauria e Jones Júnior. Três anos depois de seu lançamento em vinil, "Velha gravura" é relançado em CD, com duas faixas-bônus, e desperta novamente o interesse pela banda. Misturando a música de câmara com o progressivo, "Velha gravura" é considerado por muitos como o melhor álbum do progressivo brasileiro, um disco belíssimo, daqueles de levar às lágrimas. Desde "Ramoniana", que abre o disco de maneira singela e que conta com a participação do flautista Roberto Meyer, até a triste "Elegia", que o encerra, só há clássicos no álbum. O entrosamento entre os teclados de Elisa e o violino de Kléber é perfeito, reforçado pela cozinha competente e por partes de guitarra e violão de extremo bom gosto, o que faz com que o disco seja obrigatório em qualquer coleção de progressivo que se preze.

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A saída de Kleber Vogel após a gravação do primeiro álbum é uma perda irreparável. Reduzida ao seu núcleo, Wiermann e Dantas recrutam o guitarrista e violonista José Roberto Crivano, assim como o baixista e alaudista Fábio Fernandez, ambos da banda Agne Luz. Essa formação grava, em 1994, o segundo álbum da banda, "Quasímodo", um bom disco, mas cuja ausência do violino de Vogel faz-se por demais sentir. As composições são complexas e muito bem executadas, mas parece que há algo faltando. Pela ausência do violino, o estilo da banda se distancia da música de câmara e se aproxima do progressivo sinfônico de Emerson, Lake & Palmer e Rick Wakeman, com ênfase nos teclados. De todo modo, o grande destaque do disco vai para a faixa-título, com quase 40 minutos, inspirada no romance "Nossa Senhora de Paris" do escritor francês Victor Hugo. Essa faixa é, até hoje, a composição mais ambiciosa do grupo, com sete seções, direcionada pelos teclados de Elisa e com a participação de um monge beneditino nos corais. Concomitante ao lançamento de "Quasímodo", o ex-Quaterna Réquiem Kleber Vogel lança um disco, "Gárgula", com sua nova banda, Kaizen. Dessa banda, fazem parte Carlos Albuquerque na guitarra, Cleto Castañon na bateria, Ronaldo dos Guaranys no teclado e Álvaro Seabra no baixo, percussão e teclado. Também há a participação de instrumentos clássicos: fagote, oboé, flauta e violoncelo. Com tudo isso, a expectativa em relação a essa álbum é grande, mas, infelizmente, ela não se realiza. Se, depois da separação, as coisas não funcionam bem para o Quaterna Réquiem, para Vogel, funcionam menos ainda. "Gárgula" é um disco que não empolga, apesar de toda a técnica e talento do violinista. As composições são um tanto estéreis e a produção, ascética, não ajuda em nada também.

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Em 1997, acontece, na casa de espetáculos Scala, no Rio de Janeiro, o Rio Art Rock Festival, com a participação de grandes nomes do progressivo mundial, como Solaris, Pendragon, Pär Lindh Project, entre outros. O Quaterna Réquiem é uma das bandas de abertura desse festival, apresentando-se com Wiermann, Dantas e Crivano, que gravaram "Quasímodo", além de Fred Fontes no baixo. Essa apresentação é gravada e lançada comercialmente dois anos depois, com o título de "Livre". O álbum é irregular, um tanto prejudicado pela qualidade da gravação, longe do ideal. A base do repertório vem do segundo disco, com "Fanfarra", "Quasímodo" (aqui em uma versão mais curta de 19 minutos) e "Irmãos Grimm". Há um solo de bateria de Cláudio Dantas, que, como quase todos os solos de bateria, é absolutamente desnecessário, e uma composição, "Tríade", que é prometida para o próximo álbum de estúdio. O destaque de "Livre", contudo, vai para a emocionante execução da faixa-título do primeiro álbum, para a qual é chamado ao palco o ex-membro da banda Kleber Vogel. Nessa versão, fica claro que Vogel e o Quaterna Réquiem se complementam, um não pode ficar sem o outro. A sinergia entre eles é fantástica e extende a música a uma versão de 23 minutos, quase o dobro da duração original da faixa. Essa versão é emocionante não só pela maneira com que tocam, mas por prenunciar a reunião de Kléber e a banda, que aconteceria logo depois.

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Em 2003, com Vogel já de volta ao Quaterna, é lançado "À mão livre", um projeto paralelo de Elisa Wiermann e Kleber Vogel, inspirado pelos quadros de Cláudio Dantas, que, além de ser um bom baterista, é um excelente pintor. Como convidados, temos o próprio Cláudio Dantas, além de Marco Lauria no baixo, José Roberto Crivano na guitarra, Paulo Santoro no violoncelo e Francisco Gonçalves no oboé. "À mão livre" é um álbum mais descompromissado, mas que mantém um bom nível. Navega por vários estilos, indo da música celta em "Give me your hand", uma composição irlandesa do século XVI, até o progressivo em "Fugato". Para emocionar os fãs mais antigos do Quaterna Réquiem, há uma regravação de "Madrugada" do disco de estréia da banda. Embora muito longe da qualidade de "Velha gravura", "À mão livre" é um bom disco, que satisfaz e deixa otimistas os fãs do Quaterna Réquiem, também por trazer mais uma juntos Kléber e Elisa.

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Em 2004, o grupo se reúne no teatro do Centro Cultural Justiça Federal, no Rio de Janeiro, para uma apresentação em comemoração a suas quase duas décadas de estrada. Participam do Quaterna Réquiem, Elisa Wiermann (teclados), Kléber Vogel (violino), Cláudio Dantas (bateria), José Roberto Crivano (guitarra) e Jorge Mathias (baixo), que, para uma platéia contida mas carinhosa, tocam músicas de todos os seus álbuns, incluindo os projetos paralelos. Essa apresentação é gravada e lançada em 2005 em DVD, sob o título de "Quaterna Réquiem", com som e imagem de boa qualidade. A banda começa a apresentação com "Prefácio", uma faixa que irá aparecer no próximo álbum, a que se segue "Gárgula" do Kaizen. Do próximo álbum, também são tocadas "A casa da cascata", "Bramante" e "Fantasia urbana", enquanto que do Kaizen também é tocada "Horda". Há ainda uma faixa, "Cantilena" do projeto Wiermann & Vogel, em que há a particpação do flautista Paulo Teles. O repertório, felizmente, privilegia o "Velha gravura", com quatro faixas, "Tempestade", "Aquartha", "Toccata" e a faixa-título. Por outro lado, "Quasímodo" é representado apenas por "Irmãos Grimm". A execução das músicas é competente e segura, o que o torna uma interessante oportunidade de assistir a eles tocando ao vivo.

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No momento, o Quaterna Réquiem está finalizando as gravações do seu próximo álbum, que, como o DVD já revelou, se chamará "O arquiteto" e deverá ser lançado no final deste ano. Pela qualidade das músicas apresentadas lá, podemos esperar um trabalho excelente, talvez tão bom quanto o "Velha gravura". Para "O arquiteto", o grupo deve manter a formação do DVD e convidar outros músicos para participações pontuais. "O arquiteto" deve ser uma suíte em cinco partes, cada uma das quais inspirada em um estilo de cinco arquitetos de épocas, países e estilos diferentes: a renascença italiana, o barroco e o classicismo franceses, o modernismo estadunidense, o romantismo espanhol e o modernismo contemporâneo brasileiro. As expectativas são grandes, não só pelas músicas já apresentadas, mas também por ser o primeiro trabalho de estúdio do Quaterna Réquiem desde o álbum de estréia, reunindo a banda e Vogel. Depois de algumas hesitações e retrocessos em sua carreira, o Quaterna Réquiem tem mais uma vez a oportunidade de se confirmar com a melhor banda dentro de todo o progressivo brasileiro. Aguardemos ansiosamente, pois.

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Discografia recomendada: "Velha gravura" (1990), "Quaterna Réquiem" (DVD, 2005).

Marco Batalha, 32, é biólogo, professor universitário e administrador do Ummagumma, onde é conhecido como marco. O Ummagumma é um fórum que procura discutir todas as vertentes do progressivo. Todos estão convidados a visitá-lo e discutir a música progressiva, desde os medalhões sinfônicos até as bandas mais experimentais.

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