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On The Road: Allman Brothers Band - ainda The 70s

Por Cláudio Vigo
Postado em 18 de dezembro de 2000

Esta semana recebi duas solicitações enfáticas e bastante convincentes em seus propósitos em minha caixa postal: ambas vinham de jovens leitores da coluna; o primeiro, Cristiano Macedo, pedia mais Allman Brothers dizendo que eu havia sido quase mesquinho em meus comentários e exigia mais informação sobre esta maravilhosa banda; o segundo, um pouco mais pessoal, vinha de Icaro Francesconi que tentei responder, mas num destes mistérios internautas devolve minha mensagem (várias vezes) no clima "Alice não mora mais aqui". Assim sendo, peguei uma montoeira de cds dos Allman, botei no headphone e tomei a liberdade de responder em público estas mensagens.

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The Allman Brothers Band talvez seja a banda de maior talento em capacidade de improvisação do rock de todos os tempos, e também a mais propensa a desgraceiras e roubadas, carregando uma maldição ancestral, onde mortes violentas, overdoses, traições e muita barra pesada se misturam com solos de guitarra inesquecíveis e intermináveis improvisos, sem lugar para a mínima encheção de lingüiça ou enrolação.

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Duanne Allman e seu irmão caçula Gregg nasceram em Nashville, no fim dos anos 40 e começaram a sina desgracenta com a morte de seu Pai dando uma carona prum sujeito em 49. Com sólida formação musical os irmãos se criaram ouvindo muito jazz, o que explica muita coisa, com Duanne se entupindo de Kenny Burrel, Django Reinhardt, Coltrane etc... e Greeg ouvindo muito Jimmy Smith, tudo isso misturado com muito blues tradicional tipo BBKing, Muddy Waters, Howlin Wolf e toda aquela gama de sujeitos que faz a gente sofrer como se estivesse num campo de algodão ao ouvi-los.

Chegaram a gravar como Allman Joys alguns covers do Cream e dos Yardbyrds, e depois como Hourglass gravaram dois lps de pouco sucesso. Depois disso Gregg foi pra Califórnia e Duanne se tornou um dos músicos de estúdio mais famosos e requisitados colocando sua guitarra a serviço de astros do soul como Wilson Pickett e Aretha Franklin, ganhando uma reputação enorme como um dos mais criativos músicos de sua época. Numa dessas sessões de gravação com o magistral saxofonista de soul jazz King Curtis, conheceu o percursionista Jaimoe e o baixista virtuose Berry Oakley, formando um trio a lá Cream que, com a soma da guitarra de Dick Betts e a segunda bateria de Butch Trucks, viria a ser a base da banda.

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Depois de muita insistência, os executivos da gravadora aceitaram o óbvio, ou seja, a entrada da alma blues na voz e no órgão Hammond de Gregg, e estava pronta a banda que criou uma identidade sonora pro rock sulista com muita improvisação com qualidade, uma forte base de jazz e blues, e gravaram entre outros clássicos o melhor álbum ao vivo de rock de todos os tempos: "Live at Fillmore East".


Algumas historinhas sobre eles:

O grupo costumava ensaiar e mandar umas baladas pesadas, com muito sexo, drogas e rock'n'roll dentro de um cemitério chamado Rose Hill Cemetery, onde numa dessas foi composto o clássico absoluto "In Memory of Elisabeth Reed", que nada mais foi que uma homenagem à ocupante do túmulo em cima do qual a música foi composta.

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Pra quem não sabe, Duanne Allman participou (maravilhosamente) da gravação do mega clássico de Clapton "Layla and Other assorted love songs" e numa noite ele (Clapton) convidou os Allman para uma Jam session que varou toda a madrugada junto com os Derek and the Dominos
(só de pensar nisso dá frio na barriga), e segundo Butch Trucks, ao final Clapton mostrou pra Duanne a música (Layla) ainda incompleta e este falou: "deixa eu tentar um troço aqui...." e mandou na guitarra as cinco notas iniciais que identificam a musica até hoje.

Em 29 de outubro de 1971, saindo de uma festa na casa de Berry Oakley, Duanne derrapou com sua moto e bateu de frente com um caminhão, calando aos 24 anos a maior promessa da guitarra de sua geração. Em novembro de 1972 na mesma estrada (três quarteirões depois) também de moto morria (também aos 24 anos) Berry Oakley. Foram enterrados no Macons Rose Cementery Hill, o mesmo das baladas e onde até hoje repousa Elizabeth Reed.

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Uma vez, ainda com a formação clássica, eles tocaram por sete horas ininterruptas e quando terminaram o publico sequer aplaudiu. Saíram como de uma experiência mística e dia claro foram se retirando em silêncio como se não quisessem interromper aquele momento único e mágico. Ver a Allman Brothers Band completa no seu auge dar tudo de si até o sol raiar.


Agora vamos à resposta pro Icaro. Que não vai ser uma resposta, pois não tem nada pra responder, apenas alguns toques pra gente refletir junto. Como já dizia o velho Heráclito na Grécia há muitos anos atrás, somos filhos do tempo: "um homem não se banha duas vezes no mesmo rio" e eu completo: não existe o fato, só a versão. Todas as épocas são iguais, estamos sós no mundo com nossa percepção. Talvez os cabelos fossem maiores, a música mais interessante, mas muito pouca gente percebia isso de verdade, assim com hoje. Mané e debiloide que segue a moda e não pensa sobre nada sempre existiu e sempre vai existir, e quem nada contra a corrente sempre pagou e vai ter um preço a pagar, independente de quando se viva. O que se imagina que foi uma época já é fruto de uma versão destes fatos, e a mídia hoje em dia tem vivido de vender este peixe de golden era pra vocês mais novos, formando um público consumidor e faturando em cima de uma galera saudosista da minha idade, que agora tem grana pra comprar os trocentos relançamentos com os shows raros, os lados b etc... das milhares de bandas preferidas desta turma (quando não saem do sarcófago desrespeitando um passado glorioso só tocando hits e memorabilia).

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Salve os músicos de Jazz que vão até os 70,80 anos sem sair de moda vivendo de intensidade e não de saudade precoce. Sempre tem coisa boa rolando, basta procurar, e se muitas vezes estou por aqui falando de passado é por que estou falando de coisas que acho importantes e muitas delas, veja bem, eu também era muito novo ou nem nascido quando aconteceram. Posso e devo falar de presente e futuro. Escreva-me quando quiser (com e-mail que exista) e vamos em frente.

Lembrando mais uma vez o velho Heráclito: "o mundo, o mesmo em todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez mas sempre foi, é e será, fogo sempre vivo, acendendo segundo a medida e segundo a medida apagando".

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